Hollywood muitas vezes parece ter uma verdadeira obsessão em destruir clássicos quando o bolso aperta. Enterraram “O Massacre da Serra Elétrica” com tramas rocambolescas e amadoras, colocaram Michael Myers na geladeira após ele sequer dar as caras em “Halloween Ends” e fizeram um filme de dinossauro sem dinossauro em “Jurassic World: Domínio”.
Há regras e até obrigatoriedades dentro de franquias. Uma vez imerso em algo estabelecido, é possível mover suas peças sem se esquecer de tais “leis”. Se eu pago para ver Michael Myers esfaqueando babás, quero ver isso, não o aluno dele.
“Pânico VI” tem um roteiro fraco, dramas rasos, uma interação irreal com a cidade de Nova York e uma motivação assassina básica, mas segue todas as regras que a franquia pede. Apesar da fragilidade de suas palavras impressas em um papel, o longa entrega suspense, sustos, comédia na medida, sátira, ótimas mortes e muito sangue.
Nova cidade, velhas regras
Após os eventos traumáticos ocorridos em “Pânico” de 2022, temos aqui a velha formula de recomeço para os sobreviventes. Tara (Jenna Ortega) e a irmã Sam (Melissa Barrera) decidem se mudar para Nova York e superar os traumas vividos – afinal, em uma grande cidade, é quase impossível a existência de um serial killer tão pragmático quanto Ghostface. Na teoria, ok; na prática, errado, já que ele irá para NY atrás das irmãs.
O longa tem essa premissa básica, contudo, toda a franquia “Pânico” tem raízes fortíssimas com a cidade de Woodsboro – o que faz todo sentido, afinal, esse tipo de assassino só é possível em um local pacato e menor. Ainda assim, os diretores conseguiram evitar invencionices com maestria.
Tyler Gillett e Matt Bettinelli-Olpin, de volta ao comando após o sucesso do longa anterior, sabiam que precisavam trazer algo novo. Diante disso, foram sagazes ao nos “pedir” sutilmente que deixemos a lógica de lado e apenas abraçássemos uma realidade onde um assassino mascarado pudesse atacar em um vagão de metrô.
“Pânico VI” não faz o menor sentido. Em apenas uma morte dentro de uma real Nova York, Ghostface já teria sido pego. Contudo, para seguir as regras que a franquia pede, os diretores transformam Nova York em uma cidade do interior, onde tranquilamente esse cara passaria a faca em quem quisesse.
Nesse e em outros pontos, o longa é extremamente competente ao se reinventar sem abdicar das raízes. Temos ares de novidades, sustentação o bastante na escalação de um novo elenco e leves rompimentos de regras para trazer a morte, o choque, o gore – sem dispensar o principal, Ghostface.
Rumos da franquia
De longe, com este sexto filme, “Pânico” se torna a franquia mais correta dos filmes de terror. Enquanto “Halloween”, “A Hora do Pesadelo” e tantos outros têm uns dois ou três filmes muito bons dentro de uma franquia com dez ou mais, esta saga é estável. Claro que nenhum sucessor supera o original de 1996, mas os seis longas divulgados até o momento conseguem atender às expectativas.
“Pânico VI” continua sua jornada em homenagear o passado e dar um fim digno a ele na mesma estrada em que tenta construir um futuro. A ótima escalação de um carismático elenco, sob a liderança da sensação do momento Jenna Ortega, não impede o resgate e o desfecho de personagens clássicos, que cumprem o que lhes foi pedido.
Claro que tudo isso conta com o apelo emocional – afinal, não precisa de muito para que cada aparição de Gale Weathers (Courteney Cox) nos deixe muito satisfeitos. Sem falar da trilha sonora que desde 1996 é capaz de levantar cada pelo existente em nosso corpo.
Um sétimo filme se faz necessário dentro deste escopo proposto e com um final digno para Sidney Prescott (Neve Campbell). A atriz não chegou a um acordo em valores com os estúdios e não participou deste longa, mas não há como deixar de oferecer um desfecho a uma das maiores protagonistas de filmes de terror da história.
Após este merecido desfecho, que este universo de prováveis sete filmes se feche e Ghostface possa ganhar um recomeço. “Pânico VI” mostrou que se você seguir as regras do que o público espera ver, certamente você terá uma franquia rentável e interessante pelo resto da vida.
*“Pânico VI” estreou nos cinemas brasileiros na última quinta-feira (8).
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