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Uriah Heep leva público de São Paulo a uma viagem no tempo

Noite mágica conduzida pelo feiticeiro Mick Box consegue condensar 5 décadas de história em uma hora e meia

São Paulo pôde novamente receber um combo de ícones vivos da música na noite do último domingo (11). Enquanto Paul McCartney se apresentava no Allianz Parque pela terceira vez, o Uriah Heep fazia a festa para um Tokio Marine Hall pouco mais da metade cheio, um dia depois de ter se apresentado em Curitiba.

Se a diferença na quantidade de ingressos vendidos os separa, a longevidade e influência os aproxima. O Uriah Heep foi e é um dos pilares da música pesada, mas não só: se temos o Gamma Ray gravando cover (“Look at Yourself”), também é possível encontrar declaração de amor feita por Morten Harket, vocalista do grupo norueguês A-ha. Na própria plateia de São Paulo era possível encontrar artistas de estilos e gerações diferentes, como Lobão e Bruno Sutter.

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Subestimado ou cult, fato é que lá nos anos 70, já com o disco de estreia “Very ‘eavy… Very ‘umble” (1970), estabeleceu um marco no hard rock. Serviu de referência para uma ampla gama de bandas de como um verdadeiro grupo deveria soar.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

50 anos em 90 minutos

O compromisso em São Paulo era o último da “curta turnê de Natal latino-americana”, como a chamou o vocalista Bernie Shaw em determinado momento do show. O giro foi o primeiro a incluir o Chile em toda a carreira do grupo. O repertório, por sua vez, ignorou por completo o disco lançado em janeiro último, “Chaos & Colour”.

A estranheza disso passa quando lembramos que se trata de uma banda com mais de 50 anos de atividade, completados em 2020. A marca é tão importante que o número 50 foi incorporado ao logotipo, ao merchandising e até à palheta personalizada do guitarrista Mick Box, líder e único integrante original. Além de Bernie e Mick, o time é completado por Phil Lanzon nos teclados, Russell Gilbrook na bateria e Davey Rimmer no baixo, o integrante mais recente, que entrou em 2013.

Ou seja, é uma formação com mais de 10 anos de entrosamento repassando as cinco décadas de história. Para o bem ou para o mal, não houve banda de abertura — o grupo Mofo Jam tocava no hall de entrada —, o que permitiu que começasse cedo, um pouco depois das 20h.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Sem backdrop, decoração ou fogos, a apresentação poderosa foi baseada apenas na insubstituível força que músicos tocando ao vivo em sincronia podem proporcionar. Some-se a isso a simpatia e empolgação, e as chances de alguém não ficar satisfeito se aproximam muito de zero.

Essa intensidade durou a noite toda, não apenas em “Grazed By Heaven” e “Take Away My Soul”, faixas do álbum “Living the Dream” (2018) que iniciaram o show. O público mais assistiu do que cantou, embora não tenha economizado nos aplausos e gritos — que vieram mesmo com a terceira música, “Traveller in Time” primeira do aclamado “Demons & Wizards” (1972), disco que deu nome ao finado projeto de Hansi Kürsh (Blind Guardian) e Jon Schaffer (Iced Earth). Apesar da distância temporal, tecnológica e artística, o repertório apresenta uma coerência e identidade muito fáceis de serem perdidas, quando não corrompidas.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

O feitiço

Mick Box, um Hermeto Pascoal das guitarras, impede que o povo se perca e os conduz com maestria e leveza pelas décadas. Os anos 1990 dão as caras em “Between Two Worlds” (de “Sonic Origami”, de 1998). A viagem prossegue e o ritmo implacável de Russell Gilbrook fica cada vez mais evidente, indo da aceleração máxima do heavy metal ao rudimento mais leve. A média, contudo é de uma força robusta e estável, sempre adequada ao que a música pedia. Em “Free ‘n’ Easy”, uma cavalgada furiosa típica do heavy metal clássico teve Gilbrook exibindo o melhor da surra que pode aplicar com as baquetas.

A complexidade progressiva de “Gypsy” acalma o show para todos, menos para Bernie Shaw, que dá um show à parte. Em “Look At Yourself” o descanso acaba e a banda é apresentada. Shaw deixa o palco para dar lugar à jam (“que pode ser maior pois é o último show”) em que Mick Box mostra que é uma lenda da guitarra, tão brilhante quanto subestimada. Quando sua mão esquerda passa rapidamente pelo braço da guitarra e sua mão direita faz figuras malucas no ar, é quase como se estivesse lançando um feitiço parece um feiticeiro cuja magia não perde o frescor. Muito pelo contrário.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

A longa “July Morning”, com seus dez minutos de duração e, logo depois, a quase folk “Lady in Black”, que contou com a maior participação da audiência na noite, precederam o bis. Um coração batendo, acompanhado pelas luzes, indicou que era a vez de “Sunrise”.

Encerramento com tempero brasileiro

No encerramento, com “Easy Livin’”, Bernie Shaw convida para o palco a vocalista Kátia Pardini (integrante do Firefly, tributo brasileiro ao Uriah Heep) e o guitarrista Marcelo Frisoni (Made in Brazil). Uma forma festiva de encerrar a noite em clima de festa — e uma gentileza ao público brasileiro, que sempre fica feliz por se ver representado.

Embora tenha sido estranho que não tenham apresentado nada de “Chaos & Color” (2023), tendo em conta que a sua capa constava do merch oficial, a verdade é que a banda tinha muito o que escolher. Diante disso, o Uriah Heep conseguiu apresentar um setlist bastante equilibrado. Todas as épocas foram apresentadas de forma justa, com destaque à fase clássica dos anos 1970.

*Fotos de Gabriel Ramos / @gabrieluizramos. Mais imagens ao fim da página.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Uriah Heep – ao vivo em São Paulo

  • Local: Tokio Marine Hall
  • Data: 10 de dezembro de 2023
  • Turnê: South America Tour 2023
  1. Grazed by Heaven
  2. Take Away My Soul
  3. Traveller in Time
  4. Between Two Worlds
  5. Stealin’
  6. Too Scared to Run
  7. Rainbow Demon
  8. Sweet Lorraine
  9. Free ‘n’ Easy
  10. Gypsy
  11. Look at Yourself
  12. July Morning
  13. Lady in Black

Bis:

  1. Sunrise
  2. Easy Livin’ (com Kátia Pardini e Marcelo Frisoni)
Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos
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InícioResenhasResenhas de showsUriah Heep leva público de São Paulo a uma viagem no tempo
Rolf Amaro
Rolf Amarohttps://igormiranda.com.br
Nasceu em 83, é baixista do Mars Addict, formado em Ciências Sociais pela USP. Sempre anda com o Andreas no braço, um livro numa mão e a Ana na outra.

2 COMENTÁRIOS

  1. Banda emblemática, remanescentes da pureza sonora, tendo que remar contra os juncosos excrementos fonográficos da atualidade. Outro fato é notório, o jornalista ou editor desta matéria precisa e muito, más muito mesmo, voltar com extrema urgência aos estudos gramaticais. Uma crítica construtiva.

  2. Essa matéria me fez retomar momentos do show com detalhes! Amei! A apresentação de Mick Box foi exatamente como descrito, o cara é demais! Fui de São José dos Campos a São Paulo de moto, na chuva e todo esforço valeu a pena. Fui de VIP, mas me arrependo de não ter chego antes pra ficar na grade.

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Se a diferença na quantidade de ingressos vendidos os separa, a longevidade e influência os aproxima. O Uriah Heep foi e é um dos pilares da música pesada, mas não só: se temos o Gamma Ray gravando cover (“Look at Yourself”), também é possível encontrar declaração de amor feita por Morten Harket, vocalista do grupo norueguês A-ha. Na própria plateia de São Paulo era possível encontrar artistas de estilos e gerações diferentes, como Lobão e Bruno Sutter.

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Subestimado ou cult, fato é que lá nos anos 70, já com o disco de estreia “Very ‘eavy… Very ‘umble” (1970), estabeleceu um marco no hard rock. Serviu de referência para uma ampla gama de bandas de como um verdadeiro grupo deveria soar.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

50 anos em 90 minutos

O compromisso em São Paulo era o último da “curta turnê de Natal latino-americana”, como a chamou o vocalista Bernie Shaw em determinado momento do show. O giro foi o primeiro a incluir o Chile em toda a carreira do grupo. O repertório, por sua vez, ignorou por completo o disco lançado em janeiro último, “Chaos & Colour”.

A estranheza disso passa quando lembramos que se trata de uma banda com mais de 50 anos de atividade, completados em 2020. A marca é tão importante que o número 50 foi incorporado ao logotipo, ao merchandising e até à palheta personalizada do guitarrista Mick Box, líder e único integrante original. Além de Bernie e Mick, o time é completado por Phil Lanzon nos teclados, Russell Gilbrook na bateria e Davey Rimmer no baixo, o integrante mais recente, que entrou em 2013.

Ou seja, é uma formação com mais de 10 anos de entrosamento repassando as cinco décadas de história. Para o bem ou para o mal, não houve banda de abertura — o grupo Mofo Jam tocava no hall de entrada —, o que permitiu que começasse cedo, um pouco depois das 20h.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Sem backdrop, decoração ou fogos, a apresentação poderosa foi baseada apenas na insubstituível força que músicos tocando ao vivo em sincronia podem proporcionar. Some-se a isso a simpatia e empolgação, e as chances de alguém não ficar satisfeito se aproximam muito de zero.

Essa intensidade durou a noite toda, não apenas em “Grazed By Heaven” e “Take Away My Soul”, faixas do álbum “Living the Dream” (2018) que iniciaram o show. O público mais assistiu do que cantou, embora não tenha economizado nos aplausos e gritos — que vieram mesmo com a terceira música, “Traveller in Time” primeira do aclamado “Demons & Wizards” (1972), disco que deu nome ao finado projeto de Hansi Kürsh (Blind Guardian) e Jon Schaffer (Iced Earth). Apesar da distância temporal, tecnológica e artística, o repertório apresenta uma coerência e identidade muito fáceis de serem perdidas, quando não corrompidas.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

O feitiço

Mick Box, um Hermeto Pascoal das guitarras, impede que o povo se perca e os conduz com maestria e leveza pelas décadas. Os anos 1990 dão as caras em “Between Two Worlds” (de “Sonic Origami”, de 1998). A viagem prossegue e o ritmo implacável de Russell Gilbrook fica cada vez mais evidente, indo da aceleração máxima do heavy metal ao rudimento mais leve. A média, contudo é de uma força robusta e estável, sempre adequada ao que a música pedia. Em “Free ‘n’ Easy”, uma cavalgada furiosa típica do heavy metal clássico teve Gilbrook exibindo o melhor da surra que pode aplicar com as baquetas.

A complexidade progressiva de “Gypsy” acalma o show para todos, menos para Bernie Shaw, que dá um show à parte. Em “Look At Yourself” o descanso acaba e a banda é apresentada. Shaw deixa o palco para dar lugar à jam (“que pode ser maior pois é o último show”) em que Mick Box mostra que é uma lenda da guitarra, tão brilhante quanto subestimada. Quando sua mão esquerda passa rapidamente pelo braço da guitarra e sua mão direita faz figuras malucas no ar, é quase como se estivesse lançando um feitiço parece um feiticeiro cuja magia não perde o frescor. Muito pelo contrário.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

A longa “July Morning”, com seus dez minutos de duração e, logo depois, a quase folk “Lady in Black”, que contou com a maior participação da audiência na noite, precederam o bis. Um coração batendo, acompanhado pelas luzes, indicou que era a vez de “Sunrise”.

Encerramento com tempero brasileiro

No encerramento, com “Easy Livin’”, Bernie Shaw convida para o palco a vocalista Kátia Pardini (integrante do Firefly, tributo brasileiro ao Uriah Heep) e o guitarrista Marcelo Frisoni (Made in Brazil). Uma forma festiva de encerrar a noite em clima de festa — e uma gentileza ao público brasileiro, que sempre fica feliz por se ver representado.

Embora tenha sido estranho que não tenham apresentado nada de “Chaos & Color” (2023), tendo em conta que a sua capa constava do merch oficial, a verdade é que a banda tinha muito o que escolher. Diante disso, o Uriah Heep conseguiu apresentar um setlist bastante equilibrado. Todas as épocas foram apresentadas de forma justa, com destaque à fase clássica dos anos 1970.

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Uriah Heep – ao vivo em São Paulo

  • Local: Tokio Marine Hall
  • Data: 10 de dezembro de 2023
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  2. Take Away My Soul
  3. Traveller in Time
  4. Between Two Worlds
  5. Stealin’
  6. Too Scared to Run
  7. Rainbow Demon
  8. Sweet Lorraine
  9. Free ‘n’ Easy
  10. Gypsy
  11. Look at Yourself
  12. July Morning
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  1. Sunrise
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Nasceu em 83, é baixista do Mars Addict, formado em Ciências Sociais pela USP. Sempre anda com o Andreas no braço, um livro numa mão e a Ana na outra.

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  1. Banda emblemática, remanescentes da pureza sonora, tendo que remar contra os juncosos excrementos fonográficos da atualidade. Outro fato é notório, o jornalista ou editor desta matéria precisa e muito, más muito mesmo, voltar com extrema urgência aos estudos gramaticais. Uma crítica construtiva.

  2. Essa matéria me fez retomar momentos do show com detalhes! Amei! A apresentação de Mick Box foi exatamente como descrito, o cara é demais! Fui de São José dos Campos a São Paulo de moto, na chuva e todo esforço valeu a pena. Fui de VIP, mas me arrependo de não ter chego antes pra ficar na grade.

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