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Crítica: “Back to Black” oferece retrato irregular sobre Amy Winehouse

Filme fica no meio do caminho entre recorte interessante e superficialidade ao narrar ascensão e queda da icônica cantora

Na onda das cada vez mais recorrentes cinebiografias musicais, é chegada a oportunidade da saudosa cantora Amy Winehouse ganhar a dela. “Back to Black”, dirigido pela britânica Sam Taylor-Johnson (“O Garoto de Liverpool”, “Cinquenta Tons de Cinza”) e protagonizado por Marisa Abela (“Industry”), chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (16).

Quando o assunto é essa tendência de filmes sobre a vida de artistas icônicos, é possível de se estabelecer uma certa divisão. Alguns podem soar extremamente genéricos, com roteiros “página de Wikipédia” e direções que só abordam de maneira superficial e didática as suas figuras centrais. É o exemplo de obras como “I Wanna Dance With Somebody – A História de Whitney Houston” (2023).

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Por outro lado, há o caso de longas com recortes mais específicos e comandados por cineastas com visões artísticas interessantes na maneira como articulam as suas histórias – Elvis (2022), sobre Elvis Presley e dirigido por Baz Luhrmann, e “Rocketman” (2019), a respeito de Elton John e com Dexter Fletcher na condução, são dois grandes exemplos dessa categoria.

“Back to Black” parece ficar no meio do caminho entre essas duas vertentes. Um recorte existe. Acompanhamos a trajetória de Amy — uma das integrantes do famoso “Clube” de artistas mortos de forma trágica aos 27 anos — com foco em seu relacionamento problemático com Blake Fielder-Civil (interpretado por Jack O’Connell).

Amy e Blake

Ao conhecer Blake de forma aleatória em um bar de Londres, Amy, ainda em início de carreira, desenvolve uma paixão intensa e marcada pela dependência emocional. Embora tenha lhe rendido inspiração para criar um de seus hits, essa história também é um dos principais motivos do seu declínio.

É após um primeiro término com Fielder-Civil em que Winehouse decide ir para Nova York. Por lá, ao fechar um contrato com Mark Ronson — produtor que sequer dá as caras no longa —, ela desenvolve o hit “Back to Black”. A letra foi inspirada pelo rompimento.

No filme, é justamente com a canção que ela consagra o seu sucesso. Embora isso represente uma mudança na ordem real dos fatos — já que “Rehab” e “You Know I’m No Good” foram lançadas como singles de êxito antes da faixa que batiza o álbum de 2006 —, é normal que cinebiografias possam alterar a cronologia em prol da construção do drama.

Fica nítido desde o princípio o vício de Amy em bebidas e cigarro. Com Blake, no entanto, ela desenvolve o uso de drogas mais pesadas. Mais à frente, após passar por um período de reabilitação — em que o filme toma como licença criativa para inspiração da música “Rehab” —, o descobrimento de uma nova decisão tomada pelo agora ex-marido é retratado como o estopim para uma recaída.

Com méritos, mas ainda genérico

A atuação de Marisa Abela e toda a caracterização dos cabelos e maquiagens não decepcionam ao construir a tão icônica imagem da cantora britânica. A voz da protagonista se aproxima muito à de Winehouse quando as performances vocais são necessárias.

Por sua vez, Sam Taylor-Johnson também busca dar estilo aos planos. Há uma presença mais marcante do uso de luzes e do posicionamento dos atores em cena, sobretudo nas sequências musicais.

Entretanto, se certas passagens parecem inspiradas, em outras “Back to Black” ainda é um filme que parece genérico na forma com que lida com a figura de Amy Winehouse.

As músicas da cantora, por exemplo, são utilizadas de forma pouco impactante no decorrer da película — com exceção de sua faixa que nomeia a produção em si. Aqui, naquela que talvez seja a passagem mais simbólica do recorte pretendido, a canção acompanha uma montagem que intercala as gravações de Amy em Nova York com Blake dando sequência à sua vida em Londres.

A relação dela com a mãe, os problemas em lidar com a mídia e até o seu idealismo como cantora também soam superficiais ou banais. Em uma cena no início, ela recusa a proposta de uma primeira gravadora alegando que essa a transformaria em “mais uma Spice Girl”. Logo depois, todo esse lado fervoroso é abandonado e pouco se faz presente no restante da projeção.

Entre as críticas iniciais, ainda há grandes conhecedores da trajetória da artista que apontam um olhar tendencioso da cinebiografia em lidar com a figura do seu pai, retratado como “bonzinho” demais. Vale lembrar que a obra foi autorizada pela família.

“Back to Black” não é um desastre completo. Em meio a lampejos, porém, soa apenas como mais uma cinebiografia no meio de tantas outras. Mesmo ao pincelar uma trama, o foco não chega a consolidá-la como marcante, à altura de Amy Winehouse enquanto artista.

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Guilherme Salomão
Guilherme Salomãohttps://igormiranda.com.br
Guilherme Salomão é Criador de conteúdo, Crítico de Cinema e Produtor Audiovisual carioca apaixonado por Cinema e Música desde que se conhece como gente. Administrador por formação, foi autor do TCC “O Poder da Marca no Cinema: O Caso Star Wars de George Lucas” na PUC-Rio, obtendo nota máxima em forma de reconhecimento pelo seu trabalho e dedicação. Cinéfilo de carteirinha, na produção já se dedicou a projetos que vão desde curtas e longas-metragens até videoclipes de artistas iniciantes.

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