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Como o Sublime fez o sangue falar mais alto em show no Rio

Apresentação como uma das atrações de abertura do Offspring teve participação de Noodles e Jakob Nowell ovacionado como Rome Ramirez jamais foi

Uma foto do vocalista e guitarrista Bradley Nowell tocando violão para um bebê estampa a quarta capa do encarte do álbum homônimo do Sublime, lançado em 30 de julho de 1996. Morto por overdose menos de dois meses antes de o disco chegar às lojas, Nowell não viu sua magnum opus atingir o número 13 na Billboard e vender mais de cinco milhões de cópias nos Estados Unidos.

Seus colegas Bud Gaugh (bateria) e Eric Wilson (baixo), impossibilitados de realizar turnês e divulgações, tampouco puderam capitalizar o sucesso. Optaram por não continuar a banda sem seu principal compositor, mantendo o legado vivo somente por meio de compilações e lançamentos póstumos.

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Avancemos três décadas. Jakob Nowell, o bebê da supracitada foto, cresceu e hoje ocupa o posto outrora pertencente ao pai — e o faz de modo que dispensa testes de DNA.

Foto: Ian Dias @diasphotograph

Não que o Sublime with Rome, formado em 2009 por Wilson e o cantor e guitarrista Rome Ramirez, não tenha sido uma iniciativa válida — afinal, permitiu que os fãs continuassem a ouvir as músicas da banda ao vivo e apresentou seu repertório a uma nova geração. Contudo, ao longo de sua existência, apesar de ter lançado três álbuns de estúdio com material original, o projeto foi amplamente considerado ilegítimo pela ala mais radical dos admiradores.

Problema apontado, problema resolvido. Com Jakob a bordo, o nome Sublime foi oficial e legitimamente ressuscitado. A estreia nos palcos brasileiros, abrindo para o Offspring em três compromissos — o primeiro deles na Farmasi Arena, Rio de Janeiro, na última quinta-feira (6) —, confirmou o acerto dessa decisão.

Foto: Ian Dias @diasphotograph

Do lado direito do palco, um relógio marca 50:00. A contagem regressiva é iniciada tão logo o trio, acompanhado por Trey Pangborn (segunda guitarra na teoria, primeira na prática) e pelo DJ Product, tateia notas até se encontrar no verso inicial de “April 29, 1992 (Miami)”. Retrato dos tumultos que eclodiram em Los Angeles após a absolvição de quatro policiais acusados de usar força excessiva na prisão de Rodney King, a letra da música contrasta com o cenário em que é executada, repleto de elementos que remetem à cultura californiana dos anos 1990: skates, boomboxes e muitas referências, entre veladas e explícitas, a sexo e drogas. Ao fim da música, Jakob se apresenta e é ovacionado como Rome jamais foi.

Foto: Ian Dias @diasphotograph

Feita a reflexão (ou dado o choque de realidade, você decide), restavam ainda 45 minutos para reiterar por que o Sublime se tornou um dos grupos mais influentes de sua época. E, claro, a mistura de punk, reggae, ska e hip-hop atrai, mas são as narrativas de Bradley, um cronista nato, que realmente cativam. Histórias de personagens e situações inusitadas, como nas letras de “Wrong Way” e “Date Rape” (recomenda-se a leitura de ambas), encantam os mais versados na língua inglesa e provocam risos e sorrisos naqueles que já não estavam rindo à toa em meio à constante marola de baseado.

No palco, ninguém parecia mais relaxado do que Eric. Alternando entre o baixo e o bass synth de volume ensurdecedor — não mais que o trigger da bateria em “Garden Grove”, diga-se —, o gigante gentil e tatuado fazia de seu roadie um garçom particular, sempre providenciando refis de sabe-se-lá-o-quê.

Foto: Ian Dias @diasphotograph

O álbum de 1996 domina o repertório das 13 músicas tocadas, e, no hit “What I Got”, a antepenúltima da noite, Noodles, que assistia ao show de um ponto privilegiado à esquerda do palco, é convidado a assumir a guitarra principal. Foi improvisado? Sim. Parece que foi? Nem um pouco.

Para “Same in the End”, Jakob chama seu roadie — a quem se refere como “irmão” — para participar da brincadeira, entregando-lhe o próprio instrumento. No encerramento, “Santeria” confirma que não é preciso praticar bruxaria nem ter bola de cristal para prever o futuro sucesso do Sublime. Agora, com Jakob honrando o legado de Bradley Nowell, fica claro que o sangue realmente fala mais alto.

*Os textos sobre os shows de Offspring e Rise Against serão publicados em breve — no caso da primeira banda citada, quando sua respectiva produção revelar quais imagens produzidas pelo fotógrafo do site estão aprovadas para uso.

Foto: Ian Dias @diasphotograph

Repertório — Sublime:

  1. April 29, 1992 (Miami)
  2. The Ballad of Johnny Butt
  3. Wrong Way
  4. Date Rape
  5. Doin’ Time
  6. Caress Me Down
  7. Garden Grove
  8. Badfish
  9. Pawn Shop
  10. Greatest-Hits
  11. What I Got
  12. Same in the End
  13. Santeria
Foto: Ian Dias @diasphotograph

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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