No início do ano passado, o baterista Nicko McBrain sofreu um AVC. A situação só foi exposta após o Iron Maiden estar em meio à atual turnê – e algumas observações críticas sobre o desempenho do músico terem aparecido em fóruns de comentários online.
Como a banda tem a característica de ser muito discreta quanto à vida pessoal de seus integrantes, tudo foi sendo revelado aos poucos. E alguns fatos seguem vindo à tona de forma esporádica. Durante entrevista ao podcast Washington Tattoo, o instrumentista britânico radicado nos Estados Unidos contou um novo detalhe.
Ele disse, conforme transcrição do Blabbermouth:
“Aconteceu em 19 de janeiro do ano passado. Faria uma cirurgia de catarata naquele dia. Talvez eu tenha sentido muito estresse e angústia, com alguém mexendo com seus olhos. Seriam os dois ao mesmo tempo. Antigamente se fazia um de cada vez, só para garantir. Você andaria por aí cego de um olho, não dos dois. E eu tinha uma fonte confiável de que essa é a única razão pela qual eles não gostam de fazer, mesmo hoje em dia, ambos ao mesmo tempo. Mas tinha confiança no cirurgião e na medicina atual, então disse: ‘Ah, posso fazer as duas coisas ao mesmo tempo?’ ‘Sim, sem problemas.’”
O AVC de Nicko McBrain
Porém, nada saiu como o previsto. Um problema ainda mais grave de saúde acometeu Nicko, como o próprio recorda.
“Lembro que estava assistindo a um jogo de tênis na TV às seis da manhã, o que é incomum para mim, porque eu acordo por volta das sete, sete e meia. Estava um pouco ansioso. A seguir, relaxei na espreguiçadeira e dormi. Acordei cerca de 45 minutos depois e tinha sofrido esse derrame. Levantei meu braço, pensando, ‘O que está acontecendo aqui?’ Eu podia senti-lo, mas ele não respondia. Soltei e ele simplesmente caiu, senti que algo não estava certo. Minha perna não paralisou, mas ficou bamba. O que foi uma coisa boa, porque meu pé ainda funcionava.”
A solução foi a óbvia: partir para o hospital.
“Chegando lá, havia uma equipe inteira de pessoas trabalhando ao meu redor. Era como se fosse um astro, mas eles nem sabiam quem eu era. Esse é o tipo de tratamento que todo mundo recebe quando tem um derrame e vai para o Hospital Batista de Boca Raton. Eles têm uma equipe de, tipo, 12 pessoas ao seu redor instantaneamente, não importa quem você seja. Fizeram uma tomografia computadorizada e uma ressonância magnética.
Quando saí, Marc A Swerdloff, meu médico neurologista, tinha uma infinidade de alunos ao seu redor, cerca de seis crianças, jovens — eu os chamo de crianças, mas eles provavelmente estão todos na faixa dos 20 ou 30 anos. De qualquer forma, ele diz ‘você teve um derrame, Sr. McBrain’ e eu respondo ‘Sim, me diga algo que eu não saiba.’ Ele riu e prosseguiu ‘É um AIT.’ Eu disse, ‘Ok, então não é um derrame grave.’ Ele disse, ‘Sim.’
Ele disse, ‘Temos esse medicamento chamado TNK [tenecteplase]’, que, o que significa, eu não tenho ideia. E ele disse que é um destruidor de coágulos, e previne qualquer dano adicional ao seu cérebro que possa ter ocorrido ou que já tenha ocorrido. Ele disse, ‘Mas há um risco.’ E eu disse, ‘Qual é o risco?’ Ele disse, ‘Você pode morrer.’ Eu disse, ‘Ok. Então, qual é a porcentagem de falha de pessoas [tratadas com tenecteplase intravenoso]?’ Era de sete a nove por cento. Ele diz: ‘Então, se você tem, temos que colocá-lo em tratamento intensivo por 24 horas e monitorá-lo a cada hora.’ E eu disse: ‘Bem, ok, vamos lá.’”
Porém, como em um procedimento de risco, o paciente precisa se responsabilizar. McBrain resolveu bancar a situação.
“Ele diz: ‘Assine aqui.’ Sou destro, então tive que fazer uma cruz. ‘Apenas faça o máximo que puder.’ Eu meio que rabisquei meu nome em uma linha. Ele me deu do lado de fora da ressonância magnética. Cerca de três horas depois, estou lá em cima. E finalmente, consegui mover meu polegar um pouco — a primeira coisa que consegui mover. Fiquei internado por duas noites e, no dia seguinte à alta, passei a fazer três fisioterapias por semana e terapia ocupacional. Minha escápula caiu e, aparentemente, meu rosto estava aqui embaixo, embora eu pudesse falar. Então, a única coisa que tive foi uma paralisia.”
A recuperação e a volta às atividades
Falando sobre o processo de recuperação, Nicko ressaltou que o cronograma requer bastante paciência e tolerância consigo mesmo. E comentou os efeitos em sua maneira de tocar.
“Os primeiros três meses de um derrame são onde você tem mais recuperação. Depois disso, os próximos três são um pouco menos e então os três meses depois disso, e assim por diante. Ainda não voltei para onde quero estar. Não consigo mais fazer uma transição de 16 para 32 notas. Consigo tocar colcheias, esse tipo de groove. Posso fazer dobras, mas quando tento tocar aquela 16ª nessa velocidade, em vez de subir e descer, ela oscila da esquerda para a direita quando tento tocar rápido. Então tive que adaptar minhas viradas. Por exemplo, não toco mais a virada de ‘The Trooper’ porque não consigo adaptar à velocidade. Faço tudo devagar para ter certeza de que posso manter o groove.”
Finalizando, o músico se aprofundou nos aspectos que precisou modificar na execução, além de ressaltar a importância terapêutica do projeto paralelo que mantém nos EUA.
“Tivemos os ensaios para a turnê do Iron Maiden a partir do final de abril do ano passado. Foram 12 semanas de recuperação antes de encontrar a banda. Minha rotina agora é fazer o oito contra oito para aquecer e meus dedos funcionarem, mas eles não estão no estágio de antes. O Titanium Tart, meu outro grupo, está fazendo o mesmo set do Maiden. Ensaiamos uma vez por semana. Isso me permite experimentar soluções. Em ‘Fear Of The Dark’, por exemplo, estou pegando os tercetos novamente e alguns dos chimbais. Esse tipo de coisa. É tudo sobre o andamento das músicas. Quando elas são rápidas, eu tenho dificuldade. Quando elas são lentas, eu consigo.”
Iron Maiden no Brasil
Nos próximos dias 6 e 7 de dezembro, o Iron Maiden volta ao Brasil para dois shows, ambos em São Paulo. As apresentações ainda fazem parte da tour “The Future Past”. Os dinamarqueses do Volbeat serão a atração de abertura.
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