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The Sisters of Mercy aposta em novas músicas e empolga só com clássicos em SP

Som ruim e duração foram problemas da apresentação única no Brasil, realizada para um Tokio Marine Hall lotado

“Você já teve a sensação de ter sido ludibriado?” (“ever get the feeling you’ve been cheated?”). A lapidar frase de Johnny Rotten ao término do último show dos Sex Pistols, em 14 de janeiro de 1978, pode ser usada para descrever, 45 anos depois, o sentimento final da apresentação do The Sisters of Mercy no Tokio Marine Hall, realizada no último domingo (18).

Guardadas as devidas instâncias históricas – os punks estavam realizando uma malsucedida turnê americana tocando para um público conservador que não queria vê-los –, Andrew Eldritch e cia vinham de uma bem-sucedida tour norte-americana, tocando para quem queria assisti-los, e chegou ao Brasil envolto em expectativa, amealhada pelas constantes visitas ao país e pelas propaladas novas composições. Mas, após uma hora e vinte minutos de um show com som péssimo, a irônica fala de Mr. Rotten invade os pensamentos.

- Advertisement -

A morcegada saiu da caverna em uma fria noite de outono na capital paulista para prestigiar Eldritch (vocal), Ben Christo (guitarra), Dylan Smith (guitarra) e Ravey Davey (parafernália eletrônica) na sétima passagem do ícone do gothic rock pelo país – desta vez, em data única na terra da garoa. Muito couro, chapéus, sobretudo, maquiagem pesada, espartilhos e camisetas preta com a estrela e o rosto formavam o visual de gala.

Foto: Gustavo Diakov

Antes de poder apreciar As Irmãs, houve um antepasto um tanto indigesto na forma da banda de abertura, 3 Pipe Problem. O único mérito do grupo paulistano formado por Hafa Adami (voz e guitarra), Joni Pieri (bateria), Lu Gisondi (teclados) e Henrique Stella (baixo) foi tocar “Double Dare”, do Bauhaus. De resto, apenas esquecível.

A casa foi enchendo aos poucos, assim como a fumaça – não adianta reclamar, ela é parte integrante desde os anos 1980 – foi tomando o palco. E da leve penumbra, se lançou o breu e a climática introdução anunciou os quatro cavaleiros do apocalipse sonoro. Foi a deixa para o mar de celulares, pairando acima das cabeças, invadir a visão, em busca do melhor ângulo por entre o véu enfumaçado.

Velho problema

A nova “Don’t Drive on Ice”, escolhida para a abertura, deixou nítido o calcanhar de Aquiles da banda: som mal mixado. As guitarras e vozes ficaram soterradas sob a bateria e o baixo pré-gravados. Sobretudo a voz de Eldritch, já um barítono muitas vezes mais sussurrado do que cantado, não se disse presente; e nem os backing vocals de Ben e Dylan, muitas vezes mais altos do que o vocal do patrão, eram notados.

“Ribbons” e “Alice” não tiveram melhor sorte, apesar desta última ter provocado a primeira reação mais acalorada. Outra novata, a excelente “I Will Call You”, acabou por registrar um inusitado coro de “aumenta, aumenta, aumenta” – algo incomum em shows de rock, cuja característica é o volume marcante.

As reclamações quanto ao som nos shows do Sisters of Mercy não vêm de hoje e não são privilégio do público brasileiro. Em qualquer postagem de vídeos no YouTube ou em fóruns dedicados ao grupo, é possível ler comentários sobre a qualidade sonora. Invariavelmente, as reclamações se referem ao vocal baixo de Eldritch, perdido em meio aos backings e guitarras.

Por aqui, e até determinado ponto, tudo, com exceção das bases, estava embolado. Seria pura incompetência do técnico de som do The Sisters of Mercy? Ou uma prática proposital para esconder o vocal titubeante? Seja qual for a razão, é incompreensível que uma banda com 43 anos de existência trate seu público dessa forma.

Foto: Gustavo Diakov

Das novas à pressa com os clássicos

Resta focar na parte inédita da apresentação: as novas composições. Em uma condição melhor, teriam surtido mais efeito. “But Genevieve”, a melhor dessa leva, tem um refrão marcante e possibilidade de se tornar um novo clássico. Mesmo com uma pequena melhora sonora, a voz de Andrew Eldritch permanecia muito abaixo dos instrumentos.

Sem o fator que traz sentido ao show, afinal ele é a marca da banda, sobram apenas guitarras, que tendo sido tocadas por inúmeras mãos já não conferem identidade suficiente. Mas, com um clássico como “Dominion/Mother Russia” fica fácil esquecer, mesmo que momentaneamente, os erros e se entregar a pulsante bateria e ao baixo sintetizado propalando aquela que foi uma das poucas, músicas gravadas em estúdio, tocada na íntegra.

O bpm se manteve acelerado até ser quebrado pela dobradinha “Summer” e “Show Me”. Essa última trouxe Dylan Smith empunhando uma guitarra de 12 cordas, marca da formação mais emblemática da banda, quando Wayne Hussey (The Mission) a utilizava em clássicos como a que veio a seguir: “Marian”. Em versão pra lá de acelerada, o lúgubre lamento foi executado de forma burocrática e quase desdenhosa.

Ficou claro o plano de tocar muitas músicas não gravadas (dez ao todo) e deixar o mínimo possível de canções pré-1985 – apenas 3 foram executadas, sendo uma delas em sua versão de 1992 –, uma vez que Eldritch desdenha do seu álbum mais venerado, “First and Last and Always” (1985). Sem poder escapar dos importantes singles de “Floodland” (1987), resta usar “Vision Thing” (1990) como base para a sonoridade atual, que se baseia nos riffs mais fortes com alguma contraposição melódica (“Eyes of Caligula”).

“More” é a prova cabal da amputação de músicas: seus 8 minutos e 22 segundos foram reduzidos para parcos 3 minutos. Só o primeiro verso e refrão permaneceram, o resto foi descartado. O tempo de duração médio das músicas é de 3 minutos, o necessário para que o desenho do show tenha o resultado esperado: espremer 20 músicas em uma hora e vinte minutos de apresentação.

Foto: Gustavo Diakov

Ao contrário de dar força, transparece, muitas vezes, uma pressa desabalada. Algo do tipo “anda logo, aumenta o bpm dessa bateria, temos um horário a cumprir”. A coisa é tão desvairada que até a junção de “Dr Jeep” com “Detonation Boulevard”, já feita antes, está menor e mais rápida.

Ainda assim, os asseclas do sexagenário Eldritch, se divertiam e conseguiam imprimir algum vigor em músicas apressadas.

Foto: Gustavo Diakov

Tornou-se o clichê

Em entrevista ao site, Ben Christo revelou que poderia presentear o público brasileiro com uma surpresa na “Instrumental 86”. Não houve. A música é um momento solo dos guitarristas, que desfilaram todas as poses dentro do manual do guitarrista de uma banda de hard rock. Foi divertido. E desnecessário. Uma daquelas manjadas táticas para deixar o cantor descansar um pouco.

Quando o The Sisters of Mercy surgiu, na cidade de Leeds, Inglaterra, uma das suas características principais era brincar com os clichês do rock e até subvertê-los em seu favor. Conforme o tempo passou, a banda se tornou mais um desses clichês. Ou isso, ou Andrew Eldritch apenas contorce a boca em um esgar de escárnio por ninguém perceber sua piada mortal.

Cada música possui uma cor e o palco fica inundado nela, tendo apenas colunas de luz a se erguerem, deixando pontos nos quais o cantor brinca de aparecer. Tal qual o teatro fantástico descrito por Herman Hesse, em “O Lobo da Estepe”, a iluminação tem o poder de transformar o ambiente de acordo com a música e lançar os músicos nessa penumbra monocromática.

Foto: Gustavo Diakov

Alternando entre azul, verde, vermelho, amarelo e lilás entre uma e outra música, “I Was Wrong” ficou com uma mistura de verde com tons de amarelo e um pulsante branco para sustentar o clima dessa balada com direito a violão.

A derradeira sequência foi composta por uma trinca de músicas não gravadas. Tem início em “Crash and Burn”, de 2000, que já foi apresentada em outros shows por aqui, e finaliza com as inéditas “On the Beach” e “When I’m on Fire”.

Uma hora de show, apenas uma hora de show. Se as plateias norte-americanas caíram nesse truque pela inanição de 14 anos, a brasileira não mordeu a isca. O show irregular foi uma montanha-russa de poucas nuances musicais, que transformavam músicas dos álbuns, as inéditas já executas e as realmente novas, em uma massa bastante uniforme. Culpa do som ou do desenho proposto pelo show? Ou dos dois?

Se a intenção era ser um rolo compressor de alto impacto para apresentar as novas composições e fazer os morcegos se transformarem em hard rockers, o bis com a trinca “Lucretia My Reflection”, “Temple of Love” e “This Corrosion” – todas encurtadas – chega perto do almejado. Nem o som ruim e um Eldritch um tanto apático conseguiram minar o entusiasmo dos presentes.

Em outras turnês do The Sisters of Mercy, Eldritch mexeu em seu baú, pinçando aqui e ali músicas menos conhecidas e até emprestando sua voz as quase desconhecidas canções do projeto The Sisterhood. Nessa nova empreitada, ele mira o futuro com um bom punhado de composições que, ao contrário do que preconiza, carecem de uma gravação em estúdio. Será que ele teme corroer o seu amado templo com apenas o reflexo do que foi uma grande banda? Ou seria tudo uma grande artimanha engendrada para te ludibriar?

Qualquer que seja a resposta ele precisa resolver dois problemas para os shows: a qualidade do som e essa correria para entulhar o maior número possível de músicas, mesmo que para isso precise mutilá-las sem piedade.

*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Role para o lado para visualizar todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

The Sisters of Mercy – ao vivo em São Paulo

  • Local: Tokio Marine Hall
  • Data: 18 de junho de 2023
  • Turnê: Latin America Tour 2023

Repertório:

  1. Don’t Drive on Ice (2022)
  2. Ribbons
  3. Alice
  4. I Will Call You (2020)
  5. But Genevieve (2020)
  6. Dominion/Mother Russia
  7. Summer (1997)
  8. Show Me (2020)
  9. Marian
  10. More
  11. Instrumental 86 (2019)
  12. Doctor Jeep/Detonation Boulevard
  13. Eyes of Caligula (2020)
  14. I Was Wrong
  15. Crash and Burn (2000)
  16. On the Beach (2020)
  17. When I’m on Fire (2020)

Bis:

  1. Lucretia My Reflection
  2. Temple of Love
  3. This Corrosion

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Claudio Borges
Claudio Borges
Jornalista, DJ, Produtor, Apresentador, Editor e o que mais ele encontrar pelo caminho da música. Descobriu Rock em 1982 e só ampliou gosto e conhecimento. Começou a tocar bateria aos 16 anos e guitarra aos 17.

1 COMENTÁRIO

  1. Excelente crítica, estive neste show, primeira vez que fui assistir The Sisters of Mercy, expectativa tremenda, infelizmente foi extremamente frustrante, a qualidade do som, notório desprezo do vocalista para com o público. Triste fim de uma banda que foi lenda na década de 80.

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Som ruim e duração foram problemas da apresentação única no Brasil, realizada para um Tokio Marine Hall lotado

“Você já teve a sensação de ter sido ludibriado?” (“ever get the feeling you’ve been cheated?”). A lapidar frase de Johnny Rotten ao término do último show dos Sex Pistols, em 14 de janeiro de 1978, pode ser usada para descrever, 45 anos depois, o sentimento final da apresentação do The Sisters of Mercy no Tokio Marine Hall, realizada no último domingo (18).

Guardadas as devidas instâncias históricas – os punks estavam realizando uma malsucedida turnê americana tocando para um público conservador que não queria vê-los –, Andrew Eldritch e cia vinham de uma bem-sucedida tour norte-americana, tocando para quem queria assisti-los, e chegou ao Brasil envolto em expectativa, amealhada pelas constantes visitas ao país e pelas propaladas novas composições. Mas, após uma hora e vinte minutos de um show com som péssimo, a irônica fala de Mr. Rotten invade os pensamentos.

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A morcegada saiu da caverna em uma fria noite de outono na capital paulista para prestigiar Eldritch (vocal), Ben Christo (guitarra), Dylan Smith (guitarra) e Ravey Davey (parafernália eletrônica) na sétima passagem do ícone do gothic rock pelo país – desta vez, em data única na terra da garoa. Muito couro, chapéus, sobretudo, maquiagem pesada, espartilhos e camisetas preta com a estrela e o rosto formavam o visual de gala.

Foto: Gustavo Diakov

Antes de poder apreciar As Irmãs, houve um antepasto um tanto indigesto na forma da banda de abertura, 3 Pipe Problem. O único mérito do grupo paulistano formado por Hafa Adami (voz e guitarra), Joni Pieri (bateria), Lu Gisondi (teclados) e Henrique Stella (baixo) foi tocar “Double Dare”, do Bauhaus. De resto, apenas esquecível.

A casa foi enchendo aos poucos, assim como a fumaça – não adianta reclamar, ela é parte integrante desde os anos 1980 – foi tomando o palco. E da leve penumbra, se lançou o breu e a climática introdução anunciou os quatro cavaleiros do apocalipse sonoro. Foi a deixa para o mar de celulares, pairando acima das cabeças, invadir a visão, em busca do melhor ângulo por entre o véu enfumaçado.

Velho problema

A nova “Don’t Drive on Ice”, escolhida para a abertura, deixou nítido o calcanhar de Aquiles da banda: som mal mixado. As guitarras e vozes ficaram soterradas sob a bateria e o baixo pré-gravados. Sobretudo a voz de Eldritch, já um barítono muitas vezes mais sussurrado do que cantado, não se disse presente; e nem os backing vocals de Ben e Dylan, muitas vezes mais altos do que o vocal do patrão, eram notados.

“Ribbons” e “Alice” não tiveram melhor sorte, apesar desta última ter provocado a primeira reação mais acalorada. Outra novata, a excelente “I Will Call You”, acabou por registrar um inusitado coro de “aumenta, aumenta, aumenta” – algo incomum em shows de rock, cuja característica é o volume marcante.

As reclamações quanto ao som nos shows do Sisters of Mercy não vêm de hoje e não são privilégio do público brasileiro. Em qualquer postagem de vídeos no YouTube ou em fóruns dedicados ao grupo, é possível ler comentários sobre a qualidade sonora. Invariavelmente, as reclamações se referem ao vocal baixo de Eldritch, perdido em meio aos backings e guitarras.

Por aqui, e até determinado ponto, tudo, com exceção das bases, estava embolado. Seria pura incompetência do técnico de som do The Sisters of Mercy? Ou uma prática proposital para esconder o vocal titubeante? Seja qual for a razão, é incompreensível que uma banda com 43 anos de existência trate seu público dessa forma.

Foto: Gustavo Diakov

Das novas à pressa com os clássicos

Resta focar na parte inédita da apresentação: as novas composições. Em uma condição melhor, teriam surtido mais efeito. “But Genevieve”, a melhor dessa leva, tem um refrão marcante e possibilidade de se tornar um novo clássico. Mesmo com uma pequena melhora sonora, a voz de Andrew Eldritch permanecia muito abaixo dos instrumentos.

Sem o fator que traz sentido ao show, afinal ele é a marca da banda, sobram apenas guitarras, que tendo sido tocadas por inúmeras mãos já não conferem identidade suficiente. Mas, com um clássico como “Dominion/Mother Russia” fica fácil esquecer, mesmo que momentaneamente, os erros e se entregar a pulsante bateria e ao baixo sintetizado propalando aquela que foi uma das poucas, músicas gravadas em estúdio, tocada na íntegra.

O bpm se manteve acelerado até ser quebrado pela dobradinha “Summer” e “Show Me”. Essa última trouxe Dylan Smith empunhando uma guitarra de 12 cordas, marca da formação mais emblemática da banda, quando Wayne Hussey (The Mission) a utilizava em clássicos como a que veio a seguir: “Marian”. Em versão pra lá de acelerada, o lúgubre lamento foi executado de forma burocrática e quase desdenhosa.

Ficou claro o plano de tocar muitas músicas não gravadas (dez ao todo) e deixar o mínimo possível de canções pré-1985 – apenas 3 foram executadas, sendo uma delas em sua versão de 1992 –, uma vez que Eldritch desdenha do seu álbum mais venerado, “First and Last and Always” (1985). Sem poder escapar dos importantes singles de “Floodland” (1987), resta usar “Vision Thing” (1990) como base para a sonoridade atual, que se baseia nos riffs mais fortes com alguma contraposição melódica (“Eyes of Caligula”).

“More” é a prova cabal da amputação de músicas: seus 8 minutos e 22 segundos foram reduzidos para parcos 3 minutos. Só o primeiro verso e refrão permaneceram, o resto foi descartado. O tempo de duração médio das músicas é de 3 minutos, o necessário para que o desenho do show tenha o resultado esperado: espremer 20 músicas em uma hora e vinte minutos de apresentação.

Foto: Gustavo Diakov

Ao contrário de dar força, transparece, muitas vezes, uma pressa desabalada. Algo do tipo “anda logo, aumenta o bpm dessa bateria, temos um horário a cumprir”. A coisa é tão desvairada que até a junção de “Dr Jeep” com “Detonation Boulevard”, já feita antes, está menor e mais rápida.

Ainda assim, os asseclas do sexagenário Eldritch, se divertiam e conseguiam imprimir algum vigor em músicas apressadas.

Foto: Gustavo Diakov

Tornou-se o clichê

Em entrevista ao site, Ben Christo revelou que poderia presentear o público brasileiro com uma surpresa na “Instrumental 86”. Não houve. A música é um momento solo dos guitarristas, que desfilaram todas as poses dentro do manual do guitarrista de uma banda de hard rock. Foi divertido. E desnecessário. Uma daquelas manjadas táticas para deixar o cantor descansar um pouco.

Quando o The Sisters of Mercy surgiu, na cidade de Leeds, Inglaterra, uma das suas características principais era brincar com os clichês do rock e até subvertê-los em seu favor. Conforme o tempo passou, a banda se tornou mais um desses clichês. Ou isso, ou Andrew Eldritch apenas contorce a boca em um esgar de escárnio por ninguém perceber sua piada mortal.

Cada música possui uma cor e o palco fica inundado nela, tendo apenas colunas de luz a se erguerem, deixando pontos nos quais o cantor brinca de aparecer. Tal qual o teatro fantástico descrito por Herman Hesse, em “O Lobo da Estepe”, a iluminação tem o poder de transformar o ambiente de acordo com a música e lançar os músicos nessa penumbra monocromática.

Foto: Gustavo Diakov

Alternando entre azul, verde, vermelho, amarelo e lilás entre uma e outra música, “I Was Wrong” ficou com uma mistura de verde com tons de amarelo e um pulsante branco para sustentar o clima dessa balada com direito a violão.

A derradeira sequência foi composta por uma trinca de músicas não gravadas. Tem início em “Crash and Burn”, de 2000, que já foi apresentada em outros shows por aqui, e finaliza com as inéditas “On the Beach” e “When I’m on Fire”.

Uma hora de show, apenas uma hora de show. Se as plateias norte-americanas caíram nesse truque pela inanição de 14 anos, a brasileira não mordeu a isca. O show irregular foi uma montanha-russa de poucas nuances musicais, que transformavam músicas dos álbuns, as inéditas já executas e as realmente novas, em uma massa bastante uniforme. Culpa do som ou do desenho proposto pelo show? Ou dos dois?

Se a intenção era ser um rolo compressor de alto impacto para apresentar as novas composições e fazer os morcegos se transformarem em hard rockers, o bis com a trinca “Lucretia My Reflection”, “Temple of Love” e “This Corrosion” – todas encurtadas – chega perto do almejado. Nem o som ruim e um Eldritch um tanto apático conseguiram minar o entusiasmo dos presentes.

Em outras turnês do The Sisters of Mercy, Eldritch mexeu em seu baú, pinçando aqui e ali músicas menos conhecidas e até emprestando sua voz as quase desconhecidas canções do projeto The Sisterhood. Nessa nova empreitada, ele mira o futuro com um bom punhado de composições que, ao contrário do que preconiza, carecem de uma gravação em estúdio. Será que ele teme corroer o seu amado templo com apenas o reflexo do que foi uma grande banda? Ou seria tudo uma grande artimanha engendrada para te ludibriar?

Qualquer que seja a resposta ele precisa resolver dois problemas para os shows: a qualidade do som e essa correria para entulhar o maior número possível de músicas, mesmo que para isso precise mutilá-las sem piedade.

*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Role para o lado para visualizar todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

The Sisters of Mercy – ao vivo em São Paulo

  • Local: Tokio Marine Hall
  • Data: 18 de junho de 2023
  • Turnê: Latin America Tour 2023

Repertório:

  1. Don’t Drive on Ice (2022)
  2. Ribbons
  3. Alice
  4. I Will Call You (2020)
  5. But Genevieve (2020)
  6. Dominion/Mother Russia
  7. Summer (1997)
  8. Show Me (2020)
  9. Marian
  10. More
  11. Instrumental 86 (2019)
  12. Doctor Jeep/Detonation Boulevard
  13. Eyes of Caligula (2020)
  14. I Was Wrong
  15. Crash and Burn (2000)
  16. On the Beach (2020)
  17. When I’m on Fire (2020)

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Claudio Borges
Claudio Borges
Jornalista, DJ, Produtor, Apresentador, Editor e o que mais ele encontrar pelo caminho da música. Descobriu Rock em 1982 e só ampliou gosto e conhecimento. Começou a tocar bateria aos 16 anos e guitarra aos 17.

1 COMENTÁRIO

  1. Excelente crítica, estive neste show, primeira vez que fui assistir The Sisters of Mercy, expectativa tremenda, infelizmente foi extremamente frustrante, a qualidade do som, notório desprezo do vocalista para com o público. Triste fim de uma banda que foi lenda na década de 80.

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