Danny Worsnop, vocalista do Asking Alexandria, costuma dividir opiniões nas redes sociais. O cantor recebe críticas por motivos que envolvem desde seus vocais ao vivo até a presença de palco. Agora, ele voltou a causar polêmica por outro tópico.
Por meio do X/Twitter, o artista decidiu opinar sobre o caso da atleta argelina Imane Khelif, que competiu na Olimpíada de Paris 2024 e que conquistou medalha de ouro. No último dia 1º de agosto, a boxeadora chamou atenção ao “fazer” uma de suas adversárias, a italiana Angela Carini, abandonar a luta em 46 segundos.
A situação gerou uma onda de desinformação na internet. Isso porque Imane tem a condição de hiperandrogenismo, quando há um alto nível de hormônios masculinos no corpo. Porém, comentários errôneos de que ela seria uma pessoa transgênero e de que não deveria disputar na categoria feminina começaram a circular. No fim das contas, o motivo da desistência da italiana nada teve a ver com isso, mas sim com uma lesão no nariz.
Diante de tal contexto, Danny compartilhou uma postagem com um artigo cujo título dizia que a comissão do time nacional de boxe da Espanha considerou Khelif “muito perigosa” para treinar contra mulheres e que seu treinador confirmou “problema com cromossomos”. Na legenda, ele categorizou o fato da atleta disputar a modalidade como “inaceitável” e escreveu:
“Quero dizer… por quanto tempo vamos jogar esse jogo? Cada um faz o que quer da sua vida pessoal. Mas em esportes de combate isso não é aceitável em nenhum grau moral ou nível. Há uma linha entre tolerância e aceitação e temos que traçá-la para proteger nossas mulheres. Não somos nada sem elas.”
Depois, o vocalista afirmou que não acredita em igualdade entre homens e mulheres e disse que o papel dos homens é lutar incansavelmente para proteger a “elegância e inocência” das figuras femininas. Ele explicou:
“Para esclarecer, eu não acredito em igualdade. Nós, como homens, fazemos tudo ao nosso alcance para prover e produzir para as mulheres deste mundo, que são criaturas mágicas e maravilhosas. E lutamos incansavelmente para proteger sua elegância e inocência.”
Em resposta, os fãs apontaram o pensamento contraditório do cantor. Um usuário, por exemplo, postou um trecho da letra de “Not the American Average”, do Asking Alexandria, em que o vocalista xinga uma mulher de v#dia e fala explicitamente sobre transar com ela. Destacou o perfil:
“‘Nós lutamos incansavelmente para proteger sua elegância e inocência’ não faz muito sentido quando o primeiro verso de uma de suas maiores canções é assim’.”
Esclarecimento de Danny Worsnop
Após a repercussão mista da publicação, Danny Worsnop voltou às redes sociais na tentativa de esclarecer o que tentou dizer. O vocalista, inicialmente, disse que estava alterado devido ao consumo de rum e afirmou que letras de suas primeiras músicas não exemplificam seu real pensamento sobre mulheres.
“Eu acredito que essas diferenças são importantes e devem ser celebradas e adoradas. Acho que o rum pode ter atrapalhado a entrega disso. Além disso, não usem uma música que um idiota de 17 anos escreveu (sobre uma pessoa específica que estava envolvida na escrita e perfeitamente bem com isso) que eu literalmente me recusei a tocar ou reconhecer por muitos anos como um exemplo das minhas opiniões sobre as mulheres. Isso é bobagem.”
Em seguida, apontou que seu pensamento ao afirmar que não acredita em igualdade pode ter sido mal interpretado. E declarou:
“Só quero (com o cérebro sóbrio) esclarecer e refinar meu post para que não haja mal-entendido. Com ‘eu não acredito em igualdade’, quero dizer que não acredito que nós (homens/mulheres) somos iguais e comparáveis. Acho que cada um tem seus próprios pontos fortes e fracos. O que eu realmente não acredito é que os homens possam subir em um ringue e bater em mulheres… era o ponto que eu acho que estava tentando chegar.”
Mesmo em seu esclarecimento, Worsnop deu a entender que reforça a falsa informação de que Imane Khelif seria “homem”. Em entrevista ao jornal O Globo, o médico geneticista Salmo Raskin, diretor científico da Sociedade Brasileira de Genética Médica e Genômica, afirma que a atleta não é “homem”, nem mesmo “transgênero”.
“Tudo indica que ela nasceu com a genitália externa feminina e por consequência foi educada como uma menina. Sempre foi e quis ser uma mulher, sempre competiu entre as mulheres. Não se trata de alguém que optou por mudar de gênero.”
Ao ser perguntado se Khelif poderia ser considerada “intersexo” ou “hermafrodita”, o especialista declarou:
“É importante esclarecer que por questões relacionadas à privacidade, os dados clínicos e laboratoriais dela não foram demonstrados oficialmente. Nunca vieram à tona laudos médicos ou de exames laboratoriais que ela tenha feito. Tudo está sendo baseado em declarações e especulações. O presidente russo da Associação Internacional de Boxe, Umar Kremlev, afirmou categoricamente que os resultados de testes mostraram que a atleta têm cromossomos X e Y, compatível com sexo genético masculino. Mas nunca demonstrou o laudo deste exame. Ao nascimento ela foi declarada como menina. Estas especulações sugerem que talvez Khelif seja uma mulher com cromossomo Y, então ela teria uma ‘desordem’ ou “diferença do desenvolvimento sexual’. Esta é a designação atual para um grupo de condições que afeta cerca de uma a cada 4 mil pessoas. Não se usam mais termos como ‘hermafrodita’ e ‘intersexo’ pela sua imprecisão e pela estigmatização que geravam.”
Salmo Raskin também declara que a condição de hiperandrogenismo não quer dizer, necessariamente, que haverá vantagem competitiva da pugilista argelina em comparação a mulheres que não tenham tal síndrome. Ele explica:
“A síndrome de insensibilidade androgênica é causada por uma alteração em um gene localizado no cromossomo X, que normalmente produz uma proteína que é um receptor responsável pela entrada do hormônio testosterona nas células. Se a pessoa tem uma mutação neste gene e não tem um segundo cromossomo X, a testosterona é produzida em altas doses, porém, não entra dentro das células. Como consequência, esta pessoa tem elevados níveis de testosterona no sangue, mas o hormônio não tem influência no desenvolvimento dos músculos. Muitos entendem que, sendo assim, pessoas com esta rara condição, que afeta cerca de 1 em cada 20 mil pessoas, não teriam vantagem competitiva. Com este exemplo já podemos ver que uma mulher com cromossomo Y, nem sempre terá uma vantagem competitiva. E isto é importante para chamar a atenção que fazer apenas um teste genético para demonstrar se uma mulher tem um cromossomo Y pode levar a injustiças.”
Outra reportagem, da BBC Brasil, esclarece mais pontos a respeito da controvérsia. Clique aqui para ler.
Asking Alexandria e “Where Do We Go From Here?”
O Asking Alexandria lançou seu mais recente álbum no dia 25 de agosto do ano passado, via Better Noise Music. “Where Do We Go From Here?” é o oitavo trabalho de estúdio do quinteto britânico e conta com 11 faixas em seu tracklist. A produção e mixagem ficaram a cargo de Matt Good (Hollywood Undead, From First to Last), com masterização feita por Howie Weinberg (Deftones, Metallica) e Will Borza.
A turnê contou com uma passagem pelo Brasil, como parte do festival itinerante I Wanna Be. Ao longo do último mês de março, a banda se apresentou em São Paulo, Curitiba, Recife, Rio de Janeiro e Belo Horizonte junto a Simple Plan, A Day to Remember, All Time Low, The Used, NX Zero, Fresno, Pitty, entre outros.
Fundado em 2006 em York, condado inglês de Yorkshire, o grupo alcançou grande popularidade com um trabalho inicialmente voltado ao metalcore. Com o passar dos anos, passou a acrescentar cada vez mais elementos de heavy metal tradicional e hard rock, além de influências de post-hardcore.
Curiosamente, a banda possui maior projeção nos Estados Unidos, em comparação a sua terra natal. Três de seus discos figuraram no Top 10 da Billboard 200, principal parada norte-americana: “From Death to Destiny” (2013) chegou ao 5º lugar, enquanto “Reckless & Relentless” (2011) e “The Black” (2016) alcançaram a 9ª posição.
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