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Sabaton traz batalhas históricas, pirotecnia esparsa e guitarra cor-de-rosa ao Bangers

Demora no engajamento do público brasileiro foi compensada com boa sequência de crônicas do front e manifestos antiguerra

“What’s so fucking great about it?”“O que há de tão sensacional nisso, afinal?” —, pergunta a provocativa frase estampada nas costas de uma das camisetas da turnê do Sabaton. O questionamento, retirado do álbum “The Great War” (2019), não poderia ser mais adequado às cinco primeiras músicas da apresentação que encerrou o sábado (3), segundo dia do Bangers Open Air 2025, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

Isso porque o início da performance dos suecos foi morno, destoando da empolgação de um público caracterizado por camisetas camufladas, boinas militares e até visuais completos inspirados no vocalista Joakim Brodén — figura que, nas palavras de um colega da crônica musical, parece saída de um cruzamento entre Guile e Zangief, personagens clássicos do game “Street Fighter”.

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Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A banda, completada por Chris Rörland e Tommy Johansson nas guitarras, Pär Sundström no baixo e Hannes Van Dahl na bateria, abriu o set com uma série de músicas que, embora enérgicas no estúdio, soaram genéricas ao vivo, sem conseguir estabelecer de imediato a conexão emocional com a plateia. A exceção foi “Stormtroopers”, de “The War to End All Wars” (2022), que empolgou com seu riff galopante e um refrão que fez a audiência ensaiar seus primeiros headbangs mais sincronizados, enquanto palmas cadenciadas acompanharam a desacelerada seção central pré-solo estrondoso de Johansson.

Porém, a empolgação teve vida curta. Na sequência, “Carolus Rex” foi executada em sua versão original em sueco, o que freou novamente o ímpeto da massa, marcando o fim simbólico de um primeiro ato irregular. “Play the fast shit!”“Toquem as rápidas, p#rra!” —, dizia um cartaz improvisado erguido por um fã na grade. Quando o pedido foi finalmente atendido, a química mudou de patamar. A partir dali, a banda se sentiu verdadeiramente acolhida em sua quarta passagem pelo Brasil. “Cada vinda é melhor que a anterior”, elogiou Brodén, antes de agradecer: “Obrigado pelas memórias”.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Com um power metal de estrutura repetitiva, cujas letras abordam eventos bélicos com rigor histórico, o Sabaton aposta mais no conteúdo do que na forma. A comparação com os alemães do Powerwolf, que havia se apresentado pouco antes com um espetáculo visual envolvente e teatral, é inevitável. A produção dos suecos incluiu pirotecnia, colunas de fumaça e labaredas esparsas — o suficiente para um efeito pontual, mas distante de qualquer grandiosidade. As luzes, no entanto, foram protagonistas: o vermelho intenso em “The Red Baron” recriou a atmosfera tensa dos combates aéreos da Primeira Guerra Mundial, enquanto o verde e amarelo em “Smoking Snakes” homenageou com emoção os três soldados brasileiros que resistiram até a morte contra tropas nazistas na Itália, em 1945 — tema da faixa.

O momento mais inusitado veio com Brodén empunhando uma guitarra rosa da Hello Kitty para tocar o riff de “Master of Puppets” (Metallica), arrancando risos e aplausos antes de iniciar “Resist and Bite”, sobre a resistência belga contra os alemães em 1940 — recebida com punhos erguidos e os tradicionais chifrinhos.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A reta final guardou o momento mais emocionante. Com as lanternas dos celulares iluminando a escuridão do Memorial, “Christmas Truce”, que narra o cessar-fogo espontâneo ocorrido na véspera de Natal de 1914 entre soldados britânicos e alemães, transformou o espaço num campo de reflexão. Em um mundo que continua assolado por conflitos, a canção soou como um apelo à razão. “Gostaria que a humanidade tivesse aprendido com seu passado de alguma forma”, disse Brodén ao site MarceloVieiraMusic.com.br em 2022. “A humanidade tenta resolver seus problemas com guerras há milhares de anos. Não percebe que simplesmente não funciona?!”

No fim, a noite foi salva por uma banda que soube se reajustar em voo, como bons estrategistas de guerra. Se o Sabaton não entregou o espetáculo mais explosivo do festival, ao menos lembrou que as batalhas se vencem tanto com força quanto com resiliência. E, nesse campo, a história continua do lado deles.

**Este conteúdo faz parte da cobertura Bangers Open Air 2025 — clique para conferir outras resenhas com fotos e vídeos.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Repertório — Sabaton no Bangers Open Air 2025

  1. Ghost Division
  2. The Last Stand
  3. The Red Baron
  4. Bismarck
  5. (Música não identificada)
  6. Stormtroopers
  7. Carolus Rex (versão sueca)
  8. Night Witches
  9. The Attack of the Dead Men
  10. Fields of Verdun
  11. The Art of War
  12. Resist and Bite (com trecho de “Master of Puppets” do Metallica)
  13. Soldier of Heaven
  14. Christmas Truce
  15. Smoking Snakes
  16. Primo Victoria
  17. Swedish Pagans
  18. To Hell and Back

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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