Em sua mais recente turnê pelo Brasil, o Jethro Tull não permitiu que o público utilizasse celulares enquanto a banda se apresentava. Ian Anderson não gosta que a plateia recorra a seus dispositivos durante o show — e, pelo visto, também se incomoda com determinadas formas de expressão.
Em entrevista ao Classic Album Review (via Blabbermouth), o vocalista e flautista declarou não gostar quando fãs gritam e assobiam durante suas performances. Ele citou diretamente o comportamento do público brasileiro na ocasião.
O assunto surgiu após o entrevistador perguntar a inspiração da letra de “Puppet and the Puppet Master”, música do próximo álbum do Jethro Tull, “Curious Ruminant”, que sai no próximo dia 7 de março. Ian afirmou, inicialmente:
“Quero me livrar da sensação de que estou de alguma forma tendo que cumprir os desejos e as demandas de outras pessoas. E quanto mais exigente o público é, menos eu gosto disso, porque há ocasiões em que às vezes você obtém um público volátil devido às tendências culturais em lugares específicos.”
Em seguida, é feita a menção direta ao Brasil. Ele disse:
“Eu poderia citar o Brasil, por exemplo, onde o público acha que é ok assobiar, gritar, vaiar e gritar os nomes das músicas que eles querem ouvir. Eu acho isso incrivelmente rude, realmente não gosto disso. Não acontece isso em todo show que eu toco no Brasil, mas me deparei com isso algumas vezes no ano passado quando eu estava em turnê no Brasil. E é assim que eles são.”
O britânico destacou que este comportamento se repete em outros países, como nos Estados Unidos. Ele destaca:
“Existem outros estereótipos nacionais onde as pessoas se comportam dessa maneira. Você encontrará isso às vezes nos Estados Unidos, onde as pessoas acham que é ok gritar e assobiar. Não é ok. Estou tentando me concentrar em tocar, às vezes, músicas bem difíceis, e não gosto de ter essa interferência. Gosto de ter a flexibilidade para poder fazer isso. Se o público tentar de alguma forma te manipular ou influenciar sua maneira de tocar, isso não é bom. Para mim, é suficiente, no final de uma música, ver sorrisos nos rostos e alguém aplaudindo na hora certa. Isso significa tudo para mim. Não quero ser interrompido enquanto estou tocando.”
Sem reclamações por parte de Ian Anderson
Ainda durante a entrevista, Ian Anderson deixou claro que não estava se queixando disso. Apenas fez uma constatação e opinou.
“Não estou reclamando. As coisas são como são. Se você é um músico performático, assim como eles seriam se você fosse o primeiro-ministro e fizessem perguntas do primeiro-ministro: você tem que aceitar que vai ter algum mau comportamento e algum tipo de interferência de demandas manipuladoras dos parlamentares de base. É assim que as coisas são. Temos que aceitar.”
Sua opinião é forte a ponto de ter inspirado a música citada anteriormente. Ele disse:
“Às vezes, como neste caso, vira um tópico de uma música, um pouco irônica e certamente não aplicável somente a mim. Poderia se aplicar a um bailarino, a um cantor de ópera ou a um ator no meio de uma peça dramática de Shakespeare. Acontece com todos nós. Estamos controlando, e ainda assim de uma forma engraçada também estamos sendo controlados. E de uma forma meio sadomasoquista, talvez nós, ou pelo menos alguns de nós, podemos gostar disso. Eles podem gostar dessa sensação de ter que trabalhar dentro das expectativas de um público e querem satisfazer isso, particularmente em produções mais populares e grandes. Eles provavelmente ficam um pouco irritados se o público não estiver pulando, acenando com as mãos no ar, tirando selfies e fazendo o que for. Provavelmente sentem que estão sendo ignorados de alguma forma, ou que não é um público responsivo.”
Por fim, Ian deixou claro: desde o início da carreira, gosta de “um silêncio respeitoso e relativo até chegar” ao final de uma música – só aí é hora de aplaudir”.
“Algumas pessoas podem achar isso difícil de entender talvez não gostem disso, mas é assim que sempre fui. E do jeito que eu sou, nas raras ocasiões em que vou a um show, não vou começar a assobiar, gritar e pedir músicas que eu quero ouvir. Ou vaiar. Qual é o sentido de fazer isso? Você pode muito bem sair do local e ir para o pub mais cedo.”
Viagens à América do Sul
Em entrevista de abril de 2024 ao site IgorMiranda.com.br, Ian Anderson fez outro comentário curioso a respeito do Brasil, neste caso sobre a América do Sul como um todo. Ele admitiu que não gosta de vir até aqui em função de incômodo pessoal que envolve aviões – que acaba sendo agravado pela grande distância entre as nossas capitais.
“Algo que me deixa muito feliz quando estou no Brasil é sair do avião. Não sou feliz viajando de avião. E claro que no Brasil é preciso sempre estar voando, pois é um país muito grande. As cidades são muito distantes entre si e fica caro ir de carro. Então, pegamos um longo voo, pousamos em uma cidade, tocamos à noite no dia seguinte e depois já precisamos pegar outro voo. Só há um dia de intervalo, que nem é de descanso, pois temos que viajar quando não tem show. Enfim, eu realmente não gosto de viajar de avião, especialmente no Brasil. Seja indo para ou saindo do Brasil. No trajeto entre São Paulo e Londres, você enfrenta algumas das piores turbulências do planeta Terra! Em qualquer época do ano. Sempre é ruim!”
Mas os brasileiros não precisam se sentir pessoalmente atingidos. Ian reconhece que o incômodo se estende a todos os países do hemisfério sul, onde, segundo ele, estão as piores turbulências do mundo.
“Eu realmente não gosto de voar para o hemisfério sul, ter que cruzar a Linha do Equador. O mesmo vale para Austrália e Nova Zelândia. É difícil encarar essas viagens. Um grande incômodo para mim. Então, quando saio do avião e você me encontra andando no aeroporto, sou aquele cara com um grande sorriso no rosto. Porque ainda estou vivo!”
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