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A morte de Frank Zappa, envolta até em teorias sobre experimentos do governo

Infância do lendário e produtivo músico foi marcada por exposição a substâncias cancerígenas em várias situações

Frank Zappa só foi parado pela morte. O músico americano trabalhou de maneira incansável por quase 30 anos durante sua carreira musical, com dezenas de álbuns e milhares de shows nesse tempo. Até a presidência dos Estados Unidos parecia parte de seus planos.

Na década de 1980, Zappa deu uma série de entrevistas nas quais indicou sua vontade de se candidatar como independente. Entretanto, não era para ser. Ele foi diagnosticado com câncer terminal em 1990, e morreu três anos depois, em 4 de dezembro de 1993, aos 52 de idade.

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Décadas se passaram desde então e pessoas ainda falam não só sobre a obra de um dos maiores compositores rock e avant garde do século 20, mas também das circunstâncias em torno de sua morte. Teria a morte de Frank Zappa sido um caso trágico ou consequência de testes secretos do governo?

Para sabermos melhor, é preciso explorar alguns aspectos de sua vida.

A infância de Frank Zappa

O pai de Frank Zappa era um engenheiro químico e matemático que atuou durante muitos anos na indústria de defesa. Nos anos 1940, ele trabalhou num complexo em Baltimore onde se fabricavam armas químicas para o governo americano, incluindo gás mostarda. Além disso, documentos liberados ao público mostram um histórico de testes secretos feitos com cobaias humanas no local para combater efeitos de armas químicas.

É complicado fazer o salto lógico da existência desses experimentos – que começaram quando Frank tinha sete anos – e colocar o músico entre as cobaias. Entretanto, fotos dos testes conduzidos no complexo mostram que vários foram feitos ao ar livre.

Há exemplos de populações civis afetadas por radiação ou compostos químicos às quais foram expostas acidentalmente. Isso geralmente ocorreu por causa de fatores tão simples quanto a direção do vento em determinados dias.

O que sabemos de fato vem de relatos do próprio Zappa. Em sua autobiografia (via Ultimate Guitar), o músico lembrou como o pai constantemente trazia equipamento de laboratório contendo mercúrio — que é altamente cancerígeno — para casa, com os quais o pequeno Frank brincava. O menino chegava a despejar o metal líquido o chão e bater nele com um martelo. 

Também sabemos através da autobiografia que o músico era uma criança doente, especialmente no período da família morando em Baltimore. Zappa sofria de asma, otite e sinusite frequentemente. Médicos chegaram a tratar essa última condição inserindo uma pastilha de rádio — também altamente radioativo — em cada narina. Vale lembrar que Marie Curie, a cientista responsável por descobrir o elemento, morreu de envenenamento por radiação.

Eventualmente, a saúde de Frank piorou tanto a ponto da família precisar se mudar para San Diego. Seu pai deixou pesquisa de armas químicas de lado e se tornou professor de metalurgia.

Diagnóstico

A mudança de ares fez bem a Frank Zappa, que começou a tocar em bandas já adolescente. Os Zappas ainda se mudaram mais uma vez para uma cidade no deserto de Mojave, onde Frank aperfeiçoou suas habilidades como compositor, produtor e pensador crítico.

Apesar de ser um dos músicos mais emblemáticos dos primórdios da psicodelia, Frank não usava drogas ou bebia. Ele fumava muito e era mulherengo – apesar de ter se casado em 1967 com Gail e criado quatro filhos com ela. Seu vício real era a música.

Ao longo de sua vida, ele lançou 62 álbuns de estúdio, explorando desde psicodelia, blues, doo wop, avant garde, funk, rock e música clássica. Os problemas de saúde que o afetaram quando criança ficaram para trás.

Entretanto, em 1990, Zappa foi diagnosticado com um câncer terminal na próstata. 

De acordo com a American Cancer Society, cerca de 1 em 41 pacientes morrem dessa doença nos EUA atualmente. O único câncer que mata mais homens no país é o de pulmão. 

A taxa de mortalidade do câncer de próstata foi reduzida pela metade no período entre 1993 e 2013. Grande parte disso ocorre por melhores tratamentos, mas também graças a conscientização da população masculina da necessidade de passar por exames regulares.

Zappa sabia que algo estava errado com sua saúde há anos, especificamente com relação ao seu sistema urinário. Porém, médicos demoraram para encontrar o tumor em sua próstata. Quando descobriram, estava tão desenvolvido a ponto de ser impossível de remover.

Deterioração e morte de Frank Zappa

Frank Zappa chegou a passar por tratamentos de radioterapia para tentar encolher o tumor, mas esses não deram certo. No livro “Electric Don Quixote: The Definitive Story Of Frank Zappa”, escrito por Neil Slaven (via Grunge), o artista descreveu o tratamento invasivo feito por médicos para tentar combater o câncer:

“Para eu sobreviver, eles precisaram abrir um buraco na minha bexiga. Eu passei mais de um ano com uma mangueira saindo da minha bexiga e parando num saco amarrado na minha perna.”

Nesse período, ele se atirou de cabeça na única coisa que lhe trazia alegria: música. Zappa trabalhou principalmente em obras orquestrais ou para o Synclavier, um sintetizador pelo qual era obcecado.

Suas últimas apresentações de fato como músico ocorreram em circunstâncias alegres. Em 1991, Zappa tocou na República Tcheca e na Hungria. Ambos os países recentemente haviam eleito líderes democraticamente pela primeira vez em décadas, após décadas de controle da União Soviética. O músico havia se tornado até amigo próximo do presidente tcheco Vaclav Havel, que o convidou a ser um embaixador especial do país.

Durante o concerto em Praga, capital tcheca, Zappa falou ao público (transcrição via Don Lope):

“Tenho apenas algumas palavras a dizer antes de passar pelo processo árduo de afinar minha guitarra, mas estou muito feliz de estar aqui essa noite. Essa é a primeira vez que tive motivo para tocar guitarra em três anos. Tenho certeza que vocês sabem, mas esse é apenas o começo de seu novo futuro nesse país e espero que esse futuro seja muito perfeito, muito perfeito. E à medida que vocês confrontam essas mudanças acontecendo, por favor mantenham seu país único. Não mudem para outra coisa. Mantenham-se únicos.” 

Frank continuou nos holofotes em seus últimos meses, dando entrevistas para publicações impressas e TV. Sempre que perguntado se estava arrependido de alguma coisa, ele respondia “não”.

No dia 4 de dezembro de 1993, ele morreu em casa cercado por sua mulher e quatro filhos. Faltavam 17 dias para seu aniversário de 53 anos.

Mesmo assim, a morte não atrapalhou sua prolificidade. Foram 64 álbuns póstumos lançados até agora, sem falar das obras-primas feitas em vida.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

1 COMENTÁRIO

  1. Sugestão humilde para melhorar os textos.
    Em vez de “única coisa que o traxia alegria”, use o lhe: “única coisa que lhe trazia alegria”.
    Com todo respeito.

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