Na metade da década de 1980, os Rolling Stones passaram por uma crise que quase levou ao fim do grupo. Após vinte e cinco anos de trabalho, a rotina e a convivência cobraram seu preço, e alguns integrantes decidiram se aventurar em projetos paralelos na busca por novos ares.
Mick Jagger estava entre eles, e a escolha de não embarcar em uma turnê para promover o álbum “Dirty Work” (1986) não agradou a Keith Richards. Em entrevista ao The Guardian em 1987, o frontman falou sobre as tensões nos bastidores da banda naquela época.
“Se tudo no jardim tivesse sido adorável, teria sido muito bom. Mas tudo no jardim não estava adorável, estava terrivelmente horrível e teria exigido uma poda terrível para… Bem, eu simplesmente acho que fazer uma turnê com os Stones do jeito que os Stones estavam seria um desastre, ou uma receita para um desastre. A banda não estava se dando bem de jeito nenhum. Era terrível.”
Jagger traçou um paralelo com a turnê de despedida do The Who em 1982 para justificar a recusa de cair na estrada com os Stones.
“A experiência gráfica para mim de uma banda em turnê que não funcionava foi a última turnê do The Who. Quando vi isso, realmente me assustou e ficou comigo esse sentimento de ódio real. Foi horrível, sabe, o Pete Townshend estava em outro hotel e ninguém se falava. Isso me deu um calafrio real, e foi então que percebi que não havia como os Stones saírem em turnê, porque teria sido exatamente a mesma coisa, provavelmente pior. Teria sido apenas uma turnê para ganhar dinheiro. Não teria sido uma turnê dos Stones, teria sido um grande negócio e eu simplesmente não poderia encarar dessa forma.”
Rolling Stones e a “crise conjugal”
O desgaste da relação de trabalho foi comparado ao de um casamento.
“[…] É apenas que a fricção se acumula ao longo dos anos. É como um casamento, mas eu não quero falar sobre o quê, por que e como aconteceu na minha relação com o Keith e dizer, ‘Ah, foi terrível, ele costumava deixar as cuecas sujas espalhadas pelo chão da sala de estar’, esse tipo de coisa. É apenas que a fricção se acumula, e eu simplesmente não conseguia lidar mais com isso. Tornou-se impossível administrar a banda no estado em que eles estavam.”
De acordo com o músico, o papel de mediador o deixou esgotado e sem paciência para lidar com os colegas.
“[…] Tudo estava um pouco esgotado, e eu era o único que tinha que manter tudo junto, mas simplesmente perdi a paciência com todos, é simples assim. Simplesmente não conseguia mais lidar com eles. Era como: não espere que eu pegue os pedaços novamente e reúna todos e torne tudo inteiro, porque não estou mais a fim. Você terá que ler nas entrelinhas um pouco, lamento, mas no fim das contas, se resume a duas pessoas perdendo a cabeça.”
Felizmente, o conflito entre os Rolling Stones durou pouco. A relação entre os músicos foi restabelecida, e o grupo caiu na estrada em 1989 com a turnê de promoção de “Steel Wheels”.
O voo solo de Mick Jagger e Keith Richards
A ausência de Mick Jagger do Rolling Stones em 1987, se deu em meio a gravação e turnê de promoção de “Primitive Cool”, segundo álbum solo de sua discografia. O trabalho – lançado em 17 de setembro do mesmo ano – teve um desempenho comercial mediano, assim como as críticas.
Mesmo contrário a decisão de Jagger, Keith Richards também aproveitou o período para colocar seus projetos em prática. O guitarrista lançou em outubro de 1988 “Talk Is Cheap”, primeiro álbum solo da carreira, que conquistou de cara aclamação da crítica.
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