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“The Last of Us”: as principais diferenças da 1ª temporada da série para o game

Apesar da grande fidelidade, programa de TV precisou realizar algumas mudanças, sejam elas menores ou de maior destaque

A série “The Last of Us”, baseada no game homônimo para PlayStation, concluiu sua primeira temporada. O show recebeu diversos elogios tanto da crítica quanto do público, com destaque para sua fidelidade ao material original – tanto que há quem diga que ela quebrou o paradigma de adaptações cinematográficas e televisivas de videogames serem de medianas a ruins.

Por mais que o show tenha conseguido se manter fiel ao game original, algumas mudanças precisaram ser feitas, seja com relação a história, personagens e ambientação. Afinal, estamos falando de duas mídias distintas. Alguns dos pontos que funcionaram para o jogo poderiam não dar certo para adaptação do HBO Max.

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Anteriormente, já havíamos abordado este assunto em um texto semelhante, mas desta vez vamos explorar as principais mudanças feitas pela série ao longo dos 9 episódios de sua primeira temporada. Continue a leitura abaixo.

Atenção: há spoilers de “The Last of Us” a seguir!

A infecção do Cordyceps

Tanto no game quanto na série, sabemos que o surto responsável por infectar os seres humanos foi causado por um fungo do tipo Cordyceps, que evoluiu e ganhou a capacidade de controlar pessoas. No entanto, a forma como ele é transmitido mudou de uma mídia para outra.

No game, fica claro que além da mordida de uma pessoa infectada, o fungo também pode ser transmitido via esporos. Tanto que em lugares com altas concentrações do Cordyceps no ar, os personagens são obrigados a usar máscaras para se proteger.

Já a série fez uma mudança importante nesse sentido. Além da mordida, uma pessoa infectada também pode passar o fungo a uma pessoa saudável por meio de filamentos que saem de sua boca – como vimos na cena em que Tess se sacrificou. Nada de esporos.

Em entrevista à Eurogamer, Craig Mazin, um dos criadores da adaptação para TV de The Last of Us, explicou o motivo da mudança:

“Neste mundo que nós recriamos, se tivéssemos colocado esporos no ar, ficaria claro que (o surto) se espalharia para todos os lugares, todos teriam de usar máscaras o tempo todo e, provavelmente, todos já estariam infectados.”

Bill e Frank

No game original, um personagem secundário que auxiliou a jornada de Joel e Ellie foi Bill, um sobrevivencialista paranoico que devia um favor ao protagonista.

No decorrer desta parte do game, descobrimos que ele tinha um parceiro chamado Frank. Por conta das atitudes de Bill, o personagem pensou em fugir do local em que os dois viviam antes de tirar a própria vida.

Uma carta que o jogador pode encontrar no game dá a entender que Bill e Frank mantinham um relacionamento amoroso por conta de seu conteúdo.

Já a série decidiu explorar bem a fundo a relação entre Bill e Frank – naquela que pode ser considerada a principal mudança para muitos fãs – durante o decorrer do terceiro episódio. O simples fato de Frank aparecer vivo já é uma diferença gritante.

Vimos que Bill conheceu Frank após ele cair em uma de suas armadilhas e pouco depois, os dois se tornaram um casal. A relação da dupla com o passar dos anos foi exibida aos fãs.

No final das contas, Frank passa a sofrer com uma doença degenerativa e decide tirar a própria vida – assim como no game. Bill decide fazer o mesmo após perceber que não conseguiria mais viver sem a companhia do parceiro, que renovou sua vontade de viver. 

Em entrevista à The New Yorker, antes da estreia da série, Neil Druckmann, criador de “The Last of Us” e que também desenvolveu o show, disse que já esperava fãs do game incomodados com esta mudança, mas tratou de justificá-la.

“Por mais incrível que seja este episódio, já espero que alguns fãs fiquem chateados. Para mim, esta história que vamos contar é autêntica para o mundo. É autêntica para os temas que estamos abordando.”

Henry, Sam e Kathleen

Outra mudança importante feita pela série em relação ao game tem relação com os irmãos Henry e Sam, que o jogador conhece na parte final do capítulo que se passa durante o verão.

No “The Last of Us” original, Henry e Sam se tornam aliados de Joel e Ellie, pois também querem fugir de Pittsburgh, cidade que passou a ser dominada por rebeldes agressivos.

Já no show do HBO Max, a cidade em que Joel e Ellie conhecem a dupla passa a ser Kansas City. Henry e Sam querem fugir do local por uma simples razão: são perseguidos pelos rebeldes que tomaram conta do lugar.

Henry revela a Joel que passou a ser informante da FEDRA em troca de remédios para tratar a leucemia de Sam. Para isso, teve de entregar o líder da resistência em Kansas City, que era irmão da personagem Kathleen – criada apenas para o show –, que assumiu o posto e lidera o grupo de forma impiedosa – apesar de sua aparência inocente e delicada.

Em entrevista ao Screen Rant, Craig Mazin justificou a inclusão de Kathlenn para o show.

“Você tem de matar várias pessoas no videogame, mas para nós, a violência era algo meio complicado e não queríamos deixar o público entorpecido com isso. Então, quando os inimigos apareciam, era importante fazer a questão: ‘ bem, por que eles são inimigos?’ O que eles querem?’.”

Além disso, apenas no show, Sam é deficiente auditivo e precisa conversar por linguagem de sinais com Henry.

De qualquer forma, tanto no game quanto na série, os irmãos têm um final trágico: Sam se torna um infectado após levar uma mordida e é morto por Henry, que não consegue lidar com o acontecido e acaba tirando a própria vida.

Criança infectada

Neste mesmo quinto episódio, os fãs de “The Last of Us” também puderam presenciar algo até então inédito na franquia: uma criança infectada. Ela aparece durante o ataque de um grande número de infectados – incluindo um Baiacu – contra os rebeldes, que haviam encurralado Joel, Ellie, Henry e Sam.

A criança é vista pela primeira vez tentando atacar Ellie dentro de um carro. Depois, por ironia do destino, é a responsável por, aparentemente, tirar a vida de Kathleen – que criticou Henry por ter ido tão longe para salvar a vida de Sam. 

Esta criança infectada foi interpretada pela atriz Skye Belle Cowton, que também é ginasta e contorcionista – o que explica aqueles movimentos feitos pela personagem em suas cenas.

Segundo Alex Wang, supervisor de efeitos especiais da série, a produção adicionou alguns elementos na criança infectada – como uma camisa do seriado infantil “As Pistas de Blue”, marias-chiquinhas e aquele close de seu rosto modificado pelo fungo – justamente para passar um ar de inocência perdida por conta da infecção.

Em entrevista à Vulture, Wang afirmou o seguinte:

“(A ideia era) mostrar que essa criança bonitinha também passou por essa coisa terrível.”

Um Joel mais “sensível”

Outra diferença importante tem relação com a personalidade de Joel. Os responsáveis pela adaptação para TV já haviam adiantado que ele seria um pouco menos “durão” que no original.

Isso ficou bastante evidente no sexto episódio do show. Assim que se encontra com Tommy, Joel pede ao irmão para levar Ellie aos Vagalumes por acreditar não ter condições mentais para completar a tarefa e manter a jovem segura.

Além disso, em dois momentos do episódio, é possível ver Joel tendo crises de pânico, o que mostra que ele realmente não estava mentalmente bem por conta da jornada. Esses acontecimentos são uma exclusividade da série, já que em momento algum do game original o protagonista demonstra esse lado mais “fraco”.

Em entrevista à Vanity Fair, Neil Druckmann, criador de “The Last of Us” e responsável também por desenvolver a série, explicou que realmente queria um ator capaz de mostrar esse lado em Joel, o que o fez escolher Pedro Pascal para o papel.

“Sabíamos que queríamos encontrar pessoas bem humanas e que o risco na escolha do intérprete de Joel era mostrar um cara durão, que parecesse unidimensional. Era muito importante escolher alguém que pudesse viver uma alma torturada e que sobreviveu por 20 anos, suprimindo essa humanidade. Ficamos de olho no Pedro por um tempo e tivemos sorte que ao ler a primeira versão do roteiro, ele logo amou, nos retornou em 24 horas e fizemos o acordo bem rapidamente.”

David

Um dos vilões que o jogador teve de enfrentar no decorrer do jogo foi David, líder de um grupo que passou a adotar o canibalismo para sobreviver. Ele acaba sendo morto por Ellie após tentar abusar da protagonista.

Claro, David não ficou de fora da adaptação do HBO Max, mas ele ganhou um pouco mais de profundidade.

No show, além de ser o líder de seu grupo, David também atua como uma espécie de pastor e é visto pregando para seus liderados no início do penúltimo episódio. Além disso, ele também revela que antes do surto do Cordyceps, trabalhava como professor de matemática. 

Na mesma entrevista para a Vanity Fair, Neil Druckmann explicou que a aproveitou a série para poder explorar o vilão mais a fundo, além de dar a ele um toque mais humano antes de revelar sua verdadeira face.

“Ellie encontra esse cara chamado David, que é um personagem interessante, uma versão cheia de nuances e mais sombria de Joel, de certa forma. Foi uma oportunidade de pegar esse vilão da história e mostrá-lo como um ser humano complexo, que gasta tempo com seu grupo e se preocupando com as pessoas, apesar de suas outras qualidades muito horríveis.”

*A primeira temporada de “The Last of Us” está disponível na HBO Max.

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Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua no mercado desde 2013 e já realizou trabalhos como assessor de imprensa, redator, repórter web e analista de marketing. É fã de esportes, tecnologia, música e cultura pop, mas sempre aberto a adquirir qualquer tipo de conhecimento.

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