Jann Wenner, cofundador da revista Rolling Stone, recentemente envolveu-se numa polêmica. Em seu novo livro “Masters”, composto por entrevistas com músicos importantes para o rock, ele excluiu pessoas pretas e mulheres e, ao explicar o motivo, emitiu comentários preconceituosos — presentes no fim da matéria.
Com a repercussão negativa, o autor acabou expulso do Rock and Roll Hall of Fame, instituição que ele próprio ajudou a construir. Diante desse cenário, Wenner resolveu pronunciar-se a respeito.
Por meio de um comunicado (via AV Club), ele pediu desculpas pelas declarações concedidas ao The New York Times. Ressaltou que não escolheu apropriadamente as palavras utilizadas e que está disposto a encarar as consequências de seu erro.
“Durante minha entrevista ao The New York Times, fiz comentários que diminuíram as contribuições, a genialidade e o impacto de artistas negros e mulheres e peço desculpas de todo o coração por esses comentários. O livro ‘Masters’ é uma coleção de entrevistas que fiz ao longo dos anos que, na minha concepção, melhor representavam uma ideia do impacto do rock ‘n’ roll no meu próprio mundo. Essas entrevistas não estavam lá para englobar toda a música e seus diversos e importantes criadores, mas para refletir os pontos altos da minha carreira. São entrevistas que eu senti que ilustraram a abrangência e experiência nessa minha carreira. Elas não refletem meu apreço e admiração por uma infinidade de artistas de diferentes grupos responsáveis por mudar o mundo, cujas músicas e ideias eu reverencio e celebrarei e divulgarei enquanto viver. Compreendo totalmente a natureza inflamatória de palavras mal escolhidas e peço desculpas profundas, aceito as consequências.”
O que ele havia dito
No bate-papo em questão, ao ser questionado sobre a falta de mulheres na obra recém-lançada, o jornalista justificou:
“A seleção não foi deliberada. Foi meio intuitivo ao longo dos anos, simplesmente aconteceu dessa maneira. As pessoas tinham que atender a alguns critérios, mas era apenas meu interesse pessoal e amor por elas. No que diz respeito às mulheres, nenhuma delas era tão articulada o suficiente neste nível intelectual.”
Ao receber a oportunidade de reformular as suas observações, Wenner reafirmou a opinião.
“Não é que elas não sejam gênios criativos. Não é que sejam inarticuladas, mas tenha uma conversa profunda com Grace Slick ou Janis Joplin. Por favor, fique à vontade. Você sabe, Joni Mitchell não era uma filósofa do rock ‘n’ roll. Ela não passou, na minha opinião, nesse teste. Nem pelo trabalho dela, nem pelas outras entrevistas que deu. As pessoas que entrevistei eram o tipo de filósofos do rock.”
Quanto à exclusão de artistas pretos, responsáveis pelo nascimento do rock and roll, Jann argumentou:
“Dos artistas negros – você sabe, Stevie Wonder é um gênio, certo? Suponho que quando você usa uma palavra tão ampla como ‘mestres’, o erro é usar essa palavra. Talvez Marvin Gaye ou Curtis Mayfield? Quero dizer, eles simplesmente não se articularam nesse nível. Você sabe, apenas por uma questão de relações públicas, talvez eu devesse ter ido e encontrado uma artista negra e uma mulher para incluir aqui, mesmo que não correspondesse ao padrão histórico, apenas para evitar esse tipo de crítica. Eu tive a chance de fazer isso. Talvez eu seja antiquado e não dê a mínima ou algo assim. Gostaria, em retrospectiva, de ter entrevistado Marvin Gaye. Talvez ele fosse o cara. Talvez Otis Redding, se estivesse vivo, teria sido o cara.”
Sobre Jann Wenner
Nascido e criado em San Francisco, Califórnia, Jann Wenner cofundou a Rolling Stone em 1967 junto do crítico musical Ralph J. Gleason. A publicação se tornou uma das revistas de música mais populares da história, ajudando a lançar muitos artistas ao estrelato, ao mesmo tempo que proporcionou uma plataforma para escritores aclamados.
No ano de 1983, junto a uma equipe de executivos veteranos, criou a Rock and Roll Hall of Fame Foundation. A organização começou a induzir artistas e figuras célebres da indústria três anos depois. Em 1995, o museu Rock and Roll Hall of Fame foi inaugurado oficialmente em Cleveland. Em 2004, o próprio se homenageou na cerimônia oficial.
Apesar de ser uma das figuras mais importantes da história da imprensa musical, Wenner colecionou polêmicas ao longo dos anos. Em uma biografia sobre ele chamada “The Life and Times of Jann Wenner and Rolling Stone Magazine”, lançada em 2017, o autor Joe Hagan fez diversas acusações de alpinismo social e troca de favores na forma de críticas positivas para artistas do qual ele era ou queria ser amigo.
Em um trecho (via The Ringer), Hagan escreve algo sobre a Rolling Stone que acabou sendo uma prévia da entrevista ao New York Times:
“Era uma revista de homens, apesar de mulheres lerem; era uma revista branca, apesar que afroamericanos tinham fetiche nela; era uma revista de esquerda, apesar de ser temperada pela devoção de Wenner ao establishment.”
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