O espólio de Joey Jordison entrou com uma ação na Justiça americana contra o Slipknot. Os representantes do patrimônio do baterista acusam a banda de lucrar em cima do falecimento do baterista, ocorrido em 2021, sendo que os remanescentes “expulsaram abruptamente” o ex-integrante uma década atrás. O grupo ainda não se manifestou publicamente, mas, pela Justiça, solicita que o caso seja arquivado.
De acordo com o TMZ (via Blabbermouth), a Steamroller LLC (empresa responsável por gerir o legado de Jordison) alega que o Slipknot não devolveu “pelo menos 22 itens” pertencentes ao músico. Instrumentos, equipamentos e peças de vestuário estão entre os objetos mencionados.
A promessa era de que eles seriam enviados de volta para convencer Jordison a não fazer certas exigências na Justiça. Contudo, o espólio aponta que além de não devolver, a banda usou os itens em exposições do museu Knotfest, que faz parte do festival itinerante do grupo — inclusive com passagem pelo Brasil no fim de 2022.
A acusação é feita diretamente a dois integrantes: o vocalista Corey Taylor e o percussionista Michael Shawn “Clown” Crahan, além de empresas associadas. O processo foi movido em junho, mas só agora tornou-se público.
O que diz o processo
A Steamroller diz na ação que o Slipknot incluiu os itens pessoais de Joey Jordison “enchendo seus bolsos com o lucro da base de fãs devotos” do baterista. O texto jurídico aponta que o grupo “expulsou abruptamente” Jordison do grupo em 2013.
Conforme apresentado pelo Blabbermouth, o processo alega:
“Depois de expulsar Jordison abruptamente do Slipknot em 2013, Taylor e Crahan prometeram expressamente em um acordo por escrito devolver todos os pertences de Jordison em troca da promessa de Jordison de liberá-los de certas reivindicações. O acordo continha uma lista não exclusiva de amplas categorias de itens que [Taylor e Crahan] afirmavam que estavam em sua posse e que retornariam a Jordison. [Taylor e Crahan] pretendiam cumprir o acordo devolvendo certos itens a Jordison mas, sem o conhecimento de Jordison, [eles] executaram o acordo sem intenção de cumprir suas obrigações e ocultaram conscientemente de Jordison que possuíam vários outros itens pertencentes a Jordison que nunca devolveram a ele.”
A ação também destaca que Jordison foi um dos fundadores do Slipknot, ao lado de Crahan e do também falecido baixista Paul Gray, em 1995. Os três, junto de Taylor, formaram a Slipknot Partnership em 1999, para gerenciar a banda.
Porém, em 2010, Joey apresentou sintomas do que mais tarde seria diagnosticado como mielite transversa aguda. O músico chegou a perder os movimentos da perna esquerda, o que levou à sua “expulsão abrupta por e-mail feita por Crahan e Taylor”. O processo afirma:
“A insensibilidade da demissão de Jordison e outros maus-tratos nas mãos de Crahan e Taylor foram amplamente divulgados e criticados pelos fãs da banda. Desde a década de 1990, Jordison dedicou sua vida a fazer do Slipknot, uma sensação do metal, da qual Crahan e Taylor generosamente lucraram. Não fazia sentido que Crahan e Taylor tratassem Jordison com tanto desdém, especialmente à luz do declínio da saúde de Jordison.”
Acordo supostamente não cumprido
O texto jurídico destaca que, em 2015, Joey Jordison chegou a um acordo com Corey Taylor, Shawn Crahan e as empresas do Slipknot. O trato envolvia a compra da parte que era do baterista na Slipknot Partnership.
Segundo o processo, o acordo de liberação exigia que Crahan e Taylor “imediatamente após a execução completa do Contrato de Liberação” devolvessem a Jordison “qualquer propriedade, incluindo equipamento musical, pertencente” a Jordison e que estivessem na posse de Crahan e Taylor. Isso, de acordo com a Steamroller, não ocorreu.
O processo ainda critica Corey e Shawn pela maneira como agiram nos meses seguintes ao falecimento de Jordison.
“Enquanto a família, amigos e fãs lamentaram a perda do lendário baterista, nenhum dos companheiros de banda expressou condolências à família de Jordison após sua morte. Em vez disso, Taylor e Crahan procuraram impiedosamente lucrar com a morte de Jordison. O Slipknot lançou um novo álbum em 2022 intitulado ‘The End, So Far’. As críticas dos fãs ao álbum raramente perdem a oportunidade de lamentar a ausência de Jordison. Taylor e Crahan usaram insensivelmente A morte de Jordison como marketing para seu novo álbum. Taylor dedicou publicamente ‘The End, So Far’ a Jordison, alegando que a percepção da morte de Jordison ‘invadiu’ a produção do álbum. Taylor até reconheceu que ele e Crahan maltrataram Jordison durante uma entrevista, dizendo aos fãs que eles ‘esperavam resolver os problemas com ele e é uma daquelas coisas que lhe diz: tudo o que você precisa fazer, faça agora, porque você nunca sabe quando vai perder alguém’. Talvez o pior de tudo é que Crahan e Taylor mentiram publicamente aos fãs, dizendo que haviam entrado em contato com a família de Jordison para ver como estavam e expressar suas condolências e amor por Jordison após seu falecimento. Isso é totalmente falso e é profundamente perturbador para a família de Jordison ler uma mentira tão descarada na internet. É claro que Taylor e Crahan não se importavam realmente com Jordison ou sua família; eles se preocupavam apenas em angariar publicidade e vendas do novo álbum.”
De acordo com a denúncia, Taylor e Crahan “continuaram a lucrar com a morte de Jordison e sua base de fãs em luto até hoje, exibindo os pertences de Jordison em um museu itinerante do Slipknot chamado Knotfest. O museu fez inúmeras paradas ao longo de vários anos e [Taylor e Crahan] lucraram muito com a disposição dos fãs de Jordison em pagar taxas de admissão para ver pessoalmente os pertences icônicos de Jordison”.
Corey Taylor e expectativa de reconciliação
A entrevista mencionada na ação foi concedida por Corey Taylor, no segundo semestre de 2022, ao The Fader. Na ocasião, o vocalista comentou o impacto que o falecimento de Joey Jordison teve tanto no aspecto profissional – em relação ao novo disco do Slipknot, “The End, So Far” – quanto no pessoal.
“Definitivamente nos influenciou, porque aconteceu enquanto estávamos trabalhando nas músicas. Dedicamos o álbum a ele. Não esperávamos que isso acontecesse. Foi muito triste, ele era alguém tão criativo e explosivo… Eu só queria que não tivéssemos o perdido tão cedo. Nós estávamos esperando consertar as coisas com ele. É uma daquelas situações que te ensina: o que você precisa fazer, faça agora, porque nunca se sabe quando vamos perder alguém.”
Foi a segunda perda significativa na história do Slipknot. Em 2010, o baixista Paul Gray morreu por conta de uma overdose. Taylor declarou:
“Essas experiências definitivamente nos acordaram e nos fizeram perceber que estamos do outro lado da juventude. Chegará um momento em que começaremos a nos perder novamente. Devemos aproveitar o tempo que temos uns com os outros. Eu tentei deixar esses caras saberem como eu me sinto sobre eles e a música que fizemos juntos. Somos todos diferentes. O fato de que depois de todos esses anos ainda estamos fazendo isso juntos e nesse ritmo é algo a se comemorar.”
As demandas feitas pela Steamroller na ação não foram divulgadas.
Joey Jordison, Slipknot e mias
Nascido em Des Moines, Iowa, Nathan Jonas Jordison se aventurava pela música desde muito cedo, influenciado pelos pais. Começou na banda Modifidious, que lançou duas demos e conseguiu certa repercussão local.
Na metade dos anos 1990, após breves passagens por outros grupos, se juntou ao Slipknot, se tornando um dos principais compositores. Ficou até 2013, se estabelecendo como um dos maiores bateristas de sua geração.
Paralelamente, tocou guitarra no Murderdolls, banda de Horror Punk em parceria com o vocalista Wednesday 13. Foram dois álbuns lançados, em 2002 e 2010.
Após sair do Slipknot, fundou o Scar the Martyr. A banda durou até 2016, com parte dos músicos seguindo juntos no Vimic. Outro projeto recente foi o Sinsaenum, em parceria com o baixista Frédéric Leclercq, então no Dragonforce, atualmente no Kreator.
Em 2016, Joey revelou ser portador mielite transversa, doença neurológica que inflama a medula espinhal. Ele chegou a perder a sensibilidade das pernas, mas se recuperou após tratamento médico e fisioterápico. Morreu no dia 26 de julho de 2021. A causa oficial nunca foi revelada.
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