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Black Pantera volta a provar no Best of Blues que é a maior banda BR de metal atualmente

Dificilmente outro grupo nacional de som pesado surgido no século 21 teria se encaixado de modo tão natural no festival paulistano, ainda mais abrindo para Alice Cooper

Mês passado, logo após o Bangers Open Air 2025, o colaborador Marcelo Vieira categorizou o Black Pantera como a maior banda brasileira de metal no recorte atual. Gerou alguma celeuma, especialmente entre aqueles que nunca assistiram ao trio formado em Uberaba (MG) e/ou não entenderam que o “título” fazia menção aos dias de hoje, sem considerar nomes do passado.

Reafirmo o que foi dito pelo colega. Nenhuma outra banda de metal surgida neste século conseguiria realizar um show como o feito por Charles Gama (voz e guitarra), Chaene da Gama (voz e baixo) e Rodrigo Pancho (bateria) no último sábado (14), logo antes de Alice Cooper, no 12º Best of Blues and Rock. O festival no Parque Ibirapuera, em São Paulo, tradicionalmente convida atrações de som bem mais leve — e mesmo assim o crossover thrash do grupo funcionou a ponto de engajar uma parte considerável da plateia.

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Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.show

Não foi unanimidade, é preciso admitir. O frio e a inegável desconexão com a proposta do evento fizeram com que outra parcela dos presentes, mais distante do palco, não prestasse tanta atenção. Mas não pareceu ser maioria. A fatia mais ampla de público curtiu e, surpreendentemente, cantou quase todas as músicas.

Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.show

É reflexo, acima de tudo, de um trabalho insistente. Na última década, o Black Pantera tocou em todo lugar. Mesmo após a conquista de um público mais amplo a partir do álbum “Ascensão” (2022), quando palcos maiores se tornaram frequentes em sua trajetória, o trio seguiu sem abdicar de sua atuação no underground, de onde vieram e, ao que tudo indica, jamais sairão. O mainstream é que se curva a eles, não o contrário.

Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.show

A mensagem antirracista ajuda, obviamente, a atrair holofotes — e, sabe-se lá por qual razão, haters, que também ajudam a dar palco — ao Black Pantera. Num momento onde parte da sociedade se mostra mais consciente sobre o que versam letras como “Provérbios”, “Padrão é o car#lho”, “Perpétuo” e “Fogo nos racistas” (fogo este que, Charles esclarece no Ibirapuera, é figurado e vem a partir da energia e do poder da mensagem), a identificação é quase automática.

Mas o grupo mineiro jamais conseguiria realizar no Best of Blues and Rock o show que fez, com os resultados que obteve, se sua obra estivesse resumida a discurso. Entram, aí, os méritos musicais de seus integrantes, nem sempre devidamente reconhecidos. O trio soa tão entrosado que fica até difícil imaginar um deles tocando em outra banda. A guitarra pesada e por vezes básica de Charles dá match com o baixo estilingado e fluido de seu irmão Chaene. Acabam virando um só. Rodrigo, fisicamente ao fundo, assume o front em situações diversas com linhas de bateria bem sacadas, transitando entre punk, metal e ritmos swingados de modo natural. Duvida? Compare “Candeia”, pulsante abertura do set, com o groove de “F#deu”, que vai de funk a thrash metal num piscar de olhos.

Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.show

Como uma banda consegue soar tão bem amarrada? Como uma atração de som bem mais pesado se encaixa tão naturalmente num festival que, a princípio, tem pouco a ver com sua obra? Fruto, é claro, do mencionado trabalho insistente. Em uma prova de que não param, eles até estrearam ao vivo uma música inédita lançada no dia anterior: a punk-metal “Unfuck This”, de letra em inglês e disponibilizada pouco mais de um ano após o álbum “Perpétuo”.

Parecendo notar enfim que consistência dá resultado, Chaene agradeceu ao público do Best of Blues and Rock sabe-se lá por quantas vezes por prestigiá-los no palco do auditório externo do Ibirapuera, seja agachando para depois pular em “Fogo nos racistas”, acompanhando com palmas em “Perpétuo”, erguendo lanternas de celular na emotiva “Tradução” ou entrando nas rodas (exclusiva para o público feminino em “Só as mina” ou na geral em “Revolução é o caos”). Em dado momento, deixou claro que ele e os parceiros comeram muita poeira até chegar no patamar atual. Ele se referia a popularidade, mas a declaração também se enquadra em maturidade musical.

Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.show

Black Pantera — ao vivo em São Paulo

  • Local: Parque Ibirapuera (Best of Blues and Rock)
  • Data: 14 de junho de 2025
  • Turnê: Perpétuo
  • Produção: Dançar Marketing
  1. Candeia
  2. Provérbios
  3. Padrão é o car#lho
  4. Mosha
  5. Seleção Natural
  6. Perpétuo
  7. Fogo nos racistas
  8. Tradução
  9. F#deu
  10. Só as mina
  11. Unfuck this
  12. Dreadpool
  13. Revolução é o caos
  14. Boto pra f#der
Foto: Gabriel Gonçalves @dgfotografia.show

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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