Crítica: “MaXXXine” derrapa na coesão e fecha trilogia abaixo de antecessores

Novo filme de Tie West volta a compilar boas referências, mas perde força por não conseguir encaixá-las em narrativa mais sólida

Comandados pelo cineasta Ti West e estrelados por Mia Goth, neta da atriz brasileira Maria Gladys, os filmes “X: A Marca da Morte” (2021) e “Pearl” (2022)foram sensação entre os fãs de produções de terror nos últimos anos. Agora, “MaXXXine” chega para ser o encerramento de uma pretendida trilogia. O filme, mais uma produção da tão querida A24, estará disponível nos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira (04).

Como seus dois antecessores, “MaXXXine” trabalha com referências bem nítidas. “X” é um grande tributo ao slasher, subgênero do terrorpopularizado por nomes como o de Tobe Hooper (“O Massacre da Serra Elétrica”, 1974). “Pearl” é um prelúdio com estética de uma típica produção da Hollywood clássica. Por fim, “MaXXXine” almeja ser uma grande ode e ao mesmo tempo sátira à indústria americana do showbusiness nos anos 1980.

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Assim, Ti West oferece frequentes estímulos visuais que remetem a produções dessa época: a estética de película das imagens, noticiários que tomam conta da projeção, a fotografia que usa e abusa de luzes neon, a tela que se divide em acontecimentos simultâneos, uma fonte estilizada nos créditos iniciais, a trilha sonora com sucessos da época. Nos mínimos detalhes, a ideia é atiçar a audiência de todas as formas com referências. Até os personagens, em sua maioria, são caricaturas de vilões, mocinhos e anti-heróis vindos diretamente de uma realização oitentista.

Coleção desconjuntada

Ainda que se aproprie de todas essas alusões, “MaXXXine” parece sofrer na hora de aplicá-las na história que busca contar. De cara, a proposta parece ser a de narrar a ascensão de uma atriz de filmes adultos em Hollywood e as consequências dessa trajetória. Instantes depois, visa ser uma continuação direta de “X”, contando a história da personagem principal lidando com seus atos e traumas deixados pela violência da obra anterior. No meio disso, ainda se divide com uma trama de investigação a respeito de um assassino misterioso que persegue mulheres envolvidas com o “profano”.

Em meio a essa coleção de boas ideias, “MaXXXine” parece desconjuntado, sem saber muito bem para qual aspecto narrativo deve dar mais atenção. Há conexões entre tais elementos; amarrá-los em um só é a grande dificuldade do diretor. Compromete até o ritmo dos acontecimentos, picotado entre núcleos narrativos que nunca são muito aprofundados ou coesos entre si. 

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Os temas também estão todos lá. Principalmente a ideia de satirizar o medo da parcela conservadora da sociedade dos anos 1980 com nudez e violência explícita. Mas essas temáticas e tramas, por vezes, são todos apresentados apenas por meio de referências a filmes e piadas que não salientam o debate — como na sequência em que, enquanto visitam uma locação, duas personagens conversam sobre o choque causado por “Psicose” (1960), de Alfred Hitchcock, na época de seu lançamento. 

Com referências que parecem só pincelar intenções, até o brilho de Mia Goth parece perdido. Diferente de “X” e “Pearl”, com exceção de um breve monólogo na abertura, não há nenhum outro momento ou diálogo memorável da atriz em cena. O mesmo acontece com o restante do elenco. Nomes de peso como Giancarlo Esposito, Lily Collins e Kevin Bacon têm apenas lampejos em meio a todas as ideias e tramas que o filme joga na tela e se vê na necessidade de resolver de alguma forma. 

Final tenta amarrar

O final de “MaXXXine”, dito isso, tenta propor um conflito mais direto da personagem de Goth com uma pessoa de seu passado. O embate é o que irá resolver sua jornada enquanto personagem, sacramentando o quebra-cabeças. Ali ela derrotará todo o seu passado e passará a ter o caminho consolidado para se tornar uma estrela.

Aqui, existe a tentativa de amarrar todos os eixos da trama, da estrela em ascensão ao assassino misterioso. E por mais que isso de certa forma aconteça, já não há o impacto desejado. Perde-se o brilho. 

No todo, “MaXXXine” pode divertir e arrancar risadas do público cinéfilo mais ávido por nostalgia e tributos a grandes realizações do passado. A caça às referências e a violência explícita de certas mortes proporcionam o que de melhor o filme tem em termos de entretenimento. Não se trata necessariamente de uma realização ruim, mas falta para o encerramento da trilogia de Ti West a coesão narrativa dos seus outros dois longas. 

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Guilherme Salomão
Guilherme Salomãohttps://igormiranda.com.br
Guilherme Salomão é Criador de conteúdo, Crítico de Cinema e Produtor Audiovisual carioca apaixonado por Cinema e Música desde que se conhece como gente. Administrador por formação, foi autor do TCC “O Poder da Marca no Cinema: O Caso Star Wars de George Lucas” na PUC-Rio, obtendo nota máxima em forma de reconhecimento pelo seu trabalho e dedicação. Cinéfilo de carteirinha, na produção já se dedicou a projetos que vão desde curtas e longas-metragens até videoclipes de artistas iniciantes.

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