Apesar de ter tido origem e desenvolvimento no epicentro do black metal produzido na Noruega nos anos 1990, o Satyricon nunca esteve na linha de frente do movimento. Satyr (voz/guitarra) e Frost (bateria) podem esmurrar a porta, mas não entram numa hipotética sala onde estão os principais arquitetos do, abre aspas, “verdadeiro black metal norueguês”: Mayhem, Darkthrone e Emperor.
Isso, porém, não os impede de honrar com louvor os cânones do estilo. Ao vivo, principalmente, a banda ainda tem atributos suficientes para carregar a tocha acesa por seus conterrâneos há pouco mais de três décadas e até ir além.
Com um setlist bastante variado e abrangente, incluindo músicas relativamente recentes que conversam diretamente com um público mais jovem, o duo mostra que soube renovar sua audiência e entrega vitalidade rara de se encontrar entre expoentes mais antigos de um gênero, por vezes, cansado.
Foi o que se viu na noite de quinta-feira (14) na Toinha, em Brasília, na segunda de duas apresentações da banda no Brasil – no dia anterior (13), tocaram em São Paulo. Um show categórico, digno da primeira prateleira do black metal.
Noite fria, show quente
Choveu bastante entre o fim de tarde e início da noite na capital federal. Mesmo assim, o público não se afugentou e compareceu em bom número, aproveitando um pequeno atraso de 20 minutos para se acomodar na casa, cada vez mais consolidada como o reduto dos eventos de metal a médio porte na cidade.
Não houve banda de abertura. Desde o início, já era possível ver toda a parafernália dos noruegueses no palco – com destaque para a bateria de Frost, posicionada um pouco mais à frente que o habitual para a configuração de um sexteto.
Às 21h20, a intro de “To Your Brethren in the Dark” deu a largada. Logo de cara, duas coisas ficaram evidentes nessa estreia deles em Brasília: a qualidade de som estava impecável (e permaneceria assim até o fim), bem como a iluminação, que se provaria um elemento decisivo para o impacto visual da apresentação.
A despeito de o black metal norueguês se notabilizar por riffs gélidos e cortantes, como em “Forhekset” e “Du Som Hater Gud”, do clássico “Nemesis Divina” (1996), o Satyricon faz um contraponto com as “quentes” “Black Crow on a Tombstone” e “Now, Diabolical”, sendo essa a primeira a levantar o público com veemência.
Banda afiadíssima
O entrosamento da banda de apoio é de se reverenciar. Nem parece que houve um hiato de cinco anos (2019-2024) sem turnês. Os guitarristas Steinar “Azarak” Gundersen e Ben Ash reproduzem com fidelidade os timbres e detalhes mais sutis, seja na intrincada “Black Wings and Withering Gloom” ou na épica e climática “Hvite Krists død”, resgatada do álbum “The Shadowthrone” (1994).
Em relação ao repertório de São Paulo, saíram “Nemesis Divina”, “Walk the Path of Sorrow” e “Filthgrinder” para a entrada das já citadas “Forhekset” e “Du Som Hater Gud”, além de “Commando” e “The Wolfpack”, que foi extremamente bem recebida. É a típica canção que levanta o tal público rejuvenescido.
Do meio para o final do show, Satyr faz uso de uma Flying V branca, aumentando para três o número de guitarras em determinadas músicas. É o caso de “The Pentagram Burns”, que encaminha a reta final da apresentação.
O clímax se dá com a dobradinha “Mother North”, que praticamente define a tradição norueguesa e seus estilemas, e a roqueira “K.I.N.G.”, principal “hit” da banda. Na prática, é o encontro entre o velho e o atual Satyricon, que pode até não agradar a todos, mas transita como poucos por diferentes alas do black metal.
*Errata: Diferentemente do que foi publicado inicialmente, o guitarrista que acompanhou Steinar “Azarak” Gundersen não era Attila Voros, mas Ben Ash, que esteve envolvido com a turnê latino-americana em geral.
Satyricon – ao vivo em Brasília
- Local: Toinha
- Data: 14 de novembro de 2024
- Turnê: Latin America Tour 2024
Repertório:
- To Your Brethren in the Dark
- Forhekset
- Now, Diabolical
- Black Crow on a Tombstone
- Deep Calleth Upon Deep
- Our World, It Rumbles Tonight
- Repined Bastard Nation
- Black Wings and Withering Gloom
- Hvite Krists død
- Du Som Hater Gud
- Die by My Hand
- The Wolfpack
- Commando
- To the Mountains
- The Pentagram Burns
- Fuel For Hatred
- Mother North
- K.I.N.G.
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Me pergunto se dá para levar a sério uma resenha na qual nem a identidade dos integrantes está certa. Era o Ben Ash na guitarra, não o Attila Vörös. Imagine se não tivesse o setlist.fm para você ter a cola dos títulos das músicas… Um abraço.
Apesar da empáfia, obrigado pela leitura e pelo alerta. Informação corrigida! Abs