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Electric Mob faz do La Iglesia um inferninho para chamar de seu

Com show arrebatador e totalmente à vontade no palco, banda só deixa um questionamento no ar: por que não está tocando em palcos maiores?

Fiz minha esposa de “cobaia” no último sábado (3). Sem revelar qual era a banda, a convidei para assistir a um show o qual eu já iria cobrir. Com base em uma experiência empírica, queria testemunhar sua reação diante do Electric Mob, que se apresentou no Iglesia La Borratxeria, casa underground em Pinheiros, bairro da zona oeste paulistana.

Não demorou nem três músicas para que o quarteto formado por Renan Zonta (voz), Ben Hur Auwarter (guitarra), Yuri Elero (baixo) e Mateus Cestaro (bateria, em substituição a André Leister, ausente desta turnê por questões pessoais) a conquistasse. O restante do público – entre 100 e 200 presentes que já conheciam o trabalho do grupo curitibano de hard rock – já estava entregue desde a introdução em baião de “Will Shine”, escolhida como abertura da noite.

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Ao fim, apenas uma inquietação por parte da “patroa”: como uma banda tão porreta e dona de um repertório autoral tão afiado estava se apresentando em um local, embora cheio, tão modesto? Não há resposta fácil, já que muitos fatores poderiam explicar: investimento insuficiente, pouco interesse do público do estilo em novas atrações, concorrência com eventos concomitantes (São Paulo recebia dois festivais de grande porte naquele dia) e, por que não, decisões tomadas pelos próprios músicos, entre outros possíveis pormenores.

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Um inferninho para chamar de seu

Ainda assim, nada do que foi mencionado no último parágrafo foi importante durante os 80 minutos em que o Electric Mob esteve no palco. Na verdade, o ambiente intimista até colaborou. Quem viu, viu.

Sem muita cerimônia, o quarteto subiu ao palco às 21h30 em figurinos nas cores preta e rosa – em alusão à capa do novo álbum “2 Make U Cry & Dance” (2023) – e, tocada a abertura gravada, logo tocou “Will Shine”, faixa de destaque do mencionado último disco e que apresenta bem as credenciais do grupo: hard rock em essência, mas sempre buscando outras referências; neste caso, um intrincado groove influenciado pelo baião nordestino.

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A grudenta “It’s Gonna Hurt”, também oriunda do novo trabalho e tocada na emenda, destacou um “setor” da banda que nem sempre aparece nas gravações em estúdio: a cozinha. Se o destaque natural gira em torno da força da natureza que é a voz de Renan Zonta e da abordagem tipicamente Slashiana de Ben Hur Auwarter nas seis cordas, ao vivo tudo se torna ainda mais coeso com o baixo proletário de Yuri Elero, essencial para preencher qualquer possível lacuna gerada pelo uso de apenas uma guitarra, e a bateria forte de Mateus Cestaro, talvez o grande responsável por dar fluidez às camadas paralelas ao hard rock exploradas pelo grupo.

Após convite de Renan para que os presentes se aproximassem um pouco mais (transformando o La Iglesia – “a igreja” em espanhol – no inferninho do Electric Mob), era hora de tocar duas de “Discharge”, álbum lançado em 2020 que disparou em reproduções nas nas plataformas de streaming. Foram elas: “King’s Ale”, outra que impressionou por soar mais pesada ao vivo, e “Far Off”, hardão de refrão aberto que te puxa pelos cabelos para curtir junto da banda – que, visivelmente, se divertia em cima do palco tanto quanto a plateia.

“By the Name (Nanana)”, outro grude com corinho devidamente acompanhado pelos presentes, e “Saddest Funk Ever”, que segue o título ao oferecer uma letra triste inspirada por reflexões do mundo pandêmico em uma roupagem quase festiva de tão animada, antecederam uma surpresa do set para muitos: “Black Tide”, faixa do EP “Leave a Scar” (2017) que muitos fãs conquistados a partir de “Discharge” pareciam não conhecer. Nessa canção, outrora usada como abertura dos shows, a afinação mais grave e a abordagem mais contemporânea voltam a mostrar outra faceta do Electric Mob.

Respira que vem mais aí

O miolo do set traz Renan munido de violão e oferece um respiro. Primeiro, com a balada “Your Ghost”, provavelmente uma das mais cantadas pela plateia. Depois (e com direito a uma introdução ao som de “Fio de Cabelo”, hino atemporal de Chitãozinho e Xororó), “4 Letters”, que beira o pop rock e aposta sem se acanhar nos corinhos “ô-ô-ô”. A dramática “Sun is Falling” até deveria manter a calmaria, mas cresce tanto ao vivo ao ganhar performance mais pesada que rende até alguns headbangings com seus refrães.

O molejo de “Higher Than Your Heels” e o hard padrão “Need to Rush”, esta também do antigo EP “Leave a Scar”, retomaram a pegada do início do show e preparam o público para um final apoteótico com “Love Cage” e seu crescimento paulatino; a aguardada “Devil You Know”, canção recordista de reproduções nos streamings que soa até comum em meio a outros números ainda melhores; e o bis com a paulada “Upside Down”, flertando até com o hardcore nos versos e levando Renan Zonta a mobilizar/participar de uma roda punk na plateia. Fim de 80 minutos que passaram rapidinho – poderiam ter se transformado em 160 e, ainda assim, ninguém reclamaria.

Que outras pessoas possam assistir ao Electric Mob em sua próxima passagem por São Paulo. Não é apenas um show de destaques individuais, muito menos um projeto que se ancora no já conhecido poderio vocal de Renan Zonta. Para além da performance bem acima da média de cada integrante e da presença de palco desenvolta especialmente do cantor e de Ben Hur Auwarter, o repertório é forte. Canções bem feitas, na maioria das vezes fugindo dos clichês de seu estilo de referência, e até mesmo posicionadas de forma caprichada para dar um fluxo correto à noite. Eles estão prontos. Você está?

*O Electric Mob ainda se apresenta em Guarapuava, Maringá, Porto Alegre, Goiânia, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro com sua atual turnê nacional, que vai até julho. Clique aqui para mais informações.

Electric Mob – ao vivo em São Paulo

  • Local: Iglesia La Borratxeria
  • Data: 3 de junho de 2023
  • Turnê: 2 Make U Cry & Tour

Repertório:

  1. Will Shine
  2. It’s Gonna Hurt
  3. King’s Ale
  4. Far Off
  5. By the Name (Nanana)
  6. Saddest Funk Ever
  7. Black Tide
  8. Your Ghost
  9. 4 Letters
  10. Sun is Falling
  11. Higher Than Your Heels
  12. Need to Rush
  13. Love Cage
  14. Devil You Know

Bis:

  1. Upside Down

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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