Em filmes como “Me Chame Pelo Seu Nome” (2018) e “Até os Ossos” (2022) a exploração de sentimentos foi algo marcante na obra Luca Guadagnino. “Rivais”, que chega nessa quinta (25) nos cinemas do Brasil, traz novamente essa característica do diretor — agora, elevada a um nível que chama atenção.
Ao narrar a história de um triângulo amoroso marcado por parcerias e rivalidades no mundo do tênis, Guadagnino faz com que a atração carnal do trio protagonista, a dor da lesão de uma atleta e o humor das mais variadas situações exalem intensidade.
Na trama, Art (Mike Faist) é um tenista casado com Tashi Duncan (Zendaya), uma ex-praticante do esporte aposentada por conta de uma grave lesão, agora atuando como treinadora. Ele deverá enfrentar Patrick (Josh O’Connor), sua dupla de juventude na modalidade em questão, que anos atrás também viveu um romance com Tashi.
Linguagem do cinema em uso
Para a construção do sentimento de intensidade já mencionada, Luca Guadagnino não se acanha de usar e abusar dos mais variados artifícios da linguagem do cinema. Cada um dos planos da decupagem do italiano dá gosto por conta de seu tom provocativo.
Logo no início, uma sequência de planos detalhe destaca as cicatrizes pelo corpo de Art. Passada essa introdução do personagem de Mike Faist, o recurso mais uma vez é empregado para ilustrar a lesão da personagem de Zendaya. Em um dos segmentos mais desconfortáveis do longa, a câmera foca no joelho de Tashi no exato momento do ocorrido.
A dor desses momentos, entretanto, contrasta com o prazer dos personagens em outros. Na verdade, uma das maiores qualidades de “Rivais” se concentra na forma como o filme estabelece a relação dos três personagens principais, que vivem uma odisseia de prazer e atração sexual. Seja pela forma como o diretor movimenta a sua câmera, posiciona os seus atores ou faz inserções musicais certeiras, o vínculo carnal do trio pulsa em cena.
Assim, apesar de utilizar do tênis como um de seus alicerces narrativos, “Rivais” não é necessariamente um filme sobre o esporte em si. A obra parece falar muito mais sobre a funcionalidade do corpo humano em diferentes contextos e situações, se apropriando da prática como um ótimo plano de fundo para tal.
Aqui, os mesmos corpos que servem como fontes de prazer para Tashi, Art e Patrick também são aqueles que, em outras ocasiões, se tornam os responsáveis por dores e limitações esportivas. A aposentadoria chega para ser, justamente, a escolha mais plausível nesse contexto.
Disputa sem vencedor?
Dito isso, em um clímax que transforma uma partida de tênis em um espetáculo exibicionista, a disputa entre Art e Patrick não é apenas uma partida tensa entre esses rivais antes amigos e apaixonados pela mesma mulher. A competição é o ápice desses sentimentos tão intensos.
A manipulação da linguagem por Guadagnino também atinge o seu auge. Os movimentos ágeis estilizados, os cortes secos na montagem e a câmera que chega a assumir o ponto de vista de uma bola de tênis fazem da sequência um verdadeiro deleite.
No final de tudo, não há uma solução exata para a história do trio. E isso está longe de se configurar como um defeito da obra. Afinal, a situação desse triângulo amoroso é muito mais interessante quando encarada como esse embate incessante e de emoções à flor da pele — semelhante ao das quadras de tênis.
Assim, intenso do início ao fim, “Rivais” já se configura como um dos melhores filmes lançados nesse breve período percorrido do ano de 2024. Luca Guadagnino se prova mais uma vez um diretor habilidoso, com muita vontade de fazer cinema e provocar o seu público da melhor forma possível.
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