Luiz Schiavon, para além dos trabalhos como tecladista no RPM, foi diretor por seis anos da Banda Domingão – responsável por tocar no antigo programa de Faustão na TV Globo. O músico, que morreu aos 64 anos devido a uma doença autoimune, já descreveu a experiência de trabalhar com o apresentador como, em certo sentido, desafiadora.
Em entrevista ao jornal Meia Hora em 2019, o artista revelou ter se aproximado da estrela de televisão na década de 1980. A amizade virou uma parceria profissional anos depois, por intermédio do diretor Mario Meirelles.
“Em 2004, o Meirelles passou pra equipe do Domingão e me convidou para um bate-papo com o Fausto. Montei a banda e estreamos no início do ano seguinte.”
Mesmo acostumado com o ritmo da estrada, Luiz considerou impactante o ritmo do programa, já que eram horas no ar todos os domingos. Para ele, os diferenciais da atração encontravam-se no carisma e no raciocínio rápido de Faustão.
“O sucesso do programa se deve ao carisma pessoal que ele tem e à sua velocidade de raciocínio. É impressionante como ele pensa rápido mesmo quando algo sai do controle, o que num programa ao vivo é comum. Além disso, o fato de ele se distanciar de fofocas e preservar a vida pessoal faz com que o público o respeite muito.”
As brincadeiras feitas pelo apresentador receberam menções no bate-papo. Segundo o tecladista, Faustão prezava pelo respeito quando entoava as típicas piadas.
“O Fausto usa músicos, bailarinas e outros profissionais como uma espécie de ‘escada’ para dar uma quebrada no ritmo, provocar situações engraçadas e bater bola sobre assuntos que estão na pauta. Mas ele faz isso com muita sensibilidade e não me lembro de ter ficado em uma situação constrangedora. As brincadeiras são sempre feitas com bom-humor e muita educação”.
Ao longo do tempo, a Banda Domingão adquiriu credibilidade perante ao público e aos artistas convidados. Muitas vezes, de acordo com Luiz, os cantores dispensavam os próprios músicos de apoio durante as performances – atitude que rendeu uma curiosa história com Ivete Sangalo.
“Foi assim que tocamos com os maiores artistas do Brasil e do mundo, como Laura Pausini e Alejandro Sanz. A Ivete Sangalo foi ao programa e preparamos o repertório indicado pela produção. Mas, de supetão, o Fausto pediu pra ela cantar ‘Festa’. Já tínhamos a música no repertório fixo da banda, mas foi um corre-corre para distribuir as partituras. Acabamos no tempo certo. Só que eu esqueci que estava no tom das nossas cantoras e a Ivete canta um tom abaixo. Mesmo assim ela ficou firme e cantou sem demonstrar que algo estava errado. Quando acabou, chegou perto de mim e disse ‘Schia, tu me f#deu no tom!’. E deu risada. Ivete é uma grande artista e pessoa.”
Luiz Schiavon e RPM
Nascido em São Paulo no dia 5 de outubro de 1958, Luiz Schiavon foi o compositor melódico da maioria das músicas do RPM. O grupo, completo em sua formação clássica por Paulo Ricardo (voz e baixo), Fernando Deluqui (guitarra) e Paulo “P.A.” Pagni (bateria), tornou-se um fenômeno de popularidade nos anos 80 ao vender milhões de cópias com os álbuns “Revoluções por Minuto” (1985) e “Rádio Pirata Ao Vivo” (1986).
O quarteto se separou por duas vezes ainda na década de 80: rompeu em 1987, desfrutando do auge do sucesso, para voltar novamente no mesmo ano, lançar o álbum “Quatro Coiotes” em 1988 e acabar em 1989. Um retorno entre 1993 e 1994 para o disco “Paulo Ricardo & RPM” não contou com Schiavon, à época envolvido com projetos de dance music.
Já no século 21, o RPM clássico se reuniu em duas ocasiões: entre 2001 e 2003, gerando o álbum ao vivo “MTV RPM 2002”, e em 2011, o que rendeu o disco “Elektra” (2012). Um trabalho intitulado “Deus ex Machina”, com produção de Lucas Silveira (Fresno), chegou a ser gravado entre 2014 e 2015. No entanto, o projeto foi descartado e Paulo Ricardo voltou a se dedicar à carreira solo, saindo em 2017 e tendo na sequência uma batalha judicial contra os ex-integrantes, em relação ao uso do nome do grupo.
Desde então, o RPM se manteve ativo com Dioy Pallone nos vocais e baixo e lançou uma série de singles – o mais recente, “Promessas”, saiu na última semana. Com a morte de P.A. Pagni em 2019, Kiko Zara assumiu a bateria. No último ano, Luiz Schiavon esteve ausente das atividades na estrada, sendo substituído por tecladistas como Luis “Gus” Martins, Jo Borges e Tato Andreatta. Chegou a chorar no palco durante a apresentação que marcou seu retorno, em novembro último, na cidade de São Carlos.
Além da banda que o consagrou, Schiavon desenvolveu diversas trilhas sonoras para novelas da TV Globo no período entre 1996 e 2002. Como mencionado, dirigiu ainda a banda do programa “Domingão do Faustão” de 2004 até 2010. Outros de seus trabalhos podem ser conhecidos em seu site oficial.
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