Em 1980, o Pink Floyd deu início à turnê de divulgação de “The Wall”, lançado no ano anterior. Um dos shows mais grandiosos já criados por uma banda de rock até então, o espetáculo se notabilizou pela enorme parede de tijolos construída – e depois destruída – ao longo da apresentação, que envolvia também bonecos infláveis gigantes e projeções, entre outros efeitos.
A ideia partiu, assim como tudo relacionado a “The Wall”, de Roger Waters. Já descontente com o público desde a turnê anterior, que divulgava o disco “Animals” (1977), o vocalista e baixista teve a ideia de construir a parede que separaria banda e plateia. Os tijolos eram colocados com guindastes, compunham cenários à medida que a estrutura ia sendo erguida e no final, antes de cair, ela ainda servia como uma grande tela de projeção.
Com 48 metros de comprimento e mais de 10 metros de altura, a estrutura da parede era um verdadeiro colosso. Se visualmente ela representava um grande espetáculo, era um verdadeiro pesadelo logístico. O transporte de um palco como esse é caro e trabalhoso e nem todos os locais, mesmo com grande capacidade de público, suportariam tamanho equipamento.
Isso fez com que a turnê fosse um pouco diferente do habitual. Entenda.
Pink Floyd em temporadas
A solução logística menos complicada foi dividir a turnê em “temporadas”, ou “etapas”. Os shows, feitos entre 1980 e 1981, eram agendados em várias datas seguidas no mesmo local. Só então tudo era desmontado e levado para outro lugar, onde tudo se repetia.
A quantidade total de apresentações, mesmo assim, foi pequena. A turnê de “The Wall” teve apenas 31 shows.
Começou com 7 datas seguidas entre os dias 7 e 13 de fevereiro de 1980, em Los Angeles, Estados Unidos, mais precisamente no Los Angeles Memorial Sports Arena. Depois o espetáculo seguiu com 5 shows em Uniondale, Nova York, todos no final de fevereiro. Londres só foi assistir “The Wall” em agosto de 1980, com 6 datas consecutivas no Earls Court Exhibition Centre.
A tour foi retomada em fevereiro de 1981, com uma sequência de 8 apresentações no Westfalenhallen de Dortmund, na então Alemanha Ocidental. O encerramento se deu em junho com um retorno a Londres para mais 5 shows no mesmo local da temporada anterior.
Clima ruim e bizarra consequência da turnê
Para variar, o clima dentro do Pink Floyd durante a excursão era péssimo. Os músicos ficavam dentro de trailers e hotéis separados e praticamente só se viam na hora do show.
Na época, a banda contava com sua formação clássica, incluindo o tecladista Richard Wright, que havia saído do grupo logo que “The Wall” foi lançado, mas foi contratado como músico remunerado para a turnê.
No livro “Nos bastidores do Pink Floyd”, de Mark Blake, o próprio Wright explica que aceitou trabalhar para os ex-colegas na esperança de ser chamado de volta como integrante. Ele disse:
“Eu não queria só sair dessa coisa incrível na qual estive trabalhando. Apenas decidi que iria tocar e daria o meu melhor, possivelmente com a esperança de que, se funcionasse, a decisão (de Roger Waters) de me tirar da banda poderia ser revertida.”
Curiosamente, Wright foi o único músico que de fato ganhou dinheiro com a “The Wall Tour”. Com a logística complicada e as grandes sequências de shows em vários lugares, a excursão foi um fracasso comercial — uma bizarra consequência para um conceito tão ambicioso.
Ideologicamente, a ideia meio que era essa: fazer a turnê pela arte e não pelo dinheiro. Em contraste, em 1981 os Rolling Stones excursionaram divulgando o álbum “Tattoo You”, lançado naquele mesmo ano, com patrocínio da marca de perfumes Jovan.
“The Wall” revisitado
Acabou sendo a última turnê de Roger Waters com o Pink Floyd. O baixista e vocalista ainda gravou “The Final Cut” (1983), que não teve shows, e saiu da banda em 1985. O grupo, já sem ele, só voltou a fazer shows em 1987, divulgando “A Momentary Lapse of Reason”, lançado no mesmo ano.
Waters, já em carreira solo, recriou o show de “The Wall” em 1990, em Berlim. O evento único contou com diversos convidados interpretando as músicas e comemorava os 8 meses da queda do Muro de Berlim e a união das Alemanhas Ocidental e Oriental em um único país. Foi gravado um vídeo ao vivo que foi o primeiro registro oficial do espetáculo, já que nada foi gravado da turnê original, a não ser algumas cenas.
Entre 2010 e 2013, Waters voltou a fazer shows de “The Wall”, dessa vez em uma longa turnê e com a tecnologia atual facilitando a logística. No total, foram 219 apresentações, incluindo três no Brasil, em 2012.
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