O anúncio de que o Spotify aumentaria o custo de sua assinatura premium de US$ 9,99 para US$ 10,99, incluindo 15 horas de audiobooks por mês nos Estados Unidos soou como uma vitória para compositores e editores. Preços de assinatura mais altos normalmente equivalem a um aumento nos royalties mecânicos. Mas não desta vez.
Conforme registro da Billboard, o serviço de streaming agora afirma que se qualifica para pagar uma taxa de “pacote” com desconto aos compositores por streams premium, já que precisará pagar o licenciamento de livros e músicas pelo mesmo preço – o que é só um dólar mais alto do que quando a música era a única oferta premium.
Além disso, o aplicativo também reclassificará seus planos de assinatura dupla e familiar como pacotes. Para determinar quão grande seria essa perda no valor dos royalties para o negócio da música, a revista americana calculou que os compositores e editores ganharão cerca de US$ 150 milhões a menos em royalties mecânicos durante os primeiros 12 meses da modalidade em vigor, em comparação com o que teriam ganho se essas três assinaturas nunca tivessem sido agrupadas.
Spotify e os planos oferecidos
A mudança não afetará os pagamentos premium, duo ou família do Spotify nos primeiros dois meses deste anos. O pacote começou a funcionar partir de março, portanto, este número se refere a perdas nos primeiros 12 meses após serem qualificados como um pacote, não o ano civil de 2024.
Explica a reportagem:
“O número da Billboard foi calculado determinando sobre como a receita de serviços do Spotify, pagamentos a gravadoras, taxas de royalties de desempenho e outros fatores que impactam a receita mecânica devem aumentar a cada mês ao longo de 2024. Essas projeções são baseadas em números reais extraídos das planilhas de taxas de 2023 do Mechanical Licensing Collective. Especificamente para o premium, o streamer pagará cerca de US$ 100 milhões a menos nos primeiros 12 meses em que o pacote estiver em vigor, em comparação com o que o Spotify foi projetado para pagar nos próximos 12 meses se nunca tivesse sido reclassificado.”
A apuração ainda oferece um valor aproximado dos prejuízos em relação a uma das modalidades.
“Para ser mais conservador com a estimativa apenas do premium, se o valor dos royalties perdidos fosse calculado puramente com base nos números reais de 2023 da MLC, as perdas seriam de cerca de US$ 80 milhões nos primeiros 12 meses, mas considerando que toda a receita do serviço de música do Spotify cresceu em uma média de 1,1% a cada mês em 2023, de acordo com os cálculos, US$ 80 milhões é quase certamente uma estimativa baixa.”
O valor de royalties perdido para compositores e editoras pode se tornar ainda maior se o Spotify aumentar o custo do premium para US$ 11,99, o que uma fonte próxima ao assunto considera uma possibilidade. Também é possível que essa perda possa ser diminuída pela quantidade de usuários que mudam sua assinatura de premium, duo e família para o nível somente de música, que pagará da mesma forma, embora seja improvável um impacto significativo na estimativa de perdas no primeiro ano.
Outra fonte próxima ao assunto concorda com a estimativa da Billboard, também calculando de forma independente que o valor dos royalties perdidos totalizará US$ 150 milhões em royalties mecânicos dos EUA para premium, duo e família. Uma alternativa calculou algo entre US$ 140-150 milhões. Outra terceira fonte diz que sua estimativa pessoal totalizou cerca de US$ 120-130 milhões, no mínimo.
Por enquanto, a mudança afeta apenas os Estados Unidos, mas há temores de que a reclassificação tenha um efeito dominó em todo o mundo, dado que outros grandes mercados como Austrália, Canadá, Irlanda, Reino Unido e Nova Zelândia também têm audiobooks agora incluídos no serviço premium.
Roberto Neri, CEO da organização de composição musical com sede no Reino Unido, The Ivors Academy, disse à Billboard:
“Se o Spotify se der bem com isso nos EUA, sem dúvida o usará em suas futuras negociações com a Europa, Ásia-Pacífico e outros territórios. O que acontece em um território pode impactar outros.”
Apesar das críticas e das notícias internas não tão boas, o Spotify adicionou um total de 28 milhões de usuários ativos mensais no trimestre final de 2023. Agora, são 602 milhões de pessoas utilizando a plataforma.
A empresa também recebeu mais 10 milhões de assinantes premium, chegando a 236 milhões de clientes nessa modalidade.
Os lucros da plataforma
No último mês de março, o Spotify estabeleceu o recorde de maior pagamento anual à indústria da música de um único varejista: mais de US$ 9 bilhões. O valor equivale a quase R$ 45 bi na cotação atual e em transação direta. A revelação veio no relatório anual, denominado Loud & Clear – que pode ser lido em maiores detalhes clicando aqui.
O número quase triplicou nos últimos seis anos e representa uma grande parte dos mais de US$ 48 bilhões que a empresa pagou desde a sua fundação. O dinheiro vai para detentores de direitos autorais, que incluem gravadoras, editoras, distribuidores independentes, organizações de direitos de execução e sociedades de gestão coletiva.
Além disso, a companhia declara ter pago aproximadamente US$ 4 bilhões às editoras – que representam compositores – nos últimos dois anos. De acordo com o Global Value of Music Copyright, editoras, compositores e organizações de gestão coletiva estão obtendo mais do que o dobro da receita (US$ 5,5 bilhões em 2022) na era do streaming do que já tiveram na era do CD/vendas (US$ 2,5 bilhões em 2001).
Também é destacado que o número de artistas que geram pelo menos US$ 1 milhão, US$ 100 mil e US$ 10 mil quase triplicou desde 2017. A quantidade de artistas que geram receita em todos os limites compartilhados na plataforma – de US$ 1 mil a US$ 10 milhões por ano – quase triplicou desde 2017. Esses valores representam a receita gerada apenas pelo Spotify.
Ao levar em conta os ganhos de outros serviços e fontes de receita registradas, esses artistas provavelmente geraram 4x essa receita a partir de fontes de música registradas em geral, além de receitas adicionais de ingressos de shows e produtos.
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