Deep Purple superando expectativas
*Por Igor Miranda
Apesar da consciência de que “cada show é um show”, a recepção morna relatada pelo colaborador Guilherme Gonçalves ao show do Deep Purple em Brasília, abrindo para o Kiss na última terça-feira (18), me deixou preocupado. Não dava para prever como o público paulistano iria receber o grupo, gigante do hard rock e pioneiro do heavy metal, ainda mais após uma incendiária performance do Helloween.
Felizmente, o já quase lotado Allianz Parque parece ter compreendido que não dava para esperar tanto vigor físico de uma banda com dois integrantes de 77 anos (o vocalista Ian Gillan e o baixista Roger Glover) e outros dois de 74 (o baterista Ian Paice, que ainda sofreu com problemas de saúde nos últimos tempos, e o tecladista Don Airey), ainda que hoje contem com um guitarrista, Simon McBride, de 44 anos. E dentro do que era possível, os músicos não fizeram feio.
Honestidade é o mantra do Purple 2023. Havia todos os motivos para recorrer a outros artifícios, como uma série de efeitos que “maquiam” a performance, bases pré-gravadas ou até mesmo o playback em sua forma mais conhecida. Só que eles não fazem nada disso. É 100% ao vivo e real, da bateria de Paice que dispensa triggers ao vocal de Gillan, que prefere adaptar sua interpretação a deixar gravações falarem por ele. A aparência do frontman não esconde os 77 anos bem vividos, especialmente pelas mãos trêmulas; ainda assim, o resultado entregue é tão bom que nos faz pensar: era ainda melhor vê-lo no auge, entre as décadas de 1970 e 1980?
Tais predicados já foram sentidos logo na música de abertura, “Highway Star”. Fora as questões dos Ians, notou-se logo de cara como Roger Glover e Don Airey oferecem solidez, além da injeção de peso oferecida por Simon McBride. O substituto definitivo de Steve Morse é dono de um belo timbre de guitarra e reproduz com fidelidade muitas linhas de Ritchie Blackmore – algo que seu antecessor não fazia –, sempre com uma dose extra de peso.
Dá para notar que todo o setlist gira em torno das capacidades físicas dos Ians, especialmente Gillan. “Highway Star” exige bastante do cantor, mas a dobradinha “Pictures of Home” e “No Need to Shout”, que encaixa bem no fluxo da apresentação. A grandiosa “Uncommon Man”, dedicada ao falecido tecladista Jon Lord, traz longo solo de McBride como introdução para oferecer o descanso necessário aos colegas. Inegavelmente, porém, a canção em sua longa versão de quase 10 minutos esfria um pouco os ânimos do público.
E tome mais solo com Don Airey, agora em modo canastrão: ao segurar uma nota aguda no teclado, um garçom surge para lhe servir uma taça de vinho. Ganhou a plateia e elevou os ânimos para o que viria: o malandro R&B “Lazy”, um dos destaques do set, e a balada “When a Blind Man Cries”, com bela interpretação de Gillan. Surpreendeu o resgate de “Anya”, faixa dramática e pouco lembrada do álbum “The Battle Rages On…” (1993), mas boa parte dos presentes sequer a conhecia.
Por outro lado, os altos e baixos no que diz respeito a empolgação acabariam no terço final do set. Don Airey foi ovacionado por seu solo de teclado que incluiu trechos de “Mr. Crowley” (canção de Ozzy Osbourne gravada por ele) e de clássicos da música nacional tocados enquanto se lia partituras, como “Brasileirinho” (Waldir Azevedo) e “Aquarela do Brasil” (Ary Barroso). Também ficou a cargo dele introduzir um dos grandes clássicos do repertório: “Perfect Strangers”, recordista de celulares para o alto até aqui.
“Space Truckin’”, com seu belo desfile instrumental, e “Smoke on the Water”, trazendo um dos poucos solos ligeiramente improvisados de Simon McBride, encerraram a parte regular do set e antecederam o primeiro bis do evento. Muitos fãs chegaram a deixar a pista, acreditando que a performance já seria encerrada, mas não demorou até que o quinteto retornasse ao palco para tocar “Hush” e “Black Night”, tendo um solo de baixo acompanhado por bateria entre elas. Na canção final, inclusive, o público se dispôs a cantar os riffs em coro “ôôô” e até interagir com solos de Simon McBride.
Não dá para dizer que o Deep Purple faz um show típico de festival a céu aberto, daqueles que tenta fazer os fãs pularem e se entregarem a todo custo. Está mais para uma apresentação em casa fechada, com ambiente intimista e proposta contemplativa. Ainda assim, ao menos durante aquele fim de tarde no Allianz Parque, funcionou. Seja em pub ou em estádio, é pra parar e curtir cada nota tocada por uma banda que, em função das idades avançadas de seus integrantes, sempre pode estar se apresentando pela última vez no Brasil a cada vez que passa por aqui.
*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Role para o lado para visualizar todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.
Repertório – Deep Purple:
- Highway Star
- Pictures of Home
- No Need to Shout
- Solo de guitarra + Uncommon Man
- Lazy
- When a Blind Man Cries
- Anya
- Solo de teclado (com trechos de Mr. Crowley e músicas brasileiras)
- Perfect Strangers
- Space Truckin’
- Smoke on the Water
Bis:
- Hush (cover de Joe South)
- Solo de baixo + Black Night
Estive no show de BH, foi espetacular o show e bem legal ver o publico mesclado com com crianças , adolescentes, jovens e os tiozões.
Fui ontem ver o Deep Purple aqui em Curitiba.
Na minha opinião o comentário ao qual vc escreve que foi um show fraco, palha, pueril (fui atrás do significado) , ou é de maldade, ou não curte, ou não viu.
DEEP PURPLE É SELO DE GARANTIA!!!
É LENDA!! É QUALIDADE!!!
… ficar comparando com esse ou aquele é coisa de menininha ingrata, insatisfeita …de piazinho de prédio q nunca vai na rua jogar bola pois tem medo
RESPEITA AS COISA DO ROCK … poser
caso n tenha sido vc quem escreveu .. azar
Fabio, em nenhum momento qualquer pessoa neste site disse que o Deep Purple fez um show “fraco”, “palha” ou “pueril”. Nem eu, nem qualquer outro colaborador. Recomendo releitura atenta dos textos antes de publicar comentários.