Eric Martin e Jeff Scott Soto desfilam vozes poderosas e carisma em São Paulo

Clássicos de Mr. Big, Queen e Yngwie Malmsteen, entre outros, foram apresentados no Stones Music Bar por cantores americanos junto a competentíssimas bandas brasileiras

Confesso o meu crime: não estava muito animado para assistir aos shows de Eric Martin (Mr. Big) e Jeff Scott Soto (Yngwie Malmsteen, Talisman, Journey e muitos outros projetos que este espaço não comportaria), respectivamente acompanhados pelas bandas Rolls Rock e Spektra. A data, uma quarta-feira (22), não ajudava. O horário previsto para encerramento, meia-noite (atrasado em meia hora), menos ainda. Ter que enfrentar quase uma hora de trânsito, na hora do rush, para chegar ao aconchegante e organizado Stones Music Bar também não jogava a favor.

Mas fui motivado pelo interesse profissional e pessoal. Além de produzir mais conteúdo relacionado a dois cantores cujos passos são devidamente acompanhados pelo site – não à toa publicamos entrevistas com Martin e Soto para divulgar suas turnês pelo Brasil –, pude assistir dois de meus vocalistas prediletos; um deles, parte essencial do Mr. Big, uma das minhas bandas de coração.

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Não me arrependi. Foi um deleite para qualquer fã de hard rock bem cantado e tocado, 100% ao vivo (importantíssimo em tempos de bases pré-gravadas) e com repertórios suficientemente longos (ambos ultrapassando 90 minutos cada).

*Fotos de Andre Santos / @andresantos_mnp. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

O magrelo do rosto bonitinho

Eric Martin veio ao Brasil três vezes em um ano. Só em 2022, apresentou-se por aqui em março e novembro – a última performance em São Paulo foi acompanhada pelo colaborador Vagner Mastropaulo. Ao editar seu texto, perguntei: “o show foi tão bom assim?”. Pude confirmar com meus próprios olhos – e ouvidos – que sim.

Foto: Andre Santos

No alto de seus 62 anos, Martin até parece ser bem mais jovem em aparência, mas a voz já apresenta desgaste. Estamos falando de alguém que está na ativa desde o fim da década de 1970 e cantou em tons altos ao longo de toda a carreira. Mas como grande músico que é, conseguiu adaptar sua performance de modo que qualquer possível problema é driblado com êxito.

Foto: Andre Santos

Mesmo quando o som não ajudou, como na primeira música do set – a irresistível “Daddy, Brother, Lover, Little Boy”, com guitarras baixas e mix um pouco embolada –, Eric soou grandioso. Ciente de suas limitações, trafegou por caminhos mais cômodos ao longo da noite. É o camisa 10 que não precisa de muitos toques para mudar o jogo.

Foto: Andre Santos

E isso numa partida onde apenas craques o acompanham. Poucos músicos no Brasil poderiam oferecer o apoio na mesma qualidade que a Rolls Rock, composta por Edu Costa (guitarra), Mau Seliokas (baixo), Cris Ribeiro (teclados) e Francis Lima (bateria). O nível técnico exigido é altíssimo, já que o Mr. Big era/é formado por virtuosos que também cantam muito e têm forte senso melódico. Mas o quarteto paulistano, novamente, tirou de letra e reproduziu tudo com perfeição.

Foto: Andre Santos

A escolha do repertório, iniciado às 20h50 (com 20 minutos de atraso) e concluído por volta de 22h30, também ajudou. Martin só tocou Mr. Big e escolheu músicas que funcionam no set do grupo há muito tempo, como a deliciosa “Alive and Kickin’”, onde ele assume um violão que curiosamente encaixa bem; a divertida “Temperamental”; as hardíssimas “Take a Walk” e “Rock & Roll Over” (não por acaso oriundas do álbum de estreia homônimo); a climática “Take Cover”, dedicada ao saudoso Pat Torpey (baterista falecido em 2018 em quem Eric diz pensar sempre ao tocar tal canção); as pauladas “Addicted to That Rush” e “Colorado Bulldog” e as baladas “To Be With You” e “Just Take My Heart”, esta última em tom mais grave para acomodar sua voz.

Também houve espaço para resgatar algumas faixas pouco executadas por sua banda-matriz, mas que os fãs adoram. Fãs da fase Richie Kotzen foram agraciados com a bela “Superfantastic”, surpreendentemente acompanhada por muitos presentes; a cativante “Shine”, um dos grandes hits do grupo que aparentemente só não era tocado pelo quarteto original por causa de Paul Gilbert, a quem Kotzen substituiu; e “Electrified”, não tão bem recebida como as outras duas citadas. A boa balada lado B “Promise Her the Moon” também rendeu gritos efusivos do público, por incrível que pareça.

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Os momentos mais mornos ficaram a cargo de duas canções do álbum “…The Stories We Could Tell” (2014): “Fragile” e “Gotta Love the Ride”, faixas que adoro, mas não empolgaram tanto os presentes. Nada que o restante do set – executado de forma impecável – e o carisma de Eric não resolvessem.

Foto: Andre Santos

O cantor, aliás, ofereceu um show à parte quando resolve conversar. Brincou com o fato de ter retornado pela terceira vez em um ano, fez o público cantar “parabéns” ao agora setentão baixista Billy Sheehan, disse que fãs europeus só dizem que ele tem boa aparência para sua idade até chegarem mais perto e admitiu ter composto “To Be With You” na adolescência (quando era “só um magrelo do rosto bonitinho”) para impressionar as amigas da irmã – o que não deu tão certo, mas rendeu um hit no topo das paradas.

Foto: Andre Santos

Mas o bate-papo foi, como citado, à parte. Quando é para mandar ver, Eric Martin e Rolls Rock o fazem – e agradam muito.

*Fotos de Andre Santos / @andresantos_mnp. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Eric Martin e Rolls Rock – ao vivo em São Paulo

  • Local: Stones Music Bar
  • Data: 22 de março de 2023

Repertório:

  1. Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song)
  2. Alive and Kickin’
  3. Superfantastic
  4. Fragile
  5. Temperamental
  6. Gotta Love the Ride
  7. Take a Walk
  8. Rock & Roll Over
  9. Promise Her the Moon
  10. Take Cover
  11. Shine
  12. Electrified
  13. To Be With You
  14. Addicted to That Rush
  15. Just Take My Heart
  16. Colorado Bulldog

O vozeirão que “vira vira”

Outro que veio três vezes em um ano, ainda que em projetos diferentes, foi Jeff Scott Soto. Apresentou-se junto do próprio Eric Martin em março do ano passado e voltou em agosto com o Sons of Apollo. Como na ocasião no início de 2022, o cantor multibandas veio acompanhado do Spektra, grupo brasileiro com BJ (guitarra, teclado e vocal), Leo Mancini (guitarra), Henrique Canale (baixo) e Edu Cominato (bateria).

Foto: Andre Santos

Como no caso de Martin, Soto não poderia estar acompanhado de músicos melhores. Só tem craque no Spektra. E não só por ser gente boa, mas por ter consciência de que não daria para entregar um show de tamanha qualidade sem os colegas brasileiros, o cantor americano fez questão de exaltar os músicos de apoio diversas vezes. Abriu espaço para que tocassem uma música própria – “Overload”, do álbum de mesmo nome lançado em 2021 – e ainda brincou: “hoje é Jeff Scott Soto + Spektra, tipo Queen + Adam Lambert, mas muito menor”.

Menor em público, claro, mas não em qualidade de execução, seja instrumental ou vocal (aqui, todos cantam também). Mancini, um dos melhores guitarristas do país, foi de Queen a Yngwie Malmsteen com maestria. BJ assumiu a postura de faz-tudo: tocou guitarra e teclados além de assumir vocais principais ocasionalmente. A cozinha formada por Canale e Cominato é consistente a ponto de o baixista tocar de palheta – o que “engrossa” o som – e o baterista não perder o tempo hora nenhuma.

Tudo isso ajudou Jeff a mostrar, mais uma vez, por que é um dos vocalistas mais injustiçados do hard rock. Hoje com 57 anos, ele nunca desfrutou do sucesso que merecia. Tomou algumas decisões não tão certeiras ao longo da carreira, é verdade, mas justiça deveria ter sido feita a um cantor que sequer precisa de microfone para ser ouvido. Em algumas canções, mesmo com problema no equipamento, era devidamente escutado. E em “Livin’ the Life”, faixa da trilha sonora do filme “Rock Star”, chegou a interpretar alguns versos 100% a capella. Que voz. Que homem.

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Na noite de quarta (22), outro acerto esteve em sua escolha de repertório. O “tributo ao Queen”, dissolvido em momentos distintos da noite, trouxe dez canções incontestáveis e diversas. Destacam-se dali a abertura grandiosa com “One Vision”, a exibição vocal em “Fat Bottomed Girls” (com backing vocals aparentemente 100% ao vivo), um miolo mais pesado com “I Want It All” e “Stone Cold Crazy”, a impressionante “Radio Ga Ga” (Jeff chegou a cansar no primeiro pré-refrão) e a gigante “Bohemian Rhapsody”, cantada a plenos pulmões por quem compareceu.

Ao mesmo tempo, Soto conseguiu explorar várias canções de sua carreira após reconhecer os pedidos que relatou ter recebido dos fãs: “queremos escutar suas músicas, não Queen”. Como a voz do povo pediu pela voz de Soto, ele entregou Talisman (“Mysterious” e “I’ll Be Waiting”), carreira solo (“21st Century”, “Drowning” e a estreante “Last to Know” a pedido de Carlos Chiaroni, dono da loja Animal Records), W.E.T. (“Big Boys Don’t Cry”, “Watch the Fire”, “Learn to Live Again” e “One Love”) e a já citada “Livin’ the Life” da trilha de “Rock Star”.

Foto: Andre Santos

Rolou até Yngwie Malmsteen, algo que ele tem evitado em sets solo recentes, com uma dobradinha de “I Am a Viking” e “I’ll See the Light Tonight” – arrebentou em ambas, embora tenha pisado no cabo da guitarra de Leo Mancini no início da segunda. E, claro, teve “vira vira”, momento em que bebe um copo cheio de caipirinha ou caipiroska, numa tacada só, no palco. Pelo menos duas vezes.

Também sobrou tempo para confraternizar com Eric Martin, que subiu ao palco para participar de uma versão improvisada de “Wild World”, também com alguns dos músicos da Rolls Rock. Se ele soubesse que a canção original de Cat Stevens repopularizada pelo Mr. Big também é famosa no Brasil pela versão de Pepê e Neném…

Ainda chateia que a data e o horário pouco convidativos – a apresentação de Jeff foi iniciada às 22h50 e concluída à 0h30, com metrô já fechado e ônibus noturno com suas devidas complicações – tenham deixado o Stones povoado de forma confortável em vez de cheio como em outras ocasiões. Mas foi o suficiente para deixar Martin com alegados arrepios e Soto empolgado a ponto de deixar claro seu amor pelo Brasil não se justifica apenas pelas coxinhas.

*Fotos de Andre Santos / @andresantos_mnp. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Jeff Scott Soto e Spektra – ao vivo em São Paulo

  • Local: Stones Music Bar
  • Data: 22 de março de 2023

Repertório:

  1. One Vision (Queen)
  2. Another One Bites the Dust (Queen)
  3. I Want to Break Free (Queen)
  4. Livin’ the Life (Steel Dragon)
  5. Mysterious (This Time It’s Serious) (Talisman)
  6. Crazy Little Thing Called Love (Queen)
  7. Fat Bottomed Girls (Queen)
  8. Last to Know
  9. 21st Century
  10. Drowning
  11. I Want It All (Queen)
  12. Stone Cold Crazy (Queen)
  13. Overload (Spektra)
  14. Medley do W.E.T.: Big Boys Don’t Cry / Watch the Fire / Learn to Live Again / One Love
  15. Wild World (Mr. Big; com Eric Martin)
  16. Under Pressure (Queen)
  17. Radio Ga Ga (Queen)
  18. Bohemian Rhapsody (Queen)

Bis:

  1. I Am a Viking / I’ll See the Light Tonight (Yngwie Malmsteen)
  2. I’ll Be Waiting (Talisman) / Livin’ on a Prayer (Bon Jovi) / Don’t Stop Believin’ (Journey) / The Final Countdown (Europe)

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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