A indústria do entretenimento ainda tenta se reerguer após a paralisação causada pela pandemia de Covid-19 entre os anos de 2020 e 2021. O guitarrista Steve Vai deu um relato interessante sobre o que tem sido sair em turnê no mundo pós-pandêmico, onde a indústria, os custos e até a forma de fazer as coisas mudaram drasticamente por questões financeiras.
Durante o lockdown, Vai trabalhou em seu álbum mais recente, “Inviolate”, lançado em 2022. Mas quando foi sair em uma turnê pela Europa para divulgar o disco, com uma melhora já considerável na situação sanitária mundial, ele se deparou com um cenário bem diferente.
O relato do guitarrista foi compartilhado em entrevista ao Talkin’ Rock, com transcrição do Ultimate Guitar.
“Na época em que o disco foi lançado, tudo estava começando a reabrir. Mas era meio esquisito. Você agendava uma turnê, a Covid piorava e você tinha que cancelar. Daí, tentar sair em turnê depois da Covid era incrivelmente difícil para os músicos, porque tudo estava meio fora do lugar. Você não conseguia um ônibus. Todos os ônibus pararam por dois anos e os motoristas foram dirigir caminhões. Você não conseguia um motorista de ônibus, não conseguia equipamento, não conseguia ajuda. Aquela turnê europeia foi a mais desafiadora que já fiz. Mas passamos por ela. E agora as coisas estão se ajeitando e começando a voltar ao normal.”
Apesar de comemorar o fato de ter concluído a turnê na Europa, Vai lamenta pelos colegas que não tiveram a mesma sorte. Ele conta que muitas bandas ainda não conseguem se manter financeiramente na estrada.
“Algumas bandas, na verdade, cancelaram algumas turnês europeias recentemente, no ano passado, apenas porque não conseguiam fazer funcionar em termos financeiros. É notório.”
Steve Vai e a “sorte de empatar os custos”
No fim das contas, Steve Vai considera “sortudo” quem simplesmente conseguir empatar os custos – ou seja, sair sem lucro, mas sem prejuízo – de turnês.
“Infelizmente, os promotores já são desafiados a pagar o que costumavam pagar. É tudo muito mais caro. Esses ônibus, o combustível e a logística para trazer o equipamento de volta para sua casa (da Europa para a América do Norte). Você tem sorte se empatar os custos. Tenho muitos amigos de grandes bandas que estão cancelando turnês porque simplesmente não conseguem equilibrar os números.”
Lorde, turnês e “luta financeira”
Em uma newsletter compartilhada com seus fãs, a cantora Lorde escreveu sobre os desafios enfrentados por músicos se aventurando na estrada no mundo pós-pandêmico, desde os econômicos aos de saúde. O relato da artista vai ao encontro do que disse Steve Vai na recente entrevista.
“Basicamente, para artistas, promotores e equipes, a coisas estão quase num nível de dificuldade sem precedentes. É uma tempestade de fatores. Vamos começar com o equivalente a três anos de shows acontecendo em um. Adicione uma queda econômica mundial, e então coloque o receio totalmente compreensível de espectadores sobre os perigos de saúde em shows.”
A cantora ainda discutiu em detalhes os fatores logísticos que estão dando problemas, desde casas de show sem datas disponíveis, falta de equipe qualificada por causa de demanda e o custo astronômico de tarifas de frete atuais. De acordo com Lorde, o valor atual para transportar um set de palco ao redor do mundo é o triplo do valor pré-pandemia.
Ela continua, falando sobre como embora ela esteja num lugar da carreira onde pode arcar com tais custos, nem todo mundo está na mesma posição.
“Lucros em baixa geral tá beleza para uma artista como eu. Tenho sorte nisso. Mas para qualquer outro artista vendendo menos ingressos que eu, turnês se tornaram uma luta demente para empatar ou então sair no prejuízo. Para alguns, turnês estão completamente fora de questão, mesmo se puderem esgotar tudo! As contas não fazem sentido. Claro que tudo isso acaba pesando – em equipes, promotores e artistas.”
E o efeito disso, Lorde aponta, é a onda de cancelamentos e artistas falando sobre seus problemas com saúde mental durante o último ano.
“Você vai notar muitos artistas cancelando shows citando preocupação com saúde mental no ano que passou, e eu acho que o estresse disso tudo é um fator — somos uma coleção das flores mais sensíveis do mundo que também passaram os últimos dois anos dentro de casa, e talvez a tarefa de criar um espaço onde a dor e luto e júbilo das pessoas possa ser feita com uma margem de lucro ínfima e dezenas de pessoas para pagar possa ser um pouco além da conta.”
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