Como foi o 1º — e possivelmente último — show do Sepultura no Lollapalooza

Banda está em turnê de despedida, mas deu tempo de se apresentar no festival e dar prestígio que faltava a ambos os envolvidos

Um público maior do que acompanhou a apresentação dos ingleses do Bush aguardava o início da apresentação do Sepultura, escalado para encerrar o palco Mike’s Ice do Lollapalooza Brasil 2025 no domingo (30). Alguns esperavam há horas; muitos vieram logo após o término do excelente show do Tool no palco vizinho; todos já começaram a festejar tão logo a introdução “Polícia” do Titãs começou a tocar nas caixas de som.

Como tem se tornado costume, “Refuse / Resist”, faixa de abertura do aclamado “Chaos A. D.” (1993), também iniciou o espetáculo, pertencente à turnê de despedida “Celebrating Life Through Death”. Escolha acertada para começar os trabalhos. A agitação e a gritaria se espalharam como se fosse o primeiro show do dia e estivessem todos descansados.

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Ficou claro o respeito e apoio que o Sepultura mantém, inabaláveis. A sequência com outro clássico, “Territory”, e a surpresa “Desperate Cry”, tocada pela primeira vez nessa turnê de despedida, não deixaram o público parar quieto. É uma sequência que mostra o desafio que Iggor Cavalera deixou para ele mesmo e para os outros que pretendam tocar os arranjos que ele criou para o Sepultura.

Diante disso, a disciplina com que Greyson Nekrutman interpreta esse estilo, que se tornou um capítulo próprio na história da bateria metálica mundial, conquistou o respeito do público e dos colegas músicos. Durante o show, o americano de 22 anos, trazido ano passado para substituir Eloy Casagrande, teve como público particular um próximo, atento e positivamente impressionado Danny Carey, lenda do instrumento, que acabara de se apresentar com o Tool (veja aqui como foi). Um diploma por si só.

“O novo vocalista”

Na quarta música do set, aparece a primeira gravada por Derrick Green, “Kairos”. Ele é o frontman do Sepultura há quase três décadas, muito mais do que o dobro que a fase com Max Cavalera. Ainda assim, apenas um terço do setlist — esta faixa, “Means to an End” e “Agony of Defeat” é dedicada à fase atual. Isso significa deixar experimentos bem-sucedidos como a música “Machine Messiah” — quando a banda deu um passeio no gothic/doom metal — relegados ao registro histórico documental.

Não dá tempo para pensar nisso quando se está ouvindo “Attitude”, joia da música pesada originalmente disponibilizada em “Roots” (1996). É o tipo de música que levanta genuinamente a dúvida se algo que chegue perto vai ser apresentado depois.

PARA QUÊ?

Mas quando é tocada “Kaiowas”, duas palavras vêm à mente: para quê?

Certamente, gera diversão para os amigos e colegas de profissão. Vários são convidados para batucar enquanto o guitarrista Andreas Kisser fica no violão. Desta vez, participaram do lazer, no segundo violão, Dante Rozalini (roadie do Andreas e ocasional segundo guitarra do Sepultura) e, batucando:

  • Rodrigo Abecia e Tom Gil (empresários do Sepultura);
  • Otavio Juliano (diretor do documentário “Sepultura Endurance”, 2016);
  • Junior Lima (irmão e ex-parceiro de Sandy Lima);
  • Perry Farrell (ex-Jane’s Addiction e Porno for Pyros);
  • Bruno Gobi (roadie de Paulo Xisto, baixista do Sepultura);
  • Luly Souza (produtora executiva do Sepultura);
  • entre outros.

Apresentar essa turma toda é só para tirar algo de útil deste momento dispensável do show.

A próxima e última das músicas originalmente interpretadas por Derrick Green é “Agony of Defeat”, de “Quadra” (2020), último disco lançado pelo Sepultura. Como na “Machine Messiah”, há um experimento com a voz limpa, aspecto não apenas bom, mas muito melhor do que o gutural do Derrick. O timbre é superior e oferece mais opções artísticas por onde o Sepultura poderia ir. Fica o convite à especulação.

Escolha segura

No fim da apresentação, o Sepultura correu para o abraço, enfileirando “Arise”, “Ratamahatta” em versão encurtada e “Roots Bloody Roots”, hino atemporal da música pesada, desses que fura bolhas, no estilo de “Killing in the Name” (Rage Against the Machine) e “BYOB” (System of a Down). Impossível dar errado. O público virou um gerador de energia ao agitar como se o show estivesse voltado ao começo.

O fato de não haver um fim em vista — apenas a previsão de encerrar a turnê no fim de 2026 — deixa margem para o questionamento de até quando vão colher os frutos do impulso de popularidade que uma turnê de despedida proporciona. Ainda bem que deu tempo para encerrar um dos palcos de um festival como o Lollapalooza, um prestígio que faltava na história dele e do Sepultura.

*Aviso: esta cobertura não traz fotos devido ao não credenciamento do profissional do site IgorMiranda.com.br. O fotógrafo estava credenciado para acompanhar o festival como um todo e produziu registros de outras bandas (como Tool e Bush), mas não foi autorizado a registrar imagens da apresentação específica do Sepultura. Outros veículos focados em heavy metal também não foram autorizados.

Sepultura – ao vivo em São Paulo

  • Local: Autódromo de Interlagos (Lollapalooza Brasil)
  • Data: 30 de março de 2024
  • Turnê: Celebrating Life Through Death

Repertório:

  1. Refuse / Resist
  2. Territory
  3. Desperate Cry
  4. Kairos
  5. Attitude
  6. Means to an End
  7. Kaiowas
  8. Escape to the Void
  9. Agony of Defeat
  10. Arise
  11. Ratamahata
  12. Roots

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Rolf Amaro
Rolf Amarohttps://igormiranda.com.br
Nasceu em 83, é baixista do Mars Addict, formado em Ciências Sociais pela USP. Sempre anda com o Andreas no braço, um livro numa mão e a Ana na outra.

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