O que poderia ser mais apropriado do que um show do H.E.A.T. sob um c.a.l.o.r. de derreter palhetas? Trocadilho à parte, estava quente, mesmo. Para piorar, o guitarrista Dave Dalone, doente desde o show no México na quinta-feira (1º), precisou executar parte do set sentado, à sombra da coxia do palco Hot Stage. A cadeira, vale ressaltar, foi necessária nas outras apresentações da atual turnê latino-americana.
Mesmo sob tais condições, os suecos foram responsáveis por abrir com brilho o sábado (3), segundo dia do Bangers Open Air 2025, realizado no Memorial da América Latina, em São Paulo.
Antigamente rotulados como o Europe da nova geração — comparação que o próprio vocalista Kenny Leckremo chegou a endossar no palco, ao lembrar que ambas as bandas nasceram em Estocolmo —, o H.E.A.T. vem ampliando suas fronteiras sonoras. Se o esqueleto segue ancorado no hard rock melódico, os músculos ganharam novos contornos. Os riffs, ora mais incisivos, ora carregados de tintas oitentistas, revelam nuances que flertam com o metal moderno. Completam o time Jona Tee nos teclados (também produtor dos discos mais recentes), Jimmy Jay no baixo e Don Crash na bateria — todos em plena forma.
A diversidade já perceptível em “Force Majeure” (2022) — álbum que marcou o retorno de Leckremo após mais de uma década — se expandiu ainda mais no recém-lançado “Welcome to the Future” (2025). À época, cheguei a classificar o disco de 2022 como “mero cumprimento de tabela”, talvez em comparação com a excelência de “H.E.A.T. II” (2020), ainda com Erik Grönwall nos vocais. Mas ao vivo, músicas como “Back to the Rhythm”, adotada como mantra da nova fase, mostram força renovada — especialmente sob o comando de Leckremo, um frontman que alia carisma, potência vocal e uma entrega física quase atlética.
Do novo trabalho, duas faixas foram selecionadas para o set de 11 músicas: “Disaster” e “Bad Time for Love”, ambas com um pé no AOR clássico e outro na estética retrofuturista que domina a arte de capa do disco. Quem esperava algo mais agressivo — ou “power metal”, como alguns críticos exageraram — encontrou melodias acessíveis, refrões grudentos e arranjos que evocam a era dourada do rock de arena.
Mas o momento de maior comoção veio com as faixas extraídas de “H.E.A.T. II”, com destaque para “One by One”, cantada em uníssono por quem disputava cada centímetro da grade. Seja pela devoção musical, seja pela presença física quase mitológica de Kenny — cabelos ao vento e tríceps reluzentes que ele fazia questão de exibir —, ou por ambos, a conexão banda-público foi imediata.
A única canção a representar os primórdios foi a querida “1000 Miles”, faixa bônus do disco homônimo da banda de 2008. Uma escolha certeira: a canção, que ganhou notoriedade após sua apresentação no Melodifestivalen (competição sueca que seleciona músicas para o Eurovision), permanece como hino incontestável da primeira fase do grupo. Faltou, é verdade, “Keep on Dreaming”, favorita pessoal deste repórter — mas, justiça seja feita, ela também ficou de fora da estreia brasileira em 2023.
Aliás, sete das onze músicas tocadas nesta noite repetiram o set daquela primeira visita ao país, uma decisão que evidencia a confiança da banda no seu repertório mais recente. Melhor ainda foi ver o controverso “Into the Great Unknown” (2017), disco que flertou de maneira infeliz com sonoridades eletrônicas e pop, ser completamente ignorado. Foi o único dos sete álbuns de estúdio a não ter nenhuma faixa incluída — e, convenhamos, ninguém sentiu falta.
Apesar do calor sufocante e do tempo limitado — cerca de uma hora —, a entrega foi total. A banda estava visivelmente emocionada, e o público respondeu com entusiasmo contagiante. Uma apresentação com o dobro de duração teria sido recebida não apenas de braços abertos, mas de corações expandidos.
No fim das contas, em meio ao calor abrasador, o que mais queimou foi o peito. De alegria. De nostalgia. De amor pelo hard rock.
**Este conteúdo faz parte da cobertura Bangers Open Air 2025 — clique para conferir outras resenhas com fotos e vídeos.
Repertório — H.E.A.T no Bangers Open Air 2025
- Disaster
- Emergency
- Dangerous Ground
- Hollywood
- Rise
- Beg Beg Beg
- Back to the Rhythm
- Bad Time for Love
- 1000 Miles
- One by One
- Living on the Run
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