Depois da morte de Chorão em março de 2013, os membros remanescentes do Charlie Brown Jr decidiram seguir com um novo projeto para celebrar o legado construído. No mês seguinte, os músicos anunciaram a criação de uma nova banda chamada A Banca, com o baixista Champignon assumindo a posição de vocalista.
Num primeiro momento, a decisão de colocar o músico nos vocais pode ter parecido estranha. Porém, segundo Marcão Britto, o próprio Chorão já havia levantado a hipótese antes de falecer.
Durante participação no podcast Starling Cast, o guitarrista contou que o saudoso vocalista disse aos colegas que queria treinar Champignon para cantar no CBJr. A conversa aconteceu em meio à uma turnê e, à época, os membros não levaram a sugestão muito a sério.
Conforme transcrição do site IgorMiranda.com.br, ele contou:
“Numa das viagens de ônibus que fizemos com o Chorão em turnê, teve um momento que ele chamou todo mundo para conversar. Isso foi pouco antes dele falecer. Aí ele falou: ‘Galera, quero dar um toque em vocês. Eu quero treinar o Champignon pra ele cantar no meu lugar porque eu sinto que minha hora está chegando’. A gente achou estranho, disse: ‘Não fala essa m#rda que atrai’. Quando ele falou isso do Champignon cantar, a gente achou muito fora da realidade, ele nunca tinha falado isso para a gente. Ele até ficou meio bolado, pediu para a gente levar a sério. A gente não acreditou muito, pensou que ele tava tendo um devaneio. Só que isso ficou na cabeça.”
Quando o cantor morreu, os integrantes consideraram a ideia. Ainda mais porque Champignon tinha cantado no Revolucionnários, grupo que formou em 2005 quando saiu do Charlie Brown Jr:
“Quando ele faleceu, a gente pensou: ‘Apesar do Champignon ser mais baixista do que vocalista, ele cantava numa banda e cantava legal’. E também tem a ver com o Chorão, pareciam dois irmãos que tinham sido criados juntos, até o jeito de andar era meio parecido.”
De fato, o próprio baixista — que cometeu suicídio seis meses após a partida de Chorão — reconhecia as semelhanças entre ele e o colega. Ao g1, em 2013, Champignon mencionou o vocalista como uma de suas maiores referências:
“Estou buscando tentar [cantar] como o Chorão fazia, mas de uma forma um pouco autêntica. A gente tem um timbre um pouco parecido até. Não quero que as pessoas falem também ‘pô, está querendo imitar o cara’. Mas, por outro lado, cresci do lado dele. Eu o conheci quando eu tinha 12 anos de idade. E eu brincava de carrinho e depois ia para o ensaio tocar com o Chorão. Então, peguei os trejeitos, a forma de falar – o cara foi uma influência na minha vida. Tem coisas que não tem como fugir, é um jeito de ser, sacou?”
Já para a TV Globo, o baixista também ressaltou que recebeu a aprovação do próprio Chorão para comandar os vocais, como relembrado por Britto. Ele sinalizou:
“[Chorão] estava bem cansado e uns dois ou três meses antes de partir, ele pediu para que a gente continuasse comigo no seu lugar para ele descansar. Foi por isso que nós tivemos essa ideia de eu ir para o vocal e a gente reestruturar a formação da banda dessa forma. Então existe um aval do próprio cara antes do que aconteceu.”
Sobre Chorão
Alexandre Magno Abrão, mais conhecido como Chorão, nasceu em São Paulo no dia 9 de abril de 1970. Consagrou-se como vocalista, compositor, membro fundador e líder da banda Charlie Brown Jr.
De família humilde, Chorão teve uma infância conturbada, marcada pelo divórcio dos pais e pela rebeldia que o levou aos 14 anos a praticar skate, esporte onde se destacou e se profissionalizou na década de 1980.
Iniciou a trajetória na música por acaso, cantando de improviso em um bar. Logo foi convidado para assumir os vocais da banda santista What’s Up, onde conheceu o baixista Champignon, com quem mais tarde formou o Charlie Brown Jr. A banda se tornou popular no circuito de shows de Santos e de São Paulo. No início da década de 1990, assinaram contrato com a gravadora Virgin Records.
O álbum de estréia “Transpiração Contínua Prolongada” (1997) lançou o grupo ao estrelato, e os tornou um dos maiores fenômenos do rock nacional do fim da década de 1990 e início dos 2000. O sucesso foi mantido nos anos seguintes, mesmo com mudanças de formação que fizeram do cantor o único integrante a participar de toda a trajetória.
Chorão faleceu no dia 6 de março de 2013, aos 42 anos de idade, em decorrência de uma overdose de cocaína.
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