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Edição 2023 consolida Setembro Negro como principal evento de música extrema do Brasil

Festival de quatro dias reúne headliners de peso e público do país inteiro em São Paulo para conferir bandas de variadas vertentes do heavy metal

Sábado, 9 de setembro

*Textos de Thiago Zuma e Guilherme Gonçalves (Morbus Zine). Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox.

Desde que o Setembro Negro voltou em 2018, o Carioca Club sempre recebeu públicos respeitáveis, mas de fato, os ingressos nunca se esgotaram e a pista era sempre um ambiente agradável para ver os shows. Não foi assim no quente sábado da décima-quinta edição do festival.

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Já para o Open the Coffin, a presença de público era boa levando-se em consideração o horário das 14h. Cláudio “Slayer” Nascimento e sua gangue de coveiros abriram o caixão e o segundo dia cheio do fest com excelência, entregando um death metal influenciado pela cena sueca, com pedal Boss HM-2 dando o tom do timbre da guitarra e uma ótima performance de palco.

Foto: Gustavo Diakov

Veterano da cena de Natal, Cláudio subiu ao palco com um crânio, uma pá e outros apetrechos sinistros. E “enterraram” a todos com seu death cadavérico.

A pista deu uma esvaziada quando o Thorium subiu ao palco. Representando a Dinamarca desde o nome do seu disco mais recente, “Danmark”, de 2022, o quinteto agitou bastante, mas o público respondeu de forma tímida aos pedidos de roda do vocalista MHA, que disse gostar do cheiro dos brasileiros.

Com mais de duas décadas e cinco discos nas costas, o grupo equilibrou faixas de seu último trabalho com o de “Feral Creation”, de 2008. Apesar de uma apresentação competente de um death metal temperados por algumas harmonias de guitarra típicas de Slayer aqui e acolá, o show dos dinamarqueses vai ficar marcado pela dupla de guitarristas doando seu instrumento a dois fãs sortudos que agitavam na grade.

O público que começava a encher o Carioca teve um prato cheio para aquecer o corpo com a apresentação do Violentor. O thrash metal sem firulas do trio italiano encaixou com perfeição no mesmo dia de Bulldozer e Sodom, formando as primeiras rodas enormes na pista e mal eram quatro horas da tarde.

Foto: Gustavo Diakov

A abertura teve duas faixas de seu disco mais recente, “Manifesto di odio”, lançado em 2022. O sotaque do vocalista Dog nas músicas cantadas em italiano davam um ar excêntrico à agressividade do grupo. Por 35 minutos, a violência do som se viu representada na pista e certamente angariou novos fãs ao grupo.

Foi muito bacana ver o Test no cast do festival. Como sempre, João Kombi e Barata atropelaram, mas também com um certo caráter pedagógico, levando a simplicidade estética do grindcore e a ética do punk ao palco do Setembro Negro. Avassaladora, a apresentação do duo paulista se deu bem no meio da tarde, mas já com um ótimo público, que foi massacrado por blast beats, grunhidos e a poesia grind disfuncional de João.

Foto: Gustavo Diakov

Se o inclassificável som do Test pode ser considerado um pouco fora da casinha demais para boa parte do público do Setembro Negro, o grindcore dos portugueses do Holocausto Canibal certamente não oferece nada de muito inovador para quem quer apenas um bom som agressivo para quem quer um momento amigável de diversão violenta.

Foto: Gustavo Diakov

A comunicação era por falas rápidas em um forte sotaque lusitano. Não importava muito se as palavras eram compreendidas quando a resposta se via nas perenes rodas na pista, conforme os portugueses executavam uma sucessão de canções que esbanjam poesia da última flor do Lácio extraídas do disco “Crueza Ferina”.

Vulcano

O anúncio de que Angel participaria do show do Vulcano no Setembro Negro alçou a apresentação da banda de Santos a outro patamar dentro do cast do festival. Por mais que Zhema e companhia sempre tenham mantido o sarrafo lá no alto, a presença do vocalista original muda tudo.

Restava saber como se daria essa participação. A princípio, a informação era de que o Vulcano executaria o clássico “Bloody Vengeance” (1986) na íntegra com Angel no vocal, mas qual seria a dinâmica? Logo de ínicio? Mais para o fim do show? E qual seria a contribuição do vocalista atual, Luiz Carlos Louzada?

Foto: Gustavo Diakov

Pois então, vamos aos fatos. O Vulcano começou com sua formação atual detonando três hinos: “Witch’ Sabbath”, “Total Destruição” e “Guerreiros de Satã”. Foi quando Louzada chamou Angel no palco para cantarem juntos “Dominios of Death”, faixa de abertura do Bloody Vengeance.

Depois disso, Angel cantou sozinho “Spirits of Evil”, “Ready to Explode”, “Holocaust” e “Incubus”. Louzada voltou em “Death Metal” e ambos finalizaram juntos com a épica “Bloody Vengeance”.

Foto: Gustavo Diakov

Foi uma apresentação antológica. Para muitos, a oportunidade de ver pela primeira vez o Vulcano com Angel. No entanto, por mais que tenha sido um show que homenageou o vocalista original da banda, Luiz Carlos Louzada saiu maior do que entrou, pode-se dizer.

Louzada se agigantou ao entender a circunstância e não só receber Angel “de braços abertos”, mas a todo momento incentivá-lo e auxiliá-lo no palco. Sem dor de cotovelo ou cara feia, comum muitas vezes nesse tipo de situação, ele brilhou com uma postura totalmente digna e louvável.

Foto: Gustavo Diakov

Passada a apresentação comemorativa, vida que segue. E hoje o posto de vocalista do Vulcano pertence a Luiz Carlos Louzada, com todos os méritos.

Repertório — Vulcano:

  1. Intro (Satanic Legions)
  2. Witches’ Sabbath
  3. Total Destruição
  4. Guerreiros de Satã
  5. Dominios of Death
  6. Spirits of Evil
  7. Ready to Explode
  8. Holocaust
  9. Incubus
  10. Death Metal
  11. Bloody Vengeance

Sadistic Intent

Tocar logo após o show antológico do Vulcano não era tarefa fácil. Mas o Sadistic Intent não só segurou a bronca como fez uma das apresentações mais brutais e elogiadas de todo o festival.

Com quase 40 anos dedicados ao death metal em sua forma mais maligna, a banda de Los Angeles, formada pelos irmãos Rick e Bay Cortez, comprovou o motivo de ser uma das mais respeitadas do ramo — mesmo nunca tendo lançado um álbum full-length.

Foto: Gustavo Diakov

Rick e Bay, que inclusive são proprietários da loja de discos Dark Realm (o vocalista tocou justamente com uma camisa da record store) no sul de LA, pinçaram músicas de suas inúmeras demos e EP’s para montar um repertório enxuto, mas eficiente. Com muita garra e maldade envolvida, saíram totalmente por cima e ainda mais exaltados no subterrâneo do metal extremo no Brasil do que já eram.

Sacramentum

Com três discos lançados na segunda metade dos anos 90 antes de encerrar inicialmente suas atividades, o Sacramentum durante algum tempo foi considerado uma espécie de herdeiro do Dissection, cujo show na edição de 2005 do Setembro Negro é um dos mais lembrados do festival até hoje.

Fazia sentido, assim, trazer o reunido grupo sueco para apresentar sua versão da mistura de black e death metal típica do país escandinavo. Não havia dúvidas de que cairia no gosto do público pois, sem material novo lançado desde o retorno às atividades em 2019, o grupo vem apresentando ao vivo seu disco de estreia “Far Away from the Sun” na íntegra.

Foto: Gustavo Diakov

Como o tempo para seu show no Setembro Negro era de apenas 45 minutos, porém, os suecos foram obrigados a encaixar uma versão enxuta com apenas 6 de suas 9 faixas. Todas introduzidas com eloquência pelo vocalista Nisse Karlén, que ainda fazia uma dança exótica em meio aos inspirados solos de Anders Brolycke, também da formação clássica noventista.

Seja pela performance inusitada de Karlén, pelas melodias de Brolycke ou a execução precisa da dupla que forma a seção rítmica ao seu lado, o quarteto saiu ovacionado do Carioca Club ao final de “Awaken Chaos”, do segundo disco “The Coming of Chaos” (1997), única faixa estranha ao trabalho de estreia nesta noite.

Repertório — Sacramentum:

  1. Fog’s Kiss
  2. Far Away From the Sun
  3. Blood Shall Be Spilled
  4. When Night Surrounds Me
  5. Cries From a Restless Soul
  6. The Vision and the Voice
  7. Awaken Chaos

Bulldozer

A sequência final do sábado foi simplesmente matadora, e o Bulldozer foi um dos grandes responsáveis por isso. O speed/black metal dos italianos encheu os olhos (e ouvidos) de todos que estiveram presentes para prestigiá-los.

Foto: Gustavo Diakov

No formato power trio, o estupendo guitarrista Andy Panigada e o baixista AC Wild – “The Italian Devil” – acertaram em cheio ao priorizar músicas dos dois primeiros álbuns, “The Day of Wrath” (1985) e “The Final Separation” (1986).

Foram os casos das emblemáticas “Cut-Throat”, “Fallen Angel”, “Ride Hard – Die Fast”, “The Cave” e “Whisky Time”, que finalizou a apresentação. Estava preparado o terreno para o Sodom.

Repertório — Bulldozer:

  1. The Exorcism (Intro)
  2. Cut-Throat
  3. Insurrection of the Living Damned
  4. Fallen Angel
  5. The Great Deceiver
  6. Mad Man
  7. The Final Separation
  8. Ride Hard – Die Fast
  9. The Cave
  10. Welcome Death
  11. Whisky Time

Sodom

Dentre os possíveis headliners para um festival como o Setembro Negro, poucos se encaixariam melhor do que o Sodom. Com o metal rápido de temas satânicos prenunciando o black metal em seu início de sua carreira para se tornar um gigante teutônico do thrash metal que sempre primou pela violência e não pela técnica, é das poucas bandas a unir todas as vertentes de música extrema.

Foto: Gustavo Diakov

Para aumentar a expectativa, eram dez longos anos de espera por um retorno dos alemães ao Brasil. E, para o Setembro Negro, ainda seria a primeira vez que o grupo se apresentaria como um quarteto. Como cereja no bolo, um dos guitarristas era o também lendário Frank Blackfire, ex-Kreator.

Tudo conspirou de tal forma que a pista do Carioca Club, já abarrotada durante o show do Bulldozer, ficou ainda mais cheia antes dos alemães subirem ao palco. Mal dava para se mexer. O atraso de quinze minutos para o início do set apenas levou ao irracional a ansiedade do público.

Foto: Gustavo Diakov

O grupo, capitaneado pelo lendário baixista e vocalista Tom Angelripper, começou de forma mais cadenciada a sua apresentação com “Among the Weirdcong”, de “M-16” (2001). Foi uma espécie de reconhecimento de terreno antes de colocar a casa abaixo. O pandemônio começou logo após Frank Blackfire, ex-residente do Brasil, gastar pela primeira vez de muitas o seu português para anunciar “Sodomized”.

O auge da noite ocorreu no meio do set, com a trinca de hinos “Outbreak of Evil”, “Sodomy and Lust” e “Agent Orange”. A pista virou um redemoinho humano e, na base da empolgação, o “tio” Tom Angelripper emendou até um cover de “Surfin’ Bird” para manter o ritmo.

Foto: Gustavo Diakov

O show se estendeu até quase uma hora da manhã, mas quase ninguém pensava em como voltar para casa enquanto cantava junto com a banda clássicos do porte de “Blasphemer” e “Remember the Fallen”. Quando a dupla de fogo “Ausgebombt” e “Bombenhagel” encerrou a noite de sábado do Setembro Negro, ainda ficou a sensação de quero mais. Que não demore mais dez anos.

Repertório — Sodom:

  1. Among the Weirdcong
  2. Jabba the Hut
  3. Sodomized
  4. Better Off Dead
  5. Conflagration
  6. Exhibition Bout
  7. Outbreak of Evil
  8. Sodomy and Lust
  9. Agent Orange
  10. Surfin’ Bird (The Trashmen cover)
  11. M-16
  12. Tired and Red
  13. Caligula
  14. Iron Fist (Motörhead cover)
  15. Blasphemer
  16. Remember the Fallen
  17. Ausgebombt
  18. Bombenhagel

Índice:

Página 1: Introdução
Página 2: Pré-festa de quinta-feira, 7 de setembro (Sodom, In the Woods, Leviaethan etc)
Página 3: Sexta-feira, 8 de setembro (Picture, Immolation, Nightfall etc)
Página 4: Sábado, 9 de setembro (Sodom, Bulldozer, Sacramentum etc)
Página 5: Domingo, 10 de setembro (Triumph of Death, Cancer, Assassin etc)