O underground sempre influencia o mainstream. E quando isso acontece, é sempre interessante ver como um artista reage ao se ver sendo referenciado na música mais popular de uma época. Nos quatro anos desde o último disco do The National, a sonoridade da banda serviu como paradigma para a reinvenção artística de uma das maiores cantoras do planeta. Com a ajuda de um dos integrantes, Aaron Dessner, Taylor Swift essencialmente fez suas versões de um álbum deles com “Folklore” e “Evermore”.
Considerando que os dois discos foram lançados durante a pandemia e refletiam um desejo da cantora de buscar abrigo em algo mais intimista após anos de pop bombástico, faz todo sentido. Além disso, as letras do The National tem a mesma preocupação com o efeito emocional de pequenos detalhes na hora de criar uma conexão com o ouvinte.
A troca criativa das partes foi tamanha a ponto do vocalista Matt Berninger recentemente ter falado sobre como a cantora fez uso de música escrita para o The National e ele ter “roubado” para si material feito para ela nesse período. Entretanto, enquanto Taylor Swift queria capturar a sonoridade do National de discos como “Boxer”, “High Violet” e “Trouble Will Find Me”, o grupo estava numa posição de estar repensando sua identidade.
No álbum de 2019, “I Am Easy To Find”, eles introduziram não só maior variedade instrumental, mas também vocalistas convidadas – Lisa Hannigan, Sharon Van Etten, Mina Tindle, Gail Ann Dorsey, Kate Stables, e o Brooklyn Youth Chorus – talvez numa tentativa de acentuar a natureza de diálogo das letras. O disco também veio acompanhado de um curta-metragem dirigido por Mike Mills – não o baixista do R.E.M.
Berninger há muitos anos escreve suas letras com auxílio de sua esposa, Carin Tucker, e nos trabalhos mais recentes as pressões e fraturas comuns a casamentos estavam aparecendo. Enquanto em “Sleep Well Beast” a voz do vocalista era a única transmitindo dois lados de discussões, agora ele estava acompanhado.
“First Two Pages of Frankenstein” mantém a prática de vocalistas convidados – Phoebe Bridgers, Sufjan Stevens e Taylor Swift –, mas soa mais como um álbum clássico do National. Talvez seja pelo fato das canções em que Berninger é acompanhado não sejam os destaques do disco. Essa distinção pertence aos poderosos singles “Tropical Morning News”, “Eucalyptus” e “New Order T-Shirt”.
A única faixa que causa estranhamento inicial é “The Alcott”, dueto co-escrito com Taylor Swift. Embora Berninger e a cantora tenham interesses criativos similares, a maneira que se apresentam é bem diferente.
O vocalista do National tem uma voz barítono levemente gutural, capaz de transmitir cansaço físico e emocional com facilidade. Swift, por outro lado, tem um alto polido e treinado, que ela empilha em camadas para efeito avassalador. Ambas as abordagens estão presentes aqui, e o contraste é mais um choque.
O instinto natural seria caracterizar “First Two Pages of Frankenstein” como bom, mas não do mesmo nível do auge do grupo. Contudo, a questão complicada de avaliar qualquer disco do The National na ocasião do lançamento é que eles vão se revelando com mais audições. “First Two Pages of Frankenstein” soa como um álbum de qualidade, mas o tempo sempre é necessário para determinar a permanência dessas canções na sua mente.
Pessoalmente, gostei muito mais de “I Am Easy To Find” quando saiu comparado a “Sleep Well Beast”, mas as experimentações eletrônicas e conflito marital espinhento do segundo se tornaram muito mais proeminentes na minha cabeça.
Quanto a “First Two Pages of Frankenstein”? Me pergunte quando o próximo do National sair.
Ouça “First Two Pages of Frankenstein” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.
The National – “First Two Pages of Frankenstein”
- Once Upon A Poolside (com Sufjan Stevens)
- Eucalyptus
- New Order T-Shirt
- This Isn’t Helping (com Phoebe Bridgers)
- Tropic Morning News
- Alien
- The Alcott (com Taylor Swift)
- Grease In Your Hair
- Ice Machines
- Your Mind Is Not Your Friend (com Phoebe Bridgers)
- Send For Me
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