...

“Admirável Chip Novo (Re)Ativado” expõe legado cultural de Pitty com resultados irregulares

Nem todas as releituras funcionam, mas influência da cantora na paisagem mais diversa do pop brasileiro fica evidente

O álbum de estreia de Pitty, “Admirável Chip Novo”, sobreviveu ao teste do tempo e se tornou um clássico moderno do rock brasileiro. Lançado em 2003, o disco ostenta um legado não só na forma da carreira duradoura da cantora, mas também das gerações de mulheres empoderadas a fazer música pela presença da artista no mainstream.

Ciente dessa canonização, a Deck organizou uma homenagem ao legado do álbum. Artistas lendários da MPB, estrelas pop, nomes alternativos do mesmo período, rappers e funkeiros foram convidados para reinterpretar as canções.

- Advertisement -

O resultado, normal para esse tipo de trabalho, é irregular. Emicida abre em grande estilo com um remix de “Máscara”, usando o gancho principal do refrão como uma arma eficaz em meio a versos intensos.

O Planet Hemp manda uma versão certeira da faixa-título. Marcelo D2 e BNegão usam seu entrosamento para transformar a música em algo que faria qualquer ouvinte duvidar ser de outro artista.

Pabllo Vittar faz uma releitura tecnobrega de “Equalize”, que pode parecer desrespeito para roqueiros tradicionais. Entretanto, isso ajuda a mostrar o impacto do hit fora da esfera rock — e como é capaz de ressoar com pessoas vivendo em cenas completamente diferentes. O amor demonstrado pela canção é claro e vívido, mesmo com o bom humor do arranjo.

MC Carol é outra que rouba a cena ao canalizar a performance original de “Só de Passagem” através de sua própria personalidade e carisma. A mensagem da letra parece relevante até levando em conta a obra da funkeira.

Céu faz uma versão de “Emboscada” reminiscente de seus discos “Vagarosa” (2009) e “Tropix” (2016), bebendo na fonte da música eletrônica e dub para dar uma roupagem sensual à canção. Se bem que a cantora provou ao longo da carreira ser capaz de transformar até um aviso de metrô num canto de sereia.

Esse espírito aventureiro contrasta com o conservadorismo do arranjo feito para Ney Matogrosso no cover de “Máscara”. O hit mais pesado do material é levado aqui numa vibe mais jazzy, que não revela nada sobre a faixa. Um dos maiores cantores e showmen da história da música brasileira soa no piloto automático.

Criolo e Tropkillaz fazem em “Do Mesmo Lado” exatamente o que alguém com conhecimento mínimo da obra de ambos esperaria. Tuyo soa genérico em “O Lobo”. Sandy mais ainda em “Temporal”.

Marina Peralta faz uma releitura dub reggae a “I Wanna Be” com ajuda do Rockers Control. Apesar da criatividade, não é particularmente memorável. 

Enquanto isso, o Supercombo fecha o álbum com um cover de “Semana Que Vem” trazendo a única aparição real do gênero que surgiu em parte como consequência do sucesso de “Admirável Chip Novo”.

Apesar nunca ter sido uma emo – suas origens vinham do hardcore baiano, uma cena completamente diferente –, Pitty é inexoravelmente atada ao movimento. Na época, foi até culpada por roqueiros mais tradicionais por abrir caminho aos NX Zeros da vida (curiosamente, ela veio a se casar com o baterista do grupo).

Contudo, em “Admirável Chip Novo (Re)Ativado”, nós vemos um panorama do legado de Pitty que vai além desse reducionismo. O fato das canções serem capazes de funcionar em gêneros díspares é prova do domínio da cantora e compositora sobre o formato pop. Sua influência em artistas além do eixo Rio-SP – ela própria sendo um exemplo de vida fora dessa bolha – fica evidente na presença de artistas do Sul, Norte, Sudeste e Centro-Oeste nessa homenagem.

*Ouça “Admirável Chip Novo (Re)Ativado” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

*O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Pitty — “Admirável Chip Novo (Re)Ativado”

  1. Teto de Vidro (Emicida)
  2. Admirável Chip Novo (Planet Hemp)
  3. Máscara (Ney Matogrosso)
  4. Equalize (Pabllo Vittar)
  5. O Lobo (Tuyo)
  6. Emboscada (Céu)
  7. Do Mesmo Lado (Criolo e Tropkillaz)
  8. Temporal (Sandy)
  9. Só de Passagem (MC Carol)
  10. I Wanna Be (Marina Peralta e Rockers Control)
  11. Semana que Vem (Supercombo)

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Threads | Facebook | YouTube.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioResenhasResenhas de discos“Admirável Chip Novo (Re)Ativado” expõe legado cultural de Pitty com resultados irregulares
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades

“Admirável Chip Novo (Re)Ativado” expõe legado cultural de Pitty com resultados irregulares

Nem todas as releituras funcionam, mas influência da cantora na paisagem mais diversa do pop brasileiro fica evidente

O álbum de estreia de Pitty, “Admirável Chip Novo”, sobreviveu ao teste do tempo e se tornou um clássico moderno do rock brasileiro. Lançado em 2003, o disco ostenta um legado não só na forma da carreira duradoura da cantora, mas também das gerações de mulheres empoderadas a fazer música pela presença da artista no mainstream.

Ciente dessa canonização, a Deck organizou uma homenagem ao legado do álbum. Artistas lendários da MPB, estrelas pop, nomes alternativos do mesmo período, rappers e funkeiros foram convidados para reinterpretar as canções.

- Advertisement -

O resultado, normal para esse tipo de trabalho, é irregular. Emicida abre em grande estilo com um remix de “Máscara”, usando o gancho principal do refrão como uma arma eficaz em meio a versos intensos.

O Planet Hemp manda uma versão certeira da faixa-título. Marcelo D2 e BNegão usam seu entrosamento para transformar a música em algo que faria qualquer ouvinte duvidar ser de outro artista.

Pabllo Vittar faz uma releitura tecnobrega de “Equalize”, que pode parecer desrespeito para roqueiros tradicionais. Entretanto, isso ajuda a mostrar o impacto do hit fora da esfera rock — e como é capaz de ressoar com pessoas vivendo em cenas completamente diferentes. O amor demonstrado pela canção é claro e vívido, mesmo com o bom humor do arranjo.

MC Carol é outra que rouba a cena ao canalizar a performance original de “Só de Passagem” através de sua própria personalidade e carisma. A mensagem da letra parece relevante até levando em conta a obra da funkeira.

Céu faz uma versão de “Emboscada” reminiscente de seus discos “Vagarosa” (2009) e “Tropix” (2016), bebendo na fonte da música eletrônica e dub para dar uma roupagem sensual à canção. Se bem que a cantora provou ao longo da carreira ser capaz de transformar até um aviso de metrô num canto de sereia.

Esse espírito aventureiro contrasta com o conservadorismo do arranjo feito para Ney Matogrosso no cover de “Máscara”. O hit mais pesado do material é levado aqui numa vibe mais jazzy, que não revela nada sobre a faixa. Um dos maiores cantores e showmen da história da música brasileira soa no piloto automático.

Criolo e Tropkillaz fazem em “Do Mesmo Lado” exatamente o que alguém com conhecimento mínimo da obra de ambos esperaria. Tuyo soa genérico em “O Lobo”. Sandy mais ainda em “Temporal”.

Marina Peralta faz uma releitura dub reggae a “I Wanna Be” com ajuda do Rockers Control. Apesar da criatividade, não é particularmente memorável. 

Enquanto isso, o Supercombo fecha o álbum com um cover de “Semana Que Vem” trazendo a única aparição real do gênero que surgiu em parte como consequência do sucesso de “Admirável Chip Novo”.

Apesar nunca ter sido uma emo – suas origens vinham do hardcore baiano, uma cena completamente diferente –, Pitty é inexoravelmente atada ao movimento. Na época, foi até culpada por roqueiros mais tradicionais por abrir caminho aos NX Zeros da vida (curiosamente, ela veio a se casar com o baterista do grupo).

Contudo, em “Admirável Chip Novo (Re)Ativado”, nós vemos um panorama do legado de Pitty que vai além desse reducionismo. O fato das canções serem capazes de funcionar em gêneros díspares é prova do domínio da cantora e compositora sobre o formato pop. Sua influência em artistas além do eixo Rio-SP – ela própria sendo um exemplo de vida fora dessa bolha – fica evidente na presença de artistas do Sul, Norte, Sudeste e Centro-Oeste nessa homenagem.

*Ouça “Admirável Chip Novo (Re)Ativado” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

*O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Pitty — “Admirável Chip Novo (Re)Ativado”

  1. Teto de Vidro (Emicida)
  2. Admirável Chip Novo (Planet Hemp)
  3. Máscara (Ney Matogrosso)
  4. Equalize (Pabllo Vittar)
  5. O Lobo (Tuyo)
  6. Emboscada (Céu)
  7. Do Mesmo Lado (Criolo e Tropkillaz)
  8. Temporal (Sandy)
  9. Só de Passagem (MC Carol)
  10. I Wanna Be (Marina Peralta e Rockers Control)
  11. Semana que Vem (Supercombo)

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Threads | Facebook | YouTube.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioResenhasResenhas de discos“Admirável Chip Novo (Re)Ativado” expõe legado cultural de Pitty com resultados irregulares
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades