Cobertura por Thiago Zuma e Rolf Amaro; texto introdutório por Thiago Zuma | Se a garoa persistente e incômoda do sábado (19) deixou o clima longe das condições ideais para se curtir o Knotfest Brasil 2024, o domingo (20) foi literalmente um passeio no Allianz Parque. A temperatura dificilmente passou dos 20ºC numa tarde em momento algum ensolarada. Ainda que com gotas esparsas aqui e acolá, podia-se ver, na maior parte do tempo, até pessoas usando apenas camisetas.
O que não se via era gente nas cadeiras superiores do Allianz. Com a menor procura por ingressos, a organização do Knotfest não abriu o setor, conferindo um “upgrade” aos compradores das entradas mais baratas do festival à área inferior. A pista, com as mesmas separações da véspera, também estava visivelmente menos cheia em relação ao sábado.
Algumas alterações no sistema de circulação entre o gramado e as áreas dos bares e banheiros, porém, geraram acúmulos de pessoas em determinados pontos da pista. Outros locais, por sua vez, ficaram esvaziados pelo acesso mais truncado devido ao isolamento de uma parte ao lado da “house mix” para uma plataforma destinada às pessoas com deficiência.
Mesmo assim, longe de se poder afirmar que o segundo dia do Knotfest foi um fracasso de público. Com o palco principal Knotstage tentando equilibrar artistas renomados com atrações de uma nova geração da música pesada, é de se pensar nos motivos para a menor procura em relação ao dia anterior. Apenas por ser véspera de dia útil?
Em comum entre quase todas as atrações internacionais que se apresentaram no domingo — o P.O.D. e o novato Seven Hours After Violet foram exceções —, a integração entre a música e o aspecto visual de seus shows. Para o puxadinho do palco paralelo Maggot Stage, prevaleceu a escalação eclética de bandas brasileiras, variando do rock alternativo ao thrash metal da nova e velha guarda, passando até pelo progressivo.
Como na véspera, a qualidade de som foi inconstante. Difícil dizer se por culpa da organização ou das equipes técnicas dos próprios artistas, uma vez que a variação não se concentrou em um palco apenas.
Acabou sendo um ponto negativo no saldo final positivo do Knotfest. Mesmo com o clima jogando contra, o festival atraiu ótimo público para seus dois dias. Para isso, não precisou recorrer às mesmas bandas consagradas de sempre para encher sua escalação e ainda promoveu a estreia no Brasil de artistas em ascensão no cenário mundial.
The Mönic (Maggot Stage)
Por Thiago Zuma | The Mönic nem conseguiu terminar seu repertório programado, tamanho o fogo ateado em quem chegou cedo ao Allianz Parque pelo show da banda brasileira quase inteira feminina — o baterista Thiago Coiote acompanha Ale Labelle (guitarra/voz), Dani Buarque (guitarra/voz) e Joan Bedin (baixo/voz).
O set começou pontualmente às 12h30 com “Sabotagem”, a música, e boa qualidade de som. Yasmin Amaral, da Eskröta, devolveu a canja da véspera ao tocar “TDA”, quando Dani Buarque invadiu a pista para puxar coros misfitianos do público, que também já abria rodas.
Depois, MC Taya manteve o pique com seu rock de favela “Bitch, Eu Sou Incrível”, misturando seu funk pesado com a levada mais alternativa do grupo paulista. O tempo voou e “Bateu” ficou de fora, mas “Kamikaze” encerrou bem o divertido começo do segundo dia do Knotfest.
Repertório – The Mönic:
1. Sabotagem
2. Bruxaria
3. Atear
4. Nocaute
5. Antes Tarde
6. TDA (participação de Yasmin Amaral)
7. Bitch, Eu Sou Incrível (participação de MC Taya)
8. Kamikaze
Poppy (Knotstage)
Por Thiago Zuma | Com quase três milhões de inscritos em seu canal de YouTube, mesma quantidade de ouvintes no Spotify, Moriah Rose Pereira, ou Poppy, de 29 anos, ainda é uma novata nos palcos da música pesada. Foi o que indicou sua performance de pouco menos de cinquenta minutos responsável por abrir o palco principal do Knotfest Brasil 2024 no domingo (20).
Vestida com um avental branco e sexy, a artista cantava — ou dublava? — mais preocupada em se manter sincronizada com o turbilhão de vocais e outros instrumentos pré-gravados executados no sistema de som. Ela era acompanhada por um trio de músicos, com roupas da mesma cor, que tocavam o núcleo dos arranjos em seus instrumentos.
As músicas cativaram, alternando pop (“Crystalized”) com um metal de influência alternativa (“Lessen the Damage”) e industrial (“Sit/Stay”), ou tudo misturado (”X”). Apesar disso, houve pouco de interação da americana além de breves acenos ao público.
A partir de certo momento, a galera começou a abrir rodas por si só, não tão bem encaixadas com o som que vinha do palco. A cantora, aliás, saiu correndo do Knotstage quando terminou a letra de “Concrete”, deixando os músicos sozinhos para encerrar a música e o show.
Repertório – Poppy:
1. BLOODMONEY
2. V.A.N (gravada com o Bad Omens)
3. Sit / Stay
4. the cost of giving up
5. I Disagree
6. Bite Your Teeth
7. Crystallized
8. Lessen the Damage
9. Scary Mask
10. X
11. Anything Like Me
12. New Way Out
13. Concrete
Papangu (Maggot Stage)
Por Rolf Amaro | A capacidade de tolerância do público do Knotfest foi testada logo cedo com o show do Papangu. Não pela qualidade da banda, é claro.
O sexteto paraibano, que divulga o recém-lançado álbum “Lampião Rei”, mistura rock psicodélico, progressivo, frevo e uma lista sem fim de ritmos. Fica mais fácil resumir como uma mistura dos discos “Paêbirú” (Lula Côrtes e Zé Ramalho) com “Anthems to the Welkin at Dusk” (Emperor).
Já na primeira música, “Boitatá”, um solo audível de flauta feito por Pedro Francisco indicava que o som estava bom, diferentemente de sábado (19). Trazia também a reflexão: não se via esse instrumento ser usado no metal nacional desde o Tuatha De Danann.
O peso vem mais do gutural do vocalista e guitarrista Pedro Francisco do que propriamente das guitarras, mesmo tendo em conta que há três no instrumento: Hector Ruslan e Raí Accioly além de Pedro. Isso não incomoda o público, em número bem maior do que no dia anterior em horário semelhante.
As passagens intrincadas e os experimentalismos, que incluem sons de triângulo e de uma galinha de borracha, são bem recebidos. Os trechos mais pesados, como o bumbo duplo em alta velocidade em “Maracutaia” — que teve a participação de João Kombi, vocalista do Test — surpreendem positivamente e são ainda mais celebradas.
O show termina com a banda comemorando e o nome “Papangu” soando em sinal de aprovação. Completam o time o tecladista Rodolfo Salgueiro e o baterista Vitor Alves.
Repertório – Papangu:
1 Boitatá
2 Oferenda no Alguidar
3 São Francisco (participação de João Kombi)
4 Maracutaia
5 Acende a Luz
P.O.D. (Knotstage)
Por Thiago Zuma | Apesar de sua sexta visita para se apresentar no Brasil, o vocalista do P.O.D., Sonny Sandoval, se comunicava com o público do Knotfest Brasil 2024 no domingo (20) arriscando palavras em espanhol. Certamente, sabia que seria compreendido, a julgar pela resposta efusiva obtida pelo veterano grupo americano por quase uma hora em cima do Knotstage.
Com um repertório que se dividiu entre faixas do mais recente disco, “Veritas”, lançado em maio deste ano, e seus dois álbuns lançados na virada do milênio, hoje clássicos do nu metal, o P.O.D. soube atiçar o público para mantê-lo animado.
A banda pôs a galera para pular em “Set It Off”, a primeira na tarde das cinco músicas extraídas de “Satellite” (2001), logo de cara após uma dupla de faixas novas. O guitarrista Marcos Curiel, que também falava bastante, pediu para o público escolher entre “Sleeping Awake”, da trilha sonora de “Matrix Reloaded” (2003), e a quase faixa-título de “The Fundamental Elements of Southtown” (1999).
Com a cantoria desencadeada por “Southtown”, a escolhida, assim como a dupla final da tarde “Youth of the Nation” e “Alive”, ambas de “Satellite”, o P.O.D. saiu do Knotstage deixando a impressão diametralmente oposta ao show morno dos contemporâneos do Mudvayne na véspera. O grupo, vale lembrar, tem sideshows confirmados em Curitiba e Rio de Janeiro para os próximos dias.
Repertório – P.O.D.:
1. Drop
2. I Got That
3. Set It Off
4. Boom
5. Rock the Party (Off the Hook)
6. I Won’t Bow Down
7. Satellite
8. Southtown
9. Afraid to Die
10. Youth of the Nation
11. Alive
Korzus (Maggot Stage)
Por Rolf Amaro | A abertura de show do Korzus não é muito comum. O baterista Rodrigo Oliveira e os guitarristas Jean Patton e Heros Trench sobem primeiro, enquanto o baixista Dick Siebert e o vocalista Marcello Pompeu entram por último, a ponto de dar início ao set com “Guilty Silence”.
Em “What Are You Looking For”, também do álbum “Ties of Blood” (2004), Pompeu ensinou parte do refrão para a galera. Deu certo.
Para todo verso “What Are You Looking For?”, houve uma resposta massiva com “I see your death”. O grupo paulistano de thrash metal encerrou o breve set com “Correria”.
Repertório – Korzus:
1 Guilty Silence
2 Raise Your Soul
3 Never Die
4 What Are You Looking For
5 Truth
6 Correria
Babymetal (Knotstage)
Por Rolf Amaro | Finalmente estreou no país a maior revelação do metal japonês em muito tempo. A Babymetal era bastante aguardado. Já se notava isso visualmente: o nome da banda composta pelas cantoras Suzuka Nakamoto (Su-metal), Moa Kikuchi (Moametal) e Momoko Okazaki (Momometal) era facilmente encontrado por todo estádio, em camisetas e bandeiras.
Conforme rolava a introdução, era claro que a produção utilizada nas turnês asiáticas e europeias não havia sido trazida. Os músicos mascarados já estavam posicionados, as pequenas plataformas para as cantoras subirem estavam no lugar… e só. Entretanto, não foi motivo de desânimo: a gritaria ensurdecedora tornou tal fato irrelevante.
O que não foi possível ignorar foi a baixa qualidade sonora. Volume reduzido, especialmente das guitarras, inaudíveis. Só era possível identificar um bolo sonoro que acompanhava a bateria, magistralmente tocada por Anthony Barone.
“BABYMETAL DEATH”, aliás, soou como uma introdução instrumental dependendo de onde se visse o show. A decepção pôde se consolidar em “PA PA YA!!”, um quase axé bastante pesado, ofuscado pela voz quase inaudível de Su-metal.
Problemas desse tipo sempre são lamentáveis. Na estreia de um projeto que traz o peso do heavy metal como elemento somente musical, compondo com a sincronia olímpica das danças uma atração completamente nova, o dano fica bem maior.
A simpática Su-metal interagiu em diversos momentos com o público, mas em muitas vezes não foi bem-sucedida, em função de que era impossível entender o que ela dizia. Um exemplo foi quando ela pediu para a plateia se agachar e vários deixaram de fazê-lo por questão de compreensão, já que ela tinha o público na mão.
O momento dos excelentes músicos de apoio realizarem cada um breve solo, antes de “METAL!!!”, também foi ofuscado por quase não ser possível entender o que estava sendo tocado.
Ainda assim, houve grandes momentos, como quando o povo girava a própria camiseta em resposta às girafas de bandana que as meninas faziam. “RATATA”, música gravada com o Electric Callboy, teve recepção de hit, bem como “Gimme Chocolate!!”.
É importante esclarecer para quem tem essa dúvida: é quase tudo executado ao vivo, incluindo os vocais principais. Quem duvida pôde — ou não, já que os ingressos se esgotaram — tirar a dúvida no sideshow realizado pelo grupo na última segunda-feira (21), na Audio, em São Paulo.
Repertório – Babymetal:
1 BABYMETAL DEATH
2 PA PA YA!!
3 Distortion
4 BxMxC
5 METALI!!
6 Megitsune
7 KARATE
8 RATATATA
9 Gimme Chocolate!!
10 Road of Resistance
Seven Hours After Violet (Maggot Stage)
Por Thiago Zuma | Atração gringa confirmada de última hora para o Knotfest Brasil 2024, a nova banda do baixista Shavo Odadjian, que fez fama com o System of a Down, Seven Hours After Violet é nova mesmo. A apresentação no festival brasileiro foi a segunda de sua trajetória. Seu disco de estreia, homônimo, saiu na semana anterior ao evento no Allianz Parque.
Natural, dessa forma, que o público desconhecesse Seven Hours After Violet — as iniciais formam S.H.A.V.; coincidência? Houve até quem se assustasse ao reconhecer no palco o músico do System of a Down, dono de barbicha inconfundível, por mais que o grandalhão vocalista Taylor Barber (Left to Suffer) mencionasse o baixista entre uma canção e outra. Mas a reação geral à apresentação foi de uma curiosidade desinteressada.
Músicas como “Cry…” ou “Radiance” remeteram a momentos mais etéreos do Deftones, com vocais delicados feitos pelo também guitarrista Alejandro Aranda. Em “Float”, destacou-se a linha de baixo de Odadjian emulando ídolos do pós-punk como Paul Raven e Peter Hook.
Isso quando a banda completada pelos músicos do Winds of Plague Josh Johnson na bateria e o guitarrista Michael “Morgoth” Montoya, também produtor do primeiro disco, não pegava pesado mesmo, como em “Alive” ou “Abandon” — ainda que os pedidos de roda de Barber não fossem correspondidos.
Ao final da apresentação de trinta minutos, para não deixar dúvidas sobre a estirpe do baixista, foi chamado o baterista do System of a Down, John Dolmayan, que também estava no Brasil. Com ele nas baquetas, os músicos tocaram, com ar de improviso, “Prison Song”, clássico de “Toxicity” (2001). O público obviamente cantou junto. A participação não se repetiu durante a apresentação de segunda-feira (21) na Audio, abrindo para a Babymetal.
Repertório – Seven Hours After Violet:
1 Paradise
2 Cry
3 Float
4 Radiance
5 Abandon
6 Alive
7 Sunrise
8 Prison Song (cover de System of a Down, com John Dolmayan)
Till Lindemann (Knotstage)
Por Thiago Zuma | Como o Knotfest de 2024 ocorreu num estádio de futebol, permita-me a referência: sabe quando o jogador em férias participa daquelas peladas de fim de ano? É quase o caso de Till Lindemann, vocalista dos piromaníacos do Rammstein, que encerrou sua mais recente turnê em agosto desse ano.
O mais próximo de uma pelada no palco principal do Allianz Parque, no entanto, foram os seios postiços do baterista Joe Letz. Não que tenha sido por algum melindre de Lindemann, recentemente acusado de abuso sexual, mas com investigação arquivada por falta de provas pela promotoria alemã.
No palco, suas guitarristas Jes Paige e Emily Ruvidich e principalmente a tecladista Constance Antoinette faziam poses lascivas. Dançavam como se fossem strippers enquanto tocavam seus instrumentos.
Sem fugir à atmosfera de “Rammstein Licht” predominante, não tinha como Lindemann reproduzir toda a parafernália piromaníaca de seu trabalho principal. Não significou, porém, ter faltado esmero na produção de seu show, seguindo a tônica videoclíptica das apresentações do domingo no Knotstage.
Passos coreografados dos músicos usando roupas de um vermelho chamativo — completou o time o baixista Danny Lohner —, exceto por um roadie de preto que servia como “assessor de microfones”. Não só ele os distribuía entre os apoios espalhados no palco, como recolhia o equipamento quando o vocalista o jogava ao chão ao final de algumas canções, e também tinha seu capacete usado como suporte de um novo para o cantor.
A sonoridade da carreira de Lindemann também não deixa de parecer uma versão light do Rammstein. O andamento quase sempre na pegada industrial com a voz característica do cantor agradou em cheio tanto aos fãs da banda que acompanhavam sua carreira quanto àqueles tendo o primeiro contato com as músicas na estreia em palcos brasileiros.
A execução das músicas no palco refletiu a preocupação com a produção visual do show. Já veterano de apresentações em locais grandes, Lindemann ofereceu uma equalização primorosa de som, nítido e em volume alto.
Sem apelar para covers do grupo principal, o repertório equilibrou canções dos dois álbuns lançados pelo projeto Lindemann — parceria com o produtor sueco Peter Tägtgren, também das bandas Hypocrisy e Pain —, como “Golden Shower”, “Steh auf” e “Skills in Pills”, com músicas de seu mais recente trabalho solo “Zunge” (2023), como a faixa-título, que abriu o set.
O show se encerrou com Lindemann cantando em um espanhol chucrutiano o cover de “Entre dos Tierras” do Héroes del Silencio — não muito diferente do sotaque carregado quando o faz em inglês —, seguido pelo gestual meio palhaço em “Ich hasse Kinder”, como em todas as outras da apresentação.
Após uma hora e dez minutos, o vocalista do Rammstein reuniu seus músicos de apoio para uma despedida à moda antiga em frente ao palco do Knotstage para um público satisfeito.
Repertório – Till Lindemann:
1. Zunge
2. Schweiss
3. Fat
4. Altes Fleisch
5. Allesfresser
6. Golden Shower
7. Sport frei
8. Blut
9. Praise Abort
10. Fish On
11. Steh auf
12. Du hast kein Herz
13. Skills in Pills
14. Entre dos tierras (cover do Héroes del Silencio)
15. Ich hasse Kinder
Ego Kill Talent (Maggot Stage)
Por Rolf Amaro | O Ego Kill Talent voltou aos palcos do Allianz Parque pouco mais de um ano após abrir para o Evanescence em 2023. A vocalista Emmily Barreto (que usou uma camiseta com Eloy Casagrande criança, em que ele toca um mini kit de bateria no programa da Adriane Galisteu), os a princípio guitarristas Niper Boaventura e Theo van der Loo e o baterista Raphael Miranda contaram desta vez com Cris Botarelli no baixo. Ela é companheira da própria Emmily no Far From Alaska, onde assume teclado e programação — e também já deu canja em um dos shows do Coldplay, também em São Paulo, em março do ano passado.
Em relação à performance com o Evanescence, outra diferença foi o fato de o EP “Call Us By Her Name” já ter sido lançado — a turnê com Amy Lee e companhia ocorrera dias antes do lançamento, então algumas das músicas eram inéditas e não foram identificadas durante os shows. Aproveitando, um pedido para todas as bandas: digam os nomes das canções antes de tocá-las. Jornalistas, fãs, fiscais do Ecad… todos agradecem.
O ponto alto da performance foi “Finding Freedom”, uma bela melodia que antecipa uma nova e melhor direção para a banda, em contraponto a “Last Ride”, dos tempos ainda com Jonathan Dörr no vocal. Outro destaque se deu no single mais recente “We Move as One”, gravado com as participações de Rob Damiani (vocalista do Don Broco) e Andreas Kisser. Foi a maneira mais próxima que o guitarrista do Sepultura participou do Knotfest em 2024.
Bad Omens (Knotstage)
Por Thiago Zuma | Em 2022, quem se apresentou no palco principal do Knotfest imediatamente antes dos donos da festa foi o Bring Me the Horizon. Dois anos depois, o grupo britânico está escalado para show solo em novembro no Allianz Parque. Se em 2024 havia uma banda destinada a repetir esta ascensão era o Bad Omens — como provava a quantidade enorme de suas camisetas circulando no estádio antes de seu primeiro show no Brasil.
O quarteto americano lançou três discos de estúdio em quase dez anos de carreira e, desde a repercussão do álbum “The Death of Peace of Mind” (2022), tem aparecido nas posições mais altas dos cartazes de festivais direcionados ao metal mainstream. Não à toa, desse trabalho foram extraídas nove das quinze músicas executadas durante os setenta minutos em que estiveram no Knotstage.
Mantendo a tônica das apresentações do domingo (20), o cuidado com a parte visual do show se mostrou primordial — era a maior produção dos dois dias de festival. As imagens exibidas no telão se coordenam com as refletidas painéis de LED dispostos pelo palco como torre ou embaixo da bateria de Nick Folio, complementando a execução no palco.
Criou-se, assim, uma narrativa que parecia um filme executado ao vivo. Ou um longo videoclipe, se preferir. Não à toa, o grupo lançou em 2024 “Concrete Jungle (The OST)” — apesar do jeitão de trilha sonora (“ost” significa “original soundtrack”, ou “trilha sonora original”), é uma espécie de coletânea complementar ao álbum de dois anos atrás, incluindo novas composições em colaboração com outros artistas, além de versões diferentes e ao vivo de faixas do trabalho anterior.
Os ânimos se exaltaram no Allianz Parque já durante a exibição de um vídeo de introdução logo quando as luzes do estádio se apagaram. Na escuridão, os músicos encapuzados subiram ao palco e executaram a introspectiva “CONCRETE JUNGLE”, com sua letra, principalmente seu melodioso refrão, acompanhada aos gritos do público, mantidos quando a pesada “ARTIFICIAL SUICIDE” veio na sequência.
A performance seguiu na mesma toada quando Poppy veio ao palco, de sobretudo preto mas com o rosto à mostra, para “V.A.N”, faixa do trabalho de 2024 que ela própria já havia tocado em seu show horas antes. Assim como naquela apresentação, houve uso expressivo de efeitos e instrumentos pré-gravados, além da sincronia do som, alto e definido, com as imagens executadas no telão.
O guitarrista Joakim Karlsson e o baixista Nicholas Ruffilo, porém, pareciam mais à vontade para se mover no palco. O vocalista Noah Sebastian, por sua vez, passou a ter maior comunicação com o público a partir da terceira canção, “THE DRAIN”, quando os músicos tiraram os capuzes. Pediram moshpits em “ANYTHING > HUMAN” e, mais tarde, um “wall of death”.
Mesmo com os maiores coros da noite em “What It Cost”, o show nunca perdia essa atmosfera de videoclipe executado ao vivo. Todos os passos eram minimamente calculados para se encaixar nos efeitos de luzes e das imagens projetadas.
Não foi um problema para os fãs da banda, mas tudo pareceu mais genuíno quando, em vez de um vídeo de introdução, o telão mostrou apenas uma imagem parada de “Glass Houses”, faixa do trabalho de estreia homônimo de 2016. A pegada “metalcore raiz” da música contrastou com as influências de electropop e industrial que permeiam as canções dos álbuns mais recentes.
A atmosfera de videoclipe retornou na sequência e se manteve até o show terminar. O que poderia ser um bonito momento acústico em “Just Pretend” com o estádio tomado pelas inevitáveis lanternas de celular, perdeu espontaneidade diante dos samplers e efeitos executados ao mesmo tempo.
Da mesma forma no final, com o groove metálico noventista de “Dethrone”. A faixa do segundo álbum “Finding God Before God Finds Me” (2019) foi introduzida por um novamente encapuzado Sebastian urrando enquanto pedia a participação do público, com auxílio do telão. Quando a velocidade da música disparou, o público agitou no que parecia um show de metal dos não-tão-velhos tempos.
Talvez encontrar o ponto de equilíbrio entre a espontaneidade e intensidade de um show ao vivo com o cuidado de toda sua produção visual seja a receita para o Bad Omens transcender seu apelo para além da nova geração de fãs da música pesada. Não parece, porém, ser necessário no momento. A ver se daqui a dez anos, o quarteto estará tocando em estádios ou terá sido apenas uma moda passageira à espera de um revival.
Repertório – Bad Omens:
1. CONCRETE JUNGLE
2. ARTIFICIAL SUICIDE
3. V.A.N (participação de Poppy)
4. THE DRAIN
5. ANYTHING > HUMAN
6. What Do You Want From Me?
7. What It Cost
8. Like a Villain
9. Take Me First
10. Glass Houses
11. Nowhere to Go
12. Limits
13. THE DEATH OF PEACE OF MIND
14. Just Pretend (com introdução acústica)
15. Dethrone
Black Pantera (Maggot Stage)
Por Rolf Amaro | Uma introdução com discurso do Mano Brown (Racionais MC’s) marcou uma divisão entre o recém-finalizado show do Bad Omens e o set a ser executado pelo Black Pantera.
Charles Gama (voz e guitarra), Chaene da Gama (voz e baixo) e Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria) abriram com “Provérbios”, do disco mais recente, “Perpétuo” (2024). O som é um hardcore pesado, com diversas veredas, mas soou como uma sinfonia depois do artificial Bad Omens, com tantos filtros e efeitos.
O Black Pantera fugiu à estatística do evento. Conseguiram uma qualidade no mínimo boa de volume e definição de som. “Padrão é o Car#lho” foi uma das pauladas rápidas e pesadas que ressoou claramente pelo estádio. As meninas não foram deixadas de lado na hora da agressividade e prontamente atenderam quando convocadas a entrar na roda em “Mosha”.
Também houve o momento balada com luzes de celular para o alto com “Tradução”, numa pegada Charlie Brown Jr., que Chaene dedicou às mães (“no meu vocabulário a tradução do que é amor”, diz a letra). Também aconteceram citações explícitas. O refrão de “Olho de Tigre”, do rapper Djonga, foi a introdução para “Fogo nos Racistas”. “Revolução é o Caos” teve como música incidental “My Own Summer” (Deftones), puxada por Charles.
O público participou cantando o show todo. Uma prova da popularidade crescente que o Black Pantera tem obtido.
Repertório – Black Pantera:
1 Provérbios
2 Padrão é o Car#lho
3 Mosha
4 Perpétuo
5 Tradução
6 Revolução é o Caos
7 Boto pra F#der
Slipknot (Knotstage)
Por Thiago Zuma | O público do Knotfest Brasil 2024 já havia berrado, no domingo (20), o refrão mais melódico de “Wait and Bleed”, na mesma sequência inicial de três canções (completa por “(sic)” e “Eyeless”) executada pelo Slipknot na noite anterior de sábado (19), agora sem atrasos. Corey Taylor, então, explicou a proposta daquele segundo show da banda como headliner de seu próprio festival.
O vocalista declarou que o repertório não conteria músicas escritas após 1999, ano em que saiu seu álbum homônimo de estreia — desconsiderando-se “Mate. Feed. Kill. Repeat.” (1996), hoje considerada uma demo oficial.
Em seguida, a banda executou “Get This”, faixa-bônus de reedições do disco homônimo desencavada do repertório do grupo, e “Eyeore”, inicialmente uma música escondida na tracklist do trabalho inicial e estreante em repertórios brasileiros.
Para quem acompanhava o Slipknot desde o primeiro dia, foi um show especial, como disse Taylor, ao explicar ser essa a forma da banda de agradecer seus primeiros “maggots”, como seus fãs são conhecidos. Em um dia de Knotfest com elenco dedicado atrativo a uma geração mais nova da música pesada (Bad Omens, Babymetal, Poppy, entre outros), talvez a estratégia pudesse dar errado com as faixas menos conhecidas. Apesar dos pesares, não foi o caso.
Apesar de músicas como “Me Inside” ou “Liberate” ainda não terem o refinamento melódico — ou comercial, como queiram — que o Slipknot desenvolveria em discos seguintes, seus fãs cantaram e pularam junto da mesma forma.
A frenesi no estádio, porém, esteve abaixo da demonstrada pelo maior público presente no sábado (19). Alguns interlúdios, como o remix ruidoso de Sid Wilson para “Tattered & Torn” ou mesmo a curta introdução “Frail Limb Nursery” — cortada de edições seguintes do primeiro álbum por problemas com direitos autorais —, de certa forma quebravam a fluência do show. Músicas mais introspectivas como “Purity” ou “Prosthetics” também não despertam tanta loucura como alguns dos hits da banda executados na véspera.
“No Life” e “Only One”, faixas tocadas pela primeira vez no Brasil, despertaram reações mais animadas entre os fanáticos. Há um motivo, porém, para serem “deep cuts” no catálogo do Slipknot: só ganharam o público geral mesmo quando Eloy Casagrande teve um pequeno solo no meio da última música antes do intervalo pré-bis.
A curta espera ocorreu com a vinheta “Mudslide”, uma conversa entre os músicos registrada de forma sorrateira na edição inicial do primeiro disco, discretamente executada no sistema de som do Allianz Parque.