Tygers of Pan Tang joga o seguro em “Bloodlines”

Décimo terceiro álbum de estúdio dos pioneiros da NWOBHM atesta boa fase sem ousar

A rotatividade de integrantes é um excelente indicador de que algo nos processos de uma banda está ruim. Os fãs sentem, os discos transparecem e os números refletem a instabilidade.

Por muito tempo, ser uma porta giratória de músicos, tendo como único membro constante o guitarrista Robb Weir, foi a sina do Tygers of Pan Tang (se bem que o próprio Weir deu o fora em 1983, retornando somente em 1999). Como resultado disso, a banda pioneira da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) penou para manter os boletos em dia e a reputação intacta.

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Contra todas as probabilidades, o Tygers sobreviveu aos anos em baixa, mas não foi só isso: como um predador pós-dieta forçada, o grupo saiu da jaula com apetite voraz, disposto a abocanhar tudo que houvesse pelo caminho. Pelas mãos do núcleo formado por Weir, o baterista Craig Ellis e o vocalista Jacopo Meille — junto desde 2004 —, vieram alguns dos melhores trabalhos. Para este jornalista, “Ritual” (2019) supera até mesmo o clássico “Spellbound” (1980).

Dito isso, a expectativa para “Bloodlines” era imensa. O line-up atual conta com dois novatos — o baixista Huw Holding e o guitarrista Francesco Marras —, mas todo o resto remonta ao que vem sendo feito desde o divisor de águas “Ambush” (2012): um heavy metal de formato tradicional, mas com o verniz moderno da escrita antenada de Meille.

Entenda o “antenada”: ao contrário de muitos veteranos que se recusam a versar sobre o que acomete o mundo e as pessoas — chamemos de “rock de abstenção” —, Meille explora os causos e casos do dia a dia em letras afiadas, como a de “Light of Hope”, inevitável mantra pós-pandêmico. Embora a premissa original não seja bem essa — a ideia era dar boas-vindas aos recém-chegados Holding e Marras —, “A New Heartbeat” também pode ser lida como uma reflexão de sobrevivência.

Na qualidade de faixa de abertura, “Edge of the World” desacelera do ritmo frenético dos versos com um refrão grudento à “Rockin’ in the Free World” (Neil Young). Na mais cadenciada “In My Blood” ouve-se whammy, wah-wah e um salve à Ciência. “Fire on the Horizon” se desenvolve a partir de um riff de guitarra animalesco e põe todo mundo para cantar o “fiiiiireee” no refrão. Já em “Back for Good” chamam atenção o baixo cavalar e como Marras incorpora a pegada de Ritchie Blackmore.

Aí vem uma balada. Sim, uma balada, e com piano na introdução. Em “Taste of Love”, a interpretação de Meille transita entre o emotivo e o afetado — como manda a letra, diga-se —, como se para repelir os mais ortodoxos ou convencê-los de que homem também chora.

“Kiss the Sky” emana o espírito da fase mais comercial — da qual Weir não fez parte — com um quê de canastrice. “Believe”, por sua vez, nos situa novamente em 2023: guitarras com afinação rebaixada com um timbre quase computadorizado de tão artificial. Protótipo de épico, “Making All the Rules” fecha o disco acenando para as bandas setentistas que eram imbatíveis no quesito narrativo.

No fim das contas, pode-se dizer que o Tygers joga um jogo de segurança, tateando o gramado para eventuais festivais de dribles e golaços. Mas a troca de passes empolga o suficiente para que a torcida, mesmo sentada na arquibancada, grite “olé!”.

*“Bloodlines” será lançado nesta sexta-feira (5). Clique aqui para fazer o pré-save ou, a partir da data de lançamento, ouvir o material.

Tygers of Pan Tang – “Bloodlines”

  1. Edge Of The World
  2. In My Blood
  3. Fire On The Horizon
  4. Light Of Hope
  5. Back For Good
  6. Taste Of Love
  7. Kiss The Sky
  8. Believe
  9. A New Heartbeat
  10. Making All The Rules

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

1 COMENTÁRIO

  1. Ta aí um álbum que me surpreendeu demais!!
    Não estou tão antenado na fase mais atual do “Tygers” , inclusive vou até pegar pra ouvir agora, mas esse Bloodlines tá legal demais!!
    Um dos meus favoritos do ano até aqui, talvez atrás apenas dos lançamentos do Riverside e do Haken 😀

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