O Bring Me the Horizon realizou no Brasil o maior show de sua carreira. No último sábado (30), a banda tocou em São Paulo, em um Allianz Parque lotado, com uma superprodução que incluiu muitos efeitos especiais, projeções e pirotecnia.
Apesar de elogiada, a apresentação contou com um momento em específico que vem causando polêmica nas redes sociais. A cena ocorreu durante a estreia ao vivo do interlúdio “[ost] (spi)ritual”.
Ao longo de todo o concerto, os músicos exploraram uma narrativa conceitual que complementa o mais recente disco “Post Human: Nex Gen” (2024). Basicamente, o projeto é ambientado em uma realidade fictícia na qual E.V.E, uma inteligência artificial, controla um culto chamado Church of Genxsis, que diz buscar a salvação da humanidade por meio de experimentos dominadores.
Durante a faixa em específico, os telões foram tomados pelo que pareceu ser um dos membros da tal instituição. O personagem afirmou que realizaria um ritual para invocar Youtopia, algo que, em tal universo, significa uma espécie de estado mental. Segundo a própria figura, é um “mundo além do nosso, um reino de potencial infinito e transformação sem limites”.
Por isso, o personagem “começou” o Ritual Menor de Banimento do Pentagrama, cujo intuito seria de proteção, segurança e conexão, chamando os quatro arcanjos que protegem Youtopia: Gabriel, Michael, Uriel e Raphael. Assim, um pentagrama surgiu nas telas, enquanto que, no palco, apareceram imagens dos participantes do culto levitando.
A encenação do “ritual” virou notícia. Por exemplo, um site intitulado Pleno News divulgou em seu perfil que o “Bring Me the Horizon fez ritual explícito em show de SP”. O vídeo se espalhou online e recebeu críticas, sobretudo por parte de evangélicos, que consideraram o momento “ofensivo”, “satânico” e de “energia pesada”.
Vale destacar que a página em questão possui uma visão declaradamente conservadora e já recebeu críticas no passado por publicar desinformação. Em entrevista à Agência Pública, dedicada a checagem de conteúdos publicados online, a jornalista doutora em ciências da comunicação Magali Cunha afirma que o Pleno News é “um dos portais religiosos que mais publica material desinformativo”.
Bring Me the Horizon e religião
Em abril, um flyer publicado pelo Bring Me the Horizon nas redes sociais acabou gerando polêmica. Isso porque o cartaz, cujo intuito principal era informar os horários das apresentações em Brisbane, na Austrália, continha a seguinte frase — trecho da faixa posteriormente lançada “A Bullet W/ My Name On”:
“Se Jesus voltar, bem, mate esse idiota duas vezes.”
A postagem gerou inúmeros comentários negativos, sobretudo de religiosos, que criticaram a postura dos britânicos. Melonie Mac, uma gamer com mais de 200 mil seguidores no X/Twitter, respondeu à publicação com um registro próprio, no qual considerou a atitude desrespeitosa e recebeu engajamento.
Desde o início da carreira, a banda faz críticas à religião em suas músicas. “Crooked Young”, “The House of Wolves”, “Mantra”, “Dear Diary,” e inúmeras outras letras abordam o assunto.
Ao longo dos anos, o vocalista Oliver Sykes também falou abertamente sobre seu ateísmo. Em 2013, ele destacou para o site Artist Direct:
“Eu não acredito em Deus. Me pediram para acreditar nele quando estava em um lugar ruim. Eu não conseguia entender por que eu precisava de um deus ou, na minha opinião, de algo que não existe. As pessoas não deveriam precisar disso para si mesmas, suas famílias e seus amigos.”
Ainda, desabafou no Instagram no mesmo ano:
“É hora de parar de ignorar a verdade pura e simplesmente abolir a religião organizada. Todos nós sabemos o que é certo e o que é errado – sentimos isso em nossas mentes e em nossos corações. Não precisamos de um escravo homofóbico racista que acredita no Papai Noel para nos dizer como agir. A Bíblia aprova o tráfico de seres humanos, a limpeza étnica, a escravidão, a venda de mulheres e os massacres indiscriminados. Acreditar em Deus não te torna uma boa pessoa.”
No entanto, apesar de continuar com a postura cética, o próprio vem mudando sua perspectiva. Conversando com o The Sun em 2021, o artista, que é casado com a modelo e cantora brasileira Alissa Salls, revelou que passou um tempo ao lado da esposa em um ashram (local para procurar a paz) com monges e, diante da experiência, abriu a mente para certas crenças:
“Tenho um problema com o sistema organizado de religião, com a forma como isso divide as pessoas. Mas agora, em um nível espiritual, acho que é realmente importante acreditar em algo maior do que você mesmo.”
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