Olivia Rodrigo é uma popstar que faz música rock. Isso é suficiente para que muita gente dê à cantora o benefício da dúvida. Desde o lançamento de sua estreia, “Sour” (2021), mesmo com acusações de plágio feitas por artistas famosos e acordos embaraçosos para incluir esses como co-autores de seus maiores hits, a imprensa tem dado uma boa vontade há muito não vista.
Perfis no New York Times e The Guardian trazem figuras importantes da música nos últimos 30 anos tecendo todo tipo de elogio a ela como pessoa. Ao mesmo tempo, o comportamento profissional da artista continua questionável.
Controvérsias
Em julho último, a cantora de k-pop Choi Yena lançou o single “Hate Rodrigo”, uma canção na qual expressava na letra uma inveja benigna da artista americana. Era composta sob o ponto de vista de uma fã, e o clipe refletia isso.
Mesmo sua equipe tendo se dado o trabalho de contatar os representantes de Olivia para deixar tudo claro, dois dias depois do lançamento, o clipe da canção foi retirado do YouTube devido a uma violação de direitos autorais. A violação? Continha a imagem da capa de “Sour”, disco de estreia de Rodrigo.
Isso seria nada demais se a agência de Yena não tivesse mudado o nome do single também, censurando o nome da cantora americana do single.
Durante o ciclo promocional de “Sour”, sua estreia de 2021, uma acusação que passou relativamente despercebida pela imprensa musical foi de como a equipe visual de Olivia Rodrigo teria plagiado o projeto gráfico do disco. Supostamente roubaram os conceitos utilizados pelo grupo independente Pom Pom Squad.
Isso foi durante uma época em que outra artista pop, Camila Cabello, enfrentou duras críticas ao ser acusada de fazer o mesmo com a identidade visual de Caroline Polachek. Porém, novamente, Rodrigo saiu ilesa dessa situação.
Fora as já conhecidas situações envolvendo outras duas faixas de “Sour”: “Good 4 U” (que precisou ter os nomes de Hayley Williams e Josh Farro incluídos retroativamente como coautores devido às similaridades com “Misery Business”, do Paramore) e “Deja Vu” (mesma situação, mas com Taylor Swift e sua canção “Cruel Summer”).
Cartografia cultural
Existe um esforço coletivo da indústria musical de fazer Olivia Rodrigo um nome estabelecido, a posicionando junto de lendas do rock mesmo com ela sendo ainda incapaz de legalmente beber nos EUA. Seria o talento dela tão grande a ponto de justificar tal esforço?
Julgando por “Guts”, isso é discutível. A sonoridade do disco é bem mais ambiciosa do que “Sour”, alternando momentos acústicos com explosões roqueiras bombásticas em vários momentos. Ao mesmo tempo, várias limitações da cantora ficam evidentes.
Por mais que as letras tenham um caráter confessional diferente do normal para uma popstar, muitas vezes ainda soam como se Olivia Rodrigo estivesse fazendo cosplay de Courtney Love e do grupo indie inglês Wet Leg – novamente, o hábito questionável de se apropriar do trabalho de artistas com menor projeção. Sem falar que o disco não possui uma grande variedade de melodias vocais. Tudo parece variações do mesmo tema sob um mesmo tom.
Rodrigo e seu produtor e parceiro de composições, Dan Nigro, produzem uma fac-símile do que o público quer ouvir de uma rockstar em 2023. O crítico americano Matthew Perpetua num texto de 2019 sobre a cantora Lizzo descreveu um termo usado dentro do BuzzFeed: “cartografia cultural”:
“O sistema de cartografia cultural existia tanto para catalogar as utilidades de peças de conteúdo quanto para encorajar criadores a considerar a fundo quais os usos potenciais de seu trabalho poderiam ser antes mesmo de começar a fazer qualquer coisa.”
Basicamente, uma fórmula para viralidade de conteúdo. Música pop, na década de 2010 em diante, adquiriu essa faceta – ainda mais com a proliferação de redes sociais. Tudo precisa ser feito mirando sucesso online. Canções são gravadas já pensando em desafios e edits de TikTok, ou colocando todas suas forças num pedaço chave de 15 segundos servindo de trilha sonora para uma selfie no Instagram.
E não é que isso seja de todo mal. Como ouvinte e fã de música, só não gosto de ver a indústria musical mijando na minha perna e falando para disfarçar que “não, só está chovendo”.
“Guts” é um disco ok. Contudo, não vale o alarde ou a proteção sendo dada por todo mundo. Se Olivia quer ser vista junto de lendas do rock, é preciso que ela não seja mais tratada como criança e seja confrontada com os aspectos menos palatáveis de seu comportamento.
*Ouça “Guts” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.
Olivia Rodrigo — “Guts”
- All-American Bitch
- Bad Idea Right?
- Vampire
- Lacy
- Ballad of a Homeschooled Girl
- Making the Bed
- Logical
- Get Him Back!
- Love Is Embarrassing
- The Grudge
- Pretty Isn’t Pretty
- Teenage Dream
Faixas bônus da versão deluxe:
- Obsessed
- Scared of My Guitar
- Stranger
- Girl I’ve Always Been
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