Em meio à turnê de divulgação do álbum “Fireball” (1971) e o processo criativo que levou à origem de “Machine Head” (1972), o Deep Purple precisou interromper bruscamente uma turnê norte-americana. Vitimado por uma hepatite, o vocalista Ian Gillan ficou impossibilitado de prosseguir com a excursão.
A banda ainda chegou a fazer um show com o baixista Roger Glover cantando – infelizmente sem registros disponíveis, embora comprovada sua realização –, mas interrompeu os compromissos logo a seguir. Com o intervalo forçado, o guitarrista Ritchie Blackmore e o baterista Ian Paice resolveram testar um novo projeto. O Babyface (cuja história pode ser conferida aqui) contaria com Phil Lynott, frontman do Thin Lizzy.
O curioso é que, apesar de não ter dado em nada realmente concreto, o trio chegou a fazer o comandante das seis cordas nem se importar em prever o fim de seu trabalho principal. Em depoimento de 1972, resgatado pelo livro “Deep Purple 1968-1976”, de Jerry Bloom – publicado no Brasil pela editora Estética Torta –, Blackmore disse:
“Gravamos algumas músicas e estou satisfeito com elas. Tudo está acontecendo muito devagar, mas é porque cada detalhe está sendo minuciosamente observado. É uma banda de rock e blues, muito diferente do Purple. Eu gostaria de lançar um compacto, porque essa é a maneira mais rápida de fazer as coisas acontecerem, mas não tocariam nosso tipo de música no rádio.”
A seguir, Ritchie deixa claro o que aconteceria com seu futuro artístico, ao enfatizar que gostaria de ser mais centralizador.
“Quero fazer algo em que tudo seja culpa minha se der errado ou mérito meu se der certo. Só acho que há espaço para mais emoção na música de hoje, e quero ter alguma participação nisso. Acho que posso fazer algo mais empolgante que o Deep Purple. Quero seguir em frente com minha banda – todos nós queremos seguir em frente com nossos outros interesses – e eu tenho que considerar o fim do Deep Purple para seguir são.”
Ainda assim, ele reconhecia que a separação não viria tão em breve. O motivo? O sucesso e o dinheiro – que aumentariam ainda mais com o lançamento de “Machine Head” no mesmo ano.
“Vamos continuar juntos por um pouco ainda porque estamos ganhando um bom dinheiro e podemos nos organizar muito bem – acho que merecemos. Passei fome por seis anos e a band construiu uma boa reputação para si ao longo dos últimos.”
O fim abrupto do Babyface
Em depoimento resgatado pela revista Classic Rock, Paice confessou que o Babyface não foi adiante meramente por motivos musicais. Especialmente da parte do representante irlandês da empreitada.
“Nunca decolou, principalmente, porque Phil ainda não era um baixista bom o suficiente. Sua voz era impressionante, maravilhosa. Mas ele não conseguia tocar, pelo menos não no nível que precisávamos em uma formação do tipo. Quando há apenas três, todo mundo tem que ser muito bom no que faz. Era preciso alguém como Jack Bruce, do Cream.
E, Deus o abençoe, Phil ainda não estava nesse nível. Ele era bem simples, muitas vezes desafinado e fora de tempo. Com o tempo se muito, muito bom em tudo o que fazia. Mas, naquele ponto, ainda não era. Ritchie e eu nos entreolhamos e dissemos: ‘Não está funcionando’. Voltamos para a estrada com o Purple e a ideia meio que desapareceu na neblina.”
No final dos anos 1990, questionado sobre o destino das fitas supostamente existentes, Blackmore resumiu, conforma o já citado livro:
“Fizemos algumas gravações. Estão em poder dos antigos empresários. Não chegamos a finalizá-las e eram apenas três músicas, todas pela metade.”
Ritchie Blackmore e o Deep Purple
Ritchie Blackmore ainda permaneceria por mais dois anos e meio no Deep Purple. A seguir, sairia para montar o Rainbow. Reuniria-se com os colegas em 1984, permanecendo até a metade da década seguinte, quando se retiraria em definitivo, não sem antes chegar a trocar sopapos publicamente com Ian Gillan.
Após ter reativado o nome Rainbow em anos recentes para alguns shows, o guitarrista segue se dedicando ao Blackmore’s Night, grupo que mantém com sua esposa, a cantora Candice Night. A proposta sonora é distante do rock pesado que o consagrou, com influências renascentistas e quase nenhum instrumento elétrico.
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