Governo alemão pede medidas para proteger público feminino do Rammstein

Banda fará quatro shows em Munique nos próximos dias; vocalista Till Lindemann é acusado de abuso sexual

O governo da Alemanha solicitou medidas para proteger o público feminino durante os próximos shows do Rammstein na cidade de Munique, nesta quarta-feira (7), quinta-feira (8), sábado (10) e domingo (11). Nos últimos dias, várias mulheres relataram comportamento abusivo por parte do vocalista da banda, Till Lindemann.

De acordo com a NDR, rede pública alemã de TV e rádio (parte da organização ARD), a ministra da Família, Lisa Paus, propôs que áreas de proteção às mulheres sejam criadas nos shows, que acontecem no Olympiastadion. Além disso, ela recomendou que equipes estejam presentes para lidar com suspeitas de abuso sexual.

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A produção dos eventos deve descontinuar o chamado “Row Zero”, setor bem à frente do palco onde fãs convidados assistem às performances com vista privilegiada. As festas pós-show, que geraram as acusações contra Till, também não acontecerão mais.

Apesar disso, os eventos em si estão mantidos. A Propeller Music, empresa que produz as apresentações em Munique, tem cooperado com as solicitações feitas pelo governo.

Até o momento, o Rammstein não se manifestou sobre as determinações para os shows na cidade alemã.

Acusações contra Till Lindemann

O vocalista Till Lindemann (foto: divulgação)

Nos últimos dias, várias mulheres vieram a público relatar comportamentos abusivos do artista. O movimento começou após a irlandesa Shelby Lynn alegar ter sido dopada por Till Lindemann e sua equipe, visando uma tentativa de abuso sexual. A situação teria ocorrido durante um show especial para membros do fã-clube da banda em Vilnius, capital da Lituânia, celebrando o início da turnê “Europa Stadion”.

Além de narrar a situação, a jovem exibiu capturas de tela e fotos de suas alegações. Ela diz ter sido convidada para um encontro pessoal com o vocalista durante uma pequena pausa no show, com a intenção de ter relações sexuais com ele. Com a alegada recusa por parte da moça, o artista teria se comportado de forma agressiva.

A brasileira Monique Tavares, dona do canal Rock Channel Brasil, relatou em vídeo que viveu uma situação parecida envolvendo Lindemann em 2019, após um show em Roterdão, nos Países Baixos. Ela foi convidada para uma festa pós-show sob o pretexto de conhecer os músicos da banda pessoalmente. Ao consumir um drink suspeito oferecido por um produtor, passou mal e sentiu sonolência fora do comum por horas.

Porém, outras alegadas vítimas compartilharam experiências semelhantes em shows do grupo, não apenas da atual turnê. Há ainda relatos nas redes sociais Reddit e Tumblr apontando para uma suposta seleção de fãs para ficarem bem na frente do palco durante os shows e sendo dopadas em festas posteriores.

Novas alegações

Para além dos relatos nas redes sociais de outras mulheres que apontam comportamento similar, duas entrevistadas pelo telejornal “Tagesschau”, também do grupo público alemão ARD, na última sexta-feira (2), gravaram depoimentos acusando Till Lindemann de crimes relacionados ao espectro do abuso sexual. Elas tiveram o anonimato preservado, mas aceitaram ter suas afirmações gravadas diante de câmera e fizeram suas declarações de forma juramentada, assim como testemunhas.

Uma das jovens, que tinha 22 anos e foi identificada pelo pseudônimo Cynthia, diz ter sido convidada por uma pessoa da equipe do Rammstein para ir até uma sala nos bastidores de um show realizado em fevereiro de 2020. Afirma que, no local, teve uma relação sexual “agressiva” com Till, chegando a sangrar.

Outra vítima ouvida, pseudônimo Kaya, à época com 21 anos, alegou que recuperou sua consciência após uma festa pós-show de Lindemann apenas em uma cama de hotel, com o cantor em cima dela perguntando se ele deveria parar. “Eu nem sabia o que ele queria parar de fazer”, afirmou. O vocalista saiu e, algum tempo depois, membros de sua equipe ofereceram drogas a ela, que recusou.

Tanto elas quanto outras mulheres nas redes sociais dizem que há um “recrutamento” de jovens mulheres para festas pós-show de Till. O cantor teria a intenção de relacionar-se sexualmente com as moças selecionadas. Algumas delas teriam sido escolhidas pelo Instagram e orientadas a enviar fotos com antecedência, além de comparecer com visual atraente.

A versão em texto publicada pelo site do jornal “Tagesschau” diz (conforme tradução automática do alemão para o português):

“Uma mulher relata que foi claramente informada de que o acesso ao show e à festa pós-show só é possível se houver interesse em relações sexuais com Lindemann – e que Lindemann, hoje com 60 anos, só quer a presença de mulheres muito jovens. Algumas das mulheres não foram questionadas sobre suas idades, embora tenham recebido bebidas alcoólicas e drogas ilegais gratuitas nas festas.”

Editora rompe contrato com vocalista

Também na sexta-feira (2), a editora alemã Kiepenheuer & Witsch anunciou ter rompido o contrato com Till Lindemann. Além das recentes alegações de abusos, a empresa descobriu que o vocalista do Rammstein usou o livro “On Quiet Nights” (2013), publicado em parceria, em um vídeo pornográfico onde celebrava violência sexual contra mulheres.

Diz a nota oficial enviada à imprensa e publicada nas redes sociais:

“É com choque que acompanhamos as acusações públicas contra Till Lindemann nos últimos dias. Nossa solidariedade e respeito vão para as mulheres afetadas.

No decorrer das notícias, tomamos conhecimento de um vídeo pornô no qual Till Lindemann celebra a violência sexual contra mulheres e no qual o livro de 2013 ‘On Quiet Nights’, publicado pela Kiepenheuer & Witsch, desempenha um papel. Classificamos isso como quebra grosseira de confiança e como um ato implacável em relação aos valores que representamos como editora.

Defendemos a liberdade da arte com plena convicção. Através das ações de Till Lindemann, que humilham as mulheres na pornografia acima mencionada e o uso direcionado de nosso livro em um contexto pornográfico, a separação entre o ‘eu lírico’ e o autor/artista, que tanto defendemos, é ridicularizada pelo próprio autor.

Do nosso ponto de vista, Till Lindemann excede limites imutáveis ao lidar com mulheres. Portanto, decidimos encerrar nossa colaboração com Till Lindemann com efeito imediato, pois nossa relação de confiança com o autor foi irremediavelmente quebrada.”

Rammstein se manifesta

Após o comunicado da editora, o Rammstein se manifestou sobre o tema pela segunda vez, após uma curta nota dias atrás. Disse o grupo:

“As publicações dos últimos dias têm causado irritação e questionamentos no público e principalmente entre os nossos fãs. As alegações nos atingiram muito e as levamos extremamente a sério.

Dizemos aos nossos fãs: é importante para nós que você se sinta confortável e seguro em nossos shows – na frente e atrás do palco.

Condenamos qualquer tipo de transgressão e pedimos a você: não se envolva em preconceito público de qualquer tipo contra aqueles que fizeram denúncias. Você tem direito ao seu ponto de vista.

Mas nós, a banda, também temos o nosso direito – ou seja, de não sermos preconceituosos.”

https://www.instagram.com/p/CtB-rb2tYAU/

Antes, a banda havia declarado:

“No que diz respeito às alegações que circulam na internet sobre Vilnius (Lituânia), podemos descartar a possibilidade de que o que está sendo reivindicado tenha ocorrido em nosso ambiente. Não temos conhecimento de nenhuma investigação oficial sobre esse assunto.”

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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