Entrevista: Zach Blair fala sobre Rise Against no Brasil, “Appeal to Reason” e mais

Banda está prestes a fazer primeiros shows no país em 6 anos; além de relembrar seu primeiro disco com o grupo, guitarrista comentou sobre trabalhos recentes

Após 6 anos, o Rise Against está de volta ao Brasil – mais especificamente, a São Paulo. Um dos nomes mais populares do punk rock no século 21, o grupo formado por Tim McIlrath (voz e guitarra), Zach Blair (guitarra), Joe Principe (baixo) e Brandon Barnes (bateria) retorna para se apresentar no Lollapalooza Brasil, na próxima sexta-feira (24), ao lado de Billie Eilish, Lil Nas X, Modest Mouse e vários outros nomes. Dois dias antes, o quarteto faz uma performance solo com ingressos já esgotados no Cine Joia.

Em entrevista ao site IgorMiranda.com.br, Zach Blair não escondeu sua empolgação por voltar ao Brasil, país que sua banda visitou em 2011 (para shows em São Paulo e Curitiba), 2012 (para duas datas no WROS Fest, na capital paulista) e 2017 (no Rio de Janeiro e novamente na terra da garoa, mas para o Maximus Festival). Ao ser perguntado de suas lembranças em território nacional, o guitarrista citou que ficava impressionado com o sentimento de gratidão dos fãs.

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Quando informado de que a data solo no Cine Joia teve ingressos rapidamente esgotados, Blair destacou:

“É incrível. Porque para nós, é sempre a mesma coisa: os mesmos quatro caras fazendo a mesma coisa. É estranho saber que as pessoas de outro país estão atentas ao que você faz. Quando você descobre que ainda querem te ver depois de mais de 20 anos… é para isso que você trabalha. É por isso que você acorda de manhã, é por isso que você iniciou uma banda. Um sonho de criança. Eu te juro: nos bastidores dos shows, conversamos sobre o quão incrível é ter um show que está com ingressos esgotados. Nunca damos nada como garantido.”

E o que esperar dessas apresentações? O guitarrista surpreendeu ao dizer que algumas pérolas esquecidas podem surgir no repertório, apesar dos clássicos ainda marcarem presença.

“Temos tanta sorte de termos umas 9 ou 10 músicas que nós temos que manter no repertório. A depender do tamanho do set, e considerando que vamos tocar no Lollapalooza, são shows de uma hora, talvez 75 minutos se você tiver sorte. Como você tem 9 ou 10 músicas que precisam ser mantidas, há umas 5 ou 6 restantes para escolher [risos]. Mas nós temos uma temporada como residente no Metro, lendária casa em Chicago, onde vamos fazer três shows sem repetir qualquer música. Então, nos shows da América do Sul, vamos tocar algumas músicas menos conhecidas, obscuras, meio que para praticar para essa residência. Só não sei quais.”

Pode ser só discurso, já que as apresentações no Chile e na Argentina trouxeram repertórios dentro do convencional – em Santiago, o máximo que rolou foi “Survive” a pedido dos fãs, mas a faixa do álbum “The Sufferer & the Witness” (2006) quase sempre é tocada em outras turnês. Ainda assim, vale ficar de olho. Vai que pinta alguma surpresa para o Brasil?

Desafios de uma banda

Um dos momentos mais curiosos da entrevista ocorreu após Zach Blair ser perguntado a respeito da volta do Blink-182. Na época da conversa, a turnê sul-americana do trio – agora reunido com Tom DeLonge (voz e guitarra) – ainda não havia sido desmarcada, então eles compartilhariam do mesmo palco no Lollapalooza Brasil, embora em dias diferentes. Além disso, os dois grupos vão excursionar juntos pela Austrália no início de 2024.

Na tentativa de formular algo interessante, o guitarrista disse, inicialmente, sobre a volta do grupo:

“Bom para eles. Parabéns para eles.”

Depois, apresentou um pensamento mais sólido que, inclusive, representa a realidade de quase toda banda neste planeta.

“Bandas são complicadas, são como casamentos estranhos. Você se estranha com o outro, não se dá bem, relações chegam ao fim, depois voltam e pode haver harmonia. Eu só posso parabenizá-los e desejar por boa sorte – toda banda precisa [risos]. É difícil entrar em acordo, fazer as coisas funcionar entre três, quatro, cinco pessoas em um nível profissional e também em um nível pessoal, pois você está literalmente vivendo com o outro. Isso é complicado e ao mesmo tempo interessante.”

Em outra ocasião da conversa, Blair foi bastante claro ao explicar por que o Rise Against não se conformou em virar uma banda de “nostalgia pop punk” e continuou lançando músicas e álbuns mantendo sua relevância, sem se repetir – a exemplo do disco mais recente, “Nowhere Generation” (2021).

“Acho que é importante para as bandas que seus integrantes continuem sendo fãs de música. Ouvir coisas novas, artistas novos. E escutar as coisas que sempre escutou, as coisas que te ‘desafiaram’ lá no início. No meio de tudo isso, acrescentar sua própria pegada, desafiar-se a cada disco. Temos um padrão de som do Rise Against, mas não podemos fazer sempre o mesmo som, não seria interessante. É questão de manter os pés no chão e ‘os ouvidos no chão’, sob a mesma ótica.”

Um trabalho engavetado

Embora tenha sido lançado em junho de 2021, “Nowhere Generation” estava gravado desde o início de 2020. Zach Blair admitiu que ficou frustrado por deixar o álbum tanto tempo na gaveta, embora o frescor tivesse sido mantido quando o mundo pôde ouvir músicas como “Broken Dreams Inc”, “The Numbers”, “Sudden Urge” e “Talking to Ourselves”. Porém, não dava para liberar o disco sem poder fazer turnês.

Citando o período de pandemia como “o mais estranho” de sua vida, o músico relembrou uma história da gravação deste álbum.

“Fui o último integrante a gravar alguma coisa nesse álbum, pois precisei fazer os backing vocals ao fim. Fui ao estúdio já com o lockdown rolando, em março de 2020. Peguei meu carro e fui do Texas até o Colorado, em Fort Collins, o lugar onde gravamos. É uma viagem de 14 horas de carro. Fui sozinho. Bill Stevenson, nosso produtor que também tocou com o Descendents, Black Flag e tudo o mais, já estava lá – do outro lado do vidro, na sala de controle. Fui à sala de gravação e gravei os backing vocals por um ou dois dias. Não chegamos a encostar um no outro [risos]. Fui a última pessoa a gravar no álbum.”

A pandemia, ainda bem, está ficando para trás. Porém, outro efeito deste mundo moderno fez com que o Rise Against “repartisse” seu novo trabalho em dois. Além das 11 faixas de “Nowhere Generation”, o grupo disponibilizou outras 5 canções no EP “Nowhere Generation II”, divulgado no último mês de junho. Por quê? Zach explica:

“Gravamos todas aquelas músicas e com o limiar de atenção cada vez menor nos dias de hoje, com as redes sociais, é difícil conseguir a atenção de alguém para um disco. E eu sempre fui fã de discos mais curtos, talvez porque sempre ouvia os discos do meu pai, que tinham oito músicas, quatro de cada lado, no velho vinil. Nos CDs, começaram a colocar o máximo de músicas possíveis porque cabia 80 minutos. Mas eu gosto quando um disco tem 10 músicas, até menos. Então, quebramos a quantidade de faixas, só pela questão da atenção mesmo, porque achamos que é muita coisa alguém parar e ouvir um álbum de 16 músicas nos dias de hoje.”

Lugarzinho no coração

Os minutos finais de conversa trouxeram Zach Blair conversando sobre “Appeal to Reason” (2008), quinto álbum do Rise Against e o primeiro do guitarrista com a banda – ele se juntou à formação em 2007, na vaga de Chris Chasse. O registro completa 15 anos de lançamento no próximo mês de outubro.

Com uma sonoridade mais melódica, o trabalho pode ser considerado o maior êxito comercial do grupo. Recebeu disco de platina nos Estados Unidos e Canadá, além de ouro e prata em outros três países. Conquistou o terceiro lugar na parada americana e primeiro na canadense. O single “Savior” também recebeu certificação de platina nos EUA, além de ouro na Alemanha e prata no Reino Unido.

Blair não poupa elogios a este registro e nega que ele seja radiofônico, ao menos em sua proposta.

“Eu amo esse disco. Ele mudou minha vida. A opinião geral até pode ser que ele soa mais radiofônico, mas para nós, é apenas um disco que fizemos. Não houve um esforço para fazer algo radiofônico, ninguém dizia para fazer de tal forma. Apenas aconteceu assim. Os gostos mudam, você amadurece. Preservamos a identidade, mas tentamos trazer elementos diferentes. Nossa banda não ouve só punk rock. Amamos heavy metal, rock and roll, todos os tipos de música. Essas influências começaram a aparecer mais em ‘Appeal to Reason’, em músicas como ‘Whereabouts Unknown’ e ‘Re-Education (Through Labor)’.”

Após dizer que não teria problemas em tocar “Savior” durante todos os shows pelo resto da vida, Zach reforçou que “Appeal to Reason” tem um lugar em seu coração. Convidado a relembrar alguma história de quando o álbum era feito, ele contou:

“Não foi tão diferente. Fomos a Fort Collins, Colorado, com Bill Stevenson, e é como fazemos há tanto tempo. Eu tenho gravado com Bill Stevenosn há 30 anos. É apenas uma continuação, meio que parece sempre a mesma coisa, é o mesmo método de gravação [risos]. Mas desse álbum especificamente, lembro de Tim trazer ‘Savior’ e eu ficar impressionado, mas foi estranho porque não foi unânime. Tim não queria colocar a música no álbum, era para ser um lado B [risos]. Brandon e eu falamos que não, que a música era incrível. Lembro desse dia, mas no geral éramos apenas nós trabalhando com Bill, como sempre.”

*Os ingressos para o show do Rise Against no Cine Joia, nesta quarta-feira (22), estão esgotados. Ainda há entradas disponíveis para o Lollapalooza Brasil 2023. Clique aqui para mais informações.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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