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Marty Friedman catalisa show tecnicamente irrepreensível de Kiko Loureiro em Goiânia

Ex-guitarristas do Megadeth se unem em turnê com repertório que passa pela banda de Dave Mustaine, Angra, Deep Purple e música brasileira de raiz

O show, claro, tem dono e ele é Kiko Loureiro, mas com um convidado do quilate de Marty Friedman fica difícil não dividir os méritos. Apesar de só “entrar em quadra” no quarto final e com o jogo praticamente ganho, o aclamado guitarrista da fase mais popular do Megadeth consegue catalisar e engrandecer ainda mais uma apresentação — pelo menos do aspecto técnico — irrepreensível.

Foi assim em Goiânia na noite de domingo (1º), com Marty operando como fagulha de uma combustão que atinge níveis elevados de excelência instrumental em diversos momentos, mas cujo ápice de interação e conexão sentimental com o público se dá com “Tornado of Souls” e peças do Angra, como “Angels and Demons”, “Late Redemption” (com Kiko fazendo as vezes de Milton Nascimento!) e “Rebirth”.

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Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

O repertório também passeia pela carreira solo do mais novo “ex” de Dave Mustaine — incluindo o recente disco “Theory of Mind” (2024) —, reverencia cânones como Deep Purple e Black Sabbath e oferece releituras com peso e fritação para standards da música brasileira de raiz: “Asa Branca” e “Brasileirinho”.

Contemplação

Kiko Loureiro irrompeu ao palco do Bolshoi Pub às 21h10 já solando em “Blindfolded”, após a parte climática e inicial da música ser reproduzida no som mecânico. Ela e a groovada “Mind Rise” foram as duas escolhidas para apresentar seu novo trabalho de estúdio, o primeiro após saída do Megadeth em novembro de 2023.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Acompanhado do baixista Felipe Andreoli e do baterista Bruno Valverde, ambos do Angra, e do discreto, porém eficiente, guitarrista base Luiz Rodrigues, Kiko logo emendou mais dois exemplares de sua carreira solo: “Reflective” e “Overflow”.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

As três são músicas instrumentais de alto grau técnico por parte de toda a banda, assim como “Pau de Arara” e “No Gravity”. Até por isso, a recepção do público é mais contemplativa do que calorosa. Nada, entretanto, que o guitarrista não conseguisse contornar ao se dirigir à plateia com bom humor e um ar despojado antes de, em seguida, executar a primeira música com vocal: “Dystopia”.

Faixa-título do álbum de 2016 que marcou a estreia do brasileiro no Megadeth, ela deixa claro que, como vocalista, o “Tesouro” é um ótimo guitarrista. Mas ninguém precisa ser grande cantor para emular as linhas vocais de Dave Mustaine. Mais vale se divertir com o próprio Kiko se arriscando ao microfone do que “exigir” um perito no assunto. Esse profissional ainda vai aparecer neste texto, só que mais pra frente.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Emoção

A partir do medley do Angra, Kiko passa a tocar não somente um instrumento, mas também o coração dos fãs. O que antes, para muitos, poderia estar soando “matemático” demais ou mera técnica pela técnica dá lugar à memória afetiva com fragmentos (riffs e solos) tirados cirurgicamente de seis músicas, três da fase do saudoso Andre Matos e três com o sucessor Edu Falaschi: “Carry On”, “Spread Your Fire”, “Nova Era”, “Morning Star”, “Evil Warning” e “Speed”.

“Vamos voltar ao começo de tudo. Vamos voltar até 1993”, contextualiza o guitarrista, referindo-se ao ano de lançamento do primeiro álbum do Angra, “Angels Cry”.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Após mais duas do Megadeth, “Conquer or Die!” e “Killing Time”, e da já tradicional jam com um fã local (Samuel) subindo ao palco para tocar guitarra, Kiko chamou o primeiro “convidado” da noite, Alírio Netto. O vocalista, que esteve no Shaman entre 2019 e 2023, é o verdadeiro perito na função e velho conhecido do público de power/prog metal do Centro-Oeste por ter começado no Khallice, banda de Brasília que também revelou Marcelo Barbosa (Angra).

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

As emoções ficaram afloradas nessa parte da apresentação, com a execucão de uma trinca especial do Angra: “Nothing to Say”, do aclamado “Holy Land” (1996), e “Angels and Demons” e “Late Redemption“, ambas de “Temple of Shadows” (2004). Nesta última, Alírio faz a voz de Edu Falaschi, enquanto Kiko arrisca as partes de Milton Nascimento — seguida de uma breve versão acústica para “Heaven and Hell”, do Black Sabbath, também com o guitarrista cantando.

Ovação

Marty Friedman, enfim, é chamado ao palco para deleite dos fãs que encheram o Bolshoi Pub. Presente no imaginário popular do metal nacional desde a apresentação histórica com o Megadeth no Rock in Rio 2, em 1991, o guitarrista americano nem precisou de muito esforço para ser ovacionado já nas primeiras notas de “Hyper Doom”, oriunda de sua carreira solo, do disco “Inferno” (2014).

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Em seguida, Marty causou comoção e arrebatou a todos ao executar numa dobradinha com Kiko, nota por nota, seu inconfundível solo de “Tornado of Souls”, presente no antológico disco “Rust in Peace” (1991), do Megadeth. Simbolicamente, foi uma espécie de comunhão entre os dois guitarristas mais habilidosos que já estiveram ao lado de Mustaine — e que, à revelia do patrão, se tornaram amigos nos últimos anos.

Radicado há anos no Japão, Marty pegou o microfone e disse que gostaria, ao menos por instantes, de se sentir “um pouco brasileiro” durante esta turnê e anunciou que haviam preparado algumas surpresas. Foi a deixa para ele e Kiko fritarem em cima de “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, e “Brasileirinho”, de Waldir Azevedo. Completamente à vontade e num visual efusivo, com direito a bota plataforma e camisa florida, ele ainda permaneceu no palco para tocar “Tearful Confession”, de seu disco novo “Drama” (2024), e a balada “Rebirth”, cantada a plenos pulmões pela galera.

No bis, o encerramento veio com “Stormbringer”, da fase MKIII do Deep Purple. Kiko mais uma vez assumiu o vocal, mas com Alírio Netto fazendo a cama para o guitarrista não ficar tão aquém da interpretação original dos gigantes David Coverdale e Glenn Hughes. Instigado por Alírio, até o “carregador de piano” Luiz Rodrigues deu uma mãozinha no refrão, provando que, além de refinamento técnico, descontração também é uma marca desse Kiko Loureiro pós-Megadeth.

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

Kiko Loureiro e Marty Friedman – ao vivo em Goiânia

  • Local: Bolshoi Pub
  • Data: 1º de junho de 2025
  • Turnê: Theory of Mind Tour
  • Produção: Top Link Music

Repertório:

  1. Blindfolded
  2. Reflective
  3. Overflow
  4. Dystopia (Megadeth)
  5. Pau de Arara
  6. No Gravity
  7. Carry On / Spread Your Fire / Nova Era / Morning Star / Evil Warning / Speed (Medley Angra)
  8. Conquer or Die (Megadeth)
  9. Killing Time (Megadeth)
  10. Jam com fã (Samuel) no palco
  11. Mind Rise
  12. Nothing to Say (Angra) (com Alirio Netto)
  13. Angels and Demons (Angra) (com Alirio Netto)
  14. Late Redemption (Angra) / Heaven and Hell (Black Sabbath) (com Alirio Netto)
  15. Hyper Doom (Marty Friedman)
  16. Tornado of Souls (Megadeth) (Kiko Loureiro e Marty Friedman)
  17. Asa Branca / Brasileirinho (Brazil Medley) (Kiko Loureiro e Marty Friedman)
  18. Tearful Confession (Marty Friedman)
  19. Rebirth (Angra) (com Alirio Netto, Kiko Loureiro e Marty Friedman)

Bis:

  1. Stormbringer (Deep Purple)

Próximas datas da turnê:

04/06 – Belo Horizonte (MG) – Mister Rock – meaple.com.br
05/06 – Porto Alegre (RS) – Opinião – sympla.com.br
06/06 – Rio de Janeiro (RJ) – Sacadura 154 – showpass.com.br
07/06 – São Paulo (SP) – Tokio Marine Hall – ticketmaster.com.br
08/06 – Curitiba (PR) – Ópera de Arame – bilheto.com.br

Foto: Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka

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Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room, Rock Brigade e Guitarload. Atualmente, revisa livros das editoras Belas Letras e Estética Torta e edita o Morbus Zine, dedicado a resenhas de death metal e grindcore.

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