A performance do Gojira com a cantora de ópera Marina Viotti foi um dos momentos mais falados da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris. Eles apresentaram uma versão de “Ah! Ça Ira”, canção popular da época da Revolução Francesa que ganhou força por sua mensagem de perseverança e resiliência.
Entretanto, Joe Duplantier vê um duplo significado por trás da canção. O vocalista e guitarrista do grupo francês conversou com a Rolling Stone sobre a apresentação e quando o assunto se voltou à mensagem da música, a teoria foi exposta.
Ele falou:
“Quando falamos sobre a canção, tem um duplo significado. A expressão literalmente quer dizer ‘vai passar’, como se tudo fosse ficar bem. Então é como estivéssemos dizendo ao mundo: ‘tudo vai passar, pessoal’. Mas quando falamos num certo tom, aí quer dizer: ‘a gente já se encheu’. Você poderia dizer ‘Ça ira bien’ como se fosse: ‘ok, já passou do limite’. É bem coisa das antigas. Pessoas não usam mais esse sentido.”
O frontman do Gojira ainda falou sobre o significado da expressão durante o tempo da Revolução Francesa. A canção ganhou força com a população insatisfeita com a monarquia.
“O significado original era: ‘vai ficar tudo bem, nós podemos fazer isso’. Mas durante a época da Revolução se transformou em: ‘não aguentamos mais, vamos enforcar os aristocratas e vamos mudar as coisas’.”
Duplantier ainda revelou que recebeu certo grau de liberdade criativa com relação à música e quais partes podia cantar. Ele contou:
“É uma canção bem longa e arcaica, com uma letra bem extensa. Eu pude selecionar a letra da minha parte. Então o que tentei fazer foi identificar as partes da canção que eram positivas e não incitação à violência ou decapitações. Mais as partes: ‘tudo vai ficar bem, literalmente’. Esse foi o ângulo que escolhi.”
Crescimento no Spotify
Desde a performance na abertura da Olimpíada, o Gojira deparou-se com um grande crescimento nas plataformas digitais. Segundo a agência de notícias AFP (via Yahoo), no último fim de semana, o número de reproduções do grupo no Spotify aumentou em 129% fora da França e em 282% dentro do país.
Como debatido por fãs no Reddit, a quantidade de ouvintes mensais do grupo no streaming também subiu. Pouco antes dos Jogos Olímpicos, eram cerca de 1,8 milhão. Agora, encontram-se em 2,3 milhões. Como a média contempla os últimos 30 dias, é possível que o número cresça ainda mais.
Por meio do site Spotify Charts, que contabiliza os dados da empresa de maneira oficial, ainda é possível observar uma música do Gojira na parada de canções virais da França. No último domingo (28), “Stranded”, do disco “Magma” (2016), ocupou a 59º posição do ranking.
O show na cerimônia de abertura da Olimpíada
A performance fez parte do terceiro ato da cerimônia que abriu a Olimpíada de Paris, “Liberté”, e mostrou uma representação da rainha francesa Maria Antonieta decapitada — algo que de fato ocorreu durante a Revolução Francesa de 1798, que pôs fim à monarquia. O cenário incluiu um castelo, sangue e muitas chamas.
Em entrevista ao New York Times, o vocalista e guitarrista Joe Duplantier revelou que ele e seus colegas de banda — Mario Duplantier (bateria, irmão de Joe), Christian Andreu (guitarra) e Jean-Michel Labadie (baixo) — sentiram uma pressão diferente, pois tinham como missão representar toda a cena heavy metal e seus respectivos fãs em um evento transmitido para todo o mundo.
O frontman destacou que desejava passar orgulho para “toda a comunidade do metal no cenário mundial” com a apresentação. Além disso, reconheceu que a música e o ato eram apropriados para o som pesado que praticam.
“Foi uma era muito sangrenta da história francesa. Então foi muito metal.”
Sobre o Gojira
O Gojira foi fundado em Ondres, na França, em 1996, pelos irmãos Joe (vocal e guitarra) e Mario Duplantier (bateria). Completam a formação Christian Andreu (guitarra) e Jean-Michel Labadie (baixo). A banda era conhecida como Godzilla até 2001, quando mudou para a pronúncia japonesa nome do famoso monstro cinematográfico.
A sonoridade é um death metal com bastante groove e influências progressivas e a temática geralmente versa sobre questões ecológicas. O Sepultura, grupo brasileiro, é uma das grandes influências. Seu álbum mais recente, “Fortitude”, saiu em 2021.
Os franceses já tocaram 4 vezes no Brasil, incluindo duas apresentações no Rock in Rio, em 2015 e 2022. A última passagem aconteceu em 2023, com show único em São Paulo ao lado do Mastodon.
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