Crítica:  “Garra de Ferro” faz pressão familiar ir do espetáculo à tragédia

Diretor Sean Durkin realiza escolhas certeiras para contar chocante história real da família Von Erich, famosa no meio da luta livre

“Garra de Ferro” (“The Iron Claw”), nova realização da querida produtora A24 — e que chega nesta quinta (7) aos cinemas brasileiros —, começa com uma sequência bastante significativa.

Um flashback de imagens em preto e branco nos introduz à figura real de Fritz Von Erich, um implacável atleta profissional de luta livre (ou wrestling em inglês) conhecido, dentre outros golpes brutais, pela chamada “garra de ferro”. Logo depois de uma luta, vemos um encontro de Von Erich com sua esposa e filhos. Nele, por meio de um diálogo, fica claro um contraste e uma ideia de que por trás daquele homem brutal, existe um pai de família com desejos e sonhos.

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Transportados para a época na qual o longa se passa de fato, descobrimos que, passados os seus anos de glória, o personagem interpretado pelo ator Holt McCallany foi além disso. O patriarca agora é um indivíduo que enxerga a luta livre como uma forma de perpetuar o seu próprio legado e de continuar a realizar suas ambições por intermédio de seus filhos. 

Para além de uma filosofia de vida, ele leva os primogênitos a acreditarem que essa é a única forma digna de se estabelecer uma vida — chegando até mesmo a recusar as ambições artísticas de um deles. Assim, os irmãos Von Erich —  interpretados pelo quarteto Zac Efron (como Kevin), Jeremy Allen White (Kerry), Harris Dickinson (David) e Stanley Simons (Mike) — crescem seguindo e acabam todos se envolvendo, de um jeito ou de outro, com o esporte. 

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Nesse contexto, os ringues de luta livre são estabelecidos pelo diretor Sean Durkin como um espetáculo exibicionista que vai do atroz ao cômico. Nesse universo regado a testosterona, a direção por vezes remete a “Touro Indomável” e “Rocky”. A câmera, aqui, alterna entre planos dentro e fora dos ringues, estando mais próxima dos corpos dos personagens ou mais afastada em alguns golpes brutais, tornando-os ainda mais impactantes. O som também é imersivo e a iluminação é de tons quentes rebuscados, trazendo ainda mais intensidade para os acontecimentos.

Do espetáculo à tragédia

Entretanto, na medida em que os Von Erich acabam sendo afetados de uma forma negativa pela prática, o espetáculo inicial de repente se torna uma tragédia. Fica tarde demais para se contornar.

A ideologia da luta livre, que faria deles homens fortes e invencíveis, de repente se torna um caminho sem volta. Uma perdição para a família Von Erich — creditada até mesmo como “amaldiçoada” por meio de um boato popular baseado em um acontecimento do passado.

A partir disso, para ilustrar as consequências dessa idealização, toda a encenação fica mais sombria. A trilha sonora, antes desfilando hits da época, se torna melancólica; a decupagem, por sua vez, se torna de planos escuros tomados por sombras. Durkin, em inúmeras situações, aposta em zooms em direção aos personagens lentamente, no intuito do espectador sentir muito mais o peso daquilo que vê.

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Afago e alerta

Calcada no destino e nas escolhas do irmão interpretado por Zac Efron — que entrega uma das grandes atuações de sua carreira —, a conclusão, de toda forma, consegue não ser completamente pessimista. Em uma bela sequência derradeira, Kevin Von Erich encontra acolhimento reunido com sua família. E se antes a câmera se aproximava para valorizar o fatídico, nesse final tão significativo quanto o começo, ela lentamente se afasta da ação para revelar uma realidade onde o personagem de Efron pode fazer diferente de seu pai.

Assim, em um filme cujo diretor se prova um cineasta de escolhas inteligentes para conduzir essa história, “Garra de Ferro” é um ótimo — e por vezes chocante — alerta sobre o perigo presente nas ambições e pressões familiares.

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Guilherme Salomão
Guilherme Salomãohttps://igormiranda.com.br
Guilherme Salomão é Criador de conteúdo, Crítico de Cinema e Produtor Audiovisual carioca apaixonado por Cinema e Música desde que se conhece como gente. Administrador por formação, foi autor do TCC “O Poder da Marca no Cinema: O Caso Star Wars de George Lucas” na PUC-Rio, obtendo nota máxima em forma de reconhecimento pelo seu trabalho e dedicação. Cinéfilo de carteirinha, na produção já se dedicou a projetos que vão desde curtas e longas-metragens até videoclipes de artistas iniciantes.

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