Aposentadoria? Que nada: Joss Stone prova em São Paulo que quer mais 20 anos

Cantora celebrou no Vibra duas décadas de carreira com performance repleta de talento e carisma, enterrando sua própria fala anterior sobre retirada dos palcos

Quando pintou a oferta para cobrir o show que Joss Stone faria no Vibra, em São Paulo, na última quinta-feira (20), o desafio era sair da mesmice. O site é mais voltado ao rock e seu pesado desdobramento, heavy metal, assim como as resenhas deste escriba – que chegou a comprar um ingresso para o Rock in Rio 2022 com intenção de assistir à mesma artista. Imagine a decepção ao descobrir que a apresentação na Cidade do Rock seria posteriormente cancelada devido a “falhas cometidas desnecessariamente por seu agente”.

Em suma, o desapontamento foi tamanho que nem testemunhamos a vinda antecipada para junho de 2022 no Espaço Unimed. Ainda assim, não dava para deixar passar a oportunidade de acompanhar a nova turnê “20 Years of Soul” (que já passou por Brasília e seguirá para Belo Horizonte e Curitiba), em celebração às duas décadas de carreira – ainda mais após ela ter revelado planos de aposentadoria.

- Advertisement -
Foto: Jeff Marques

Na chegada ao Vibra às 20h para o credenciamento… será que erramos o local ou a data? As cercanias estavam vazias. Bastou uma bandeira estendida na grade do estacionamento traseiro e a insegurança se dissipou.

*Fotos de Jeff Marques / @mulekedoidomemo. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Sabedoria sobre dor

Oficialmente marcada para entrar às 21h30, Joss Stone e banda viriam ao palco com dezenove minutos de atraso para os quais ninguém deu bola. Antes, porém, um curto vídeo com várias fases de sua carreira foi projetado nos telões laterais. Uma pergunta, até com certo desdém, endereçada à então promissora jovem se destacou na filmagem: “O que uma garota inglesa de dezesseis anos sabe sobre dor?”. A julgar pela discografia e por como se expressa em posse de um microfone, ela sabe muito!

Os trabalhos foram efetivamente abertos numa combinação de quase nove minutos percorrendo cinco anos e três álbuns, sob a descrição “Show Intro Medley” no setlist de palco. Na prática, rolaram trechos de “You Had Me”, “Free Me”, “Bad Habit” e “You Got The Love”, esta última trazendo a primeira fala da dona da noite e em português, começando bem: “Olá! Olá, meus amores!”.

Foto: Jeff Marques

Graciosamente envergonhada e divertindo-se com a tentativa, mandou um “Consigo fazer isso, juro!”, em inglês, em livre tradução nossa, até retomar em nossa língua: “Queria agradecer a vocês por esses vinte anos juntos e dizer que desejo compartilhar mais vinte anos com vocês. Afinal, tudo isso só foi possível por causa de cada um de vocês”. A conclusão foi em seu idioma:

“É verdade! Muito obrigada! Não posso acreditar que ainda estamos todos juntos aqui todos esses anos. Muito obrigada por ficarem comigo. Vamos ficar juntos por mais vinte anos! Sabem, nesse tempo, houve dias bons e ruins, alguns dias em que sentia: ‘Uh, não deveria mais estar fazendo isso. Sou terrível!’. E vocês sempre me dizendo: ‘Amamos suas músicas!’. Obrigada! E isso me fizeram perceber que é por isso que fazemos isso, para que todos possamos estar juntos e sentir o amor. Então, muito obrigada!”

Aposentadoria? Não…

Leia também:  Biohazard levanta Circo Voador em noite de clássicos, set curto e abertura de luxo
Foto: Jeff Marques

“Como digo isso em português?”

Para “Super Duper Love”, um convite para o público, até então sentado: “Quem quer dançar comigo? Vamos lá, levantem-se e dancem! Como digo isso em português?”. Não precisou recorrer ao idioma nativo. Só deu para ver a onda de pessoas se erguendo para atendê-la imediatamente enquanto observávamos os nove músicos e a própria estrela todos trajando branco, incluindo calçados e o chapéu do tecladista. Outra curiosidade se sanara: ela realmente se apresenta descalça? Sim, mas há um tapete centralizado para oferecer conforto e minimizar estragos. Na sequência, Joss trouxe “Fell in Love with a Boy” (versão para o hit do White Stripes) e detalhou “Jet Lag”:

“Foi realmente minha primeira tentativa de escrever uma música. Quando tinha uns quatorze anos, fui a uma sessão de estúdio com Jonathan Shorten, que está bem aqui nos teclados. Então, quando eu era uma garotinha, bati na porta dele e disse: ‘Ei, Johnnie, posso escrever uma música com você?’. E basicamente eles me ensinaram como escrever músicas. Eu não sabia o que estava fazendo e esta é sobre como o amor pode fazer você se sentir nada bem. Espero que gostem!”

Foto: Jeff Marques

Enquanto seu conjunto executava um trecho instrumental de “Proper Nice”, Joss novamente se dirigiu aos fãs explicando um pouco melhor o conceito do álbum “Introducing Joss Stone” (2007):

“A razão pela qual o nomeei assim foi porque pensei: ‘É isso que quero fazer! É assim que quero que soe, estas são as palavras que quero falar, estas são as melodias que quero cantar’. Foi a primeira vez assim porque, nos dois primeiros álbuns, eu estava apenas aprendendo. E Lauryn Hill está neste disco, o que é algo maluco para mim! É simplesmente sensacional e é um dos discos prediletos da minha vida.”

Foto: Jeff Marques

E dele ofereceu uma sensacional versão de “Tell Me ‘Bout It” com direito a snippets de “Rock Steady”, “Sweet Love” e “Killing Me Softly”. Que combo maravilhoso!

Partindo para “4 and 20”, uma experiência ruim contada de modo leve:

“Agora chegamos ao quarto álbum, chamado ‘Colour Me Free!’ (2009). Eu apenas não queria estar onde eu estava. Não falamos muito sobre coisas negativas, então seguimos adiante, mas acho que estava numa daquelas fases, sabem… Quando você é jovem e está p#to com todos. Essa era eu por um tempo. E eu estava particularmente irritada com um cara, um imbecil. De todo modo, ele estava simplesmente demorando demais eu só pensava: ‘Deus do céu!’… Fiquei muito impaciente”.

Foto: Jeff Marques

Do branco ao dourado

Está lembrado das roupas brancas? Durante um maravilhoso solo de guitarrista Steve Down em “Love We Had (Stays On My Mind)”, Joss temporariamente saiu de cena para a primeira troca de figurino: um lindo vestido dourado brilhante desta vez. E visando manter a atmosfera sempre intimista, ela parecia especializar-se em permanecer descrevendo a conjuntura enquanto os músicos tocavam “Sonny’s Lettah (Anti-Sus Poem)”; Joss professou seu amor pelo reggae e partiu para o que se convencionou chamar de “Reggae Medley” no setlist de palco, incluindo ainda: “Harry’s Symphony”, “Wake Up”, “Clean Water”, “Love Me”, “Less Is More” e “Way Oh”. Tudo isso pouco além de dez minutos e evidentemente sob luzes verdes, amarelas e vermelhas.

Leia também:  Com direito a surpresas, Bruce Dickinson encanta com estreia solo em Porto Alegre
Foto: Jeff Marques

Batendo em uma hora no relógio, “The Look of Love” manteve o clima e “When You’re In Love” foi por ela dedicada a seu amor, Cody, aniversariante do dia e infelizmente ausente no show. Durante a super dançante e divertida “Rain Song”, seu clipe foi exibido no telão e se impressionava a naturalidade com a qual Joss e banda costuravam trechos de clássicos em meio às composições dela nos medleys. E não é que pintou mais um? O “Put Your Hands Medley” conteve “Put Your Hands On Me”, “Son Of A Preacher Man”, levantando a galera, e “Piece of My Heart”, famosa na voz de Janis Joplin, mas originalmente gravada por Erma Franklin, irmã mais velha de Aretha Franklin. Partiram ovacionados!

Foto: Jeff Marques

Noventa minutos… e um de acréscimo

Para o encore, nova troca de figurino, também brilhante, porém preto e não menos lindo. Um belo dedilhado do guitarrista Steve Down puxou “Right to Be Wrong”, a maior cantoria coletiva da noite! “Karma” gerou a terceira e definitiva onda do levantar das pessoas nas cadeiras e a saideira “Some Kind of Wonderful” foi dedicada a todos, com a tradicional distribuição de girassóis às primeiras fileiras de cadeiras perto do fim.

Foto: Jeff Marques

Ainda com a releitura do Soul Brothers Six rolando, ela voltou a refutar a aposentadoria que ela mesma havia sugerido: “Quero vê-los pelos próximos vinte anos e mais. Vamos juntos!”, cravando noventa e um minutos de um repertório da “Diva do Soul” para lavar a alma, com o perdão do trocadilho!

*Fotos de Jeff Marques / @mulekedoidomemo. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Joss Stone – ao vivo em São Paulo

  • Local: Vibra
  • Data: 20 de abril de 2023
  • Turnê: 20 Years of Soul

Repertório:

  1. Show Intro Medley: You Had Me / Free Me / Bad Habit / You Got The Love
  2. Super Duper Love (Are You Diggin’ On Me?), Pt. 1 [Billy “Sugar Billy” Garner]
  3. Fell In Love With A Boy [The White Stripes]
  4. Jet Lag
  5. Proper Nice
  6. Tell Me ‘Bout It – com snippets de Rock Steady [Aretha Franklin], Sweet Love [Anita Baker] e Killing Me Softly [Lori Lieberman]
  7. 4 And 20
  8. The Love We Had (Stays On My Mind) [The Dells]
  9. Reggae Medley: Sonny’s Lettah (Anti-Sus Poem) [Linton Kwesi Johnson] / Harry’s Symphony / Wake Up / Clean Water / Love Me / Less Is More / Way Oh
  10. The Look Of Love [Burt Bacharach]
  11. When You’re In Love
  12. Rain Song
  13. Put Your Hands Medley: Put Your Hands On Me / Son Of A Preacher Man [Dusty Springfield] / Piece Of My Heart [Erma Franklin]

Bis:

  1. Right To Be Wrong
  2. Karma
  3. Some Kind Of Wonderful [Soul Brothers Six]

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Facebook | YouTube.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioResenhasAposentadoria? Que nada: Joss Stone prova em São Paulo que quer mais...

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades