Em time de peso e com convidados, Roland Grapow celebra legado em SP

Sesc Belenzinho recebeu segunda das três apresentações em que guitarrista toca clássicos do Helloween e Masterplan para o público brasileiro

Talvez você não se recorde, mas Roland Grapow havia realizado uma turnê solo de seis datas no Brasil entre janeiro e fevereiro de 2020, pouco antes de o mundo se fechar com a maldita pandemia. Além de São Paulo, o giro ainda incluiu duas noites no Sesc Santo André e uma em Limeira, cidades também contempladas em seu regresso.

Se, quando deixávamos a estação Barra Funda do metrô rumo ao Espaço Unimed três dias antes, ouvimos uma empolgada fã afirmar não ser um show de rock, mas de Slash, referindo-se ao fato de o americano transcender estilos, a lógica invertida também valia para o sábado (3). Não se tratava de uma apresentação do Helloween ou do Masterplan e sim do guitarrista que une as duas bandas celebrando seu legado em noite de ingressos esgotados.

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Foto: André Tedim

Sendo bastante prático, as pessoas foram à Comedoria do Sesc Belenzinho para estarem perto dele. Quer a prova? Quando chegamos, faltando meia hora para a apresentação, a “grade” do canto esquerdo da pista — direito do palco —, onde o alemão tocaria, já estava tomada. E sobrava espaço no lado oposto.

Sem banda de abertura e com insignificante atraso de dois minutos em relação ao horário divulgado de 20h30, o show foi iniciado com “Mr. Torture”, até a primeira de poucas interações de Roland, ciente de que não queriam vê-lo falando e sim tocando:

“Muito obrigado, São Paulo! Como estão? É lindo estar aqui, mas está muito quente! O que está havendo? Não tem ar-condicionado? Preciso de um. Estão prontos para um setlist especial hoje? Material bom e antigo. Espero que curtam. Cuidem-se”, declarou antes de “Spirit Never Die”, a primeira de um total de quatro do Masterplan “contra” onze do Helloween — muitas delas não tocadas mais pela banda original —, espalhadas em uma hora e trinta e sete minutos.

Foto: André Tedim

Tendo novamente — como em 2020 — o apoio de João Luiz (voz, Golpe de Estado), Affonso Junior (guitarra, Revenge e carreira solo), Fabio Carito (baixo, Warrel Dane e Metalium) e Marcus Dotta (bateria, também Warrel Dane e Metalium), o quinteto mostrou-se bem ensaiado e divertiu-se tanto quanto fez a alegria dos presentes, especialmente entre “Mankind” e “The Dark Ride”, quando João fez a propaganda dos produtos da barraquinha do merchan e, alheio ao que se passava em português, mas rindo, Grapow soltou um “O que você disse?” e completou: “Comprem camisetas!”.

Foto: André Tedim
Foto: André Tedim
Foto: André Tedim
Foto: André Tedim

Pontos altos? Embora não tenham sido escritas por Grapow, o combo sequencial “Eagle Fly Free” e “I Want Out”, ambas com os convidados Bill Hudson (guitarra, I Am Morbid, Doro e Northtale) e Victor Emeka (voz, Hibria), foi tiro certeiro no quesito, conforme esperado, e a primeira certamente merecia uma roda. Pessoalmente, favorita deste escriba, “The Time of the Oath” foi imbatível.

A dupla ainda participaria da festa em “Heroes”, penúltima do set e contando com a inclusão de Leandro Caçiolo, competentíssimo vocalista do Viper (entre tantos outros projetos), que também cantou “Push” e a citada “Mankind” no lugar do “vocalista titular”. E quanto ao andamento do set, o repertório foi de momentos mais cadenciados como em “A Million to One” e “Back from My Life” à pancadaria pura como na acima mencionada “Push”.

Houve espaço para canções mais “lado b”, como “A Handful of Pain”, e momentos intimistas, como os belos coros em “Crawling from Hell” e “The Dark Ride”, esta com guitarras dobradas no solo, lindo de se ver e ouvir!

Foto: André Tedim
Foto: André Tedim

Tratando-se de um show de covers (sejamos sinceros), daria para fazer uma análise mais aprofundada? Certamente, mas será que seria o caso? A banda segurou a onda do começo ao fim e o único senão foi o uso exagerado do teleprompter por parte de João Luiz para ler as letras, por vezes afetando sua desenvoltura. Leandro e Victor também se utilizaram do recurso, porém menos.

Por outro lado, João tem competência de sobra enquanto cantor, fora o fato de ter sido interessante ver a adaptação de seu timbre mais grave para melodias mais agudas. Seria desumano, obviamente, esperar uma imitação de Michael Kiske, Andi Deris ou Jørn Lande.

Foto: André Tedim

Dias antes do início da tour, o Masterplan de Grapow disponibilizou o single “Rise Again”, seu primeiro material inédito em mais de uma década — mais especificamente, desde “Novum Initium” (2013). Resta saber se a banda capitaneada pelo guitarrista poderia, também, passar pelo Brasil, visto que sua última visita ocorreu em 2015. Enquanto isso, celebramos o fato de Roland ter vindo mostrar seu talento cercado de músicos nacionais tarimbados. E haveria mais no dia seguinte em Limeira!

Foto: André Tedim

Observações sobre Santo André

Este escriba também esteve presente no primeiro dos três shows da turnê, realizado na última sexta-feira (2) no Santo Rock Bar, em Santo André. Algumas observações sobre a apresentação que iniciou a tour:

-> Rolou abertura do competentíssimo tributo a Ronnie James Dio, a Heaven And Hell, de Marcelo Saracino (vocal), Johnny Moraes (guitarra), Ricardo Flausino (baixo) e Marcus Dotta (bateria) – este em jornada dupla – e com direito à decoração de palco;

-> O show principal começou à 0h30 e só terminou às 2h10… Sendo assim, caso queira se arriscar por lá, prepare-se para voltar para casa meio da madrugada. Dicas: vá com amigos e experimente o Metallica, um dos apetitosos sanduíches locais;

-> A qualidade do som infelizmente estava inferior, abafado no geral a ponto de dificultar a compreensão das falas de Grapow e com os instrumentos mais altos do que o vocal, estranhamente imperceptível na live mantida no canal do bar no YouTube – a transmissão abre em 2h10’27”;

-> Não houve um terceiro guitarrista, ou seja, nada de Bill Hudson;

-> Ricardo Peres, ex-Seventh Seal, fez as partes de Leandro Caçoilo em “Push”, “Mankind” e “Heroes”;

-> A seleção de faixas foi idêntica, porém “Back from My Life” rolou antes de “The Time of the Oath”;

-> O clima entre os músicos e as interações com os fãs estavam ainda mais descontraídos sem a rigidez do “toque de recolher” tradicional das unidades do Sesc — algo dito sem critica alguma, pois foi ótimo partir para casa com vagar às 22h15 de um sábado;

-> Havia mais espaço na plateia, longe de dar sold out.

Foto: André Tedim

Roland Grapow — ao vivo em São Paulo

  • Local: Sesc Belenzinho
  • Data: 3 de fevereiro de 2024

Repertório:

  1. Mr. Torture [Helloween]
  2. Spirit Never Die [Masterplan]
  3. The Chance [Helloween]
  4. A Million To One [Helloween]
  5. The Time Of The Oath [Helloween]
  6. Back From My Life [Masterplan]
  7. A Handful Of Pain [Helloween]
  8. The Departed (Sun Is Going Down) [Helloween]
  9. Push [Helloween] [Com Leandro Caçoilo, sem João Luiz]
  10. Mankind [Helloween] [Com Leandro Caçoilo, sem João Luiz]
  11. The Dark Ride [Helloween]
  12. Eagle Fly Free [Helloween] [Com Bill Hudson e Victor Emeka, sem João Luiz]
  13. I Want Out [Helloween] [Com Bill Hudson e Victor Emeka, sem João Luiz]
  14. Heroes [Masterplan] [Com Leandro Caçoilo e Victor Emeka]
  15. Crawling From Hell [Masterplan]

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