A motivação por trás do fim dos Beatles pode variar dependendo de quem contar a história. O ponto chave é que todos estavam desgastados à época – o que não os impedia de seguir produzindo material de qualidade. No entanto, as razões que levaram a tal sensação era motivo de polêmicas.
Em 1986, Paul McCartney concedeu entrevista à Rolling Stone. Com tudo ainda relativamente recente na mente, ofereceu suas memórias, deixando claro que se tratava de um relato pessoal, não um testemunho infalível.
Ele contou:
“A história na minha mente é que tudo estava ficando um pouco complicado durante o período do ‘White Album’. Em ‘Let It Be’ já estava muito complicado – George deixou o grupo primeiro, Ringo depois, mas conseguimos consertar isso. As datas são todas uma névoa para mim, mas em algum momento – depois que ‘Let It Be’ foi concluído, e mais ou menos na época em que eu queria lançar o álbum ‘McCartney’ – tivemos uma reunião no escritório da Apple, e veio a questão: ‘Olha, algo está errado, e temos que resolver isso’.
Eu dei minha sugestão: ‘O que acho que devemos fazer é voltar a ser uma banda, a pequena unidade que sempre fomos. Deveríamos sair em turnê, tocando em casas pequenas’. Só queria que reaprendêssemos a ser uma banda novamente, porque havíamos nos tornado um grupo empresarial. Passamos a atuar mais como empresários do que músicos. Então essa foi minha grande sugestão.”
A proposta não apenas recebeu feedback negativo. O melhor amigo e companheiro aproveitou para insultar Macca, como ele recorda.
“John me olhou nos olhos e disse: ‘Eu acho que você é um idiota. Na verdade, não ia te dizer, mas estou deixando o grupo’. Pelo que me lembro, essas foram suas palavras exatas. E nossos queixos caíram. Ele continuou explicando que era uma sensação muito boa desabafar — um pouco como quando contou à esposa sobre o divórcio e teve uma espécie de sensação de alívio. Foi muito bom para ele, mas não para nós.”
O anúncio do fim dos Beatles
Apesar do relato indicando que John Lennon tomou a iniciativa, Paul acabou sendo o responsável por transmitir a notícia de que o Fab Four estava extinto. Isso o fez ser apontado como culpado por parte do público. Ele explicou por que optou por se pronunciar antes dos outros.
“Inicialmente, concordamos em não falar. Mas depois de três ou quatro meses, me sentia cada vez mais culpado quando as pessoas perguntavam como estava a banda e nós meio que sabíamos que provavelmente estávamos separados. Então eu fiz um movimento meio idiota. Quando olho para trás, foi muito duro e frio. Mas eu estava lançando o álbum ‘McCartney’ e realmente não queria fazer muita divulgação para ele. Assim, pedi a um cara do escritório para me fazer uma lista de perguntas, escreveria as respostas, imprimiríamos como um panfleto e apenas colocaríamos junto com as cópias de imprensa do álbum.”
Entre as questões, Paul respondeu entender que a parceria com John não seria reativada – embora, verdade seja dita, ao abordar a continuidade ou fim da banda, tenha apenas dito “não sei”.
“As perguntas eram bem diretas, e acabou sendo como se eu anunciasse que os Beatles tinham se separado. John ficou bem bravo com isso, aparentemente — essa é uma das coisas que ele disse que realmente o machucou e o cortou profundamente. Pessoalmente, eu não acho que foi uma coisa tão ruim anunciar ao mundo depois de quatro meses que tínhamos terminado. Tinha que sair em algum momento. Acho que talvez eu me arrependa da maneira como o fiz. Queria que tivesse sido um pouco mais gentil, ou ao menos com a aprovação dos outros. Mas senti que era hora.”
De qualquer modo, o músico não conseguiu escapar das acusações de que estava usando o ocorrido para promover o trabalho solo.
“Sim, acho que John pensou que eu estava usando esse press release para publicidade — como suponho, de certa forma, que eu estava. Tudo parecia muito estranho e isso irritou algumas pessoas. O lado bom foi que todos nós finalmente tivemos que admitir o fato de que tínhamos terminado três ou quatro meses antes. Estávamos ligando um para o outro constantemente, meio que dizendo: ‘Vamos voltar a ficar juntos’. E acho que eu, George e Ringo queríamos salvar as coisas. Mas vejo que John estava, naquele momento, muito envolvido em sua nova vida — o que você não pode culpá-lo. Ele sempre quis ser um pouco mais vanguardista. Morar em Nova York e a influência de Yoko, obviamente, o ajudaram a fazer isso. Foi muito emocionante para ele em muitos níveis. Então ficou claro naquela época que o grupo não voltaria a ficar junto. E foi isso.”
Os Beatles nunca mais se reuniram de forma efetiva. Já sem John, assassinado em 1980, o trio restante voltou a trabalhar usando o nome da banda no projeto “Anthology”. Atualmente também sem George Harrison, o nome segue em alta com uma série de lançamentos – embora as descobertas de material inédito estejam acabando, o que seria natural em algum momento.
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