Crítica: Surreal, “M3gan” resgata mescla de terror e comédia com maestria

Com roteiro certeiro e direção carismática, longa descarta a realidade e entrega atualização do juntar de gêneros

Ouço falar de “M3gan” há muito tempo. Desde o trailer oficial até o momento em que sentei para assistir ao filme, minhas redes sociais chovem de vídeos ou imagens virais do longa. Mostra já de cara um espetáculo de marketing da Universal Studios, responsável pela distribuição.

Talvez o motivo por trás desse show de divulgação seja o fato de saberem que têm em mãos um fenômeno, podendo render muito dinheiro aos responsáveis. E não apenas neste primeiro filme, mas durante bons anos. “M3gan”, que estreia nesta quinta-feira (19) nos cinemas brasileiros, é extremamente divertido, carismático e mescla elementos de saudosismo e inovação – tudo que é necessário para se estabelecer uma franquia.

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O novo “Chucky”?

“M3gan” traz a história de Cady (Violet McGraw), que após perder os pais, precisa morar com sua tia Gemma (Alisson Williams). A jovem e moderna tia é uma gênia tecnológica, responsável pela criação de brinquedos ultramodernos em uma grande empresa do ramo.

Após muita luta, ela consegue criar M3gan, uma boneca com inteligência artificial avançada. Daí para frente, não é muito difícil imaginar o que acontece com esta criação.

À primeira vista, “M3gan” terá uma comparação direta com o mais popular brinquedo assassino já feito no cinema, “Chucky”. Para muitos, este seria inclusive um update do clássico longa de 1988. Porém, em poucos minutos de filme, percebemos que “M3gan” passa muito longe de qualquer comparação com o maníaco Charles Lee Ray.

A principal diferença consiste na mescla da comédia com o terror, com foco no primeiro elemento citado. “M3gan” é vendido e tratado como filme de terror, mas tem o mesmo espírito assustador de um poodle – e isso é ótimo.

Aqui não há qualquer tipo de violência extrema, sangue, facadas ou o que quer que seja. Toda a situação criada em torno da boneca é tão surreal que a maior sacada do roteiro e do diretor é assumir a comicidade e nos entregar uma sátira.

Ou seja: nada de releitura do “Brinquedo Assassino”, já que o longa de 1988 preza pelo terror, pelas mortes, e pelo clima pesado que toda a história se conduz. “M3gan”, por sua vez, oferece poucas mortes e violência reduzida, mas bastante comédia e desenvolvimento da personalidade da inteligência artificial, junto da relação íntima entre boneca e criança – algo que não ocorreu nunca com “Chucky”.

A sacada de “M3gan”

Um dos criadores de “M3gan” é o visionário James Wan (“Invocação do Mal”), mas quem ficou responsável pelo roteiro final foi Akela Cooper, responsável pela escrita do ótimo “Maligno”. A grande sacada aqui foi entender que o assustador na história não são as mortes ou sustos baratos, mas a criação de um produto que poderia substituir até mesmo uma mãe.

A inteligência do diretor Gerald Johnstone (“Housebound”) em assumir a ausência de qualquer elemento crível em seu filme – e consequentemente abraçar o foco em construir uma assustadora relação da criança com sua boneca – é acertada. Todo o terror do filme se dá na construção desta relação por quase 60 dos 102 minutos da obra.

Aos poucos, a boneca se torna caricata, sanguinária e carismática, mas dentro de atitudes completamente bizarras como a já viralizada dança no corredor (se achou aquela dança estranha, espere para vê-la cantar “Titanium”, de David Guetta e Sia). Ao mesmo tempo, a criança se mostra dependente do que o brinquedo pode dar no sentido de atenção, emoção, amor, cuidados e ensinamentos. Assim, qualquer pai familiar se torna descartável.

https://www.youtube.com/watch?v=2nNXDT1ckW0

Resgate do terror cômico

Unir terror com comédia sempre foi tão irresistível, mas tal prática é pouco utilizada nos dias atuais, dando lugar aos famosos jumpscares. Ao fazer tal mescla, “M3gan” parece querer nos ensinar que nem toda comédia é para dar risada, assim como nem todo terror é para se assustar – o que é difícil de se explicar ao grande público.

Há diversos furos e erros de roteiro na obra, bem como atitudes que não condizem em momento algum com qualquer realidade. E está tudo bem. Afinal, este longa existe apenas para você ir ao cinema em um final de semana e se divertir. O objetivo é atingido.

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Raphael Christensen
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Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

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