Dono de uma das carreiras mais longevas do rock, Os Paralamas do Sucesso lançaram tantas músicas de sucesso que um show da banda é como uma coletânea de “greatest hits”. Uma das canções mais notórias é “Lanterna dos Afogados”, lançada em 1989 como parte do álbum “Big Bang”, o quinto da trajetória do grupo fluminense.
Mas o que é a tal “lanterna dos afogados”? A expressão não só batiza a faixa, como também é citada algumas vezes em sua execução.
Conheça a história de um dos grandes hits d’Os Paralamas do Sucesso.
Como surgiu “Lanterna dos Afogados”
O vocalista e guitarrista Herbert Vianna revelou, em entrevista à Vinho Magazine (via Whiplash), como surgiu “Lanterna dos Afogados”. Letra e melodia surgiram em sua cabeça durante o trajeto da casa da namorada até o restaurante no qual haviam combinado de jantar.
Com as ideias fervilhando em sua cabeça, ao chegar no local, Herbert pediu papel e caneta ao garçom — em vez de comida e bebida. Em questão de minutos, a música nasceu.
“Certa vez, saí com minha namorada pra jantar. Sentei na moto, ela começou a conversar, mas pedi para que ela não falasse mais nada, porque estava com a melodia e a letra na cabeça. Quando chegamos ao restaurante, em Ipanema, o garçom veio saber o nosso pedido. ‘Papel e caneta, rápido’, foi o que eu pedi. Naqueles dez minutos de moto, da minha casa até o restaurante, a música foi composta.”
“Lanterna dos Afogados” foi uma das escolhidas para compor as faixas de “Big Bang” e se tornou um de seus singles. Desde então, é conhecida como um dos grandes sucessos do grupo, fez parte da trilha sonora de algumas novelas – com destaque para “Rainha da Sucata”, da TV Globo – e acabou regravada por outros artistas de renome, como Cássia Eller, Maria Gadú e os portugueses do Moonspell.
Também por conta de sua popularidade, “Lanterna dos Afogados” ganhou um videoclipe exibido no “Fantástico”, da Globo. Além disso, foi reproduzida em outros trabalhos ao vivo da discografia do trio.
Título baseado em livro de escritor renomado
E a tal “lanterna dos afogados”? O termo apareceu pela primeira vez um livro escrito por um dos grandes nomes da literatura brasileira.
Segundo Júlio Ettore, este é o título de um capítulo de “Jubiabá”, escrito por Jorge Amado. A obra foi lançada em 1935 e explora a vida de muitas pessoas humildes de Salvador a partir do ponto de vista de seu protagonista, chamado Antônio Balduíno.
Em determinado momento de sua sofrida vida, o personagem passa a frequentar um bar chamado justamente “Lanterna dos Afogados”, localizado no porto de Salvador. Em um artigo da professora Juciara Maria Nogueira Barbosa, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, o lugar é descrito da seguinte maneira:
“Ponto de encontro onde se reuniam estivadores, prostitutas, jogadores de capoeira, pessoas do povo e marinheiros vindos de diversas partes do mundo que ali bebiam, comiam, conversavam, brigavam, cantavam e confraternizavam. O Lanterna dos Afogados era, nesta perspectiva, um local cheio de vida e uma encruzilhadas por onde circulavam tipos representativos da mais autêntica cultura popular baiana.”
No entanto, vale ressaltar que o bar também representa a angústia e solidão das pessoas excluídas pelo sociedade. O próprio Herbert Vianna revelou que a composição tem esse pano de fundo, em entrevista à Folha de S. Paulo — além de admitir que o título da canção vem deste capítulo de “Jubiabá”.
“É uma constatação da solidão e do silêncio escuro no entorno da pessoa solitária. Mencionava uma das coisas que eu li naquele momento, um livro do Jorge Amado que tinha o nome do bar, achei muito criativo.”
Criação da parte melódica
Por fim, a respeito da melodia, em conversa com o podcast Rock 3.0, da universidade Unisinos, o baterista João Barone revelou que “Lanterna dos Afogados” se trata de uma balada bem ao estilo dos anos 1980. Ainda citou um artista e um grupo bem conhecidos na época.
“É uma balada de rock com alguns clichês facilmente reconhecíveis. Me lembro que o Herbert pensava muito numas coisas tipo Jeff Beck, que não era essencialmente uma balada comercial, algumas coisas que acabavam chegando no rádio através do Whitesnake, aquelas coisas quase farofa, mas que a gente deu uma certa sofisticada.”
A letra de “Lanterna dos Afogados”, dos Paralamas do Sucesso
Quando tá escuro
E ninguém te ouve
Quando chega a noite
E você pode chorar
Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegarEu tô na lanterna
Dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar, ô, ôUma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar
E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virarEu tô na lanterna
Dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar, ô, ôUma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudarEu tô na lanterna
Dos afogados
Eu tô te esperando, ô
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