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MITA Rio: 2º dia tem Florence sobrenatural, volta do NX e Haim com tributo a Xuxa

Evento ainda terá edição em São Paulo entre 2 e 3 de junho, repetindo atrações internacionais e NX Zero, mas com outros artistas nacionais em geral

Este Haim roubou a cena durante o segundo e último dia da edição carioca do MITA 2023, realizado no último domingo (28) no Jockey Club Brasileiro. Além de compartilhar com o público não só sua paixão pela música brasileira – ela se formou em etnomusicologia pela UCLA com especialização no Brasil e disse quase ter vindo fazer faculdade no país –, a baixista e cantora também revelou idolatrar ninguém menos que Xuxa Meneghel, a Rainha dos Baixinhos.

Já havia sido estranho a Haim — banda completa por Danielle Haim (guitarra e voz) e Alana Haim (piano, guitarra e voz) — antecipar a subida ao Palco Corcovado com uma versão em espanhol de “Ilariê”, canção mais icônica da apresentadora de TV e cantora. No meio do show, contudo, a experiência se tornou verdadeiramente surreal quando Este puxou um coro da música da plateia e revelou ter mandado mensagem para a apresentadora no Instagram, sem resposta (a brasileira acabou se manifestando com um post agradecendo pela homenagem após o show). 

- Advertisement -

A fascinação da baixista veio à tona novamente com a música “3 A.M.”, durante a qual ela desceu até a grade e foi surpreendida por uma fã lhe presenteando com uma camiseta trazendo a imagem da Xuxa. Este ficou visivelmente emocionada.

Para além dos tributos, a apresentação das três irmãs californianas, primeira da banda no Brasil, foi marcada por muita empolgação no palco e na plateia. Alana Haim pediu ao público logo de cara apenas que dançassem, cantassem e tivessem a melhor noite de suas vidas.

Foi um show daqueles que poderia ter sido até mais longo, mas uma característica do festival no Rio é a aderência quase militar aos limites de horário. As Haim desfilaram hits desde seu EP de estreia, “Forever”, de 2012, até o disco mais recente do trio, “Women in Music, Pt. III”, lançado em 2020.

*Fotos cedidas pela assessoria do evento devido ao não-credenciamento de fotógrafo do site para cobrir as apresentações.

Foto: @arielmartini

Repertório – Haim:

  1. Now I’m in It
  2. Don’t Save Me
  3. I Know Alone
  4. My Song 5
  5. Ilariê (Xuxa cover)
  6. Want You Back
  7. 3 AM
  8. I’ve Been Down
  9. Gasoline
  10. Don’t Wanna
  11. Summer Girl
  12. Forever
  13. The Wire
  14. The Steps

Profano feminino

As irmãs Haim, contudo, não foram a principal atração sob os olhos do público.

Desde o primeiro momento que Florence Welch entrou em cena para fechar o MITA 2023 no Rio de Janeiro, ficou claro não só o comando dela sobre o Palco Corcovado, mas sobre a plateia. Assim como a apresentação headliner de Lana Del Rey no sábado, a cantora inglesa era obviamente quem a maior parte dos presentes queria ver.

Foto: @arielmartini

O público cantava todas as canções com fervor, proporcionando uma experiência semelhante e, ao mesmo tempo, completamente diferente da noite anterior. Enquanto as canções de Lana Del Rey são baladas mais sutis presentes em um espetáculo melodramático, a música de Florence + the Machine é o espetáculo melodramático em si.

A cantora entrou no palco em meio a fumaça e canhões de luz, desfilando pelo palco tal qual as dançarinas folclóricas russas que parecem deslizar no ar como fantasmas. Ela canta sobre sentimentos avassaladores, sobre desejos além de pertencer a alguém ou ser confinada ao seu sexo.

Florence se comporta no palco como uma mistura de Stevie Nicks, Kate Bush e uma deusa guerreira celta, arrebatando todos os presentes na base do carisma puro. E ao longo do set, ela mostrou que, mesmo se tornando mais esotérica ao longo da carreira, seus hits antigos – seja “Dog Days Are Over”, “Kiss With a Fist” ou até o cover de “You Got the Love” (do grupo The Source com a cantora americana Candi Staton) – se encaixam com maestria em meio ao material novo.

Foto: @arielmartini

Repertório – Florence + the Machine:

  1. Heaven Is Here
  2. King
  3. Ship to Wreck
  4. Free
  5. Dog Days Are Over
  6. Dream Girl Evil
  7. Prayer Factory
  8. Big God
  9. What Kind of Man
  10. Hunger
  11. You Got the Love (Candi Staton cover)
  12. Kiss With a Fist
  13. Cosmic Love
  14. My Love
  15. Restraint

Bis:

  1. Never Let Me Go
  2. Shake It Out
  3. Rabbit Heart (Raise It Up)

Não foi pela última vez

O MITA também viu o retorno aos palcos do grupo emo mais popular do Brasil nos anos 2000, o NX Zero. Inaugurando uma turnê pelo país, a banda enfileirou hits no Palco Deezer durante a tarde, desde “Daqui pra frente”, “Pela última vez” e “Além de mim” até “Razões e emoções”.

O público, até mesmo quem estava acampado no outro palco, sabia todas as letras das canções — o que diz muito sobre o lugar do NX Zero na cultura brasileira de uma época específica. Quando escutam essas canções, as pessoas são transportadas para a juventude, se esgoelando junto a Di Ferrero.

Em termos técnicos, o show do NX Zero mostrava uma banda que nunca pareceu ter parado, para bem e para o mal. O som do grupo sempre pareceu um apanhado do que era popular no emo da época, seja Fresno, My Chemical Romance ou Millencollin. Nos principais hits, eles conseguem transcender isso para mostrar personalidade própria.

Entretanto, em grande parte do set a impressão passada é que, embora todo muitos presentes soubessem as letras de tudo, quem não cresceu ouvindo NX Zero ficou de fora da festa. Porque houve sim uma festa, com pessoas de várias tribos sendo emos por 70 minutos.

Foto: @biazvedo

Outro grupo do mesmo período, o Scracho, se apresentou trazendo o mesmo sentimento nostálgico ao público do Palco Corcovado mais cedo no dia. A banda de rock e reggae formada por Diego Miranda (voz e guitarra), Caio Corrêa (baixo e voz) e Dedé Teicher (bateria e voz) – essa última ainda estava apresentando o festival para o Multishow – trouxe de volta não só uma época, mas também um lugar específico: o som feito por grupos da Barra da Tijuca durante os anos 2000, apelidado não muito gentilmente de “música de playssom”.

A empolgação dos músicos em estarem juntos transcendia qualquer coisa. Fizeram cover de Novos Baianos,  trouxeram ao palco o músico baiano Baia – outro ícone da cena carioca da época – para fazer uma porção mais lúdica do set e ainda arriscaram um cover de “Mania de Você” (Rita Lee), cantada por Dedé Teicher.

Foto: @arielmartini

Repertório – NX Zero:

  1. Só rezo
  2. Daqui pra frente
  3. Bem ou mal
  4. Pela última vez
  5. Apenas um olhar
  6. Onde estiver
  7. Cedo ou tarde
  8. Pedra murano
  9. Ligação
  10. Hoje o céu abriu
  11. Não é Normal
  12. Além de mim
  13. Razões e emoções

Rodinha do progressivo

O The Mars Volta tornou-se bastante querido entre fãs de rock no Brasil, desde a metade dos anos 2000, graças aos seus dois primeiros álbuns, “De-Loused in Comatorium” (2003) e “Frances the Mute” (2005). O grupo de El Paso só havia vindo duas vezes ao país – em 2004 para o Tim Festival e 2010 no SWU –, então, a plateia reunida na frente do Palco Deezer estava sedenta.

Tanto Cedric Bixler-Zavala (voz) quanto Omar Rodríguez-López (guitarra) não decepcionaram. Em meio a um show de luzes e uma bandeira monocromática de Porto Rico, o grupo transportou os presentes ao passado em um set incendiário, baseado em maior parte no primeiro disco deles, com apenas uma canção do álbum homônimo recente, “Graveyard Love”.

O grande trunfo do The Mars Volta como banda é a capacidade de transitar entre longas passagens progressivas, com influências indo do free jazz a ritmos latinos, para momentos extremamente melódicos. Músicas como “L’Via L’Viaquez” e “The Widow” parecem versões corroídas por LSD dos baladões tocados na rádio.

Cedric e Omar como frontmen são uma dupla dinâmica. Enquanto o vocalista tem seu cabelo enorme e persona extravagante – os malabarismos que ele faz com um microfone são impressionantes –, o guitarrista é mais reservado, vestindo uma fedora de lado e dançando salsa nos momentos mais latinos do set. Seu instrumento Ernie Ball Music Man Mariposa, inclusive, serve de parceira de dança.

Foto: @biazvedo

Repertório – The Mars Volta:

  1. Roulette Dares (The Haunt Of)
  2. L’Via L’Viaquez
  3. Graveyard Love
  4. Drunkship of Lanterns
  5. The Widow
  6. Cicatriz ESP
  7. Son et lumiere
  8. Inertiatic ESP

Quanto ao restante

Jean Tassy abriu os trabalhos no Palco Deezer, ainda pela manhã, com a ajuda de Yago OPróprio. O artista de Brasília faz uma mistura de rap e R&B eficiente e melódica, ainda que não seja particularmente memorável.

Carol Biazin veio logo em seguida no Palco Corcovado com um show extremamente bem produzido e pensado. Trouxe uma banda extremamente competente formada só por mulheres – a guitarrista era particularmente boa.

Foto: @arielmartini

Porém, algo era incômodo. Algumas canções contavam com a presença de metais nos arranjos, embora não houvesse nenhum instrumento do tipo na banda. 

Diante de tamanho investimento na apresentação da artista – com visuais passando no telão temáticos do disco e decoração de palco –, podiam ter trazido uma seção de metais de verdade em vez de bases gravadas.

A estrela pop ascendente americana Sabrina Carpenter também fez um show muito bem bolado no Palco Deezer em termos de produção, banda e performance. A artista claramente tem carisma e voz, cantando um pop que lembra um pouco Carly Rae Jepsen e Gwen Stefani, homenageada no set com um cover de “The Sweet Escape”.

Não houve problemas no segundo dia como no primeiro. Nenhum artista teve o show cortado enquanto estava no palco. O domingo, no geral, pareceu muito mais relaxado em comparação ao sábado. A presença da legião de fãs de Lana Del Rey deve ter contribuído para o ar de aflição no campus do festival, tamanha era a expectativa para a apresentação.

Alguns problemas a se notar quanto à infraestrutura do festival, contudo: PCDs reclamaram da acessibilidade do espaço, já que o terreno acidentado não era muito amigável. Além disso, as cadeiras proporcionadas pelo evento tinham faróis fracos, o que fazia alguns temerem não serem vistos à noite.

Do lado de fora, na saída, transporte coletivo foi um problema. A Gávea é uma parte do Rio que faz a transição entre duas partes diferentes da Zona Sul com a Zona Oeste, então existem maneiras de se locomover de ônibus. Contudo, quando acabam os shows, o público do festival se encontra com opções de ônibus reduzidas apenas a linhas destinadas à Barra da Tijuca.

Grande parte do público foi forçada a andar 15 minutos de distância para o metrô da Antero de Quental quando normalmente passa ônibus na porta do Jockey Club. Um festival que passou por extensas negociações com a Associação de Moradores da Gávea para assegurar sua realização podia ter apelado à Prefeitura por um esquema de transportes diferenciado, considerando a quantidade de pessoas presente no local ao longo de dois dias.

*O festival MITA 2023 terá uma edição em São Paulo, repetindo as atrações internacionais dos dois dias e o NX Zero, mas com outros artistas nacionais no geral, entre os dias 3 e 4 de junho.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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Já havia sido estranho a Haim — banda completa por Danielle Haim (guitarra e voz) e Alana Haim (piano, guitarra e voz) — antecipar a subida ao Palco Corcovado com uma versão em espanhol de “Ilariê”, canção mais icônica da apresentadora de TV e cantora. No meio do show, contudo, a experiência se tornou verdadeiramente surreal quando Este puxou um coro da música da plateia e revelou ter mandado mensagem para a apresentadora no Instagram, sem resposta (a brasileira acabou se manifestando com um post agradecendo pela homenagem após o show). 

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A fascinação da baixista veio à tona novamente com a música “3 A.M.”, durante a qual ela desceu até a grade e foi surpreendida por uma fã lhe presenteando com uma camiseta trazendo a imagem da Xuxa. Este ficou visivelmente emocionada.

Para além dos tributos, a apresentação das três irmãs californianas, primeira da banda no Brasil, foi marcada por muita empolgação no palco e na plateia. Alana Haim pediu ao público logo de cara apenas que dançassem, cantassem e tivessem a melhor noite de suas vidas.

Foi um show daqueles que poderia ter sido até mais longo, mas uma característica do festival no Rio é a aderência quase militar aos limites de horário. As Haim desfilaram hits desde seu EP de estreia, “Forever”, de 2012, até o disco mais recente do trio, “Women in Music, Pt. III”, lançado em 2020.

*Fotos cedidas pela assessoria do evento devido ao não-credenciamento de fotógrafo do site para cobrir as apresentações.

Foto: @arielmartini

Repertório – Haim:

  1. Now I’m in It
  2. Don’t Save Me
  3. I Know Alone
  4. My Song 5
  5. Ilariê (Xuxa cover)
  6. Want You Back
  7. 3 AM
  8. I’ve Been Down
  9. Gasoline
  10. Don’t Wanna
  11. Summer Girl
  12. Forever
  13. The Wire
  14. The Steps

Profano feminino

As irmãs Haim, contudo, não foram a principal atração sob os olhos do público.

Desde o primeiro momento que Florence Welch entrou em cena para fechar o MITA 2023 no Rio de Janeiro, ficou claro não só o comando dela sobre o Palco Corcovado, mas sobre a plateia. Assim como a apresentação headliner de Lana Del Rey no sábado, a cantora inglesa era obviamente quem a maior parte dos presentes queria ver.

Foto: @arielmartini

O público cantava todas as canções com fervor, proporcionando uma experiência semelhante e, ao mesmo tempo, completamente diferente da noite anterior. Enquanto as canções de Lana Del Rey são baladas mais sutis presentes em um espetáculo melodramático, a música de Florence + the Machine é o espetáculo melodramático em si.

A cantora entrou no palco em meio a fumaça e canhões de luz, desfilando pelo palco tal qual as dançarinas folclóricas russas que parecem deslizar no ar como fantasmas. Ela canta sobre sentimentos avassaladores, sobre desejos além de pertencer a alguém ou ser confinada ao seu sexo.

Florence se comporta no palco como uma mistura de Stevie Nicks, Kate Bush e uma deusa guerreira celta, arrebatando todos os presentes na base do carisma puro. E ao longo do set, ela mostrou que, mesmo se tornando mais esotérica ao longo da carreira, seus hits antigos – seja “Dog Days Are Over”, “Kiss With a Fist” ou até o cover de “You Got the Love” (do grupo The Source com a cantora americana Candi Staton) – se encaixam com maestria em meio ao material novo.

Foto: @arielmartini

Repertório – Florence + the Machine:

  1. Heaven Is Here
  2. King
  3. Ship to Wreck
  4. Free
  5. Dog Days Are Over
  6. Dream Girl Evil
  7. Prayer Factory
  8. Big God
  9. What Kind of Man
  10. Hunger
  11. You Got the Love (Candi Staton cover)
  12. Kiss With a Fist
  13. Cosmic Love
  14. My Love
  15. Restraint

Bis:

  1. Never Let Me Go
  2. Shake It Out
  3. Rabbit Heart (Raise It Up)

Não foi pela última vez

O MITA também viu o retorno aos palcos do grupo emo mais popular do Brasil nos anos 2000, o NX Zero. Inaugurando uma turnê pelo país, a banda enfileirou hits no Palco Deezer durante a tarde, desde “Daqui pra frente”, “Pela última vez” e “Além de mim” até “Razões e emoções”.

O público, até mesmo quem estava acampado no outro palco, sabia todas as letras das canções — o que diz muito sobre o lugar do NX Zero na cultura brasileira de uma época específica. Quando escutam essas canções, as pessoas são transportadas para a juventude, se esgoelando junto a Di Ferrero.

Em termos técnicos, o show do NX Zero mostrava uma banda que nunca pareceu ter parado, para bem e para o mal. O som do grupo sempre pareceu um apanhado do que era popular no emo da época, seja Fresno, My Chemical Romance ou Millencollin. Nos principais hits, eles conseguem transcender isso para mostrar personalidade própria.

Entretanto, em grande parte do set a impressão passada é que, embora todo muitos presentes soubessem as letras de tudo, quem não cresceu ouvindo NX Zero ficou de fora da festa. Porque houve sim uma festa, com pessoas de várias tribos sendo emos por 70 minutos.

Foto: @biazvedo

Outro grupo do mesmo período, o Scracho, se apresentou trazendo o mesmo sentimento nostálgico ao público do Palco Corcovado mais cedo no dia. A banda de rock e reggae formada por Diego Miranda (voz e guitarra), Caio Corrêa (baixo e voz) e Dedé Teicher (bateria e voz) – essa última ainda estava apresentando o festival para o Multishow – trouxe de volta não só uma época, mas também um lugar específico: o som feito por grupos da Barra da Tijuca durante os anos 2000, apelidado não muito gentilmente de “música de playssom”.

A empolgação dos músicos em estarem juntos transcendia qualquer coisa. Fizeram cover de Novos Baianos,  trouxeram ao palco o músico baiano Baia – outro ícone da cena carioca da época – para fazer uma porção mais lúdica do set e ainda arriscaram um cover de “Mania de Você” (Rita Lee), cantada por Dedé Teicher.

Foto: @arielmartini

Repertório – NX Zero:

  1. Só rezo
  2. Daqui pra frente
  3. Bem ou mal
  4. Pela última vez
  5. Apenas um olhar
  6. Onde estiver
  7. Cedo ou tarde
  8. Pedra murano
  9. Ligação
  10. Hoje o céu abriu
  11. Não é Normal
  12. Além de mim
  13. Razões e emoções

Rodinha do progressivo

O The Mars Volta tornou-se bastante querido entre fãs de rock no Brasil, desde a metade dos anos 2000, graças aos seus dois primeiros álbuns, “De-Loused in Comatorium” (2003) e “Frances the Mute” (2005). O grupo de El Paso só havia vindo duas vezes ao país – em 2004 para o Tim Festival e 2010 no SWU –, então, a plateia reunida na frente do Palco Deezer estava sedenta.

Tanto Cedric Bixler-Zavala (voz) quanto Omar Rodríguez-López (guitarra) não decepcionaram. Em meio a um show de luzes e uma bandeira monocromática de Porto Rico, o grupo transportou os presentes ao passado em um set incendiário, baseado em maior parte no primeiro disco deles, com apenas uma canção do álbum homônimo recente, “Graveyard Love”.

O grande trunfo do The Mars Volta como banda é a capacidade de transitar entre longas passagens progressivas, com influências indo do free jazz a ritmos latinos, para momentos extremamente melódicos. Músicas como “L’Via L’Viaquez” e “The Widow” parecem versões corroídas por LSD dos baladões tocados na rádio.

Cedric e Omar como frontmen são uma dupla dinâmica. Enquanto o vocalista tem seu cabelo enorme e persona extravagante – os malabarismos que ele faz com um microfone são impressionantes –, o guitarrista é mais reservado, vestindo uma fedora de lado e dançando salsa nos momentos mais latinos do set. Seu instrumento Ernie Ball Music Man Mariposa, inclusive, serve de parceira de dança.

Foto: @biazvedo

Repertório – The Mars Volta:

  1. Roulette Dares (The Haunt Of)
  2. L’Via L’Viaquez
  3. Graveyard Love
  4. Drunkship of Lanterns
  5. The Widow
  6. Cicatriz ESP
  7. Son et lumiere
  8. Inertiatic ESP

Quanto ao restante

Jean Tassy abriu os trabalhos no Palco Deezer, ainda pela manhã, com a ajuda de Yago OPróprio. O artista de Brasília faz uma mistura de rap e R&B eficiente e melódica, ainda que não seja particularmente memorável.

Carol Biazin veio logo em seguida no Palco Corcovado com um show extremamente bem produzido e pensado. Trouxe uma banda extremamente competente formada só por mulheres – a guitarrista era particularmente boa.

Foto: @arielmartini

Porém, algo era incômodo. Algumas canções contavam com a presença de metais nos arranjos, embora não houvesse nenhum instrumento do tipo na banda. 

Diante de tamanho investimento na apresentação da artista – com visuais passando no telão temáticos do disco e decoração de palco –, podiam ter trazido uma seção de metais de verdade em vez de bases gravadas.

A estrela pop ascendente americana Sabrina Carpenter também fez um show muito bem bolado no Palco Deezer em termos de produção, banda e performance. A artista claramente tem carisma e voz, cantando um pop que lembra um pouco Carly Rae Jepsen e Gwen Stefani, homenageada no set com um cover de “The Sweet Escape”.

Não houve problemas no segundo dia como no primeiro. Nenhum artista teve o show cortado enquanto estava no palco. O domingo, no geral, pareceu muito mais relaxado em comparação ao sábado. A presença da legião de fãs de Lana Del Rey deve ter contribuído para o ar de aflição no campus do festival, tamanha era a expectativa para a apresentação.

Alguns problemas a se notar quanto à infraestrutura do festival, contudo: PCDs reclamaram da acessibilidade do espaço, já que o terreno acidentado não era muito amigável. Além disso, as cadeiras proporcionadas pelo evento tinham faróis fracos, o que fazia alguns temerem não serem vistos à noite.

Do lado de fora, na saída, transporte coletivo foi um problema. A Gávea é uma parte do Rio que faz a transição entre duas partes diferentes da Zona Sul com a Zona Oeste, então existem maneiras de se locomover de ônibus. Contudo, quando acabam os shows, o público do festival se encontra com opções de ônibus reduzidas apenas a linhas destinadas à Barra da Tijuca.

Grande parte do público foi forçada a andar 15 minutos de distância para o metrô da Antero de Quental quando normalmente passa ônibus na porta do Jockey Club. Um festival que passou por extensas negociações com a Associação de Moradores da Gávea para assegurar sua realização podia ter apelado à Prefeitura por um esquema de transportes diferenciado, considerando a quantidade de pessoas presente no local ao longo de dois dias.

*O festival MITA 2023 terá uma edição em São Paulo, repetindo as atrações internacionais dos dois dias e o NX Zero, mas com outros artistas nacionais no geral, entre os dias 3 e 4 de junho.

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