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Os principais trabalhos de Steve Stevens longe de Billy Idol

Nos anos em que esteve fora da banda do cantor, guitarrista colaborou com nomes do hard e prog e até gravou um disco de música flamenca

Nascido Steven Bruce Schneider no Brooklyn, Nova York, em 5 de maio de 1959, Steve Stevens teve seu primeiro contato com uma guitarra aos 7 anos e rapidamente se tornou um ávido fã de rock progressivo. Deu os primeiros passos na carreira musical em bandas locais de Manhattan e também como hired gun.

No início dos anos 1980, se juntou ao ex-vocalista do Generation X, Billy Idol, que havia se mudado para Nova York na esperança de vingar como artista solo. Em Stevens, Idol encontrou o parceiro perfeito, e no ex-empresário do Kiss, Bill Aucoin, alguém com know-how de mercado para fazer do mentor do Supla um dos primeiros astros da MTV. Graças a videoclipes como os de “White Wedding (Part 1)” e “Eyes Without a Face”, seus álbuns de 1982 (homônimo) e 1983 (“Rebel Yell”) se tornaram sucessos estrondosos.

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A dupla custou a acertar os ponteiros para um terceiro álbum. Embora “Whiplash Smile” (1986) tenha sido outro grande êxito comercial, Stevens, que havia ganhado o Grammy por sua performance na icônica música-tema do filme “Top Gun – Ases Indomáveis” naquele mesmo ano, saiu da banda em 1988 para lançar sua própria carreira solo.

Idol e Stevens retomariam sua antiga parceria com “Devil’s Playground” (2005), mas até esse ponto, o guitarrista se aventuraria em colaborações com figuras de alto calibre, embora nem sempre com os resultados esperados. Confira.

“Atomic Playboys”: passatempo muito caro

Insatisfeito com o rumo sonoro de “Whiplash Smile” — no qual passou mais tempo programando baterias eletrônicas e sequenciadores do que empunhando a guitarra —, Stevens não pensou duas vezes quando a Warner Bros. lhe ofereceu um contrato para um álbum solo.

Além disso, o uso de certas “substâncias” contribuiu para aumentar os atritos com Idol. “A cocaína e o álcool nos transformaram em idiotas”, declarou o guitarrista em entrevista a Jeff Schartzemberg, publicada na revista Cover Guitarra #125, de maio de 2005.

Após romper com Billy em 1988, Steve entrou em estúdio com o ex-baterista do cantor, Thommy Price — posteriormente substituído por Greg Gerson —, o tecladista de Mick Jagger, Phil Ashley, e o vocalista Perry McCarty, descoberto através de uma fita demo enviada ao escritório da Warner, para gravar o disco “Atomic Playboys”.

Além de números autorais de Stevens — incluindo a potente faixa-título e “Power of Suggestion”, que foi trilha sonora do longa-metragem “Ace Ventura: Um Detetive Diferente” (1994)  —, o disco produzido pela dupla Beau Hill (Ratt) e Ted Templeman (Van Halen) apresenta uma versão do hit “Action”, do Sweet. Em 1989, ele justificou a escolha da canção ao jornalista Steve Newton; embora desconhecesse de que banda era:

“Eu realmente gostava dessa música, mas pensava que fosse do Queen ou algo assim. Daí, fui a uma loja de discos procurar essa música em um álbum do Queen e não a encontrei, então perguntei ao vendedor e ele me disse que era do Sweet. Aí foi só correr para o abraço; achei que seria uma ótima ideia gravá-la.”

Com arte de capa assinada pelo surrealista H.R. Giger, “Atomic Playboys” chegou às lojas em 1989 e alcançou a posição número 119 na Billboard. A turnê em apoio, restrita à América do Norte, foi breve e realizada principalmente em casas de pequeno porte, como clubes e saloons. O repertório ao vivo incluiu covers de músicas de James Brown (“It’s A Man’s Man’s Man’s World”), Led Zeppelin (“Communication Breakdown”) e Jimi Hendrix (“Fire”).

Em 2001, quando perguntado por Randy Allar da Guitar Nine se havia alguma chance de a banda se reunir, Steve respondeu: “Nenhuma. Aquele foi um passatempo muito caro”.

Posteriormente, ele confessaria ao MelodicRock.com que não consegue ouvir “Atomic Playboys” antes de listar os motivos pelos quais o álbum é provavelmente o de que menos gosta de sua discografia.

“Há várias razões pelas quais não gosto daquele álbum. Foi um dos primeiros discos em que estive envolvido que foi gravado digitalmente, e acho o som geral é meio áspero. Não é agradável aos ouvidos. Em segundo lugar, acho o vocalista daquele álbum péssimo.”

Curiosamente, essa última afirmação contradiz a explicação oferecida por Stevens para a escolha do então desconhecido McCarty. Em 1989, segundo ele:

“Eu sabia que exploraria nuances de R&B e algumas coisas de jazz no meu álbum, então estava procurando alguém que desse conta disso, além de cantar hard rock. E Perry tinha essas influências, de nomes como James Brown, Otis Redding e Wilson Pickett.”

“Jerusalem Slim”: porcaria que custou US$ 700 mil

O então ex-vocalista do Hanoi Rocks, Michael Monroe, estava se preparando para cair na estrada para promover seu primeiro álbum solo, “Not Fakin’ It” (1989), quando conheceu Steve Stevens por acaso. Ambos ensaiavam no mesmo estúdio, os dois insatisfeitos com suas próprias bandas.

Steve sabia quase nada sobre Michael ou o Hanoi Rocks, mas assim que o conheceu, ligou para seu empresário e disse: “Definitivamente quero trabalhar com ele!”. Com a ajuda do baixista Sam Yaffa, que Monroe conhecia do Hanoi Rocks, e do ex-baterista do Shark Island, Greg Ellis, que Stevens viu tocando em um clube e trouxe para a banda, estava formado o Jerusalem Slim; o nome, uma gíria para Jesus Cristo, foi ideia do judeu Yaffa.

Na primeira e única vez que Michael e Steve deram uma entrevista como Jerusalem Slim em março de 1992, eles pareciam estar, de acordo com o repórter Yuichi Masuda da revista japonesa BURRN!, “realmente felizes, e pareciam compartilhar da alegria de terem encontrado um no outro seu parceiro ideal”. Mas em setembro, quando o álbum homônimo foi lançado pela Mercury/Polygram, a parceria já não existia mais.

Agora se sabe que todo o processo de gravação do disco foi um pesadelo, pelo menos para uma das partes. Embora Stevens tenha gostado de trabalhar com Michael Wagener, Monroe disse durante uma entrevista com Mitch Lafon que o produtor alemão foi “a pior escolha possível para o trabalho”.

“Tenho certeza de que ele é um bom profissional, mas ele e Steve Stevens juntos foram a combinação errada. Virou uma histeria heavy metal, muitos solos de guitarra, e foi daí a pior. Não tinha mais a minha cara. Não era mais rock and roll. Virou essa guitarrada, milhões de notas por segundo (…) Era para termos feito as guitarras em duas semanas; acabamos levando três meses e foi um inferno (…) Nos custou 700 mil dólares esse disco, que é uma porcaria.”

“Concordo que não foi o disco certo para ele”, comentou Steve ao MelodicRock.com sobre o fato de o álbum representar uma indesejada mudança de ares para Michael.

“Há uma tonelada de solos de guitarra nesse disco. Acho que isso o deixou muito desconfortável. Creio que ele esteja acostumado a trabalhar com guitarristas um pouco mais econômicos.”

Além das discordâncias sobre o som, o clima pesou de vez quando foi anunciado que Stevens tocaria com Vince Neil, recém-saído do Mötley Crüe, no MTV Movie Awards daquele ano. Dado o histórico — Neil estava embriagado ao volante no acidente de carro que matou Razzle, baterista do Hanoi Rocks, em 1984 —, Monroe ficou estarrecido.

A apresentação com Vince no prêmio realizado em 10 de junho de 1992 acabou acontecendo sem Steve, mas o Jerusalem Slim encerrou suas atividades naquele ponto e, por pouco, o material não foi engavetado. Até hoje, o disco permanece fora das plataformas digitais por determinação do próprio Michael, que resume: “Foi o pior momento da minha vida”.

“Exposed”: Cinco caras de Van Nuys

O cancelamento de sua participação no MTV Movie Awards não impediu Steve Stevens, por recomendação da Warner Bros., de se juntar a Vince Neil na primeira empreitada solo do vocalista, “Exposed”, e a turnê subsequente.

Embora o guitarrista base Dave Marshall e o baixista Robbie Crane apareçam na foto, Stevens afirma ter gravado todas as faixas de guitarra e baixo no disco. A bateria foi tocada por Vikki Foxx, do Enuff Z’nuff, e o ex-tecladista de Ozzy Osbourne, Phil Soussan, aparece como coautor de metade das músicas originais gravadas. Até Timothy B. Schmit, dos Eagles, contribui com vocais freelancers.

Independentemente de quem ficou a cargo do que em estúdio, Neil, Stevens, Marshall, Crane e Foxx fizeram sua estreia ao vivo no Roxy sob a alcunha de Five Guys From Van Nuys antes de se juntarem ao Van Halen na gigantesca “Right Here Right Now Tour”, tocando para mais de 50 mil pessoas no Canadá.

Após o single “You’re Invited (But Your Friend Can’t Come)” chamar a atenção na trilha sonora da comédia “O Homem da Califórnia” (1992) e alcançar a impressionante 17ª posição nas paradas americanas, “Exposed” foi lançado em 27 de abril de 1993 e logo atingiu o número 13 nos Estados Unidos, além de se sair bem em outros cinco países.

Apesar de tudo isso, quando questionado pelo MelodicRock.com se gostou de trabalhar com Vince, Steve respondeu que não.

“Prefiro trabalhar com pessoas que, se terão seu nome estampado na capa do álbum, assumam mais controle sobre tudo. Ele meio que deixou isso a cargo de outras pessoas. Acho que estava acostumado a fazer isso no Mötley Crüe, já que os outros três caras meio que faziam tudo (…) Sabe, a primeira música [‘Look in Her Eyes’] tem um solo de guitarra de dois minutos! [Risos.] Eu perguntei a ele: ‘Não deveríamos encurtar um pouco isso?’ Ele respondeu: ‘Que nada’.”

Sem mencionar se a recíproca é verdadeira, Neil, em entrevista a Dave Ling, da Classic Rock, comparou “Exposed” a “Motley Crue”, o disco quase homônimo que sua antiga banda lançou com John Corabi nos vocais em 1994.

“‘Exposed’ foi legal… e tenho certeza de que o disco que o Mötley fez sem mim também foi, mas eu solo não era o Mötley e eles sem mim também não. A magia simplesmente não estava em nenhum dos lados.”

Bozzio Levin Stevens: som para poucos

Steve Stevens finalmente teve a chance de mostrar sua apreciação vitalícia pelo rock progressivo quando se uniu ao baixista Tony Levin e ao baterista Terry Bozzio na explosiva fusão de metal e jazz do Bozzio Levin Stevens (BLS).

“No caso do primeiro álbum, ‘Black Light Syndrome’ (1997), nós nem chegamos a ensaiar”, revelou o guitarrista à Cover Guitarra. “Entramos no estúdio e já começamos a gravar. No segundo disco, ‘Situation Dangerous’ (2000), foi diferente: ensaiamos por cinco dias. [Risos.]”.

Infelizmente para os fãs, o BLS não só nunca mais fará shows como, provavelmente, não deverá gravar novos álbuns. O próprio Stevens explicou o porquê:

“Reunir a banda é um pesadelo, pois somos três músicos muito ocupados. Tivemos que nos empenhar de maneira quase sobre-humana para gravar os dois discos. Isso sem falar que esse tipo de som tem um público muito pequeno, que não compensa em termos financeiros.”

“Flamenco a Go Go”: heavy metal acelerado para violões

Embora tenha levado vinte anos para lançar um álbum dedicado à música flamenca, a adoração de Steve Stevens pelo estilo não surgiu da noite para o dia: um de seus primeiros professores era um guitarrista flamenco e o pai de um de seus colegas de escola pertencia a uma famosa companhia de dança espanhola.

“Para mim, o flamenco sempre foi um tipo de heavy metal acelerado para violões”, define ele. Na sequência, diz o motivo pelo qual o que se ouve em seu segundo disco solo, “Flamenco a Go Go”, apesar do título, não deve ser comparado ao flamenco tradicional.

“O que toco é um instrumento flamenco [violão], mas a música não. Ela tem que se desenvolver, mesmo usando linguagens mais conservadoras. Caso contrário, ela morre. É por isso que adoro música moderna. Meus músicos favoritos são justamente aqueles que estão sempre voltados para o futuro, e não para o passado.”

Preservando essa mentalidade, anos após “Flamenco a Go Go” e já de volta à banda de Billy Idol, Steve uniu forças com o baixista Doug Pinnick (King’s X) e o baterista Brian Tichy no predominantemente instrumental “Memory Crash” (2008), no qual exibe influências de bandas como Pink Floyd e Yes e oferece sua própria interpretação de “Day of the Eagle”, clássico de Robin Trower.

Descrito pela gravadora Magna Carta como “um tour de force sônico eletrizante”, o disco permanece como a última empreitada solo de Stevens até o momento.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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Nos anos em que esteve fora da banda do cantor, guitarrista colaborou com nomes do hard e prog e até gravou um disco de música flamenca

Nascido Steven Bruce Schneider no Brooklyn, Nova York, em 5 de maio de 1959, Steve Stevens teve seu primeiro contato com uma guitarra aos 7 anos e rapidamente se tornou um ávido fã de rock progressivo. Deu os primeiros passos na carreira musical em bandas locais de Manhattan e também como hired gun.

No início dos anos 1980, se juntou ao ex-vocalista do Generation X, Billy Idol, que havia se mudado para Nova York na esperança de vingar como artista solo. Em Stevens, Idol encontrou o parceiro perfeito, e no ex-empresário do Kiss, Bill Aucoin, alguém com know-how de mercado para fazer do mentor do Supla um dos primeiros astros da MTV. Graças a videoclipes como os de “White Wedding (Part 1)” e “Eyes Without a Face”, seus álbuns de 1982 (homônimo) e 1983 (“Rebel Yell”) se tornaram sucessos estrondosos.

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A dupla custou a acertar os ponteiros para um terceiro álbum. Embora “Whiplash Smile” (1986) tenha sido outro grande êxito comercial, Stevens, que havia ganhado o Grammy por sua performance na icônica música-tema do filme “Top Gun – Ases Indomáveis” naquele mesmo ano, saiu da banda em 1988 para lançar sua própria carreira solo.

Idol e Stevens retomariam sua antiga parceria com “Devil’s Playground” (2005), mas até esse ponto, o guitarrista se aventuraria em colaborações com figuras de alto calibre, embora nem sempre com os resultados esperados. Confira.

“Atomic Playboys”: passatempo muito caro

Insatisfeito com o rumo sonoro de “Whiplash Smile” — no qual passou mais tempo programando baterias eletrônicas e sequenciadores do que empunhando a guitarra —, Stevens não pensou duas vezes quando a Warner Bros. lhe ofereceu um contrato para um álbum solo.

Além disso, o uso de certas “substâncias” contribuiu para aumentar os atritos com Idol. “A cocaína e o álcool nos transformaram em idiotas”, declarou o guitarrista em entrevista a Jeff Schartzemberg, publicada na revista Cover Guitarra #125, de maio de 2005.

Após romper com Billy em 1988, Steve entrou em estúdio com o ex-baterista do cantor, Thommy Price — posteriormente substituído por Greg Gerson —, o tecladista de Mick Jagger, Phil Ashley, e o vocalista Perry McCarty, descoberto através de uma fita demo enviada ao escritório da Warner, para gravar o disco “Atomic Playboys”.

Além de números autorais de Stevens — incluindo a potente faixa-título e “Power of Suggestion”, que foi trilha sonora do longa-metragem “Ace Ventura: Um Detetive Diferente” (1994)  —, o disco produzido pela dupla Beau Hill (Ratt) e Ted Templeman (Van Halen) apresenta uma versão do hit “Action”, do Sweet. Em 1989, ele justificou a escolha da canção ao jornalista Steve Newton; embora desconhecesse de que banda era:

“Eu realmente gostava dessa música, mas pensava que fosse do Queen ou algo assim. Daí, fui a uma loja de discos procurar essa música em um álbum do Queen e não a encontrei, então perguntei ao vendedor e ele me disse que era do Sweet. Aí foi só correr para o abraço; achei que seria uma ótima ideia gravá-la.”

Com arte de capa assinada pelo surrealista H.R. Giger, “Atomic Playboys” chegou às lojas em 1989 e alcançou a posição número 119 na Billboard. A turnê em apoio, restrita à América do Norte, foi breve e realizada principalmente em casas de pequeno porte, como clubes e saloons. O repertório ao vivo incluiu covers de músicas de James Brown (“It’s A Man’s Man’s Man’s World”), Led Zeppelin (“Communication Breakdown”) e Jimi Hendrix (“Fire”).

Em 2001, quando perguntado por Randy Allar da Guitar Nine se havia alguma chance de a banda se reunir, Steve respondeu: “Nenhuma. Aquele foi um passatempo muito caro”.

Posteriormente, ele confessaria ao MelodicRock.com que não consegue ouvir “Atomic Playboys” antes de listar os motivos pelos quais o álbum é provavelmente o de que menos gosta de sua discografia.

“Há várias razões pelas quais não gosto daquele álbum. Foi um dos primeiros discos em que estive envolvido que foi gravado digitalmente, e acho o som geral é meio áspero. Não é agradável aos ouvidos. Em segundo lugar, acho o vocalista daquele álbum péssimo.”

Curiosamente, essa última afirmação contradiz a explicação oferecida por Stevens para a escolha do então desconhecido McCarty. Em 1989, segundo ele:

“Eu sabia que exploraria nuances de R&B e algumas coisas de jazz no meu álbum, então estava procurando alguém que desse conta disso, além de cantar hard rock. E Perry tinha essas influências, de nomes como James Brown, Otis Redding e Wilson Pickett.”

“Jerusalem Slim”: porcaria que custou US$ 700 mil

O então ex-vocalista do Hanoi Rocks, Michael Monroe, estava se preparando para cair na estrada para promover seu primeiro álbum solo, “Not Fakin’ It” (1989), quando conheceu Steve Stevens por acaso. Ambos ensaiavam no mesmo estúdio, os dois insatisfeitos com suas próprias bandas.

Steve sabia quase nada sobre Michael ou o Hanoi Rocks, mas assim que o conheceu, ligou para seu empresário e disse: “Definitivamente quero trabalhar com ele!”. Com a ajuda do baixista Sam Yaffa, que Monroe conhecia do Hanoi Rocks, e do ex-baterista do Shark Island, Greg Ellis, que Stevens viu tocando em um clube e trouxe para a banda, estava formado o Jerusalem Slim; o nome, uma gíria para Jesus Cristo, foi ideia do judeu Yaffa.

Na primeira e única vez que Michael e Steve deram uma entrevista como Jerusalem Slim em março de 1992, eles pareciam estar, de acordo com o repórter Yuichi Masuda da revista japonesa BURRN!, “realmente felizes, e pareciam compartilhar da alegria de terem encontrado um no outro seu parceiro ideal”. Mas em setembro, quando o álbum homônimo foi lançado pela Mercury/Polygram, a parceria já não existia mais.

Agora se sabe que todo o processo de gravação do disco foi um pesadelo, pelo menos para uma das partes. Embora Stevens tenha gostado de trabalhar com Michael Wagener, Monroe disse durante uma entrevista com Mitch Lafon que o produtor alemão foi “a pior escolha possível para o trabalho”.

“Tenho certeza de que ele é um bom profissional, mas ele e Steve Stevens juntos foram a combinação errada. Virou uma histeria heavy metal, muitos solos de guitarra, e foi daí a pior. Não tinha mais a minha cara. Não era mais rock and roll. Virou essa guitarrada, milhões de notas por segundo (…) Era para termos feito as guitarras em duas semanas; acabamos levando três meses e foi um inferno (…) Nos custou 700 mil dólares esse disco, que é uma porcaria.”

“Concordo que não foi o disco certo para ele”, comentou Steve ao MelodicRock.com sobre o fato de o álbum representar uma indesejada mudança de ares para Michael.

“Há uma tonelada de solos de guitarra nesse disco. Acho que isso o deixou muito desconfortável. Creio que ele esteja acostumado a trabalhar com guitarristas um pouco mais econômicos.”

Além das discordâncias sobre o som, o clima pesou de vez quando foi anunciado que Stevens tocaria com Vince Neil, recém-saído do Mötley Crüe, no MTV Movie Awards daquele ano. Dado o histórico — Neil estava embriagado ao volante no acidente de carro que matou Razzle, baterista do Hanoi Rocks, em 1984 —, Monroe ficou estarrecido.

A apresentação com Vince no prêmio realizado em 10 de junho de 1992 acabou acontecendo sem Steve, mas o Jerusalem Slim encerrou suas atividades naquele ponto e, por pouco, o material não foi engavetado. Até hoje, o disco permanece fora das plataformas digitais por determinação do próprio Michael, que resume: “Foi o pior momento da minha vida”.

“Exposed”: Cinco caras de Van Nuys

O cancelamento de sua participação no MTV Movie Awards não impediu Steve Stevens, por recomendação da Warner Bros., de se juntar a Vince Neil na primeira empreitada solo do vocalista, “Exposed”, e a turnê subsequente.

Embora o guitarrista base Dave Marshall e o baixista Robbie Crane apareçam na foto, Stevens afirma ter gravado todas as faixas de guitarra e baixo no disco. A bateria foi tocada por Vikki Foxx, do Enuff Z’nuff, e o ex-tecladista de Ozzy Osbourne, Phil Soussan, aparece como coautor de metade das músicas originais gravadas. Até Timothy B. Schmit, dos Eagles, contribui com vocais freelancers.

Independentemente de quem ficou a cargo do que em estúdio, Neil, Stevens, Marshall, Crane e Foxx fizeram sua estreia ao vivo no Roxy sob a alcunha de Five Guys From Van Nuys antes de se juntarem ao Van Halen na gigantesca “Right Here Right Now Tour”, tocando para mais de 50 mil pessoas no Canadá.

Após o single “You’re Invited (But Your Friend Can’t Come)” chamar a atenção na trilha sonora da comédia “O Homem da Califórnia” (1992) e alcançar a impressionante 17ª posição nas paradas americanas, “Exposed” foi lançado em 27 de abril de 1993 e logo atingiu o número 13 nos Estados Unidos, além de se sair bem em outros cinco países.

Apesar de tudo isso, quando questionado pelo MelodicRock.com se gostou de trabalhar com Vince, Steve respondeu que não.

“Prefiro trabalhar com pessoas que, se terão seu nome estampado na capa do álbum, assumam mais controle sobre tudo. Ele meio que deixou isso a cargo de outras pessoas. Acho que estava acostumado a fazer isso no Mötley Crüe, já que os outros três caras meio que faziam tudo (…) Sabe, a primeira música [‘Look in Her Eyes’] tem um solo de guitarra de dois minutos! [Risos.] Eu perguntei a ele: ‘Não deveríamos encurtar um pouco isso?’ Ele respondeu: ‘Que nada’.”

Sem mencionar se a recíproca é verdadeira, Neil, em entrevista a Dave Ling, da Classic Rock, comparou “Exposed” a “Motley Crue”, o disco quase homônimo que sua antiga banda lançou com John Corabi nos vocais em 1994.

“‘Exposed’ foi legal… e tenho certeza de que o disco que o Mötley fez sem mim também foi, mas eu solo não era o Mötley e eles sem mim também não. A magia simplesmente não estava em nenhum dos lados.”

Bozzio Levin Stevens: som para poucos

Steve Stevens finalmente teve a chance de mostrar sua apreciação vitalícia pelo rock progressivo quando se uniu ao baixista Tony Levin e ao baterista Terry Bozzio na explosiva fusão de metal e jazz do Bozzio Levin Stevens (BLS).

“No caso do primeiro álbum, ‘Black Light Syndrome’ (1997), nós nem chegamos a ensaiar”, revelou o guitarrista à Cover Guitarra. “Entramos no estúdio e já começamos a gravar. No segundo disco, ‘Situation Dangerous’ (2000), foi diferente: ensaiamos por cinco dias. [Risos.]”.

Infelizmente para os fãs, o BLS não só nunca mais fará shows como, provavelmente, não deverá gravar novos álbuns. O próprio Stevens explicou o porquê:

“Reunir a banda é um pesadelo, pois somos três músicos muito ocupados. Tivemos que nos empenhar de maneira quase sobre-humana para gravar os dois discos. Isso sem falar que esse tipo de som tem um público muito pequeno, que não compensa em termos financeiros.”

“Flamenco a Go Go”: heavy metal acelerado para violões

Embora tenha levado vinte anos para lançar um álbum dedicado à música flamenca, a adoração de Steve Stevens pelo estilo não surgiu da noite para o dia: um de seus primeiros professores era um guitarrista flamenco e o pai de um de seus colegas de escola pertencia a uma famosa companhia de dança espanhola.

“Para mim, o flamenco sempre foi um tipo de heavy metal acelerado para violões”, define ele. Na sequência, diz o motivo pelo qual o que se ouve em seu segundo disco solo, “Flamenco a Go Go”, apesar do título, não deve ser comparado ao flamenco tradicional.

“O que toco é um instrumento flamenco [violão], mas a música não. Ela tem que se desenvolver, mesmo usando linguagens mais conservadoras. Caso contrário, ela morre. É por isso que adoro música moderna. Meus músicos favoritos são justamente aqueles que estão sempre voltados para o futuro, e não para o passado.”

Preservando essa mentalidade, anos após “Flamenco a Go Go” e já de volta à banda de Billy Idol, Steve uniu forças com o baixista Doug Pinnick (King’s X) e o baterista Brian Tichy no predominantemente instrumental “Memory Crash” (2008), no qual exibe influências de bandas como Pink Floyd e Yes e oferece sua própria interpretação de “Day of the Eagle”, clássico de Robin Trower.

Descrito pela gravadora Magna Carta como “um tour de force sônico eletrizante”, o disco permanece como a última empreitada solo de Stevens até o momento.

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