O que deu errado em “Skunkworks”, segundo Bruce Dickinson

Trabalho contava com sonoridade muito diferente do que tornou o vocalista reconhecido mundialmente

Quando Bruce Dickinson deixou o Iron Maiden, na primeira metade dos anos 1990, a justificativa foi de que o cantor se via como algo além de vocalista da banda. Hoje, de volta ao grupo, ele aprendeu a conciliar diferentes funções. À época, no entanto, viu o rompimento como necessário.

Porém, a decisão gerou uma série de consequências negativas. Os fãs não aceitaram muito bem a opção do ídolo. Os próprios ex-colegas de banda chegaram dar declarações o acusando de “abandonar o barco”. A passionalidade falou mais alto.

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Lembrou o cantor à Classic Rock:

“Eu não conseguia entender. Alguns fãs me disseram que não conseguiam nem ouvir ‘Balls to Picasso’ na época, porque minha saída ainda era muito crua.”

Bruce não negou ter ficado decepcionado com as reações. A ponto de decidir romper em definitivo com a imagem que possuía até então.

“Fiquei um pouco deprimido com a coisa toda, para ser honesto. Foi quando me dei conta que poderia muito bem me livrar de mim. Assim, o ‘Skunkworks’ aconteceu. Foi um álbum incrível, mas não éramos realmente uma banda de rock focada. Eram caras jovens e tinha esse velhote aparecendo para cantar [risos]. A melhor coisa que fizemos, no entanto, foi tocar em Sarajevo.”

O momento foi registrado no documentário “Scream for Me, Sarajevo”, que registrou a passagem da banda pela atual capital da Bósnia e Herzegovina em 1994, durante a guerra que começou dois anos antes e se prolongou até o seguinte.

Piloto de trem

Analisando o que deu errado, Dickinson admite que ter saído do óbvio trouxe boas e más consequências.

“Ouvi as demos que a banda estava fazendo e disse: ‘Não é realmente minha praia, é?’ Mas eles me tiraram da zona de conforto e aprendi muito sobre canto também. Ao mesmo tempo, naquele ponto pensei: ‘E agora?’ Imaginei que conseguiria um emprego empilhando prateleiras ou algo assim.”

Hoje um piloto de avião aposentado, Bruce considerou até mesmo se aventurar em outro veículo: o trem.

“Considerei virar piloto de trens. Também tinha tirado minha licença de aviador, então essa era outra opção. Mas eu realmente pensei que a música enquanto carreira havia acabado para mim.”

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Ameaças de morte

Em matéria da revista brasileira IstoÉ, publicada antes de sua mais recente vinda ao Brasil, Bruce contou que a coisa foi muito além de um ódio básico em relação ao disco.

“Quando lancei o álbum ‘Skunkworks’, em 1996, recebi mensagens de ódio e até ameaças de morte porque não era um disco típico de heavy metal. Como alguém pode chegar a esse ponto?”

O frontman acredita que hoje as reações não seriam tão extremadas.

Acho que a mente das pessoas naquela época era mais estreita, não sei por qual razão. Hoje acredito que as pessoas têm uma quantidade tão grande de músicas à disposição que não se preocupam mais tanto. Alguns ainda ouvem a mesma coisa todos os dias, mas há muita gente que aprecia conhecer estilos diferentes.”

Bruce Dickinson e “Skunkworks”

Lançado em 1996, “Skunkworks” foi o terceiro disco solo de Bruce Dickinson. Foi o primeiro e único com a banda responsável pela turnê do álbum anterior, “Balls to Picasso” (1994), e trouxe uma sonoridade completamente diferente. Neste trabalho, o vocalista fez algo mais próximo de bandas oriundas do rock alternativo e sua vertente em alta pouco antes, o grunge.

A intenção era tornar “Skunkworks” uma nova banda, mas a ideia não deu certo. O “grupo” idealizado rompeu poucos meses depois, quando Dickinson retomou a parceria com Roy Z e voltou a trabalhar no que viria a ser o aclamado “Accident of Birth” (1997). A turnê rendeu o EP “Skunkworks Live” e um vídeo ao vivo.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

2 COMENTÁRIOS

  1. Adoro a carreira solo do Bruce, e não sei se por puro saudosismo, mas até do Skunkworks tenho saudade. Adorava escutar Inertia no discman enquanto ia para a escola!

  2. Comprei esse CD Skunkworks, em 1996, ano em que foi lançado. Tenho até hoje.

    É o album solo do Bruce que mais escutei, desde então. Produzido por Jack Endino, que era um cara do grunge.

    Realmente é um bom album de rock, tem peso. E ao lado do Balls to Picasso, possui as coisas mais diferentes, alternativas que o Bruce já gravou. Mesmo após quase 30 décadas de seu lançamento, ainda continua um album incrivelmente ‘novo’.

    Também gerou uns videoclipes na MTV, na época. O Inertia tem um momento com cabeças sobre uma mesa que lembra o disco 1973 do Secos & Molhados. Seus singles , principalmente desde Tears of the dragon de 1994, eram tocados diariamente no rádio.

    Na minha visão, naquele tempo eu via o Bruce como um cantor totalmente consolidado na carreira solo. Creio que muitas pessoas pensavam semelhante, lançou outros ótimos albuns em seguida, que também adquiri, até ele ser convidado a voltar ao Maiden.

    Na fase solo apareceu pessoalmente em programas de TV no Brasil, o programa livre, MTV, etc. Na época, circulando pela Galeria do Rock, na 24 de maio em SP, havia uma loja por lá que continha na parede, várias fotos da visita do Bruce Dickinson na galeria. Ele já estava de cabelos curtos. Não sei se tais fotos ainda existem, pois faz algum tempo que não volto a Galeria, e também nunca encontrei essas imagens na internet.

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