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A história de quando os integrantes do Kiss lançaram álbuns solo em 1978

Divulgação coordenada de quatro discos de membros de uma mesma banda nunca tinha sido feita antes nem foi feita depois

Em setembro de 1978, o Kiss concluiu um dos projetos mais ambiciosos na história da música. Gene Simmons, Paul Stanley, Peter Criss e Ace Frehley lançaram simultaneamente seus próprios álbuns solo em todo o mundo.

Apoiados pela maior campanha de publicidade já realizada para uma banda de rock naquela época, nos Estados Unidos, um milhão de cópias de cada disco foram enviadas às lojas… e só metade delas foi comercializada.

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Conheça a história.

Seu próprio espaço de novo

Apesar de “Love Gun” (1977) ser seu terceiro disco em sequência a vender 1 milhão de cópias, o Kiss estava se despedaçando. A mesma tensão que empurrava Gene Simmons (voz e baixo), Paul Stanley (voz e guitarra rítmica), Peter Criss (voz e bateria) e Ace Frehley (voz e guitarra solo) para novos projetos — revista em quadrinhos, o ao vivo “Alive II” e o longa-metragem “Kiss Meets the Phantom of the Park”, entre outros — também estava acabando com eles. Cada um necessitava de seu próprio espaço de novo.

Mais ou menos naquela época, Ace anunciou pela primeira vez que queria deixar a banda. Uma reunião foi feita no set de filmagem de “Kiss Meets the Phantom of the Park”. Em resposta, o empresário e mentor Bill Aucoin e Neil Bogart, o mandachuva da gravadora Casablanca Records, apresentaram quase que de imediato uma ideia para manter os quatro juntos: fazer álbuns solo, que seriam lançados no mesmo dia, com capas similares — assinadas pelo artista Eraldo Carugati — e tiragem de um milhão para cada um deles.

Na autobiografia “Uma Vida Sem Máscaras” (Belas Letras, 2016), Stanley escreve:

“Aquela acabou sendo a nossa asneira seguinte. Apesar das dedicatórias — sugeridas por Bill para mantermos o mito vivo —, desejávamos qualquer coisa uns para os outros, menos sorte.”

Então, depois de concluir sua primeira incursão na sétima arte, cada um foi gravar seu álbum solo.

Gene Simmons e o “maior show do planeta”

“Acho que ele ficou mais preocupado com a apresentação em vez de realmente compor suas melhores músicas. Acho que ele consegue compor muito melhor do que o que apareceu naquele álbum. Se cinco é a nota máxima, eu daria de um a dois.” — Paul Stanley, sobre o disco solo de Gene Simmons

Quando chegou a hora de criar seu álbum solo, Gene Simmons aproveitou a oportunidade para desenterrar músicas pelas quais tinha grande estima, mas que não eram apropriadas para o Kiss. Com uma grande quantidade de material experimental, Simmons e o coprodutor Sean Delaney voaram para a Inglaterra para gravar em um celeiro em Oxford, perto da casa de George Harrison, dos Beatles.

A obsessão de Gene pelos Beatles o levou a entrar em contato com John Lennon e Paul McCartney e os convidar para participar do disco. Também convidou David Bowie e Jerry Lee Lewis. Nenhum desses rolou, mas, segundo ele, na autobiografia “Kiss: Por Trás da Maquiagem” (Belas Letras, 2021)…

“Acabou tendo muitos [outros] convidados. Queria que meu disco solo fosse o maior show do planeta, com corais e convidados especiais. Joe Perry, do Aerosmith, tocou um solo incrível [em ‘Radioactive’ e ‘Tunnel of Love’]. Cher e Chastity apareceram na faixa ‘Living in Sin’. Helen Reddy cantou em uma música chamada ‘True Confessions’. Donna Summer me fez um favor ao cantar comigo em ‘Burning Up with Fever’ [e ‘Tunnel of Love’]. E Bob Seger cantou comigo em ‘Radioactive’, que virou o single do disco [e ‘Living in Sin’].”

Em seu livro, Simmons relembra ainda um episódio curioso durante as gravações adicionais, ocorridas no Cherokee Studios, em Los Angeles:

“Sean chamou Michael Kamen para criar arranjos e conduzir cerca de trinta dos melhores violinistas de LA. Uma manhã, eles chegaram e se sentaram no estúdio, prontos para gravar ‘Man of 1,000 Faces’. Sean deu a cada músico uma máscara com o meu rosto. Certamente, foi um dos momentos mais bizarros da minha vida: abrir a porta e ver um lugar cheio de violinistas, todos com meu rosto.”

O mais musicalmente diverso dos quatro álbuns solo, “Gene Simmons” inclui um momento sui generis da carreira do baixista: sua interpretação de “When You Wish Upon a Star”, do desenho infantil Pinóquio. Aos autores David Leaf e Ken Sharp, Delaney conta:

“Se você prestar atenção, verá a voz dele entrar em colapso, porque naquela hora ele estava chorando. Eu não o deixei regravar o vocal.”

Kiss — “Gene Simmons”

  • Lançado em 18 de setembro de 1978 pela Casablanca
  • Produzido por Gene Simmons e Sean Delaney

Faixas:

  1. Radioactive
  2. Burning Up With Fever
  3. See You Tonite
  4. Tunnel Of Love
  5. True Confessions
  6. Living In Sin
  7. Always Near You/Nowhere To Hide
  8. Man Of 1,000 Faces
  9. Mr. Make Believe
  10. See You In Your Dreams
  11. When You Wish Upon A Star

Músicos:

  • Gene Simmons – vocal, guitarra, violão
  • Elliot Randall – guitarra, violão
  • Neil Jason – baixo
  • Allen Schwartzberg – bateria

Músicos adicionais:

  • Eric Troyer – piano e backing vocals em 1 e 6
  • Steve Lacey – guitarra em 1
  • Richard Gerstein – piano em 5 e 7
  • Joe Perry – guitarra em 1 e 4
  • Rick Nielsen – guitarra em 10
  • Jeff ‘Skunk’ Baxter – guitarra em 2, 3, 4 e 9
  • Ritchie Ranno – guitarra adicional em 4
  • Helen Reddy – backing vocals em 5
  • Donna Summer – backing vocals em 2
  • Bob Seger – backing vocals em 1 e 6
  • Cher – parte falada ao telefone em 6
  • Mitch Weissman & Joe Pecorino (Beatlemania) – backing vocals em 3, 7 e 9
  • Michael Des Barres – backing vocals em 10
  • Sean Delaney – backing vocals
  • Gordon Grody – backing vocals
  • Diva Gray – backing vocals
  • Kate Sagal – backing vocals
  • Franny Eisenberg – backing vocals
  • Carolyn Ray – backing vocals

Paul Stanley e o álbum “que veio do coração”

“Achei que o álbum do Paul foi o segundo melhor de todos.” — Ace Frehley, sobre o disco solo de Paul Stanley

A intenção de Paul Stanley era produzir algo único, original, que não estivesse associado ao Kiss. Ironicamente, seu álbum solo acabou sendo o mais “parecido com o Kiss” dos quatro. Em comparação com os outros, é o mais musicalmente unificado.

A David Leaf e Ken Sharp, ele justifica a abordagem — não sem dar uma “cutucada” nos colegas — e, como de costume, enaltece a si mesmo:

“Não acho que é uma boa ideia tentar criar vários tipos de música ao mesmo tempo. É preciso decidir por um e permanecer com ele. Acho que é um disco muito bom; as composições são ótimas. Era como se fosse um diário, porque aconteciam muitas coisas na minha vida e eu compunha sobre elas. É um álbum que veio do coração.”

Com uma porção de músicas recém-escritas, Stanley gravou seu álbum solo em Nova York e Los Angeles com o guitarrista Bob Kulick, o baixista Eric Nelson, o baterista Carmine Appice e outros músicos de estúdio. Sobre as letras, assim ele explica em “Uma Vida Sem Máscaras”:

“A maioria era sobre Carol Kaye, uma deusa que trabalhava no departamento de publicidade de Bill Aucoin e com quem eu saía naquela época. Eu era louco por ela. Meu primeiro álbum solo conta parte da nossa história. ‘Tonight You Belong to Me’ e ‘Wouldn’t You Like to Know Me’ são sobre ela.”

Dentre as pessoas com quem Paul trabalhou em seu álbum solo, havia um conjunto de três garotas e um cara chamado Desmond Child & Rouge. Stanley e Child começaram a compor juntos pouco depois de se conhecerem. No início de 1979, depois de uma noitada no Studio 54, a famosa casa noturna de Nova York, eles trouxeram à vida “I Was Made for Lovin’ You”. O resto é história.

Kiss — “Paul Stanley”

  • Lançado em 18 de setembro de 1978 pela Casablanca
  • Produzido por Paul Stanley e Jeff Glixman

Faixas:

  1. Tonight You Belong To Me
  2. Move On
  3. Ain’t Quite Right
  4. Wouldn’t You Like To Know Me
  5. Take Me Away (Together As One)
  6. It’s Alright
  7. Hold Me, Touch Me (Think Of Me When We’re Apart)
  8. Love In Chains
  9. Goodbye

Músicos:

  • Paul Stanley – vocal, guitarra rítmica, violão, E-Bow, guitarra solo em 7
  • Bob Kulick – guitarra solo, violão
  • Steve Buslowe – baixo em 1, 2, 3, 4 e 5
  • Richie Fontana – bateria em 1, 2, 3 e 4
  • Eric Nelson – baixo em 6, 7, 8 e 9
  • Craig Krampf – bateria em 6, 7, 8 e 9

Músicos adicionais:

  • Carmine Appice – bateria em 5
  • Steve Lacey – guitarra adicional em 8
  • Doug (Gling) Katsaros – piano, cordas e backing vocals em 7
  • Peppy Castro – backing vocals em 3 e 7
  • Miriam Naomi Valle – backing vocals em 2
  • Maria Vidal – backing vocals em 2
  • Diana Grasselli – backing vocals em 2

Peter Criss, do champanhe ao canto “com intensidade”

“De todos os discos que fizemos sozinhos ou em grupo, acho que este mostrou que o cara que estava por trás dele não tinha a mínima noção do que fazer. Não só em termos de composições, mas também a respeito da direção [musical] e de quem ele é.” — Gene Simmons, sobre o disco solo de Peter Criss

Depois de encerradas as filmagens de “Kiss Meets the Phantom of the Park”, Peter Criss se envolveu num sério acidente de carro. Ele poderia ter morrido, mas “apenas” quebrou o nariz, as mãos e algumas costelas, além de ter perdido a visão do olho direito e passado por cirurgia plástica para corrigir um afundamento dos ossos do crânio.

Quando chegou o momento de gravar seu álbum, Criss se reuniu com Stan Penridge, com quem costumava compor quando estava em intervalos de turnês. Naquela época, o maior sucesso do Kiss era a balada “Beth”, e o desejo de Peter de criar outra música com o mesmo impacto gigantesco se tornou sua maior motivação. Isso, somado à vontade de prestar homenagem às suas influências musicais, resultou em um álbum que, apesar de ter o logotipo do Kiss estampado na capa, soa mais rhythm-and-blues do que rock.

Para a produção, Criss tentou primeiro Giorgio Moroder, que rejeitou o convite porque não gostou do material. Em seguida, correu atrás de Tom Dowd, produtor de Rod Stewart, e recebeu outra negativa. Acabou contratando Vini Poncia, que mais tarde produziu “Dynasty” (1979) e “Unmasked” (1980) do Kiss. A dupla se deu bem imediatamente.

Em todos os dias que gravaram, Peter mal conseguia esperar para ir ao estúdio. Na autobiografia “Makeup to Breakup” (Lafonte, 2013), ele revela o porquê:

“Não aconteceram discussões, brigas, explosões de ego, ao contrário de minhas outras experiências de gravação. Tratei os músicos como se eles fossem minha banda de verdade, como se estivéssemos juntos para sempre. Quando gravamos ‘Rock Me Baby’, tive três cantoras de apoio negras, e todos nós bebemos champanhe, nos abraçamos e cantamos com intensidade. Essa foi a maneira como o álbum foi gravado, com imenso prazer de trabalhar com um grande produtor e pessoas incríveis.”

Allan Schwartzberg, que tocou bateria no disco, reitera o clima good vibes em estúdio, mas acrescenta, em depoimento a “Kiss: Por Trás da Máscara”:

“Tinha muita droga correndo à solta.”

Apesar de mais tarde ter conquistado disco de platina, “Peter Criss” foi o que teve as vendas mais baixas dos quatro álbuns solo. Isso contribuiu para o amargor e o ressentimento de Criss que, passados dois anos, deixaria o Kiss para seguir uma carreira solo.

Kiss — “Peter Criss”

  • Lançado em 18 de setembro de 1978 pela Casablanca
  • Produzido por Vini Poncia

Faixas:

  1. I’m Gonna Love You
  2. You Matter To Me
  3. Tossin’ And Turnin’
  4. Don’t You Let Me Down
  5. That’s The Kind Of Sugar Papa Likes
  6. Easy Thing
  7. Rock Me, Baby
  8. Kiss The Girl Goodbye
  9. Hooked On Rock ‘N’ Roll
  10. I Can’t Stop The Rain

Músicos:

  • Peter Criss – vocal, bateria, percussão
  • Stan Penridge – guitarra, backing vocals
  • Art Munson – guitarra
  • Bill Bodine – baixo

Músicos adicionais:

  • Allen Schwartzberg – bateria em 6, 7 e 10
  • Neil Jason – baixo em 6, 7 e 10
  • Elliot Randall – guitarra em 6 e 10
  • John Tropea – guitarra em 6, 7 e 10
  • Brendan Harkin – guitarra em 6
  • Steve Lukather – guitarra solo em 5 e 9
  • Bill Cuomo – teclados
  • Richard Gerstein – teclados em 6, 7 e 10
  • Michael Carnahan – saxofone em 3, sax em 9
  • Davey Faragher – backing vocals
  • Tommy Faragher – backing vocals
  • Danny Faragher – backing vocals
  • Jimmy Faragher – backing vocals
  • Maxine Dixon – backing vocals
  • Maxine Willard – backing vocals
  • Julia Tillman – backing vocals
  • Vini Poncia – backing vocals
  • Annie Sutton – backing vocals
  • Gordon Grody – backing vocals

Ace Frehley quis “mostrar a esses filhos da p#ta”

“Eu daria a nota máxima para ele, pois sei que ele colocou o máximo de energia possível. Ele deu duro.” — Peter Criss, sobre o disco solo de Ace Frehley

Antes de fazer seu álbum solo, Ace Frehley era muito resistente quanto a compor e cantar. Gene Simmons e Paul Stanley chegaram a deixar implícito que ele não daria conta do recado. Foi exatamente o que Ace fez: deu duro para provar que os colegas estavam errados. Na autobiografia “Não Me Arrependo” (Belas Letras, 2020), ele desabafa:

“Tenho certeza de que eles acharam que meu álbum seria um fiasco. Me lembro de pensar: ‘vou mostrar pra esses filhos da p#ta, e vou mostrar pro mundo!’.”

Assim como Simmons, Frehley teve a sorte de já ter algumas músicas na gaveta; músicas que haviam sido rejeitadas em discos anteriores do Kiss. Isso lhe deu uma vantagem: ele as pegou de novo, reescreveu e aprimorou um pouco. As demais, segundo ele, “apenas surgiram — combustão espontânea, acho.” A David Leaf e Ken Sharp, Ace conta que toda a experiência de gravação foi um tipo de despertar nele:

“Trabalhar com o Anton Fig [baterista] e o Eddie Kramer [produtor], distante de algumas más vibrações que, às vezes, ficavam rondando um disco do Kiss, meio que abriu meus olhos. Foi quando comecei a pensar que talvez fosse melhor me afastar daqueles sujeitos [Simmons e Stanley].”

Na mesma obra literária, Kramer dá detalhes acerca do trabalho:

“Fizemos o álbum na mansão Colgate, em Connecticut. Anton é brilhante, um grande baterista. Foi muito divertido! Cada sala tinha um som diferente. Tínhamos cerca de trinta amplificadores enfileirados. Íamos de um a outro, verificando qual era o melhor. Foi o máximo. Nós nos divertimos à beça. Acertamos em cheio! [risos].”

Ao produtor é devido o crédito pelo que foi o maior sucesso dos quatro álbuns solo: “New York Groove”.

“Foi um achado. Um dia, eu e o meu ex-cunhado, que é engenheiro-assistente, estávamos selecionando músicas entre as fitas e encontramos essa. Fizemos os arranjos e ela se tornou um grande sucesso!”

Kiss — “Ace Frehley”

  • Lançado em 18 de setembro de 1978 pela Casablanca
  • Produzido por Eddie Kramer e Ace Frehley

Faixas:

  1. Rip It Out
  2. Speedin’ Back To My Baby
  3. Snow Blind
  4. Ozone
  5. What’s On Your Mind?
  6. New York Groove
  7. I’m In Need Of Love
  8. Wiped-Out
  9. Fractured Mirror

Músicos:

  • Ace Frehley – vocal, guitarra solo e rítmica, baixo, violão, guitarra sintetizada
  • Anton Fig – bateria, percussão

Músicos adicionais:

  • Will Lee – baixo em 4, 7 e 8
  • Carl Tallarico – bateria em 9
  • Bill ‘Bear’ Scheniman – sino em 9
  • Larry Kelly – backing vocals em 1
  • David Lasley and Susan Collins & co. – backing vocals em 2, 5 e 6

Adiando o inevitável

Quando os quatro álbuns solo foram lançados em 18 de setembro de 1978, cada um deles vendeu 500 mil cópias de cara. Não era pouca coisa. Mas, como Neil Bogart havia mandado fabricar um milhão de cada, os dois milhões de discos encalhados foram um desastre financeiro para a Casablanca Records.

Tirando “New York Groove” (Ace Frehley), que chegou ao número 14 da parada americana, não houve singles de sucesso. “Radioactive”, de Gene Simmons, e “Hold Me, Touch Me”, de Paul Stanley, arranharam o top 20, mas despencaram dos rankings em tempo recorde.

“Foi assim que o ego, esse câncer, surgiu”, esbraveja Peter Criss em “Kiss: Por Trás da Máscara”. Para o baterista, a ideia dos álbuns solo foi um erro. Simmons, por sua vez, avalia a experiência como “um grande estímulo para Ace”, conforme escreve em sua autobiografia:

“Pela primeira vez, ele ficou animado. O cara tinha conseguido algo por conta própria. Quando descobriu do que era capaz, produziu coisas boas. Conseguiu gravar o disco que foi, provavelmente, o mais coeso dos quatro.”

Já Stanley crê que a empreitada “não foi mais do que um band-aid sobre um ferimento que exigia pontos”.

“Os álbuns solo acalmaram a ânsia de Ace e Peter por deixar a banda. Mas serviram apenas para adiar o inevitável.”

Por “inevitável” leia-se as saídas primeiro do baterista (1980) e depois do guitarrista (1982). A formação original do Kiss só se reuniria em 1996.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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A história de quando os integrantes do Kiss lançaram álbuns solo em 1978

Divulgação coordenada de quatro discos de membros de uma mesma banda nunca tinha sido feita antes nem foi feita depois

Em setembro de 1978, o Kiss concluiu um dos projetos mais ambiciosos na história da música. Gene Simmons, Paul Stanley, Peter Criss e Ace Frehley lançaram simultaneamente seus próprios álbuns solo em todo o mundo.

Apoiados pela maior campanha de publicidade já realizada para uma banda de rock naquela época, nos Estados Unidos, um milhão de cópias de cada disco foram enviadas às lojas… e só metade delas foi comercializada.

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Seu próprio espaço de novo

Apesar de “Love Gun” (1977) ser seu terceiro disco em sequência a vender 1 milhão de cópias, o Kiss estava se despedaçando. A mesma tensão que empurrava Gene Simmons (voz e baixo), Paul Stanley (voz e guitarra rítmica), Peter Criss (voz e bateria) e Ace Frehley (voz e guitarra solo) para novos projetos — revista em quadrinhos, o ao vivo “Alive II” e o longa-metragem “Kiss Meets the Phantom of the Park”, entre outros — também estava acabando com eles. Cada um necessitava de seu próprio espaço de novo.

Mais ou menos naquela época, Ace anunciou pela primeira vez que queria deixar a banda. Uma reunião foi feita no set de filmagem de “Kiss Meets the Phantom of the Park”. Em resposta, o empresário e mentor Bill Aucoin e Neil Bogart, o mandachuva da gravadora Casablanca Records, apresentaram quase que de imediato uma ideia para manter os quatro juntos: fazer álbuns solo, que seriam lançados no mesmo dia, com capas similares — assinadas pelo artista Eraldo Carugati — e tiragem de um milhão para cada um deles.

Na autobiografia “Uma Vida Sem Máscaras” (Belas Letras, 2016), Stanley escreve:

“Aquela acabou sendo a nossa asneira seguinte. Apesar das dedicatórias — sugeridas por Bill para mantermos o mito vivo —, desejávamos qualquer coisa uns para os outros, menos sorte.”

Então, depois de concluir sua primeira incursão na sétima arte, cada um foi gravar seu álbum solo.

Gene Simmons e o “maior show do planeta”

“Acho que ele ficou mais preocupado com a apresentação em vez de realmente compor suas melhores músicas. Acho que ele consegue compor muito melhor do que o que apareceu naquele álbum. Se cinco é a nota máxima, eu daria de um a dois.” — Paul Stanley, sobre o disco solo de Gene Simmons

Quando chegou a hora de criar seu álbum solo, Gene Simmons aproveitou a oportunidade para desenterrar músicas pelas quais tinha grande estima, mas que não eram apropriadas para o Kiss. Com uma grande quantidade de material experimental, Simmons e o coprodutor Sean Delaney voaram para a Inglaterra para gravar em um celeiro em Oxford, perto da casa de George Harrison, dos Beatles.

A obsessão de Gene pelos Beatles o levou a entrar em contato com John Lennon e Paul McCartney e os convidar para participar do disco. Também convidou David Bowie e Jerry Lee Lewis. Nenhum desses rolou, mas, segundo ele, na autobiografia “Kiss: Por Trás da Maquiagem” (Belas Letras, 2021)…

“Acabou tendo muitos [outros] convidados. Queria que meu disco solo fosse o maior show do planeta, com corais e convidados especiais. Joe Perry, do Aerosmith, tocou um solo incrível [em ‘Radioactive’ e ‘Tunnel of Love’]. Cher e Chastity apareceram na faixa ‘Living in Sin’. Helen Reddy cantou em uma música chamada ‘True Confessions’. Donna Summer me fez um favor ao cantar comigo em ‘Burning Up with Fever’ [e ‘Tunnel of Love’]. E Bob Seger cantou comigo em ‘Radioactive’, que virou o single do disco [e ‘Living in Sin’].”

Em seu livro, Simmons relembra ainda um episódio curioso durante as gravações adicionais, ocorridas no Cherokee Studios, em Los Angeles:

“Sean chamou Michael Kamen para criar arranjos e conduzir cerca de trinta dos melhores violinistas de LA. Uma manhã, eles chegaram e se sentaram no estúdio, prontos para gravar ‘Man of 1,000 Faces’. Sean deu a cada músico uma máscara com o meu rosto. Certamente, foi um dos momentos mais bizarros da minha vida: abrir a porta e ver um lugar cheio de violinistas, todos com meu rosto.”

O mais musicalmente diverso dos quatro álbuns solo, “Gene Simmons” inclui um momento sui generis da carreira do baixista: sua interpretação de “When You Wish Upon a Star”, do desenho infantil Pinóquio. Aos autores David Leaf e Ken Sharp, Delaney conta:

“Se você prestar atenção, verá a voz dele entrar em colapso, porque naquela hora ele estava chorando. Eu não o deixei regravar o vocal.”

Kiss — “Gene Simmons”

  • Lançado em 18 de setembro de 1978 pela Casablanca
  • Produzido por Gene Simmons e Sean Delaney

Faixas:

  1. Radioactive
  2. Burning Up With Fever
  3. See You Tonite
  4. Tunnel Of Love
  5. True Confessions
  6. Living In Sin
  7. Always Near You/Nowhere To Hide
  8. Man Of 1,000 Faces
  9. Mr. Make Believe
  10. See You In Your Dreams
  11. When You Wish Upon A Star

Músicos:

  • Gene Simmons – vocal, guitarra, violão
  • Elliot Randall – guitarra, violão
  • Neil Jason – baixo
  • Allen Schwartzberg – bateria

Músicos adicionais:

  • Eric Troyer – piano e backing vocals em 1 e 6
  • Steve Lacey – guitarra em 1
  • Richard Gerstein – piano em 5 e 7
  • Joe Perry – guitarra em 1 e 4
  • Rick Nielsen – guitarra em 10
  • Jeff ‘Skunk’ Baxter – guitarra em 2, 3, 4 e 9
  • Ritchie Ranno – guitarra adicional em 4
  • Helen Reddy – backing vocals em 5
  • Donna Summer – backing vocals em 2
  • Bob Seger – backing vocals em 1 e 6
  • Cher – parte falada ao telefone em 6
  • Mitch Weissman & Joe Pecorino (Beatlemania) – backing vocals em 3, 7 e 9
  • Michael Des Barres – backing vocals em 10
  • Sean Delaney – backing vocals
  • Gordon Grody – backing vocals
  • Diva Gray – backing vocals
  • Kate Sagal – backing vocals
  • Franny Eisenberg – backing vocals
  • Carolyn Ray – backing vocals

Paul Stanley e o álbum “que veio do coração”

“Achei que o álbum do Paul foi o segundo melhor de todos.” — Ace Frehley, sobre o disco solo de Paul Stanley

A intenção de Paul Stanley era produzir algo único, original, que não estivesse associado ao Kiss. Ironicamente, seu álbum solo acabou sendo o mais “parecido com o Kiss” dos quatro. Em comparação com os outros, é o mais musicalmente unificado.

A David Leaf e Ken Sharp, ele justifica a abordagem — não sem dar uma “cutucada” nos colegas — e, como de costume, enaltece a si mesmo:

“Não acho que é uma boa ideia tentar criar vários tipos de música ao mesmo tempo. É preciso decidir por um e permanecer com ele. Acho que é um disco muito bom; as composições são ótimas. Era como se fosse um diário, porque aconteciam muitas coisas na minha vida e eu compunha sobre elas. É um álbum que veio do coração.”

Com uma porção de músicas recém-escritas, Stanley gravou seu álbum solo em Nova York e Los Angeles com o guitarrista Bob Kulick, o baixista Eric Nelson, o baterista Carmine Appice e outros músicos de estúdio. Sobre as letras, assim ele explica em “Uma Vida Sem Máscaras”:

“A maioria era sobre Carol Kaye, uma deusa que trabalhava no departamento de publicidade de Bill Aucoin e com quem eu saía naquela época. Eu era louco por ela. Meu primeiro álbum solo conta parte da nossa história. ‘Tonight You Belong to Me’ e ‘Wouldn’t You Like to Know Me’ são sobre ela.”

Dentre as pessoas com quem Paul trabalhou em seu álbum solo, havia um conjunto de três garotas e um cara chamado Desmond Child & Rouge. Stanley e Child começaram a compor juntos pouco depois de se conhecerem. No início de 1979, depois de uma noitada no Studio 54, a famosa casa noturna de Nova York, eles trouxeram à vida “I Was Made for Lovin’ You”. O resto é história.

Kiss — “Paul Stanley”

  • Lançado em 18 de setembro de 1978 pela Casablanca
  • Produzido por Paul Stanley e Jeff Glixman

Faixas:

  1. Tonight You Belong To Me
  2. Move On
  3. Ain’t Quite Right
  4. Wouldn’t You Like To Know Me
  5. Take Me Away (Together As One)
  6. It’s Alright
  7. Hold Me, Touch Me (Think Of Me When We’re Apart)
  8. Love In Chains
  9. Goodbye

Músicos:

  • Paul Stanley – vocal, guitarra rítmica, violão, E-Bow, guitarra solo em 7
  • Bob Kulick – guitarra solo, violão
  • Steve Buslowe – baixo em 1, 2, 3, 4 e 5
  • Richie Fontana – bateria em 1, 2, 3 e 4
  • Eric Nelson – baixo em 6, 7, 8 e 9
  • Craig Krampf – bateria em 6, 7, 8 e 9

Músicos adicionais:

  • Carmine Appice – bateria em 5
  • Steve Lacey – guitarra adicional em 8
  • Doug (Gling) Katsaros – piano, cordas e backing vocals em 7
  • Peppy Castro – backing vocals em 3 e 7
  • Miriam Naomi Valle – backing vocals em 2
  • Maria Vidal – backing vocals em 2
  • Diana Grasselli – backing vocals em 2

Peter Criss, do champanhe ao canto “com intensidade”

“De todos os discos que fizemos sozinhos ou em grupo, acho que este mostrou que o cara que estava por trás dele não tinha a mínima noção do que fazer. Não só em termos de composições, mas também a respeito da direção [musical] e de quem ele é.” — Gene Simmons, sobre o disco solo de Peter Criss

Depois de encerradas as filmagens de “Kiss Meets the Phantom of the Park”, Peter Criss se envolveu num sério acidente de carro. Ele poderia ter morrido, mas “apenas” quebrou o nariz, as mãos e algumas costelas, além de ter perdido a visão do olho direito e passado por cirurgia plástica para corrigir um afundamento dos ossos do crânio.

Quando chegou o momento de gravar seu álbum, Criss se reuniu com Stan Penridge, com quem costumava compor quando estava em intervalos de turnês. Naquela época, o maior sucesso do Kiss era a balada “Beth”, e o desejo de Peter de criar outra música com o mesmo impacto gigantesco se tornou sua maior motivação. Isso, somado à vontade de prestar homenagem às suas influências musicais, resultou em um álbum que, apesar de ter o logotipo do Kiss estampado na capa, soa mais rhythm-and-blues do que rock.

Para a produção, Criss tentou primeiro Giorgio Moroder, que rejeitou o convite porque não gostou do material. Em seguida, correu atrás de Tom Dowd, produtor de Rod Stewart, e recebeu outra negativa. Acabou contratando Vini Poncia, que mais tarde produziu “Dynasty” (1979) e “Unmasked” (1980) do Kiss. A dupla se deu bem imediatamente.

Em todos os dias que gravaram, Peter mal conseguia esperar para ir ao estúdio. Na autobiografia “Makeup to Breakup” (Lafonte, 2013), ele revela o porquê:

“Não aconteceram discussões, brigas, explosões de ego, ao contrário de minhas outras experiências de gravação. Tratei os músicos como se eles fossem minha banda de verdade, como se estivéssemos juntos para sempre. Quando gravamos ‘Rock Me Baby’, tive três cantoras de apoio negras, e todos nós bebemos champanhe, nos abraçamos e cantamos com intensidade. Essa foi a maneira como o álbum foi gravado, com imenso prazer de trabalhar com um grande produtor e pessoas incríveis.”

Allan Schwartzberg, que tocou bateria no disco, reitera o clima good vibes em estúdio, mas acrescenta, em depoimento a “Kiss: Por Trás da Máscara”:

“Tinha muita droga correndo à solta.”

Apesar de mais tarde ter conquistado disco de platina, “Peter Criss” foi o que teve as vendas mais baixas dos quatro álbuns solo. Isso contribuiu para o amargor e o ressentimento de Criss que, passados dois anos, deixaria o Kiss para seguir uma carreira solo.

Kiss — “Peter Criss”

  • Lançado em 18 de setembro de 1978 pela Casablanca
  • Produzido por Vini Poncia

Faixas:

  1. I’m Gonna Love You
  2. You Matter To Me
  3. Tossin’ And Turnin’
  4. Don’t You Let Me Down
  5. That’s The Kind Of Sugar Papa Likes
  6. Easy Thing
  7. Rock Me, Baby
  8. Kiss The Girl Goodbye
  9. Hooked On Rock ‘N’ Roll
  10. I Can’t Stop The Rain

Músicos:

  • Peter Criss – vocal, bateria, percussão
  • Stan Penridge – guitarra, backing vocals
  • Art Munson – guitarra
  • Bill Bodine – baixo

Músicos adicionais:

  • Allen Schwartzberg – bateria em 6, 7 e 10
  • Neil Jason – baixo em 6, 7 e 10
  • Elliot Randall – guitarra em 6 e 10
  • John Tropea – guitarra em 6, 7 e 10
  • Brendan Harkin – guitarra em 6
  • Steve Lukather – guitarra solo em 5 e 9
  • Bill Cuomo – teclados
  • Richard Gerstein – teclados em 6, 7 e 10
  • Michael Carnahan – saxofone em 3, sax em 9
  • Davey Faragher – backing vocals
  • Tommy Faragher – backing vocals
  • Danny Faragher – backing vocals
  • Jimmy Faragher – backing vocals
  • Maxine Dixon – backing vocals
  • Maxine Willard – backing vocals
  • Julia Tillman – backing vocals
  • Vini Poncia – backing vocals
  • Annie Sutton – backing vocals
  • Gordon Grody – backing vocals

Ace Frehley quis “mostrar a esses filhos da p#ta”

“Eu daria a nota máxima para ele, pois sei que ele colocou o máximo de energia possível. Ele deu duro.” — Peter Criss, sobre o disco solo de Ace Frehley

Antes de fazer seu álbum solo, Ace Frehley era muito resistente quanto a compor e cantar. Gene Simmons e Paul Stanley chegaram a deixar implícito que ele não daria conta do recado. Foi exatamente o que Ace fez: deu duro para provar que os colegas estavam errados. Na autobiografia “Não Me Arrependo” (Belas Letras, 2020), ele desabafa:

“Tenho certeza de que eles acharam que meu álbum seria um fiasco. Me lembro de pensar: ‘vou mostrar pra esses filhos da p#ta, e vou mostrar pro mundo!’.”

Assim como Simmons, Frehley teve a sorte de já ter algumas músicas na gaveta; músicas que haviam sido rejeitadas em discos anteriores do Kiss. Isso lhe deu uma vantagem: ele as pegou de novo, reescreveu e aprimorou um pouco. As demais, segundo ele, “apenas surgiram — combustão espontânea, acho.” A David Leaf e Ken Sharp, Ace conta que toda a experiência de gravação foi um tipo de despertar nele:

“Trabalhar com o Anton Fig [baterista] e o Eddie Kramer [produtor], distante de algumas más vibrações que, às vezes, ficavam rondando um disco do Kiss, meio que abriu meus olhos. Foi quando comecei a pensar que talvez fosse melhor me afastar daqueles sujeitos [Simmons e Stanley].”

Na mesma obra literária, Kramer dá detalhes acerca do trabalho:

“Fizemos o álbum na mansão Colgate, em Connecticut. Anton é brilhante, um grande baterista. Foi muito divertido! Cada sala tinha um som diferente. Tínhamos cerca de trinta amplificadores enfileirados. Íamos de um a outro, verificando qual era o melhor. Foi o máximo. Nós nos divertimos à beça. Acertamos em cheio! [risos].”

Ao produtor é devido o crédito pelo que foi o maior sucesso dos quatro álbuns solo: “New York Groove”.

“Foi um achado. Um dia, eu e o meu ex-cunhado, que é engenheiro-assistente, estávamos selecionando músicas entre as fitas e encontramos essa. Fizemos os arranjos e ela se tornou um grande sucesso!”

Kiss — “Ace Frehley”

  • Lançado em 18 de setembro de 1978 pela Casablanca
  • Produzido por Eddie Kramer e Ace Frehley

Faixas:

  1. Rip It Out
  2. Speedin’ Back To My Baby
  3. Snow Blind
  4. Ozone
  5. What’s On Your Mind?
  6. New York Groove
  7. I’m In Need Of Love
  8. Wiped-Out
  9. Fractured Mirror

Músicos:

  • Ace Frehley – vocal, guitarra solo e rítmica, baixo, violão, guitarra sintetizada
  • Anton Fig – bateria, percussão

Músicos adicionais:

  • Will Lee – baixo em 4, 7 e 8
  • Carl Tallarico – bateria em 9
  • Bill ‘Bear’ Scheniman – sino em 9
  • Larry Kelly – backing vocals em 1
  • David Lasley and Susan Collins & co. – backing vocals em 2, 5 e 6

Adiando o inevitável

Quando os quatro álbuns solo foram lançados em 18 de setembro de 1978, cada um deles vendeu 500 mil cópias de cara. Não era pouca coisa. Mas, como Neil Bogart havia mandado fabricar um milhão de cada, os dois milhões de discos encalhados foram um desastre financeiro para a Casablanca Records.

Tirando “New York Groove” (Ace Frehley), que chegou ao número 14 da parada americana, não houve singles de sucesso. “Radioactive”, de Gene Simmons, e “Hold Me, Touch Me”, de Paul Stanley, arranharam o top 20, mas despencaram dos rankings em tempo recorde.

“Foi assim que o ego, esse câncer, surgiu”, esbraveja Peter Criss em “Kiss: Por Trás da Máscara”. Para o baterista, a ideia dos álbuns solo foi um erro. Simmons, por sua vez, avalia a experiência como “um grande estímulo para Ace”, conforme escreve em sua autobiografia:

“Pela primeira vez, ele ficou animado. O cara tinha conseguido algo por conta própria. Quando descobriu do que era capaz, produziu coisas boas. Conseguiu gravar o disco que foi, provavelmente, o mais coeso dos quatro.”

Já Stanley crê que a empreitada “não foi mais do que um band-aid sobre um ferimento que exigia pontos”.

“Os álbuns solo acalmaram a ânsia de Ace e Peter por deixar a banda. Mas serviram apenas para adiar o inevitável.”

Por “inevitável” leia-se as saídas primeiro do baterista (1980) e depois do guitarrista (1982). A formação original do Kiss só se reuniria em 1996.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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